Pronto, passou. Natal de novo, só daqui um ano. Confesso que este ano não foi tão ruim, não doeu tanto, embora sempre doa... É incrível como essa época do ano acentua a saudade de quem já se foi.
Só fui ficar triste na tarde do dia 25, quando o mal estar da ressaca estava passando e me peguei procurando algum besterol americano no quarto do meu irmão, só para o tempo passar e eu não lembrar.
Mas o pinheiro imenso, que concentra tanta dedicação da minha mãe, não deixou eu não lembrar. O pinheiro da minha avó não era tão grande, mas era lindo, tinha um presépio que mais parecia a cidade de Belém, tamanha a criatividade da minha avó. Eu ficava encantada com aquilo. E esperava ansiosamente o Natal, porque era dia de estrear alguma roupa nova. Nos Natais da minha infância, eu sempre estava linda, e o meu espírito combinava com a roupa.
Depois o tempo passa, a gente percebe que não tem roupa nenhuma que disfarce o que se sente e o Natal se torna só mais uma data, um feriado, uma desculpa para encher a cara e falar algumas verdades para algum tio chato que só aparece nessa época do ano.
O tempo passa e a gente muda de lugar, de posição e de condição. De afilhada para dinda e vemos o irmão caçula virar o assunto da família pela maneira carinhosa que trata o enteado, certo que um dia ele será um bom pai. E tem o pai que não bebe mais porque tem pressão alta, o primo que no último Natal era um piá mal educado e apareceu com um mulherão a tiracolo, a tia que, finalmente, conseguiu engravidar, os integrantes novos da família, os que não estão porque já se foram, mas permanecem de alguma maneira...
O tempo passa e a gente se dá conta que rituais sempre vão existir, por mais que a gente tente fugir. As coisas mudam, mudamos de lugar, mas a vida, assim como o mundo, gira e gira e gira... Sempre vai chegar pessoas para ocupar o nosso lugar. O Ramon passou a noite toda encantado com o pinheiro da minha mãe... Isso que ele não viu o da bisavó dele, aliás, para o pequeno Ramon, ela será só um nome na árvore genealógica da família. Ele nunca vai ver o que eu considero o pinheiro mais lindo do mundo, queria que ele visse, ficaria tão encantado como eu já fiquei um dia.
Monday, December 26, 2011
Tuesday, December 13, 2011
Salvadores
Existem algumas pessoas que nos salvam e acredito que a maioria nem saibam disso. Meus amigos, não sei quantas vezes, já me salvaram. As pessoas não tem noção de como, às vezes, uma palavra é importante e nos faz mudar tudo.
Pode nem ser pessoas tão amigas, são conhecidos, são parentes distantes, são os que chegam na hora certa, no lugar certo e nos fazem continuar. Eu coleciono salvadores, sem eles, há tempos não estaria aqui.
Tem duas pessoas que conheci há pouco tempo. Uma mora em Porto Alegre, a outra, em Caxias do Sul. Uma é advogada, a outra, jornalista. Uma foi para o Beto Carrero comigo, a outra para Rio de Janeiro. Uma é solteira, a outra, casada. Ambas, já me salvaram.
O que me levou até o Beto Carrero, não foi meu afilhado, ele ficaria bem, indo com meu irmão e sua namorada. Mas tinha a minha colega do serviço novo, que mal conhecia, que tinha escutado uma conversa no telefone e disse: “posso ir junto, adoro uma indiada?” Ela foi e não só cuidou do meu afilhado, como cuidou de mim também e em nenhum momento me fez perguntas.
E quantas vezes eu chamei minha, até então colega, no MSN para dizer que eu não iria para o Rio. Que ela fosse sozinha, que conseguiria se virar, que eu não seria uma boa companhia, que eu estava me matando... Uns três dias antes, me disse que se eu não tivesse topado em ir, provavelmente ela também não iria. Percebi que apesar de nunca ter visto aquela moça, eu não poderia não ir. Eu que me matasse depois.
O primeiro abraço que eu dei nela, quando nos encontramos no aeroporto, não foi de “muito prazer”, foi de “muito obrigada”. E essa moça linda, uma verdadeira alemoa de Caxias, me salvou todos os dias. Foi por causa de uma conversa, lá em cima do Pão de Açúcar, que eu decidi levar minha vontade a sério e pensar, seriamente, em me mudar para o Rio.
Como disse antes, meus amigos me salvam muitas vezes. Porém, essas duas almas livres e generosas, já me conheceram num momento crítico e não saíram correndo quando se depararam com as minhas fraquezas. Então, tenho que ficar aqui, para quem sabe um dia, salvá-las também.
Pode nem ser pessoas tão amigas, são conhecidos, são parentes distantes, são os que chegam na hora certa, no lugar certo e nos fazem continuar. Eu coleciono salvadores, sem eles, há tempos não estaria aqui.
Tem duas pessoas que conheci há pouco tempo. Uma mora em Porto Alegre, a outra, em Caxias do Sul. Uma é advogada, a outra, jornalista. Uma foi para o Beto Carrero comigo, a outra para Rio de Janeiro. Uma é solteira, a outra, casada. Ambas, já me salvaram.
O que me levou até o Beto Carrero, não foi meu afilhado, ele ficaria bem, indo com meu irmão e sua namorada. Mas tinha a minha colega do serviço novo, que mal conhecia, que tinha escutado uma conversa no telefone e disse: “posso ir junto, adoro uma indiada?” Ela foi e não só cuidou do meu afilhado, como cuidou de mim também e em nenhum momento me fez perguntas.
E quantas vezes eu chamei minha, até então colega, no MSN para dizer que eu não iria para o Rio. Que ela fosse sozinha, que conseguiria se virar, que eu não seria uma boa companhia, que eu estava me matando... Uns três dias antes, me disse que se eu não tivesse topado em ir, provavelmente ela também não iria. Percebi que apesar de nunca ter visto aquela moça, eu não poderia não ir. Eu que me matasse depois.
O primeiro abraço que eu dei nela, quando nos encontramos no aeroporto, não foi de “muito prazer”, foi de “muito obrigada”. E essa moça linda, uma verdadeira alemoa de Caxias, me salvou todos os dias. Foi por causa de uma conversa, lá em cima do Pão de Açúcar, que eu decidi levar minha vontade a sério e pensar, seriamente, em me mudar para o Rio.
Como disse antes, meus amigos me salvam muitas vezes. Porém, essas duas almas livres e generosas, já me conheceram num momento crítico e não saíram correndo quando se depararam com as minhas fraquezas. Então, tenho que ficar aqui, para quem sabe um dia, salvá-las também.
Sunday, November 27, 2011
A sensibilidade que faz a diferença
Penso que é a sensibilidade que torna as pessoas mais, ou menos, humanas. No dicionário, essa característica é definida como a “capacidade de sentir”. Entenderam? Bingo!
Particularmente, eu prefiro fazer tratamento psiquiátrico para o resto da vida, porque caio em queda livre quando quem eu amo me rejeita, porque fico imensamente mal quando algum amigo me magoa, porque fico revoltada quando vejo algo que não me agrada, do que deixar de sentir qualquer coisa, simples ou complexa que a vida me ofereça.
Parece que os sensíveis sofrem mais, mas não. Não é questão de sofrimento, é questão de sentir e a nossa condição humana, nos permite não passar imune ao que nos toca.
Duas das palestras mais bacanas do curso do NPC não foram de Doutores em Comunicação, mas de pessoas com uma sensibilidade para a vida extremamente aguçada: o MC Fiell e o Marcelo Yuka.
Ambos, por não serem profissionais em comunicação, realizaram uma fala mais pessoal, relatando suas experiências. E foram nesses relatos, de um cara que escreveu um livro e criou uma rádio comunitária no morro da Santa Marta, do cara que tava no auge do sucesso quando por acidente, levou nove tiros e ficou paraplégico, que notamos a sensibilidade deles.
Para mim, claro que o mundo precisa de saúde, educação e segurança, mas como idealista que sou, desejo e defendo a sensibilidade no mundo. Só assim, nossos desejos serão de coração e as mudanças serão sólidas pois terão em seus alicerces, valores nobres.
Particularmente, eu prefiro fazer tratamento psiquiátrico para o resto da vida, porque caio em queda livre quando quem eu amo me rejeita, porque fico imensamente mal quando algum amigo me magoa, porque fico revoltada quando vejo algo que não me agrada, do que deixar de sentir qualquer coisa, simples ou complexa que a vida me ofereça.
Parece que os sensíveis sofrem mais, mas não. Não é questão de sofrimento, é questão de sentir e a nossa condição humana, nos permite não passar imune ao que nos toca.
Duas das palestras mais bacanas do curso do NPC não foram de Doutores em Comunicação, mas de pessoas com uma sensibilidade para a vida extremamente aguçada: o MC Fiell e o Marcelo Yuka.
Ambos, por não serem profissionais em comunicação, realizaram uma fala mais pessoal, relatando suas experiências. E foram nesses relatos, de um cara que escreveu um livro e criou uma rádio comunitária no morro da Santa Marta, do cara que tava no auge do sucesso quando por acidente, levou nove tiros e ficou paraplégico, que notamos a sensibilidade deles.
Para mim, claro que o mundo precisa de saúde, educação e segurança, mas como idealista que sou, desejo e defendo a sensibilidade no mundo. Só assim, nossos desejos serão de coração e as mudanças serão sólidas pois terão em seus alicerces, valores nobres.
Peixe dentro da água
A semana do dia 14 ao dia 20 foi totalmente atípica e infinitamente, boa. Reuniu três coisas que amo: viagens, jornalismo e dança.
No início da semana, estava em São Paulo participando do 12º Festival Internacional das Escolas Luxor de Dança do Ventre. São três dias de workshops com bailarinos do mundo todo e na noite, tem apresentação de bandas árabes e de bailarinos brasileiros e internacionais.
O fantástico disso tudo é não se sentir um peixe fora da água, como normalmente acontece quando se gosta de algo que tem um mercado bastante restrito e que é, geralmente, deturpado. É ridícula e revoltante a reação de algumas pessoas quando falo que faço dança do ventre.
E são nesses eventos que encontramos pessoas que nos entendem. E ali que podemos falar de arabesquis, pliês, básico egípcio, mayas e robôs com a certeza de que seremos entendidas. E quando nos damos conta que o que leva as centenas de mulheres para este curso, é apenas o amor pela dança. Porque não é pela dor no corpo no final, os calos em baixo do pé, o chulé insuportável da sapatilha ou o mau jeito no músculo que resolveu incomodar que dançamos.
Diante da satisfação de acertar o passo e de se manter dentro do ritmo, as bobagens que a gente escuta se tornam tão pequenas e fora da realidade, que dá pena dessas pessoas que veem dançarinas do ventre como odaliscas, pois não imaginam o universo imensamente rico que estão perdendo.
E terminei a semana no curso 17º curso anual do Núcleo Piratininga da Comunicação: “Comunicação e hegemonia num mundo em ebulição”, no Rio de Janeiro. Durante os cinco dias do evento, tínhamos o dia cheio de debates interessantíssimos, com profissionais das mais diversas áreas.
Além de ter sido uma baita experiência para a minha carreira, pois eu nunca havia participado desse curso, foi também para a minha vida, a começar pela companhia e a certeza de que voltei do Rio com uma grande amiga.
Novamente, o mais incrível são as pessoas como a gente que estavam participando do curso. Uma vez, quando fazia a monografia da minha pós, que abordou a manipulação da mídia referente aos assuntos dos movimentos sociais, ouvi de um jornalista que havia estudado comigo na faculdade, se eu sabia que o tal trabalho significava que eu sempre trabalharia numa imprensa marginal.
Sim, eu sabia. E não, não me arrependo. Lá no curso, só tinha jornalistas de uma imprensa marginal e é muito bom saber que apesar de sermos poucos, estamos por todos os lugares do Brasil, lutando como se pode, fazendo milagres para conseguir uma notinha num grande jornal e o melhor, com a certeza de que se está do lado certo.
Eu sempre me senti um peixe fora da água, por inúmeros motivos. Talvez considere essa semana tão especial porque conheci um monte de pessoas que também são peixes fora da água, só que desta vez, estávamos compartilhando um lindo e comum aquário.
“E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda”. Caio Fernando Abreu
No início da semana, estava em São Paulo participando do 12º Festival Internacional das Escolas Luxor de Dança do Ventre. São três dias de workshops com bailarinos do mundo todo e na noite, tem apresentação de bandas árabes e de bailarinos brasileiros e internacionais.
O fantástico disso tudo é não se sentir um peixe fora da água, como normalmente acontece quando se gosta de algo que tem um mercado bastante restrito e que é, geralmente, deturpado. É ridícula e revoltante a reação de algumas pessoas quando falo que faço dança do ventre.
E são nesses eventos que encontramos pessoas que nos entendem. E ali que podemos falar de arabesquis, pliês, básico egípcio, mayas e robôs com a certeza de que seremos entendidas. E quando nos damos conta que o que leva as centenas de mulheres para este curso, é apenas o amor pela dança. Porque não é pela dor no corpo no final, os calos em baixo do pé, o chulé insuportável da sapatilha ou o mau jeito no músculo que resolveu incomodar que dançamos.
Diante da satisfação de acertar o passo e de se manter dentro do ritmo, as bobagens que a gente escuta se tornam tão pequenas e fora da realidade, que dá pena dessas pessoas que veem dançarinas do ventre como odaliscas, pois não imaginam o universo imensamente rico que estão perdendo.
E terminei a semana no curso 17º curso anual do Núcleo Piratininga da Comunicação: “Comunicação e hegemonia num mundo em ebulição”, no Rio de Janeiro. Durante os cinco dias do evento, tínhamos o dia cheio de debates interessantíssimos, com profissionais das mais diversas áreas.
Além de ter sido uma baita experiência para a minha carreira, pois eu nunca havia participado desse curso, foi também para a minha vida, a começar pela companhia e a certeza de que voltei do Rio com uma grande amiga.
Novamente, o mais incrível são as pessoas como a gente que estavam participando do curso. Uma vez, quando fazia a monografia da minha pós, que abordou a manipulação da mídia referente aos assuntos dos movimentos sociais, ouvi de um jornalista que havia estudado comigo na faculdade, se eu sabia que o tal trabalho significava que eu sempre trabalharia numa imprensa marginal.
Sim, eu sabia. E não, não me arrependo. Lá no curso, só tinha jornalistas de uma imprensa marginal e é muito bom saber que apesar de sermos poucos, estamos por todos os lugares do Brasil, lutando como se pode, fazendo milagres para conseguir uma notinha num grande jornal e o melhor, com a certeza de que se está do lado certo.
Eu sempre me senti um peixe fora da água, por inúmeros motivos. Talvez considere essa semana tão especial porque conheci um monte de pessoas que também são peixes fora da água, só que desta vez, estávamos compartilhando um lindo e comum aquário.
“E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda”. Caio Fernando Abreu
Tuesday, November 15, 2011
A necessidade de ter um hobby
Passei o final de semana no 12º Festival Internacional da Escola Luxor de Dança do Ventre, o maior evento desse tipo de dança no Brasil, são três dias de shows e cursos com dançarinos internacionais. Custou caro, mas é um investimento que vale a pena.
Não sou, nem vou ser dançarina profissional. Mas ter um hobby e investir nisso abrange muito a nossa qualidade de vida. Há dias eu não conseguia me focar em algo a ponto de deixar de pensar nos problemas e, por algumas horas consegui.
Todo mundo deveria ter um hobby. Tenho um tio que é artesão e passou a vida toda inventando arte, um trabalho criativo, sem chefes e horários a cumprir que permitiu criar as minhas primas. Mas quer ouvir ele falar de um assunto por horas com a impolgação de uma criança é falar de jardinagem.
Ele compra livros sobre o assunto, entende qual é o melhor tipo de terra e adubo para determinado tipo de planta. Aliás o jardim a casa dele é praticamente um pomar que está sempre florido.
A minha professora de dança do ventre passou os três dias do Festival mais preocupada com os tecidos que ela tinha comprado na 25 de março do que com os cursos. Depois da dança, o que ela mais gosta de fazer é costurar, principalmente com Pacthwork.
Não pretendo viver só da dança e, nem gostaria. Meu tio não vai virar jardineiro e nem minha professora, costureira. Mas é bom fazer algo, por mais que leve tempo e custe caro, pra gente mesmo. Há um prazer inexplicável em se dedicar a algo por puro prazer e um desejo irresistível e duvidoso de um dia largar tudo e viver só desse prazer.
Não sou, nem vou ser dançarina profissional. Mas ter um hobby e investir nisso abrange muito a nossa qualidade de vida. Há dias eu não conseguia me focar em algo a ponto de deixar de pensar nos problemas e, por algumas horas consegui.
Todo mundo deveria ter um hobby. Tenho um tio que é artesão e passou a vida toda inventando arte, um trabalho criativo, sem chefes e horários a cumprir que permitiu criar as minhas primas. Mas quer ouvir ele falar de um assunto por horas com a impolgação de uma criança é falar de jardinagem.
Ele compra livros sobre o assunto, entende qual é o melhor tipo de terra e adubo para determinado tipo de planta. Aliás o jardim a casa dele é praticamente um pomar que está sempre florido.
A minha professora de dança do ventre passou os três dias do Festival mais preocupada com os tecidos que ela tinha comprado na 25 de março do que com os cursos. Depois da dança, o que ela mais gosta de fazer é costurar, principalmente com Pacthwork.
Não pretendo viver só da dança e, nem gostaria. Meu tio não vai virar jardineiro e nem minha professora, costureira. Mas é bom fazer algo, por mais que leve tempo e custe caro, pra gente mesmo. Há um prazer inexplicável em se dedicar a algo por puro prazer e um desejo irresistível e duvidoso de um dia largar tudo e viver só desse prazer.
Wednesday, November 09, 2011
Saco!
Para ler ao som de “Ouro de Tolo” de Raul Seixas
Não é nada fácil ser eu. Assim, como imagino, não deva ser nada fácil ser você. Todo mundo tem perrengue, conta para pagar e dor de barriga na rua, quando não há nenhum banheiro por perto. E mesmo com tudo isso, a gente segue se equilibrando no abismo assustador entre o que a vida é e o que gostaríamos que ela fosse.
Cansa. Dói. Machuca. Viver é tão tedioso como um filme em plano sequência, um dia a gente sucumbe e deixa de achar graça na desgraça, ficamos mais chatos, mas compreendemos que certas inocências tem que serem perdidas.
Raul já dizia “mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado... eu acho tudo isso um saco!” Tenho escutado muito essa música e gritado bem alto (porque eu não sei cantar) que eu acho tudo isso um saco.
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
Mas ouro de tolos que somos, a gente sabe que quando olhamos no retrovisor, encontramos algumas boas histórias pra contar. Até que foi divertido e às vezes chegamos a pensar que a vida era uma comédia pastelão que passa na sessão da tarde. Há meia dúzia de pessoas que sentiremos saudade e que em diversos momentos nos despertaram o desejo de ser melhores, porque essas pessoas mereciam que fossemos melhores. Mas não somos.
O problema é que nada disso facilita a minha vida. Eu continuo achando tudo isso um saco! E você? É um saco pra você também?
Não é nada fácil ser eu. Assim, como imagino, não deva ser nada fácil ser você. Todo mundo tem perrengue, conta para pagar e dor de barriga na rua, quando não há nenhum banheiro por perto. E mesmo com tudo isso, a gente segue se equilibrando no abismo assustador entre o que a vida é e o que gostaríamos que ela fosse.
Cansa. Dói. Machuca. Viver é tão tedioso como um filme em plano sequência, um dia a gente sucumbe e deixa de achar graça na desgraça, ficamos mais chatos, mas compreendemos que certas inocências tem que serem perdidas.
Raul já dizia “mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado... eu acho tudo isso um saco!” Tenho escutado muito essa música e gritado bem alto (porque eu não sei cantar) que eu acho tudo isso um saco.
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
Mas ouro de tolos que somos, a gente sabe que quando olhamos no retrovisor, encontramos algumas boas histórias pra contar. Até que foi divertido e às vezes chegamos a pensar que a vida era uma comédia pastelão que passa na sessão da tarde. Há meia dúzia de pessoas que sentiremos saudade e que em diversos momentos nos despertaram o desejo de ser melhores, porque essas pessoas mereciam que fossemos melhores. Mas não somos.
O problema é que nada disso facilita a minha vida. Eu continuo achando tudo isso um saco! E você? É um saco pra você também?
Friday, November 04, 2011
O show que eu não fui
Foi o fim do mundo, quando aos 12 anos, não fui no show do Skank na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo. Fiquei pra morrer, um ano depois, quando meus primos não me levaram num show do Planet Hemp, na praia. Com 19, tive minha primeira crise de pânico, minutos antes do The Calling subir no palco, me levaram para enfermaria e eu perdi o show. Ano passado, foi necessário nem pensar em ir ver o Paul McCartney, todas as minhas economias estavam direcionadas para a viagem à Europa.
Esta noite, eu deveria ter ido no show do Hanson. Fui no show deles há 11 anos atrás, no Gigantinho, em Porto Alegre. Foi meu primeiro show sozinha, acordei de madrugada e me plantei do lado da cama dos meus pais. Apesar de ter sido meu primeiro show sozinha, meu pai e meu irmão me acompanharam na fila e depois da apresentação já ter começado, compraram dois ingressos por R$ 10,00 de um cambista e assistiram tudo da arquibancada.
Depois disso, perdi a conta de quantos shows fui sozinha, mas é deste que lembro com mais carinho, porque além das lembranças daquele dia de outubro de 2000, o Hanson me rendeu uma amiga: a Mérilin Mereza. Há mais de uma década somos amigonas, mas só nos conhecemos mês passado. Começamos trocando cartas (as fotos que tirou do show queimaram e ela colocou um anúncio no jornal), mas como acompanhamos a evolução do mundo, passamos para e-mail, MSN, orkut, facebook...
Ela é uma das amigas mais presentes que tenho, acompanhamos (mesmo de longe) muitas mudanças nesses anos todos. Nós conhecemos mês passado, na Casa de Nazaré, onde nós duas estamos trabalhando e foi como tinha de ser, como reencontrar uma velha amiga. Combinamos de ir no show do Hanson hoje, mas eu não fui, e nem vou tentar resgatar o dinheiro do ingresso, vou guardar de recordação. Não foi o fim do mundo não ter ido, porque realmente não teria condições de agüentar um show com a crise de sinusite que eu estou.
Quanto ao Hanson, não são mais minha banda preferida, mas ainda escuto os dois CDs que tenho deles, o primeiro Middle Of Nowhere, que tem o sucesso MMMBop e o segundo e ótimo, This Time Around. Quando estou triste, sempre ponho para tocar A Song to Sing e sinceramente, preferia ter continuado apaixonada pelo Zac Hanson, teria sido mais seguro.
Seria muito bom ter ido com a Mérilin no show do Hanson. Seria simbólico! Mas como o destino não falha, daqui alguns anos eles voltam e nos vamos. Por enquanto, vou mandar um email pra ela me enviar as fotos do show. Afinal, amigas são pra isso.
Esta noite, eu deveria ter ido no show do Hanson. Fui no show deles há 11 anos atrás, no Gigantinho, em Porto Alegre. Foi meu primeiro show sozinha, acordei de madrugada e me plantei do lado da cama dos meus pais. Apesar de ter sido meu primeiro show sozinha, meu pai e meu irmão me acompanharam na fila e depois da apresentação já ter começado, compraram dois ingressos por R$ 10,00 de um cambista e assistiram tudo da arquibancada.
Depois disso, perdi a conta de quantos shows fui sozinha, mas é deste que lembro com mais carinho, porque além das lembranças daquele dia de outubro de 2000, o Hanson me rendeu uma amiga: a Mérilin Mereza. Há mais de uma década somos amigonas, mas só nos conhecemos mês passado. Começamos trocando cartas (as fotos que tirou do show queimaram e ela colocou um anúncio no jornal), mas como acompanhamos a evolução do mundo, passamos para e-mail, MSN, orkut, facebook...
Ela é uma das amigas mais presentes que tenho, acompanhamos (mesmo de longe) muitas mudanças nesses anos todos. Nós conhecemos mês passado, na Casa de Nazaré, onde nós duas estamos trabalhando e foi como tinha de ser, como reencontrar uma velha amiga. Combinamos de ir no show do Hanson hoje, mas eu não fui, e nem vou tentar resgatar o dinheiro do ingresso, vou guardar de recordação. Não foi o fim do mundo não ter ido, porque realmente não teria condições de agüentar um show com a crise de sinusite que eu estou.
Quanto ao Hanson, não são mais minha banda preferida, mas ainda escuto os dois CDs que tenho deles, o primeiro Middle Of Nowhere, que tem o sucesso MMMBop e o segundo e ótimo, This Time Around. Quando estou triste, sempre ponho para tocar A Song to Sing e sinceramente, preferia ter continuado apaixonada pelo Zac Hanson, teria sido mais seguro.
Seria muito bom ter ido com a Mérilin no show do Hanson. Seria simbólico! Mas como o destino não falha, daqui alguns anos eles voltam e nos vamos. Por enquanto, vou mandar um email pra ela me enviar as fotos do show. Afinal, amigas são pra isso.
Thursday, November 03, 2011
Fim de tarde
Hoje, depois que cheguei do hospital, fiquei sentada no pátio, curtindo o entardecer e vendo o sol se pôr. Que nem os velhos fazem nos fins de tarde. Vi as vizinhas vindo da caminhada e me lembrei que alguns anos atrás eu chegava do serviço e tinha energia para caminhar... Me tornei uma velha com 26 anos.
Fiquei ali sentada vendo o céu azul acabar no verde das árvores. Estava lendo a biografia da Clarice Lispector. Se um tiver uma filha, ela vai se chamar Maria Helena ou Clarice, por causa da escritora.
Mas eu não terei filhos, nem enteado, nem marido. Nem serei escritora como a Clarice. Como uma velha num fim de tarde, cheguei no fim da linha. Já estive em poços bem fundos, mas nunca um fundo do poço foi tão fundo como este. Se o paraíso existe, o meu terá céu azul e árvores verdes.
Fiquei ali sentada vendo o céu azul acabar no verde das árvores. Estava lendo a biografia da Clarice Lispector. Se um tiver uma filha, ela vai se chamar Maria Helena ou Clarice, por causa da escritora.
Mas eu não terei filhos, nem enteado, nem marido. Nem serei escritora como a Clarice. Como uma velha num fim de tarde, cheguei no fim da linha. Já estive em poços bem fundos, mas nunca um fundo do poço foi tão fundo como este. Se o paraíso existe, o meu terá céu azul e árvores verdes.
Sunday, September 18, 2011
Meia vida
Recentemente, conheci e passei a conviver com algumas pessoas novas. O Juliano de cara me ganhou, é inteligente, querido, piadista, tira sarro dele mesmo. Me chamou a atenção o fato dele reclamar muita da sua profissão, para minha surpresa quando perguntei o motivo de tanta frustração, a resposta foi “ah querida, tive que agradar papai e mamãe e segui a carreira deles.”
E tem mais, ele tem uns quarentas anos, é homossexual e está sempre falando na Paulinha, sua filha. Claro que eu perguntei como é se descobrir gay depois de ter uma família formada e a resposta: “eu sempre soube que era gay, mas antes de assumir, tive que agradar a sociedade.”
Não sei se admiro ou se sinto dó de pessoas assim. E o Juliano não é o único não, aliás, ele faz parte de uma maioria de pessoas que passam a vida agradando os outros e esquecendo de si, sacrificando suas vontades e desejos.
O próprio Juliano tem uma colega no trabalho que também não está feliz com sua profissão. O sonho dela é ser designer de jóias, mas como vai largar um emprego, uma profissão tradicional, um futuro promissor por causa de um desejo. Todo dia, ela chega com colares, brincos, anéis, pulseiras lindíssimas, tudo feito pela própria. E quando alguém a elogia, mais do que vergonha, há culpa na sua voz. Será que o futuro brilhante será permeado por culpa de não ter feito o que se quis?
Nos últimos meses, devido a sentimentos que me mudaram, observei muito as pessoas e infelizmente o discurso de “corra atrás do que você quer, vá ser feliz”, não é a pratica da maioria. Conheço muitas gente assim, pessoas incríveis e que eu amo, mas que vivem pela metade.
Viver não é fácil para ninguém, mas imagino que viver sendo o que não é, deve ser ainda pior. Procuro ser o mais fiel possível a mim e ainda assim, acho a vida uma barra pesadíssima. Tenho uma amiga, de verdade, que diz que sempre pagamos o preço pelas nossas escolhas e pagamos mesmo, mas penso que no final das contas, quem foi verdadeiro ganha um bom desconto.
E tem mais, ele tem uns quarentas anos, é homossexual e está sempre falando na Paulinha, sua filha. Claro que eu perguntei como é se descobrir gay depois de ter uma família formada e a resposta: “eu sempre soube que era gay, mas antes de assumir, tive que agradar a sociedade.”
Não sei se admiro ou se sinto dó de pessoas assim. E o Juliano não é o único não, aliás, ele faz parte de uma maioria de pessoas que passam a vida agradando os outros e esquecendo de si, sacrificando suas vontades e desejos.
O próprio Juliano tem uma colega no trabalho que também não está feliz com sua profissão. O sonho dela é ser designer de jóias, mas como vai largar um emprego, uma profissão tradicional, um futuro promissor por causa de um desejo. Todo dia, ela chega com colares, brincos, anéis, pulseiras lindíssimas, tudo feito pela própria. E quando alguém a elogia, mais do que vergonha, há culpa na sua voz. Será que o futuro brilhante será permeado por culpa de não ter feito o que se quis?
Nos últimos meses, devido a sentimentos que me mudaram, observei muito as pessoas e infelizmente o discurso de “corra atrás do que você quer, vá ser feliz”, não é a pratica da maioria. Conheço muitas gente assim, pessoas incríveis e que eu amo, mas que vivem pela metade.
Viver não é fácil para ninguém, mas imagino que viver sendo o que não é, deve ser ainda pior. Procuro ser o mais fiel possível a mim e ainda assim, acho a vida uma barra pesadíssima. Tenho uma amiga, de verdade, que diz que sempre pagamos o preço pelas nossas escolhas e pagamos mesmo, mas penso que no final das contas, quem foi verdadeiro ganha um bom desconto.
Wednesday, August 31, 2011
Agosto, 31
Então, chegamos no último dia do mês do cachorro louco e ao que tudo indica, sãos e salvos. Sobrevivemos a piora na crise econômica mundial, ao frio gaúcho, as chuvas que pareciam não ter fim, aos desgostos mensais e pessoais, sustos, surpresas e delírios, ao contra cheque (que é o mais louco dos cachorros que nos latem), aos atrasos e desencontros, aos trancos e barrancos, ataques de fúria, euforia e marasmo total. E eu, leonina agostina, sobrevivi a mais um aniversário.
Que venha setembro com a primavera e o sol em libra. E para lembrarmos que nem sempre agosto é assim, tão ruim, deixo um texto do amado Caio Fernando Abreu, publicado em 06 de agosto de 1995, no jornal O Estado, de São Paulo. Porque, afinal, conseguimos fazer essa travessia com sucesso.
Sugestões para atravessar agosto
Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah! Escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos – ou precauções-úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade…Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.
Que venha setembro com a primavera e o sol em libra. E para lembrarmos que nem sempre agosto é assim, tão ruim, deixo um texto do amado Caio Fernando Abreu, publicado em 06 de agosto de 1995, no jornal O Estado, de São Paulo. Porque, afinal, conseguimos fazer essa travessia com sucesso.
Sugestões para atravessar agosto
Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah! Escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos – ou precauções-úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade…Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas – coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.
Sunday, August 21, 2011
Aninha
De todas as minhas amigas, a Ana é a mais diferente de mim, sempre foi. Nos conhecemos no nosso primeiro emprego, na prefeitura de São Leopoldo. Ela estava terminando o ensino médio e queria fazer engenharia. Eu estava no primeiro semestre de jornalismo e com 17 anos, não tirava meus all stars e raramente sai a noite, quer dizer, minha balada era ir no bar BR3, onde podia ir com camiseta de banda e tênis. Enquanto a Ana, aos 16 já se equilibrava em cima de salto fino, adorava uma balada e tinha identidade falsa para poder entrar aonde quisesse.
Hoje, ela mora em Curitiba, está no último semestre de engenharia e namora o mesmo cara que ela estava ficando na primeira vez que fui visitá-la. Entre a prefeitura e a capital do Paraná muita coisa aconteceu. Fomos em festas, shows, cinemas, MC Donalds, caminhávamos nas tardes de domingo, íamos de ônibus para o shopping de Novo Hamburgo, de trem para o shopping de Canoas, mudamos de emprego, nos encontrávamos na universidade, enfrentamos uma viagem de ônibus num 29 de dezembro para passar o réveillon na Ilha do Mel.
Vi a Aninha passar no vestibular, entrar na UFRGS, brigar com o pai, reclamar dos irmãos e bêbada algumas vezes. Ela também foi testemunha de muitas coisas na minha vida e esteve comigo num dos piores momentos da minha vida, quando me afundei na primeira crise de depressão que tive, aos 19 anos. A Ana poderia ser só uma colega de trabalho ou uma parceira para festas, mas acabou sendo a única das minhas amigas que esteve do meu lado quando eu, com certeza, não era a pessoa mais animada do mundo.
Desde que ela foi embora, algumas coisas mudaram, ela emagreceu e aprendeu a gostar de malhar, eu me formei e aprendi a gostar de sair de noite. Na última sexta, saímos para beber (ela veio visitar os irmãos em Porto Alegre), falamos do futuro, dos nossos trabalhos, da formatura dela e do passado. Pela primeira vez, ela me viu um pouco bêbada e lá pelas tantas, me perguntou “tu lembra que tu foi a primeira pessoa a falar comigo lá na prefeitura?”
Eu lembro, claro que lembro, até da roupa que ela usava. Eu estava na sala do lado e volta e meia olhava para aquela menina gordinha que seria minha nova colega e que, erroneamente, chamávamos de “espiã”, até que não aguentei e pensei que deveria ir lá dar as boas vindas para ela. E fui.
Tuesday, August 16, 2011
Nostalgia: de Meia Noite em Paris a Smurfs
Semanas atrás, assisti "Meia Noite em Paris" do Woody Allen. No filme, o roteirista Gil (Owen Wilson) é um cara nostálgico. E de tanto desejar viver em épocas passadas é transportado para a era do ouro parisiense e passa a conviver com o francês Jean Cocteau, ouvir Cole Porter tocar piano e bater altos papos com Scott e Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway, T.S. Eliot e outros que ele admira.
Sim, eu gostei do filme. O que mais me chamou atenção foi a nostalgia, para mim ela é a personagem principal. Mais do que voltar no tempo, quem nunca desejou viver em outra época? Woody Allen tem insights fantásticos sobre o inevitável vazio que a nostalgia gera. Para ele, não vale a pena idealizar o passado porque a vida é ruim assim mesmo, não importa a época.
Para mim, esta nostalgia vem do fato de não termos a capacidade de assimilar a contemporaneidade. Inseridos num contexto, não conseguimos enxergá-lo por completo, simples assim. Por exemplo, minha geração, usuária de Facebook, Twitter, Orkut e afins, não tem noção do quanto o surgimento dessas ferramentas vai significar no futuro. Talvez muitos dos nossos filhos e netos vão desejar viver na época dos primeiros usuários de redes sociais.
Essa semana, fui assistir “Smurfs” e o cinema estava lotado de adultos que, como eu, acordavam cedo na década de 80 só para não perder o desenho.
Sim, eu gostei do filme. Como toda obra de algo que já existe há muito tempo, o filme é cheio de referências à cultura contemporânea, de Kate Perry a Obama. E faz questão de explicar para quem, por um acaso, descobrir os anõezinhos azuis agora, que eles foram criados pelo Peyo, na década de 50.
Os dois são filmes inteligentes. Se é em Smurfs que se espera a maior dose de fantasia, é em um filme do Woody Allen que alguém entra num carro e é transportado ao passado. Se é em Meia Noite em Paris que esperamos lições de morais sobre vida, é numa animação que encontramos críticas a sociedade e a inversão de valores que vivemos.
Em ambos, saímos nos perguntando se “dá para voltar no tempo”? Não precisa ser para descobrir que a Era de Ouro era uma merda para quem estava lá, já está bom assistir Smurfs todo dia.
Sim, eu gostei do filme. O que mais me chamou atenção foi a nostalgia, para mim ela é a personagem principal. Mais do que voltar no tempo, quem nunca desejou viver em outra época? Woody Allen tem insights fantásticos sobre o inevitável vazio que a nostalgia gera. Para ele, não vale a pena idealizar o passado porque a vida é ruim assim mesmo, não importa a época.
Para mim, esta nostalgia vem do fato de não termos a capacidade de assimilar a contemporaneidade. Inseridos num contexto, não conseguimos enxergá-lo por completo, simples assim. Por exemplo, minha geração, usuária de Facebook, Twitter, Orkut e afins, não tem noção do quanto o surgimento dessas ferramentas vai significar no futuro. Talvez muitos dos nossos filhos e netos vão desejar viver na época dos primeiros usuários de redes sociais.
Essa semana, fui assistir “Smurfs” e o cinema estava lotado de adultos que, como eu, acordavam cedo na década de 80 só para não perder o desenho.
Sim, eu gostei do filme. Como toda obra de algo que já existe há muito tempo, o filme é cheio de referências à cultura contemporânea, de Kate Perry a Obama. E faz questão de explicar para quem, por um acaso, descobrir os anõezinhos azuis agora, que eles foram criados pelo Peyo, na década de 50.
Os dois são filmes inteligentes. Se é em Smurfs que se espera a maior dose de fantasia, é em um filme do Woody Allen que alguém entra num carro e é transportado ao passado. Se é em Meia Noite em Paris que esperamos lições de morais sobre vida, é numa animação que encontramos críticas a sociedade e a inversão de valores que vivemos.
Em ambos, saímos nos perguntando se “dá para voltar no tempo”? Não precisa ser para descobrir que a Era de Ouro era uma merda para quem estava lá, já está bom assistir Smurfs todo dia.
Monday, August 08, 2011
Feliz idade
Foi por pouco, por muito pouco. Mas cheguei aos 26, de todas as minhas idades, sem dúvida essa foi a que esteve mais a perigo. O último ano foi deverás difícil. Sou uma sobrevivente. Sobrevivi a uma saudade que, de fato, não me matou, mas me endureceu muito. E, por outro lado, me tornou muito mais sensível à vida.
Sei que no céu, por trás de toda essas nuvens cinzas, lá no infinito do universo, o Sol e Vênus estão em conjunção em Leão, o que pressagia um bom para quem aniversaria durante essa semana. Deixei de acreditar em muitas coisas no último ano, mas no universo e em suas andanças invisíveis, eu persisto crendo.
Não quero e nem gosto de festas, aliás, continuo achando o dia do nosso aniversário extremamente triste. Mas há um ano novinho na minha frente e ainda bem, aniversário é só um dia.
Também não vou pedir nada, mas desejo sim, dias melhores. Dias de mais amor e menos saudade. Dias de mais presença e menos ausência. Dias de mais leveza e menos dores. Dias de mais choros bobos de alegria do que choros desesperados de angústia. Dias de mais vida!
Sei que no céu, por trás de toda essas nuvens cinzas, lá no infinito do universo, o Sol e Vênus estão em conjunção em Leão, o que pressagia um bom para quem aniversaria durante essa semana. Deixei de acreditar em muitas coisas no último ano, mas no universo e em suas andanças invisíveis, eu persisto crendo.
Não quero e nem gosto de festas, aliás, continuo achando o dia do nosso aniversário extremamente triste. Mas há um ano novinho na minha frente e ainda bem, aniversário é só um dia.
Também não vou pedir nada, mas desejo sim, dias melhores. Dias de mais amor e menos saudade. Dias de mais presença e menos ausência. Dias de mais leveza e menos dores. Dias de mais choros bobos de alegria do que choros desesperados de angústia. Dias de mais vida!
Sunday, August 07, 2011
D.R.
Eu já escrevi muito para o senhor, não é? Só que essa é a última. Você perdeu minha confiança e minha fé. Eu também perdi, pode acreditar. O fato é que, por enquanto, nossa relação acabou. Não acredito mais em ti. De verdade, gostaria de acreditar, mas não rola mais, minha crença é tão falsa como uma nota de dois reais.
Não se preocupa, não vou cair no lugar comum de te culpar e pensar que “Deus quis assim”, “Deus sabe o que faz” e “se Deus quiser”... Você é uma perfeita desculpa esfarrapada para as pessoas justificarem suas vidas medíocres. Não quero isso para mim, se caso me der conta da vida medíocre que levo quero ter a grandeza de saber que foi tudo por mim causa, minha única e máxima culpa. Não vou meter mais nada no teu cú.
Essa noção de que agora é tudo por minha conta e risco me concede uma liberdade incrível e também, uma responsabilidade assustadora. Afinal sempre vivi debaixo da tua asa e agora não tenho mais ninguém para justificar minhas escolhas erradas, minhas pisadas na bola e afins...
Conheço algumas pessoas que vivem muito bem sem você. Tenho pensado muito nelas, pois, como todo mundo, preciso de exemplos bem sucedidos. E são pessoas felizes, inteligentes e com uma fé absurda nelas mesmas. Penso que você, se é que existe, no fundo deve se orgulhar muito de nos, que conseguimos a carta de alforria de Deus, afinal somos uma preocupação a menos.
Bom querido, é isso. Por enquanto, é melhor cada um no seu canto. Um dia, talvez, num futuro distante, se você estiver afim e eu também, a gente pode tomar um chopp por aí e discutir a relação.
Não se preocupa, não vou cair no lugar comum de te culpar e pensar que “Deus quis assim”, “Deus sabe o que faz” e “se Deus quiser”... Você é uma perfeita desculpa esfarrapada para as pessoas justificarem suas vidas medíocres. Não quero isso para mim, se caso me der conta da vida medíocre que levo quero ter a grandeza de saber que foi tudo por mim causa, minha única e máxima culpa. Não vou meter mais nada no teu cú.
Essa noção de que agora é tudo por minha conta e risco me concede uma liberdade incrível e também, uma responsabilidade assustadora. Afinal sempre vivi debaixo da tua asa e agora não tenho mais ninguém para justificar minhas escolhas erradas, minhas pisadas na bola e afins...
Conheço algumas pessoas que vivem muito bem sem você. Tenho pensado muito nelas, pois, como todo mundo, preciso de exemplos bem sucedidos. E são pessoas felizes, inteligentes e com uma fé absurda nelas mesmas. Penso que você, se é que existe, no fundo deve se orgulhar muito de nos, que conseguimos a carta de alforria de Deus, afinal somos uma preocupação a menos.
Bom querido, é isso. Por enquanto, é melhor cada um no seu canto. Um dia, talvez, num futuro distante, se você estiver afim e eu também, a gente pode tomar um chopp por aí e discutir a relação.
Tuesday, August 02, 2011
Sobre guarda chuvas e outras coisas que se perdem
Para ler ouvindo "O Que Se Perde Enquanto Os Olhos Piscam", do Teatro Mágico
Quantos guarda chuvas a gente perde ao longo da vida? E para onde vão esses objetos? Por que imaginem a quantidade de sombrinhas e guarda chuvas que, de uma hora para outra, se vêem longe das mãos de seus donos. Deve haver um lugar no paraíso só para eles, assim como um céu só para cachorros.
Ou será que eles acabam evoluindo e viram guarda sóis coloridos? Bem melhor proteger crianças, mulheres branquelas e velhinhos do sol do que passar a vida sendo esquecido por aí. Guarda chuva quando não é perdido, comete suicídio quebrando haste por haste... Vida longa não são com eles.
E as canetas que desaparecem dentro da minha bolsa? Colocar uma caneta na bolsa e praticamente tocá-la no lixo, com a diferença que eu fico me achando uma louca, porque claro que tinha uma caneta dentro da minha bolsa! E quando eu preciso dela, ela some... Certos objetos adoram nos fazer de bobos.
Mas nada, nada se compara a um livro que lia no trem. Foi o sumiço mais estranho que já presenciei, porque ele estava, obviamente, em minhas mãos, até que o celular tocou. Um aparelho que nunca levava comigo e que nunca havia tocado antes. Mas tocou e estava na bolsa, que estava no meu colo. Enquanto ouvia uma das vozes que mais amo me fazendo uma proposta totalmente inesperada, gaguejei, o coração acelerou, a pressão oscilou e o livro sumiu.
Sim, eu consegui perder um livro dentro de um trem lotado. A última lembrança que tenho dele é que antes de sumir, apertou meu dedão, enquanto se fechava e ia na direção da minha bolsa. Mas ele foi embora, não ouvi nenhum barulho dele caindo. Meu livro sumiu, simples assim. Ainda bem que era um livro de crônicas, já pensou se eu ficasse sem saber o final da história?
Seja lá aonde vão os objetos perdidos, na área destinada a mim, tem várias sombrinhas, muitas canetas e um livro, que reina absoluto e volta e meia me faz questionar minha sanidade. Inclusive, vou discutir isso com o meu psiquiatra na próxima sessão.
Quantos guarda chuvas a gente perde ao longo da vida? E para onde vão esses objetos? Por que imaginem a quantidade de sombrinhas e guarda chuvas que, de uma hora para outra, se vêem longe das mãos de seus donos. Deve haver um lugar no paraíso só para eles, assim como um céu só para cachorros.
Ou será que eles acabam evoluindo e viram guarda sóis coloridos? Bem melhor proteger crianças, mulheres branquelas e velhinhos do sol do que passar a vida sendo esquecido por aí. Guarda chuva quando não é perdido, comete suicídio quebrando haste por haste... Vida longa não são com eles.
E as canetas que desaparecem dentro da minha bolsa? Colocar uma caneta na bolsa e praticamente tocá-la no lixo, com a diferença que eu fico me achando uma louca, porque claro que tinha uma caneta dentro da minha bolsa! E quando eu preciso dela, ela some... Certos objetos adoram nos fazer de bobos.
Mas nada, nada se compara a um livro que lia no trem. Foi o sumiço mais estranho que já presenciei, porque ele estava, obviamente, em minhas mãos, até que o celular tocou. Um aparelho que nunca levava comigo e que nunca havia tocado antes. Mas tocou e estava na bolsa, que estava no meu colo. Enquanto ouvia uma das vozes que mais amo me fazendo uma proposta totalmente inesperada, gaguejei, o coração acelerou, a pressão oscilou e o livro sumiu.
Sim, eu consegui perder um livro dentro de um trem lotado. A última lembrança que tenho dele é que antes de sumir, apertou meu dedão, enquanto se fechava e ia na direção da minha bolsa. Mas ele foi embora, não ouvi nenhum barulho dele caindo. Meu livro sumiu, simples assim. Ainda bem que era um livro de crônicas, já pensou se eu ficasse sem saber o final da história?
Seja lá aonde vão os objetos perdidos, na área destinada a mim, tem várias sombrinhas, muitas canetas e um livro, que reina absoluto e volta e meia me faz questionar minha sanidade. Inclusive, vou discutir isso com o meu psiquiatra na próxima sessão.
Monday, August 01, 2011
Sob o sol de Leão*
Neste exato momento há uma conspiração favorável no universo. Favorável a tudo e a todos que sejam de bem e do bem. O Sol está em Leão, assim como Vênus e a Lua, que se fazendo Nova, dá coragem para que novos e necessários ciclos sejam começados. E Mercúrio, o mestre da comunicação, do intelecto, o mensageiro entre os mundos, está na sua casa, Virgem.
Essa conjunção é boa para nos, leoninos, que fazemos a festa desde o final de julho, para os virginianos que não sofrerão tanto com o inferno astral e para todos, de maneira geral, pois seremos menos atingidos pelas angústias agostianas.
É bom um céu assim, especialmente, na primeira semana de agosto, esse lendário mês de desgostos e cachorros loucos. Que esse céu tão solar, tão leonino, traga enfim, as boas novas, para aquietar meu coração que tem Vênus em Câncer e, portanto, não sabe lidar com o final das coisas e tem um medo danado de novos começos.
Que a conspiração astral amenize minha ansiedade Libriana e que esse meu ascendente não exerça o seu domínio, tão fortemente, sobre mim. Como eu não vou enlouquecer considerando todos os “e se...” e os “mas e se...” que a vida me oferece? Acreditem, minha Lua em Touro nada ajuda nessa hora.
Que o dia 8, com toda a sua forma de infinito e seus círculos contínuos (que nascem, morrem e renascem) me façam perceber que estamos quase no final do ano. Depois de Leão, só temos que esperar Virgem passar para que a Balança e os sedutores librianos nos tragam as flores e o clima primaveril. Quem sabe aí a gente entenda o favorável universo do hoje e colheremos os frutos. Que serão saborosos.
*Inspirado em Zero grau de Libra, de Caio Fernando Abreu
Essa conjunção é boa para nos, leoninos, que fazemos a festa desde o final de julho, para os virginianos que não sofrerão tanto com o inferno astral e para todos, de maneira geral, pois seremos menos atingidos pelas angústias agostianas.
É bom um céu assim, especialmente, na primeira semana de agosto, esse lendário mês de desgostos e cachorros loucos. Que esse céu tão solar, tão leonino, traga enfim, as boas novas, para aquietar meu coração que tem Vênus em Câncer e, portanto, não sabe lidar com o final das coisas e tem um medo danado de novos começos.
Que a conspiração astral amenize minha ansiedade Libriana e que esse meu ascendente não exerça o seu domínio, tão fortemente, sobre mim. Como eu não vou enlouquecer considerando todos os “e se...” e os “mas e se...” que a vida me oferece? Acreditem, minha Lua em Touro nada ajuda nessa hora.
Que o dia 8, com toda a sua forma de infinito e seus círculos contínuos (que nascem, morrem e renascem) me façam perceber que estamos quase no final do ano. Depois de Leão, só temos que esperar Virgem passar para que a Balança e os sedutores librianos nos tragam as flores e o clima primaveril. Quem sabe aí a gente entenda o favorável universo do hoje e colheremos os frutos. Que serão saborosos.
*Inspirado em Zero grau de Libra, de Caio Fernando Abreu
Monday, July 25, 2011
Sinais
Na estação aeroporto do trensurb entram dois rapazes. O trem está lotado, mas eles param perto de mim. Pela maneira como se tocam e pela cumplicidade que há em seus olhares, imagino que são namorados.
Um deles, o mais falante, ostenta uma pele bronzeada e tem na mochila a etiqueta de uma agência de viagem. O outro é mais quieto e não trás nenhuma bagagem, apenas um copo de milkshake do Bob’s vazio. Chovia muito, estamos todos um pouco molhados.
Na estação Niterói, a gente consegue sentar, eles num banco de frente para mim. O moreno olha para tudo com uma curiosidade de quem está em um lugar pela primeira vez, o outro tem um ar preocupado como se perguntasse “será que ele está gostando?”
Enquanto olho os pingos de chuva na janela, começo a pensar nos meus amigos gays e percebo que aquele casal é um sinal. Um sinal de vida, de que devemos ter esperança, de que as coisas vão dar certo.
O celular do “turista” toca e eu escuto um pouco da conversa: “sim, cheguei bem. Tá frio, bastante frio, mas o Giovani disse que esses dias estava congelante. Sim, sim estamos indo para a casa dele, vou passar para ele...”
Pergunto da onde ele é, me responde com um sorriso que é do Rio de Janeiro, o que explica aquele tom de pele lindo. Então, passo a ter certeza de que é um sinal. Num fim de tarde chuvoso, há um carioca sentado na minha frente, num trem lotado. Um carioca, como o homem que amo. E outro, chamando Giovani. É um sinal, eu sei que é. É a vida subjetiva me mandando mensagens subliminares.
Conversamos um pouco. Quando vou descer, eles olham para mim e me desejam “todo o amor do mundo”. Sim, agora não há dúvida, é um aviso de que tudo dará certo e que eu terei sim, todo o amor do mundo.
Um deles, o mais falante, ostenta uma pele bronzeada e tem na mochila a etiqueta de uma agência de viagem. O outro é mais quieto e não trás nenhuma bagagem, apenas um copo de milkshake do Bob’s vazio. Chovia muito, estamos todos um pouco molhados.
Na estação Niterói, a gente consegue sentar, eles num banco de frente para mim. O moreno olha para tudo com uma curiosidade de quem está em um lugar pela primeira vez, o outro tem um ar preocupado como se perguntasse “será que ele está gostando?”
Enquanto olho os pingos de chuva na janela, começo a pensar nos meus amigos gays e percebo que aquele casal é um sinal. Um sinal de vida, de que devemos ter esperança, de que as coisas vão dar certo.
O celular do “turista” toca e eu escuto um pouco da conversa: “sim, cheguei bem. Tá frio, bastante frio, mas o Giovani disse que esses dias estava congelante. Sim, sim estamos indo para a casa dele, vou passar para ele...”
Pergunto da onde ele é, me responde com um sorriso que é do Rio de Janeiro, o que explica aquele tom de pele lindo. Então, passo a ter certeza de que é um sinal. Num fim de tarde chuvoso, há um carioca sentado na minha frente, num trem lotado. Um carioca, como o homem que amo. E outro, chamando Giovani. É um sinal, eu sei que é. É a vida subjetiva me mandando mensagens subliminares.
Conversamos um pouco. Quando vou descer, eles olham para mim e me desejam “todo o amor do mundo”. Sim, agora não há dúvida, é um aviso de que tudo dará certo e que eu terei sim, todo o amor do mundo.
Wednesday, July 20, 2011
Enchendo os pulmões de ar
Medo. Estou com medo, apavorada na verdade. A vida está se encaminhando para algo que quero muito, mas com essa possibilidade veio, também, um medo danado.
De perder o controle antes da hora, de ter a faca e o queijo na mão e acabar me cortando ou pior, de deixar o queijo mofar. De me sabotar, de achar que não mereço tanto e jogar tudo fora. Sim, porque a maioria das pessoas abre mão de ser feliz, a maioria não tem a consciência de que merecemos ser felizes.
Existe um ditado árabe que diz: "quando Deus quer enlouquecer alguém, ele realiza todos os seus desejos". Então, estou há um passo da loucura, logo eu, que até Deus estou contestando. Mas se tudo der certo, vou me tornar a pessoa mais crédula do mundo e passarei meus dias louvando o senhor e, só isso, já será uma loucura total.
Não vou negar que esse medo dos últimos dias tem feito eu me sentir viva e penso que isso é bom. Sentir a adrenalina correndo pelo corpo, o coração acelerado... Preciso dar longas respiradas, enchendo bem os pulmões de ar, para conseguir realizar as tarefas banais do dia.
Me sinto em cima de um prédio bem alto, pronta pra me atirar na feliz adrenalina da loucura plena de viver um desejo realizado. Porém, se Deus realmente não existir ou não estiver disposto a se divertir comigo enlouquecida, desta vez, a queda vai ser fatal.
"E de pensar nisso tudo, eu, homem feito. Tive medo e não consegui dormir..." Legião Urbana
De perder o controle antes da hora, de ter a faca e o queijo na mão e acabar me cortando ou pior, de deixar o queijo mofar. De me sabotar, de achar que não mereço tanto e jogar tudo fora. Sim, porque a maioria das pessoas abre mão de ser feliz, a maioria não tem a consciência de que merecemos ser felizes.
Existe um ditado árabe que diz: "quando Deus quer enlouquecer alguém, ele realiza todos os seus desejos". Então, estou há um passo da loucura, logo eu, que até Deus estou contestando. Mas se tudo der certo, vou me tornar a pessoa mais crédula do mundo e passarei meus dias louvando o senhor e, só isso, já será uma loucura total.
Não vou negar que esse medo dos últimos dias tem feito eu me sentir viva e penso que isso é bom. Sentir a adrenalina correndo pelo corpo, o coração acelerado... Preciso dar longas respiradas, enchendo bem os pulmões de ar, para conseguir realizar as tarefas banais do dia.
Me sinto em cima de um prédio bem alto, pronta pra me atirar na feliz adrenalina da loucura plena de viver um desejo realizado. Porém, se Deus realmente não existir ou não estiver disposto a se divertir comigo enlouquecida, desta vez, a queda vai ser fatal.
"E de pensar nisso tudo, eu, homem feito. Tive medo e não consegui dormir..." Legião Urbana
Friday, July 15, 2011
Dá pra voltar no tempo?
Tenho uma memória de elefante, sou capaz de reviver dias inteiros que já aconteceram, sei as datas e até horas. Por exemplo, recordo o dia 15 de junho de 1992, o dia que minha avó morreu, como se fosse ontem. Quando minha mãe foi fazer minha matrícula na primeira série e me levou junto para me mostrar a escola. Quando soube que tinha passado no vestibular e resolvi ir pra casa a pé, de tão feliz que estava. O dia da minha formatura, a missa da minha formatura, minha chegada em Barcelona, a noite que capotei de carro.
Claro que isso são coisas marcantes, mas tem as banais, os dias comuns que deixam suas digitais na eternidade. O dia que o tio Roni trocou de carro e levou todos os sobrinhos para tomar sorvete, ainda sinto a força dos meus dedos no banco quando ele falava: “gurizada, vou ligar o turbo!”
Uma noite na praia, caçando vagalumes com meu irmão. Uma brincadeira de esconde esconde na casa dos meus avós, que acabou porque uma prima pulou a janela do quarto e sujou toda a cama da vó, de barro. A bagunça na hora do almoço com os tios e primos de Florioanópolis, nas férias de inverno de 1994. Um luau na Guarda do Embaú, em 2004. Uma tarde na faculdade editando o programa de Tele II. Depois de anos, a subida até o Cristo Redentor, em 2009, (Gi, eu estava emocionadíssima!) O porre na festa do Congresso da CUT-RS. Coisas assim...
Acordo e penso: “bah hoje é 06 de fevereiro, em 1993 estava em Tramandaí e de noite eu ficaria deslumbrada diante de vagalumes dentro de um copo”. É assim, as coisas vem na garupa do elefante que é minha memória.
Agora são 15h30 e há um ano, em 15 de julho de 2010, eu estava feliz, muito feliz. Há essa hora estava saindo do trabalho, já tinha participado de uma reunião de funcionários da CUT e ido comprar TNT amarelo para a amiga Juliana colocar na mesa do chá de casa nova dela, que foi no final daquela tarde. Estava indo para um hotel no centro de Porto, onde encontraria o homem que amo.
Eu veria ele chegar, lindo. Iria para o chá da minha amiga com a Gi, arrumaríamos as mesas com a Ju, depois a Gi me ajudaria a ver quais salgadinhos não tinham carne. No início da noite, voltaria e sairíamos para beber. Lembro que enquanto a gente caminhava até um bar, pensava “não acredito que ele está aqui, comigo”. Ele me observou colocando as luvas e me disse: “tu é a segunda pessoa que conheço que usa luvas sem tirar os anéis.” E a gente riu. Eu estava feliz, ele parecia feliz.
Essa não foi a última vez que nos vimos, mas foi a última em que parecíamos felizes. É clichê se eu falar que se soubesse disso, teria abraçado mais, beijado mais? Eu morro de saudade dele, todos os dias eu morro um pouco e me supero muito.
Mas hoje, eu acordei com aquele desejo impossível de voltar no tempo de verdade e não através dessas lembranças tão próximas, tão densas e até palpáveis. Por favor máquina dos filmes da sessão da tarde, me leve de volta! Eu tenho pouco tempo para que esse milagre aconteça! Daqui um pouquinho, lá pelas 16h20, verei ele descendo do carro e estarei de novo no melhor lugar do mundo: os braços dele.
Claro que isso são coisas marcantes, mas tem as banais, os dias comuns que deixam suas digitais na eternidade. O dia que o tio Roni trocou de carro e levou todos os sobrinhos para tomar sorvete, ainda sinto a força dos meus dedos no banco quando ele falava: “gurizada, vou ligar o turbo!”
Uma noite na praia, caçando vagalumes com meu irmão. Uma brincadeira de esconde esconde na casa dos meus avós, que acabou porque uma prima pulou a janela do quarto e sujou toda a cama da vó, de barro. A bagunça na hora do almoço com os tios e primos de Florioanópolis, nas férias de inverno de 1994. Um luau na Guarda do Embaú, em 2004. Uma tarde na faculdade editando o programa de Tele II. Depois de anos, a subida até o Cristo Redentor, em 2009, (Gi, eu estava emocionadíssima!) O porre na festa do Congresso da CUT-RS. Coisas assim...
Acordo e penso: “bah hoje é 06 de fevereiro, em 1993 estava em Tramandaí e de noite eu ficaria deslumbrada diante de vagalumes dentro de um copo”. É assim, as coisas vem na garupa do elefante que é minha memória.
Agora são 15h30 e há um ano, em 15 de julho de 2010, eu estava feliz, muito feliz. Há essa hora estava saindo do trabalho, já tinha participado de uma reunião de funcionários da CUT e ido comprar TNT amarelo para a amiga Juliana colocar na mesa do chá de casa nova dela, que foi no final daquela tarde. Estava indo para um hotel no centro de Porto, onde encontraria o homem que amo.
Eu veria ele chegar, lindo. Iria para o chá da minha amiga com a Gi, arrumaríamos as mesas com a Ju, depois a Gi me ajudaria a ver quais salgadinhos não tinham carne. No início da noite, voltaria e sairíamos para beber. Lembro que enquanto a gente caminhava até um bar, pensava “não acredito que ele está aqui, comigo”. Ele me observou colocando as luvas e me disse: “tu é a segunda pessoa que conheço que usa luvas sem tirar os anéis.” E a gente riu. Eu estava feliz, ele parecia feliz.
Essa não foi a última vez que nos vimos, mas foi a última em que parecíamos felizes. É clichê se eu falar que se soubesse disso, teria abraçado mais, beijado mais? Eu morro de saudade dele, todos os dias eu morro um pouco e me supero muito.
Mas hoje, eu acordei com aquele desejo impossível de voltar no tempo de verdade e não através dessas lembranças tão próximas, tão densas e até palpáveis. Por favor máquina dos filmes da sessão da tarde, me leve de volta! Eu tenho pouco tempo para que esse milagre aconteça! Daqui um pouquinho, lá pelas 16h20, verei ele descendo do carro e estarei de novo no melhor lugar do mundo: os braços dele.
Assinale a justificativa correta
Eu ando de saco cheio de tudo, o que não é nenhuma novidade. Incrível é estar tranqüila porque sei que é o meu inferno astral. Daqui uns dias, assim que o sol ingressar em Leão, vai passar.
Caso no próximo mês, eu continue assim, não esquecem que agosto é o mês do cachorro louco, que a bruxa anda solta e todas as coisas que ouvimos a vida toda da cultura popular, acabam influenciando no nosso comportamento.
Com certeza, em setembro, com a chegada da primavera, tudo ficar mais ameno. Se bem que o pólen das flores solto no ar dá alergia e as pessoas acabam ficando meio de saco cheio até com a estação mais bonita do ano.
Mas assim eu vou e o tempo vai passando, busco desculpas esfarrapadas pra enfrentar a dor. Um dia quando eu me der conta, já terá passado muitos anos, muitos infernos astrais, agostos e primaveras. E eu terei sobrevivido.
E muito provavelmente não terei achado a justificativa correta para estar quase sempre de saco cheio. Minha vida está longe de ser monótona e tenho consciência da grandiosidade desse mistério que é a vida. Muito das minhas dores se devem ao fato de eu não querer e não achar normal viver uma vida pela metade. Ando tão de saco cheio porque viver me dói muito.
Caso no próximo mês, eu continue assim, não esquecem que agosto é o mês do cachorro louco, que a bruxa anda solta e todas as coisas que ouvimos a vida toda da cultura popular, acabam influenciando no nosso comportamento.
Com certeza, em setembro, com a chegada da primavera, tudo ficar mais ameno. Se bem que o pólen das flores solto no ar dá alergia e as pessoas acabam ficando meio de saco cheio até com a estação mais bonita do ano.
Mas assim eu vou e o tempo vai passando, busco desculpas esfarrapadas pra enfrentar a dor. Um dia quando eu me der conta, já terá passado muitos anos, muitos infernos astrais, agostos e primaveras. E eu terei sobrevivido.
E muito provavelmente não terei achado a justificativa correta para estar quase sempre de saco cheio. Minha vida está longe de ser monótona e tenho consciência da grandiosidade desse mistério que é a vida. Muito das minhas dores se devem ao fato de eu não querer e não achar normal viver uma vida pela metade. Ando tão de saco cheio porque viver me dói muito.
Wednesday, July 13, 2011
Casa de Nazaré
Há uns 10 anos atrás eu fazia trabalho voluntário com crianças, era um projeto da escola que estudava. Eu fazia o que mais gostava: ler. Eu lia histórias para crianças que ainda não estavam alfabetizadas e era o máximo. Lia de tudo, de Monteiro Lobato a Anne Frank, até o Mito da Caverna, do Platão eu li e acreditem, aquelas crianças de 5 e 6 anos entendiam muito bem.
Mas foram por alguns meses apenas e logo entrei na faculdade, porém nunca esqueci como me sentia bem com elas. E pensei muito nisso enquanto estive na Europa, não sei se porque estava totalmente sozinha ou porque me dava conta que eu poderia viajar pra qualquer lugar, eu não esqueceria certas coisas e nem deixaria sentimentos de lado. Então acreditava que quando voltasse, tinha que fazer coisas que me fizessem bem.
Eu pensei muito nisso, que conviver com crianças me faria bem. Na minha última semana lá fora, recebi um email de um ex chefe que dizia mais ou menos assim: “Quando tu volta? Tu vai voltar né? Me avisa, tem um lugar que quero que tu conheça, acho que tu vai gostar.” Uma semana depois que cheguei no Brasil, fui conhecer esse lugar, a Casa de Nazaré – Centro de Apoio ao Menor. Na outra semana comecei a trabalhar lá. É longe, na vila Nossa Senhora das Graças, no bairro Cristal, mas é incrível.
Quando esse amigo me enviou o email, a intenção era ver se eu topava fazer algum trabalho voluntário na entidade, só que nesse meio tempo, o funcionário que cuidava da administração do site da Casa saiu. Então, me tornei assessora de comunicação da Casa de Nazaré. Faço uma das poucas coisas que sei fazer e o melhor, rodeada de crianças.
A Casa de Nazaré atende mais de 500 crianças e jovens por dia. Há turmas de berçário, maternal e jardim, além das turmas de trabalho educativo que são para as crianças em idade escolar, que freqüentam a entidade no contra turno e os projetos sociais para os jovens de 12 a 16 anos, como teatro, violão, informática...
Há muito trabalho e pouca estrutura, mas é incrível saber que lá na ponta os beneficiados serão essas pessoas. Quase sempre almoço lá e outro dia ouvi de uma menina de 4 anos que “tem que comer repolho porque faz bem para pele”. Por mais que não esteja contando histórias para essas crianças, estou convivendo com elas, com centenas delas. E isso me faz um bem danado.
Eu que ando tão descrente de tudo, volto a ter esperança no ser humano, me faz acreditar que com tanta gente boa no mundo, é impossível as coisas não darem certo. Trabalhar lá não me faz esquecer da vida, muito pelo contrário, a realidade vem como um soco no estômago todos os dias.
Quando ouço uma criança falar, com a maior naturalidade, que o pai está preso e a mãe foi comprar crack. Quando entra uma educadora na minha sala perguntando se eu vou entrar na vaquinha para comprar um tênis para uma criança que apareceu de chinelo e meia, num dia que fazia 5ºC. Ou quando uma grávida de 13 anos me pergunta quantos filhos eu tenho e me olha horrorizada com a resposta negativa, porque essa é única realidade que ela conhece.
Não faço trabalho voluntário, sou funcionária e ganho por isso, embora quando fale para as pessoas o valor do meu salário, ouça gargalhadas e quase sempre a sentença: “isso é trabalho voluntário”. Mas eu ganho essa esperança que disse acima, quando entro no refeitório e tem dezenas de carinhas lindas, com a boca suja de feijão, me sorrindo. Tem alguns que entram na minha sala para me entregar um desenho, na maioria das vezes é eu que estou desenhada e quase sempre, não me reconheço. Quando a gente perde a fé, são gestos assim que nos sustentam.
Eles não entendem o que faz uma assessora de imprensa, me chamam de tia, de profe, de sora, de Rê ou de ingrata (graças ao Latino). Eles também não entendem porque eu trabalho na sala da direção (o rapaz que cuidava do site era instrutor de informática). Devo ser uma grande incógnita para eles e para muita gente que acha absurdo eu acordar de madrugada, pegar trem e ônibus para trabalhar numa creche. Mas com certeza, a maior beneficiada nessa história toda, sou eu.
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças”- Gonzaguinha
Mas foram por alguns meses apenas e logo entrei na faculdade, porém nunca esqueci como me sentia bem com elas. E pensei muito nisso enquanto estive na Europa, não sei se porque estava totalmente sozinha ou porque me dava conta que eu poderia viajar pra qualquer lugar, eu não esqueceria certas coisas e nem deixaria sentimentos de lado. Então acreditava que quando voltasse, tinha que fazer coisas que me fizessem bem.
Eu pensei muito nisso, que conviver com crianças me faria bem. Na minha última semana lá fora, recebi um email de um ex chefe que dizia mais ou menos assim: “Quando tu volta? Tu vai voltar né? Me avisa, tem um lugar que quero que tu conheça, acho que tu vai gostar.” Uma semana depois que cheguei no Brasil, fui conhecer esse lugar, a Casa de Nazaré – Centro de Apoio ao Menor. Na outra semana comecei a trabalhar lá. É longe, na vila Nossa Senhora das Graças, no bairro Cristal, mas é incrível.
Quando esse amigo me enviou o email, a intenção era ver se eu topava fazer algum trabalho voluntário na entidade, só que nesse meio tempo, o funcionário que cuidava da administração do site da Casa saiu. Então, me tornei assessora de comunicação da Casa de Nazaré. Faço uma das poucas coisas que sei fazer e o melhor, rodeada de crianças.
A Casa de Nazaré atende mais de 500 crianças e jovens por dia. Há turmas de berçário, maternal e jardim, além das turmas de trabalho educativo que são para as crianças em idade escolar, que freqüentam a entidade no contra turno e os projetos sociais para os jovens de 12 a 16 anos, como teatro, violão, informática...
Há muito trabalho e pouca estrutura, mas é incrível saber que lá na ponta os beneficiados serão essas pessoas. Quase sempre almoço lá e outro dia ouvi de uma menina de 4 anos que “tem que comer repolho porque faz bem para pele”. Por mais que não esteja contando histórias para essas crianças, estou convivendo com elas, com centenas delas. E isso me faz um bem danado.
Eu que ando tão descrente de tudo, volto a ter esperança no ser humano, me faz acreditar que com tanta gente boa no mundo, é impossível as coisas não darem certo. Trabalhar lá não me faz esquecer da vida, muito pelo contrário, a realidade vem como um soco no estômago todos os dias.
Quando ouço uma criança falar, com a maior naturalidade, que o pai está preso e a mãe foi comprar crack. Quando entra uma educadora na minha sala perguntando se eu vou entrar na vaquinha para comprar um tênis para uma criança que apareceu de chinelo e meia, num dia que fazia 5ºC. Ou quando uma grávida de 13 anos me pergunta quantos filhos eu tenho e me olha horrorizada com a resposta negativa, porque essa é única realidade que ela conhece.
Não faço trabalho voluntário, sou funcionária e ganho por isso, embora quando fale para as pessoas o valor do meu salário, ouça gargalhadas e quase sempre a sentença: “isso é trabalho voluntário”. Mas eu ganho essa esperança que disse acima, quando entro no refeitório e tem dezenas de carinhas lindas, com a boca suja de feijão, me sorrindo. Tem alguns que entram na minha sala para me entregar um desenho, na maioria das vezes é eu que estou desenhada e quase sempre, não me reconheço. Quando a gente perde a fé, são gestos assim que nos sustentam.
Eles não entendem o que faz uma assessora de imprensa, me chamam de tia, de profe, de sora, de Rê ou de ingrata (graças ao Latino). Eles também não entendem porque eu trabalho na sala da direção (o rapaz que cuidava do site era instrutor de informática). Devo ser uma grande incógnita para eles e para muita gente que acha absurdo eu acordar de madrugada, pegar trem e ônibus para trabalhar numa creche. Mas com certeza, a maior beneficiada nessa história toda, sou eu.
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças”- Gonzaguinha
Friday, July 08, 2011
Seguindo a canção
Eu estou tentando com todas as minhas forças mas, às vezes, viver me exige tanto esforço. E daí se meus problemas por causa de um coração partido são ínfimos perto de problemas mundiais como fome, violência e miséria? São meus problemas! E muitas vezes não me deixam dormir e continuar caminhando e cantando e seguindo a canção.
Acredito que eu querer ficar bem e buscar objetivos para continuar já é uma grande coisa, mesmo tendo abandonado a terapia e jogado os remédios o lixo. Cansei de tomar droga liberada e com receita, para ser feliz. Como diz minha mãe, a gente tem que caminhar com as próprias pernas, e estou fazendo isso. Vou tropeçando, reclamando, chorando, mas vivendo, no final das contas.
Estou me focando, mais do que nunca, em juntar grana para comprar um apartamento ano que vem. É um plano bem real e aceitável, o que mostra a minha maturidade. A infantilidade vem quando eu penso que preciso de um apartamento com dois quartos e me pego pensando como vou mobiliar esse quarto que será para o enteado lindo e fofo que um dia eu vou ter.
Boa parte de mim sabe que isso é uma ilusão. Mas é justamente a parte iludida que me faz querer continuar, viver e ficar bem. Porque quando ele voltar e ele vai voltar, vai me encontrar melhor do que eu era. Sim, é só por ele que eu sigo ensaiando a canção de todo dia.
Acredito que eu querer ficar bem e buscar objetivos para continuar já é uma grande coisa, mesmo tendo abandonado a terapia e jogado os remédios o lixo. Cansei de tomar droga liberada e com receita, para ser feliz. Como diz minha mãe, a gente tem que caminhar com as próprias pernas, e estou fazendo isso. Vou tropeçando, reclamando, chorando, mas vivendo, no final das contas.
Estou me focando, mais do que nunca, em juntar grana para comprar um apartamento ano que vem. É um plano bem real e aceitável, o que mostra a minha maturidade. A infantilidade vem quando eu penso que preciso de um apartamento com dois quartos e me pego pensando como vou mobiliar esse quarto que será para o enteado lindo e fofo que um dia eu vou ter.
Boa parte de mim sabe que isso é uma ilusão. Mas é justamente a parte iludida que me faz querer continuar, viver e ficar bem. Porque quando ele voltar e ele vai voltar, vai me encontrar melhor do que eu era. Sim, é só por ele que eu sigo ensaiando a canção de todo dia.
Wednesday, June 29, 2011
François
François é um tipo raro e inesquecível. Conheci numa noite dessas em algum boteco da Cidade Baixa. Ele, o rei da República e da João Alfredo e da Lima e da João Pessoa... Uma amiga apareceu com o tipo a tira colo. Estão se pegando, os dois.
François, com esse nome, parece francês né? Mas não é, embora se apresente assim: “François, francê”. Nasceu na Restinga o moço, filho da Grace Kelly e do Michel Jackson, irmão mais velho de Ian Nick (outro tipo bastante peculiar)... Como vocês podem perceber, uma família de exemplares ímpares.
Nasceu com a democracia e influenciado por referências culturais estadunidenses. Contemporâneo do Plano Real, dos Mamonas Assassinas e do É o Tchan. Chorou muito até ganhar do Papai Noel um Atari e acordava cedo para ver a Xuxa descer da nave espacial cor de rosa. No começo, tinha medo de computadores, mas viu o advento da internet, da globalização, dos emails, dos chats, das conversas instantâneas e hoje é dependente de toda e qualquer rede social que existe.
Mas, quando François era aluno de uma escola pública da zona oeste da capital, não havia bullying, nem crianças hiperativas e disléxicas. Apenas garotos problemas. E antes de tocar terror na Cidade Baixa e arredores, François tocou terror na Restinga e nos colégios por onde passou.
Ele não era assim, um aluno exemplar, mas sempre possuiu uma inteligência apurada e um comportamento diferenciado, capaz de marcar todas as jovens professorinhas que passaram por ele. Muito prestativo, sempre se candidatava a ajudante do dia, assim tinha acesso fácil à sala dos professores, e as bolsas das mesmas. Sim, ele “roubava” dinheiro delas.
Porém a vida escolar de François se divide em antes e depois da maior cagada de sua vida infantil. Inteligente o suficiente para conquistar a simpatia dos professores, sempre tinha defensores. Até o dia que percebendo o sistema de merda que é a sociedade, ele resolveu realizar um protesto solitário e ousado. Durante vários dias, ele cagou em cima das mesas das professorinhas. Foi uma decepção para elas, quando o mistério escatológico foi resolvido, mas nesse momento morria o garoto problema e nascia o mito.
E o mito, eu garanto para vocês, é gente boa, faz o estilo sujinho de all star, cavanhaque e dreads nos cabelos. Nunca concluiu uma faculdade, mas se formou na escola da vida. Nada mal para quem poderia estar roubando, estar matando ou ainda pior, pedindo voto.
François, com esse nome, parece francês né? Mas não é, embora se apresente assim: “François, francê”. Nasceu na Restinga o moço, filho da Grace Kelly e do Michel Jackson, irmão mais velho de Ian Nick (outro tipo bastante peculiar)... Como vocês podem perceber, uma família de exemplares ímpares.
Nasceu com a democracia e influenciado por referências culturais estadunidenses. Contemporâneo do Plano Real, dos Mamonas Assassinas e do É o Tchan. Chorou muito até ganhar do Papai Noel um Atari e acordava cedo para ver a Xuxa descer da nave espacial cor de rosa. No começo, tinha medo de computadores, mas viu o advento da internet, da globalização, dos emails, dos chats, das conversas instantâneas e hoje é dependente de toda e qualquer rede social que existe.
Mas, quando François era aluno de uma escola pública da zona oeste da capital, não havia bullying, nem crianças hiperativas e disléxicas. Apenas garotos problemas. E antes de tocar terror na Cidade Baixa e arredores, François tocou terror na Restinga e nos colégios por onde passou.
Ele não era assim, um aluno exemplar, mas sempre possuiu uma inteligência apurada e um comportamento diferenciado, capaz de marcar todas as jovens professorinhas que passaram por ele. Muito prestativo, sempre se candidatava a ajudante do dia, assim tinha acesso fácil à sala dos professores, e as bolsas das mesmas. Sim, ele “roubava” dinheiro delas.
Porém a vida escolar de François se divide em antes e depois da maior cagada de sua vida infantil. Inteligente o suficiente para conquistar a simpatia dos professores, sempre tinha defensores. Até o dia que percebendo o sistema de merda que é a sociedade, ele resolveu realizar um protesto solitário e ousado. Durante vários dias, ele cagou em cima das mesas das professorinhas. Foi uma decepção para elas, quando o mistério escatológico foi resolvido, mas nesse momento morria o garoto problema e nascia o mito.
E o mito, eu garanto para vocês, é gente boa, faz o estilo sujinho de all star, cavanhaque e dreads nos cabelos. Nunca concluiu uma faculdade, mas se formou na escola da vida. Nada mal para quem poderia estar roubando, estar matando ou ainda pior, pedindo voto.
Tuesday, June 28, 2011
Escrevinhadora
Quando era criança, queria ser escritora quando crescesse. Primeiro veio a necessidade de ter uma profissão que me possibilitasse escrever, para depois escolher pelo jornalismo. Na escola e no cursinho pré vestibular ganhei alguns concursos de contos e afins... No início da adolescência, sempre presenteava as amigas com histórias e minha primeira fonte de renda foi a venda de redações para os colegas durante os três anos do ensino médio.
Provavelmente uma das melhores ofertas de emprego que tive, eu recusei porque não escreveria com a freqüência que gostaria. Logo depois de formada, trabalhei como free lancer num jornal conhecido da região metropolitana. Após um tempo, fizeram a proposta de me contratar como diagramadora. Apenas diagramadora. O salário, na época, era o dobro do que ganho hoje e, eu recusei. Por mais que goste de montar quebra cabeças em páginas de jornal, tenho certeza que se aceitasse, logo me transformaria numa profissional insatisfeita e com inveja dos colegas que escreviam.
Resumindo, ainda quero ser escritora quando eu crescer. Tá, já cresci, eu sei. Além disso, dizem que os livros estão com os dias contados e que são raras as editoras que topam lançar novos nomes num mercado cada vez mais tecnológico. Pior que isso, o Brasil tem um dos menores índices de leitura do mundo.
Apesar de tudo, o mais estranho é que de todos os meus sonhos, desejos e plano esse é o único que não tenho nenhuma pressa de realizá-lo, isso se um dia realizá-lo. E eu não sei explicar o motivo. Essa é a única questão em que “deixo a vida me levar”. Claro, que nenhum editor irá bater na minha porta pedindo para eu publicar algo.
Às vezes justifico esse meu “marasmo” com o fato de quase sempre escrevo na primeira pessoa e isso gera algumas confusões, mas também é um baita recurso de proximidade com qualquer leitor. Quem lê, também lê na primeira pessoa. E muitas vezes, o nosso umbigo reflete o umbigo alheio.
Volta e meia alguém me pergunta sobre um possível livro e isso me deixa lisonjeada, embora eu nunca saiba ao certo o que responder. Talvez me falte fôlego para escrever uma história coerente, ou vontade, ou disciplina... Provavelmente, um dia não irá bastar escrever notícias no trabalho, reflexos no blog, frases curtas no twitter e loucuras no meu diário (sim, eu tenho diário). Mas com certeza, vou ser escritora quando eu crescer!
“Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi.” Caio Fernando Abreu
Provavelmente uma das melhores ofertas de emprego que tive, eu recusei porque não escreveria com a freqüência que gostaria. Logo depois de formada, trabalhei como free lancer num jornal conhecido da região metropolitana. Após um tempo, fizeram a proposta de me contratar como diagramadora. Apenas diagramadora. O salário, na época, era o dobro do que ganho hoje e, eu recusei. Por mais que goste de montar quebra cabeças em páginas de jornal, tenho certeza que se aceitasse, logo me transformaria numa profissional insatisfeita e com inveja dos colegas que escreviam.
Resumindo, ainda quero ser escritora quando eu crescer. Tá, já cresci, eu sei. Além disso, dizem que os livros estão com os dias contados e que são raras as editoras que topam lançar novos nomes num mercado cada vez mais tecnológico. Pior que isso, o Brasil tem um dos menores índices de leitura do mundo.
Apesar de tudo, o mais estranho é que de todos os meus sonhos, desejos e plano esse é o único que não tenho nenhuma pressa de realizá-lo, isso se um dia realizá-lo. E eu não sei explicar o motivo. Essa é a única questão em que “deixo a vida me levar”. Claro, que nenhum editor irá bater na minha porta pedindo para eu publicar algo.
Às vezes justifico esse meu “marasmo” com o fato de quase sempre escrevo na primeira pessoa e isso gera algumas confusões, mas também é um baita recurso de proximidade com qualquer leitor. Quem lê, também lê na primeira pessoa. E muitas vezes, o nosso umbigo reflete o umbigo alheio.
Volta e meia alguém me pergunta sobre um possível livro e isso me deixa lisonjeada, embora eu nunca saiba ao certo o que responder. Talvez me falte fôlego para escrever uma história coerente, ou vontade, ou disciplina... Provavelmente, um dia não irá bastar escrever notícias no trabalho, reflexos no blog, frases curtas no twitter e loucuras no meu diário (sim, eu tenho diário). Mas com certeza, vou ser escritora quando eu crescer!
“Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi.” Caio Fernando Abreu
Sunday, June 26, 2011
Bola pra frente
O blog está quase criando mofo, não por falta de vontade, há muito que falar, mas às vezes nossos maiores silêncios são justamente, fruto de grandes gritarias internas. Eu gosto muito de escrever, penso que essa é a maneira que melhor me expresso e tenho textos prontos, porém não consigo postá-los. Não sem antes, colocar as palavras que estão há dias tentando sair. Parece uma traição se eu postar algo que não sinta no momento.
Eu estou melhor, muito melhor, porém isso não significa que estou feliz ou infeliz. O último ano foi muito intenso, principalmente de emoções. Conheci uma das pessoas mais importantes da minha vida e tive que aprender a viver sem ela. Muitas vezes, desejei egoistamente, que ele tivesse morrido, assim seria mais fácil de aceitar.Também estive muito perto de me matar por não querer continuar sem ter a chance de viver o que eu sentia.
Ironicamente, foi no meio disso tudo que eu fui viajar. Conhecer a Europa sempre foi um sonho. E ter realizado um sonho quando o que eu mais queria era morrer, me ensinou muitas coisas. Hoje eu penso que eu só não me matei porque eu tinha essa viagem pra fazer, mesmo tendo entrado no avião torcendo para que ele caísse.
Abre parênteses: eu não tenho problema nenhum em falar de suicídio. Não foi a primeira vez que pensei nisso e pelo meu histórico, sei que provavelmente vou ter essas crises outras vezes ao longo da vida. Talvez um dia eu consiga me matar ou talvez eu sempre supere essas crises. Fecha parênteses.
Voltando ao o que eu quero dizer e está tão difícil. Eu estou visualizando uma vida daqui pra frente, mesmo sem ele, mesmo correndo o risco de me tornar uma mulher amarga. Eu quero comprar meu apartamento ano que vem, já estou louca pra viajar de novo, vou voltar a estudar espanhol, voltei a levar a sério a dança do ventre e ando pensando num mestrado no exterior, mas num lugar próximo para eu não morrer de saudade. Estou com dois empregos bacanas que me ocupam o suficiente para eu chegar em casa podre de cansada.
Eu não estou feliz, como disse antes, apenas estou vivendo! Continuo amando esse homem, chorando de saudade, enxergando ele em todos os lugares, sentindo o seu perfume, vendo o filho dele em todas as crianças que cruzam por mim na rua. Ainda guardo um livro que trouxe para ele de Barcelona, cuido da sua camiseta como quem cuida do maior tesouro do mundo. E tenho certeza absoluta que o dia mais feliz da minha vida, foi quando recebi um email dele. Sim, eu trocaria qualquer apartament no meu nome, mestrado noo exterior e viagens para poder dormir e acordar do lado dele.
Agora são quase 21h, estou escrevendo esse texto desde às 18h30, acho que vou estar mais leve quando terminá-lo. Tanto esforço, físico e mental, para dizer que no momento, quero viver, que não deixei de amar esse homem, mas talvez seja justamente vivendo, que um dia ele volte, mais maduro e pleno ou eu me torne merecedora de viver o que sinto.
Tenho consciência de que a vida foi muito boa comigo, eu sempre tive dois sonhos: ser jornalista e viajar. Já realizei os dois. Sei que não preciso ser rica para viajar e minha timidez nunca foi empecilho para a minha profissão. Nesses meus 20 e poucos anos já tive algumas boas surpresas e amar esse homem foi sem dúvida, a maior e melhor de todas.
Aquele filme “Show Bar”, de uma moça que sonha em ser cantora e vai para cidade dançar em cima das mesas de um bar, enquanto batalha a gravação de um CD, termina com uma pergunta: “o que se faz quando os sonhos se realizam?” Sempre que assistia esse filme eu respondia: “Começa a sonhar sonhos novos!” É isso, e agora está claro, eu voltei a sonhar.
“Você me pergunta “sairei do buraco?”. Sairá, sim. Sairá brilhantemente. As coisas agora vão começar a acontecer, é meio tipo ímã, uma coisinha vai magnetizando outra e outra e outra, você vai ver.” Caio Fernando Abreu
Eu estou melhor, muito melhor, porém isso não significa que estou feliz ou infeliz. O último ano foi muito intenso, principalmente de emoções. Conheci uma das pessoas mais importantes da minha vida e tive que aprender a viver sem ela. Muitas vezes, desejei egoistamente, que ele tivesse morrido, assim seria mais fácil de aceitar.Também estive muito perto de me matar por não querer continuar sem ter a chance de viver o que eu sentia.
Ironicamente, foi no meio disso tudo que eu fui viajar. Conhecer a Europa sempre foi um sonho. E ter realizado um sonho quando o que eu mais queria era morrer, me ensinou muitas coisas. Hoje eu penso que eu só não me matei porque eu tinha essa viagem pra fazer, mesmo tendo entrado no avião torcendo para que ele caísse.
Abre parênteses: eu não tenho problema nenhum em falar de suicídio. Não foi a primeira vez que pensei nisso e pelo meu histórico, sei que provavelmente vou ter essas crises outras vezes ao longo da vida. Talvez um dia eu consiga me matar ou talvez eu sempre supere essas crises. Fecha parênteses.
Voltando ao o que eu quero dizer e está tão difícil. Eu estou visualizando uma vida daqui pra frente, mesmo sem ele, mesmo correndo o risco de me tornar uma mulher amarga. Eu quero comprar meu apartamento ano que vem, já estou louca pra viajar de novo, vou voltar a estudar espanhol, voltei a levar a sério a dança do ventre e ando pensando num mestrado no exterior, mas num lugar próximo para eu não morrer de saudade. Estou com dois empregos bacanas que me ocupam o suficiente para eu chegar em casa podre de cansada.
Eu não estou feliz, como disse antes, apenas estou vivendo! Continuo amando esse homem, chorando de saudade, enxergando ele em todos os lugares, sentindo o seu perfume, vendo o filho dele em todas as crianças que cruzam por mim na rua. Ainda guardo um livro que trouxe para ele de Barcelona, cuido da sua camiseta como quem cuida do maior tesouro do mundo. E tenho certeza absoluta que o dia mais feliz da minha vida, foi quando recebi um email dele. Sim, eu trocaria qualquer apartament no meu nome, mestrado noo exterior e viagens para poder dormir e acordar do lado dele.
Agora são quase 21h, estou escrevendo esse texto desde às 18h30, acho que vou estar mais leve quando terminá-lo. Tanto esforço, físico e mental, para dizer que no momento, quero viver, que não deixei de amar esse homem, mas talvez seja justamente vivendo, que um dia ele volte, mais maduro e pleno ou eu me torne merecedora de viver o que sinto.
Tenho consciência de que a vida foi muito boa comigo, eu sempre tive dois sonhos: ser jornalista e viajar. Já realizei os dois. Sei que não preciso ser rica para viajar e minha timidez nunca foi empecilho para a minha profissão. Nesses meus 20 e poucos anos já tive algumas boas surpresas e amar esse homem foi sem dúvida, a maior e melhor de todas.
Aquele filme “Show Bar”, de uma moça que sonha em ser cantora e vai para cidade dançar em cima das mesas de um bar, enquanto batalha a gravação de um CD, termina com uma pergunta: “o que se faz quando os sonhos se realizam?” Sempre que assistia esse filme eu respondia: “Começa a sonhar sonhos novos!” É isso, e agora está claro, eu voltei a sonhar.
“Você me pergunta “sairei do buraco?”. Sairá, sim. Sairá brilhantemente. As coisas agora vão começar a acontecer, é meio tipo ímã, uma coisinha vai magnetizando outra e outra e outra, você vai ver.” Caio Fernando Abreu
Sunday, June 12, 2011
Só por hoje...
Só por hoje eu não vou chorar.
Só por hoje eu não vou acordar pensando em você.
Só por hoje eu não vou imaginar como seria viver com você para a viagem de trem passar mais rápido.
Só por hoje eu vou me concentrar no trabalho e fazer tudo direitinho.
Só por hoje eu não vou deixar que a saudade vire estupidez e eu brigue com alguém.
Só por hoje eu vou sair com as minhas amigas e vou falar amenidades, sem me dar conta de como eu queria que você estivesse ali.
Só por hoje eu vou vestir a roupa que eu quiser sem pensar se você iria gostar.
Só por hoje eu vou caminhar pelas ruas sem desejar dar de cara com você numa esquina qualquer.
Só por hoje eu não vou imaginar como vai ser se um dia eu te encontrar, só para meu coração acelerar e me sentir viva.
Só por hoje eu não vou desejar sonhar com você.
Só por hoje eu não vou entrar no teu Orkut. Nem no site do IGP. Nem no de Santa Maria.
Só por hoje eu não vou te ligar só pra escutar você dizer “alô”.
Só por hoje eu não vou falar de você para as minhas amigas.
Só por hoje eu não vou lamentar que passei um dia sem notícias suas cada vez que deitar na cama.
Só por hoje eu não vou beber até me sentir anestesiada.
Só por hoje eu vou conseguir olhar para o lado e enxergar um exemplar do sexo oposto e vou achar esse ser bonito.
Só por hoje eu não vou tomar remédio pra dormir.
Só por hoje eu não vou falar mal de Deus, nem do Diabo.
Só por hoje eu vou acreditar em qualquer coisa que me faça bem.
Só por hoje eu não vou ficar olhando tua foto.
Só por hoje eu não vou correr cada vez que meu celular tocar, torcendo pra ser você.
Só por hoje eu não vou pensar no que você estará fazendo cada vez que olhar no relógio.
Só por hoje eu não vou lembrar do teu filho cada vez que eu vê uma criança na rua.
Só por hoje eu não vou entrar no meu email a cada cinco minutos só para ver se você mandou algum email.
Só por hoje eu não vou pensar em me matar.
Só por hoje eu vou fingir que tá tudo bem.
Só por hoje eu não vou acordar pensando em você.
Só por hoje eu não vou imaginar como seria viver com você para a viagem de trem passar mais rápido.
Só por hoje eu vou me concentrar no trabalho e fazer tudo direitinho.
Só por hoje eu não vou deixar que a saudade vire estupidez e eu brigue com alguém.
Só por hoje eu vou sair com as minhas amigas e vou falar amenidades, sem me dar conta de como eu queria que você estivesse ali.
Só por hoje eu vou vestir a roupa que eu quiser sem pensar se você iria gostar.
Só por hoje eu vou caminhar pelas ruas sem desejar dar de cara com você numa esquina qualquer.
Só por hoje eu não vou imaginar como vai ser se um dia eu te encontrar, só para meu coração acelerar e me sentir viva.
Só por hoje eu não vou desejar sonhar com você.
Só por hoje eu não vou entrar no teu Orkut. Nem no site do IGP. Nem no de Santa Maria.
Só por hoje eu não vou te ligar só pra escutar você dizer “alô”.
Só por hoje eu não vou falar de você para as minhas amigas.
Só por hoje eu não vou lamentar que passei um dia sem notícias suas cada vez que deitar na cama.
Só por hoje eu não vou beber até me sentir anestesiada.
Só por hoje eu vou conseguir olhar para o lado e enxergar um exemplar do sexo oposto e vou achar esse ser bonito.
Só por hoje eu não vou tomar remédio pra dormir.
Só por hoje eu não vou falar mal de Deus, nem do Diabo.
Só por hoje eu vou acreditar em qualquer coisa que me faça bem.
Só por hoje eu não vou ficar olhando tua foto.
Só por hoje eu não vou correr cada vez que meu celular tocar, torcendo pra ser você.
Só por hoje eu não vou pensar no que você estará fazendo cada vez que olhar no relógio.
Só por hoje eu não vou lembrar do teu filho cada vez que eu vê uma criança na rua.
Só por hoje eu não vou entrar no meu email a cada cinco minutos só para ver se você mandou algum email.
Só por hoje eu não vou pensar em me matar.
Só por hoje eu vou fingir que tá tudo bem.
Wednesday, June 08, 2011
Carta Anônima
"Os sobreviventes" é o conto do Caio Fernando Abreu que mais gosto. O segundo é esse, "Carta Anônima". Reproduzo o texto abaixo, porque hoje o li inúmeras vezes, acho de uma beleza tão singela. Amo a capacidade que o Caio tinha de descrever situação tão banais com uma riqueza de detalhes e uma percepção única. Segue a carta:
Carta Anônima
"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo."
Caio Fernando Abreu
Carta Anônima
"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.
Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.
Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo."
Caio Fernando Abreu
Sunday, June 05, 2011
A elegância do ouriço
Nas longas horas que eu passei no aeroporto de Madrid, quando voltava ao Brasil, comprei alguns livros e nunca uma obra me foi tão recomendada quanto “La elegancia del erizo”, de Muriel Barbery. O livro já foi traduzido para o português, mas eu nunca tinha ouvido falar.
Comprei por pura curiosidade, simplesmente, todas as pessoas que estavam na loja falaram bem do livro! Bom, a história se passa em um edifício luxuoso de Paris e é contada por Paloma, uma menina de 12 anos e por Renée, a zeladora do prédio.
Penso que esse livro é a prova que o que sustenta uma história é suas personagens. Paloma e Renée vivem em universos diferentes. A menina é a caçula de uma família rica, filha de político. A zeladora é quarentona, viúva e solitária.
Mas ambas são inteligentíssimas e dividem uma visão ímpar do mundo, ora terna, ora ácida, e há também, o amor pelas artes, filosofia e as letras. Enfim, são personagens complexas e ricas e como todas as pessoas que se sentem a margem da realidade que vivem, elas tentam ao máximo passar sem serem notadas. Renée é de pouquíssimas palavras e acha que a vida nunca vai surpreendê-la. Paloma está decidida a se suicidar, já que pensa que na vida não há sentido.
São essas duas mulheres que contam uma história, de vida, delas mesmas. Separadas e entrelaçadas, as observações, as idéias, o vazio e a riqueza interior de ambas encantam e machucam. Se o leitor já percebe as semelhanças entre elas logo, as personagens passam a conviver de fato, quando o japonês bem-humorado Kakuro Ozu, se muda para o edifício.
Eu li o livro em espanhol e essa semana quero ver se o encontro em português. Vale a pena e eu recomendo, são poucos os livros que é necessário um tempo para assimilar o que se leu e esses, são justamente os melhores.
Ah sim, o título do livro é por causa do ouriço, o animal mesmo, porque lá pelas tantas, Paloma compara Renée com o bicho e explica: por baixo da aparência dura e estranha, os ouriços são um dos animais mais dóceis e inteligentes do mundo.
“'A vida tem um sentido que os adultos conhecem' é a mentira universal que todos crêem por obrigação. Quando nos tornamos adultos, compreendemos que isso não é verdade e já é muito tarde. O mistério da vida permanece intacto, porém faz tempo que gastamos toda a nossa energia em atividades estúpidas. Já não resta mais nada, a não ser nos anestesiarmos perante a vida e fazer de conta que tudo tem um sentido, enganando assim, nossos próprios filhos e os outros para tentar convencer a nos mesmos.” Muriel Barbery
Comprei por pura curiosidade, simplesmente, todas as pessoas que estavam na loja falaram bem do livro! Bom, a história se passa em um edifício luxuoso de Paris e é contada por Paloma, uma menina de 12 anos e por Renée, a zeladora do prédio.
Penso que esse livro é a prova que o que sustenta uma história é suas personagens. Paloma e Renée vivem em universos diferentes. A menina é a caçula de uma família rica, filha de político. A zeladora é quarentona, viúva e solitária.
Mas ambas são inteligentíssimas e dividem uma visão ímpar do mundo, ora terna, ora ácida, e há também, o amor pelas artes, filosofia e as letras. Enfim, são personagens complexas e ricas e como todas as pessoas que se sentem a margem da realidade que vivem, elas tentam ao máximo passar sem serem notadas. Renée é de pouquíssimas palavras e acha que a vida nunca vai surpreendê-la. Paloma está decidida a se suicidar, já que pensa que na vida não há sentido.
São essas duas mulheres que contam uma história, de vida, delas mesmas. Separadas e entrelaçadas, as observações, as idéias, o vazio e a riqueza interior de ambas encantam e machucam. Se o leitor já percebe as semelhanças entre elas logo, as personagens passam a conviver de fato, quando o japonês bem-humorado Kakuro Ozu, se muda para o edifício.
Eu li o livro em espanhol e essa semana quero ver se o encontro em português. Vale a pena e eu recomendo, são poucos os livros que é necessário um tempo para assimilar o que se leu e esses, são justamente os melhores.
Ah sim, o título do livro é por causa do ouriço, o animal mesmo, porque lá pelas tantas, Paloma compara Renée com o bicho e explica: por baixo da aparência dura e estranha, os ouriços são um dos animais mais dóceis e inteligentes do mundo.
“'A vida tem um sentido que os adultos conhecem' é a mentira universal que todos crêem por obrigação. Quando nos tornamos adultos, compreendemos que isso não é verdade e já é muito tarde. O mistério da vida permanece intacto, porém faz tempo que gastamos toda a nossa energia em atividades estúpidas. Já não resta mais nada, a não ser nos anestesiarmos perante a vida e fazer de conta que tudo tem um sentido, enganando assim, nossos próprios filhos e os outros para tentar convencer a nos mesmos.” Muriel Barbery
O grito
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
Deu. Às vezes eu preciso dar um grito pra aliviar um pouco a saudade.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
HHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
Deu. Às vezes eu preciso dar um grito pra aliviar um pouco a saudade.
Tuesday, May 31, 2011
Dose
Tenho tentado, juro. Saído, me divertido, estudado, bebido, finjindo que está tudo bem.
Hoje até cantei, a tarde toda no serviço. Escutava música, cantava e chorava. Ninguém reclamou, não sei se por medo ou pena. Logo eu né? Que não cantava nunca. Quer dizer, sussurrava “Menino do Rio” no seu ouvido. Você sorria, me beijava e essa era a melhor maneira de falar que eu não canto nada.
Mas tenho tentado, de verdade. Fiz um curso de diagramação em In Design e logo quero fazer um de Photoshop. Viu? Tenho ocupado minha cabeça. Arrumei mais um emprego, numa ONG com centenas de crianças e pasme, estou a-do-ran-do, queria todas para mim. Elas me lembram o teu filho.
Mudei? É uma tentativa. Podem ser doses muito pequenas de vida sem você, onde a sua falta é a única coisa que sobra, mas é melhor assim do que sucumbir. Acho que antes eu era melhor, porém morrer é fundamental para continuar vivendo.
Antes eu não bebia todos os dias. Eu não sentia tanta preguiça. Antes eu não comia um xis e uma hora depois uma porção de polenta, nem pizza três vezes na semana. Antes eu não pedia cigarro para minhas amigas. Antes eu não perdia a paciência por tão pouco. Antes eu não era tão distraída. Antes eu não chegava atrasada.
Realmente, antes eu era uma pessoa melhor, mas não sabia abrir uma garrafa de vinho.
Hoje até cantei, a tarde toda no serviço. Escutava música, cantava e chorava. Ninguém reclamou, não sei se por medo ou pena. Logo eu né? Que não cantava nunca. Quer dizer, sussurrava “Menino do Rio” no seu ouvido. Você sorria, me beijava e essa era a melhor maneira de falar que eu não canto nada.
Mas tenho tentado, de verdade. Fiz um curso de diagramação em In Design e logo quero fazer um de Photoshop. Viu? Tenho ocupado minha cabeça. Arrumei mais um emprego, numa ONG com centenas de crianças e pasme, estou a-do-ran-do, queria todas para mim. Elas me lembram o teu filho.
Mudei? É uma tentativa. Podem ser doses muito pequenas de vida sem você, onde a sua falta é a única coisa que sobra, mas é melhor assim do que sucumbir. Acho que antes eu era melhor, porém morrer é fundamental para continuar vivendo.
Antes eu não bebia todos os dias. Eu não sentia tanta preguiça. Antes eu não comia um xis e uma hora depois uma porção de polenta, nem pizza três vezes na semana. Antes eu não pedia cigarro para minhas amigas. Antes eu não perdia a paciência por tão pouco. Antes eu não era tão distraída. Antes eu não chegava atrasada.
Realmente, antes eu era uma pessoa melhor, mas não sabia abrir uma garrafa de vinho.
Sunday, May 29, 2011
Alquimia
Cozinhar é uma das maiores alquimias possíveis na face da terra. Desde criança, penso que a junção de vários ingredientes que se transformam em algo totalmente novo e fundamental para a nossa existência, é um verdadeiro passe de mágica.
Ontem à noite eu agi como uma perfeita alquimista, transformando arroz em champignon no delicioso “Arroz Marquezin.” Como cobaias, a família, é claro. Confesso que já tinha cozinhado antes, mas coisas prosaicas e rápidas como omelete, miojo com requeijão (até então a minha especialidade). Nunca havia feito comida para outras pessoas.
E eu gostei. Não só porque minhas cobaias aprovaram, mas porque a simbologia de cozinhar sempre me atraiu. Além de, para mim, ser a representação do poder de transformação da natureza e do poder da intenção do ser humano, quer seja para agradar ou para atazanar uma pessoa.
Vejam por exemplo a palavra “comemorar”, que significa celebração de coisas boas, é muito difícil comemorarmos algo, sem ter alguma coisa para comer. A própria palavra ínsita essa ação nas suas duas primeiras sílabas.
Penso que tanto comer como comemorar, pedem mais pessoas para dividir esse momento e o alimento conosco. E talvez seja esse o segredo de uma boa receita.
Arroz Marquezin
Ingredientes:
½ cebola
Margarina
Arroz arbóreo
Vinho branco
Nata
Queijo ralado
Champignon (ou tomate seco, ervilha, brócolis...)
Caldo de galinho ou carne (opcional)
Modo de fazer:
Frite a cebola na margarina, coloque uma taça de vinho e deixe secar. Frite o arroz, vá colocando aos poucos água (com caldo de galinha), sempre mexendo. Quando tiver cozido, coloque o champignon, as duas colheres de nata e queijo ralado.
Ontem à noite eu agi como uma perfeita alquimista, transformando arroz em champignon no delicioso “Arroz Marquezin.” Como cobaias, a família, é claro. Confesso que já tinha cozinhado antes, mas coisas prosaicas e rápidas como omelete, miojo com requeijão (até então a minha especialidade). Nunca havia feito comida para outras pessoas.
E eu gostei. Não só porque minhas cobaias aprovaram, mas porque a simbologia de cozinhar sempre me atraiu. Além de, para mim, ser a representação do poder de transformação da natureza e do poder da intenção do ser humano, quer seja para agradar ou para atazanar uma pessoa.
Vejam por exemplo a palavra “comemorar”, que significa celebração de coisas boas, é muito difícil comemorarmos algo, sem ter alguma coisa para comer. A própria palavra ínsita essa ação nas suas duas primeiras sílabas.
Penso que tanto comer como comemorar, pedem mais pessoas para dividir esse momento e o alimento conosco. E talvez seja esse o segredo de uma boa receita.
Arroz Marquezin
Ingredientes:
½ cebola
Margarina
Arroz arbóreo
Vinho branco
Nata
Queijo ralado
Champignon (ou tomate seco, ervilha, brócolis...)
Caldo de galinho ou carne (opcional)
Modo de fazer:
Frite a cebola na margarina, coloque uma taça de vinho e deixe secar. Frite o arroz, vá colocando aos poucos água (com caldo de galinha), sempre mexendo. Quando tiver cozido, coloque o champignon, as duas colheres de nata e queijo ralado.
Sunday, May 22, 2011
Perdição
“O que tem de ser, tem muita força. Ninguém precisa se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é pra ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde.” Caio Fernando Abreu
Sou uma louca por acreditar que eu ainda vou casar com você? E que vamos passar a nossa lua de mel nas Ilhas Canárias? E que um dia eu vou dar uma irmãzinha linda para o teu filho? Que você ainda vai me agradecer por não ter desistido?
Ou sou uma louca por que tenho medo da mulher amarga e recalcada que posso me tornar se deixar de acreditar no que eu sinto? Posso me tornar uma workaholic ambiciosa que só pensa em dinheiro ou uma intelectualóide que ninguém entende e todos sentem pena?
Não acho que vou me cansar de esperar você, mas tenho tanto medo de me perder no meio do caminho, já é tão difícil tocar o barco em frente. Às vezes eu sinto tanta falta de você e tanta impotência diante da vida, que tenho vontade de bater com a minha cabeça na parede, só para doer mesmo, para eu sentir outro tipo de dor que não seja a falta de você.
E se eu me perder, como vai ser? Vou acabar num hospício, como aquelas velhas loucas que passam o dia sentadas, olhando para o nada e esperando alguém voltar, alguém que todos acham que não existe? Eu sei que essas pessoas não são loucas, apenas se perderam... Por favor, vem logo, antes que eu me perca.
Sou uma louca por acreditar que eu ainda vou casar com você? E que vamos passar a nossa lua de mel nas Ilhas Canárias? E que um dia eu vou dar uma irmãzinha linda para o teu filho? Que você ainda vai me agradecer por não ter desistido?
Ou sou uma louca por que tenho medo da mulher amarga e recalcada que posso me tornar se deixar de acreditar no que eu sinto? Posso me tornar uma workaholic ambiciosa que só pensa em dinheiro ou uma intelectualóide que ninguém entende e todos sentem pena?
Não acho que vou me cansar de esperar você, mas tenho tanto medo de me perder no meio do caminho, já é tão difícil tocar o barco em frente. Às vezes eu sinto tanta falta de você e tanta impotência diante da vida, que tenho vontade de bater com a minha cabeça na parede, só para doer mesmo, para eu sentir outro tipo de dor que não seja a falta de você.
E se eu me perder, como vai ser? Vou acabar num hospício, como aquelas velhas loucas que passam o dia sentadas, olhando para o nada e esperando alguém voltar, alguém que todos acham que não existe? Eu sei que essas pessoas não são loucas, apenas se perderam... Por favor, vem logo, antes que eu me perca.
Saturday, May 21, 2011
Dedicatória
Ei, você, desculpa qualquer coisa, mas tenho que te dizer: eu não escrevo para você. Eu escrevo para mim. Para alimentar o vazio que me acompanha desde sempre. Para saciar meu ego. Para conter a vontade de dar um tiro na cabeça. Para me aliviar. Não é uma exposição. Escrevo, justamente, para me proteger. Meus textos são a minha defesa do mundo.
Nem pra ELE eu escrevo, embora ELE seja constantemente citado nas minhas palavras, que são sobre o que eu sinto por ELE. Quando escrevo para ELE, envio para ELE lê. ELE é o meu leitor preferido e a minha melhor inspiração. Agora, se nem para ELE eu dedico algo, você acha que escrevo para você?
Não. Mas não é nada pessoal. Apenas não gosto dessa mania que você tem de julgar. A maior herança que a família de malucos, que eu tenho, vai me deixar é a aceitar e não me meter na vida alheia.
Grande parte dos meus familiares usam drogas e eles nunca deixaram de ser bons pais, mães, filhos, tios, tias... Meu irmão não é um marginal por ser punk. Eu não sou uma alcoólotra porque gosto de ficar bêbada. Você não tem o direito de se meter na minha vida porque me lê.
Tampouco me importo se você gosta ou não dos meus textos. Minha excelentíssima mãe, não gosta e nunca me escondeu isso. Se ela ler esse post, vai ter certeza que é para ela, assim como você teve estar pensando, né?
Mas hoje vou abrir uma exceção, excepcionalmente a última frase deste texto, é dedicada a você. Um verso de uma letra de uma canção da nossa grande Música Popular Brasileira. Confesso que não a incluo nas minhas preferências, mas considero esse trecho uma verdadeira obra prima, um apelo de respeito em tempos de tamanha exposição e opinião alheia. Para você: “ado, ado, ado. Cada um no seu quadrado.”
Nem pra ELE eu escrevo, embora ELE seja constantemente citado nas minhas palavras, que são sobre o que eu sinto por ELE. Quando escrevo para ELE, envio para ELE lê. ELE é o meu leitor preferido e a minha melhor inspiração. Agora, se nem para ELE eu dedico algo, você acha que escrevo para você?
Não. Mas não é nada pessoal. Apenas não gosto dessa mania que você tem de julgar. A maior herança que a família de malucos, que eu tenho, vai me deixar é a aceitar e não me meter na vida alheia.
Grande parte dos meus familiares usam drogas e eles nunca deixaram de ser bons pais, mães, filhos, tios, tias... Meu irmão não é um marginal por ser punk. Eu não sou uma alcoólotra porque gosto de ficar bêbada. Você não tem o direito de se meter na minha vida porque me lê.
Tampouco me importo se você gosta ou não dos meus textos. Minha excelentíssima mãe, não gosta e nunca me escondeu isso. Se ela ler esse post, vai ter certeza que é para ela, assim como você teve estar pensando, né?
Mas hoje vou abrir uma exceção, excepcionalmente a última frase deste texto, é dedicada a você. Um verso de uma letra de uma canção da nossa grande Música Popular Brasileira. Confesso que não a incluo nas minhas preferências, mas considero esse trecho uma verdadeira obra prima, um apelo de respeito em tempos de tamanha exposição e opinião alheia. Para você: “ado, ado, ado. Cada um no seu quadrado.”
Friday, May 20, 2011
Meio ano
Seis meses. Há exatos 182 dias eu estava morrendo. Morri durante a madrugada, confortável, deitada numa cama, de banho tomado, coberta com edredons e abraçada no homem que eu amo. Fiz muitas coisas nesses meses. E tudo não mudou o nada e o vazio que tomaram conta da minha vida.
Chorei. Rezei. Implorei. Me humilhei. Estudei. Viajei. Voltei. Me alegrei. Me decepcionei. Bebi. Fumei. Cherei. Li. Prometi. Menti. Não cumpri. Escrevi. Esperei. Me perdi. Perdi a fé. Mas nunca mais me enchi.
Pensei em ir embora, em nunca mais voltar, em sair por aí, em sair sem dar tchau. Pensei em ir para um convento, para um hospício, para um monastério, para um bordel, para um presídio. Eu quis me matar. Queria me enterrar.
Foi sendo levada sem sentir que cheguei até aqui. O corpo dói. Anestesia até. Respirar é difícil. Suspirei muito. Meu reflexo são frases pequenas e soltas. Fragmentos. Pedaços que lembro e junto os caquinhos para recordar a nossa história. Sem contexto. Sem sentido. Sem valor. Nada.
Não conto os dias da tua ausência, o que conto são os dias da minha sobrevivência. Há 182 dias, eu me tornava uma viva morta, sou um nada que respira.
Chorei. Rezei. Implorei. Me humilhei. Estudei. Viajei. Voltei. Me alegrei. Me decepcionei. Bebi. Fumei. Cherei. Li. Prometi. Menti. Não cumpri. Escrevi. Esperei. Me perdi. Perdi a fé. Mas nunca mais me enchi.
Pensei em ir embora, em nunca mais voltar, em sair por aí, em sair sem dar tchau. Pensei em ir para um convento, para um hospício, para um monastério, para um bordel, para um presídio. Eu quis me matar. Queria me enterrar.
Foi sendo levada sem sentir que cheguei até aqui. O corpo dói. Anestesia até. Respirar é difícil. Suspirei muito. Meu reflexo são frases pequenas e soltas. Fragmentos. Pedaços que lembro e junto os caquinhos para recordar a nossa história. Sem contexto. Sem sentido. Sem valor. Nada.
Não conto os dias da tua ausência, o que conto são os dias da minha sobrevivência. Há 182 dias, eu me tornava uma viva morta, sou um nada que respira.
Friday, May 13, 2011
Curta e grossa
Por que essa saudade dilacerante que eu sinto não me mata de uma vez, ao invés de ficar me torturando?
Sunday, May 08, 2011
Tormenta
Hoje é dia das mães e eu queria tanto escrever algo bonitinho, tipo uma homenagem. Mas discuti tanto hoje com a “mamuska” que perdi a vontade. Então pensei em escrever sobre como minha relação com a maternidade mudou, que um dia quero ser, como ando sensível em relações as crianças e como esses pequenos seres são as únicas coisas que conseguem me comover.
Como eu mudei né? “Nada é fácil de entender” diz o Renato Russo no rádio... Hoje também faz um ano que capotei de carro e perdi metade do meu cabelo. Aliás, a briga com a mãe foi sobre isso. Ela chegou em casa e eu estava um pouco alegre e disse “mãe hoje tu estaria na minha missa de um ano de morte.” Ela me olhou com cara feia e eu, na minha melhor intenção de bêbada, emendei. “E eu ia tá fazendo careta atrás do padre.”
Depois disso, discutimos e discutimos. Eu disse que não iria mais escrever para ela. Ela disse que tudo bem, porque acha meu blog muito triste. Também pensei em escrever sobre o acidente e a vida nesse tempo todo, mas tanta coisa aconteceu, e tanta coisa que me machucou que acho um tremendo azar aquele carro não ter capotado mais uma vez.
Tem dias que estou com uma ideia na cabeça, escrever sobre um cantor de bar, mas nunca consigo. Também seria ótimo se eu mexesse no tal “livro”, que há semanas, não ganha uma linha. Tantas coisas podem ganhar letras e virar história, mas não hoje. Hoje eu tô atormentada demais, vou deitar e chorar.
Como eu mudei né? “Nada é fácil de entender” diz o Renato Russo no rádio... Hoje também faz um ano que capotei de carro e perdi metade do meu cabelo. Aliás, a briga com a mãe foi sobre isso. Ela chegou em casa e eu estava um pouco alegre e disse “mãe hoje tu estaria na minha missa de um ano de morte.” Ela me olhou com cara feia e eu, na minha melhor intenção de bêbada, emendei. “E eu ia tá fazendo careta atrás do padre.”
Depois disso, discutimos e discutimos. Eu disse que não iria mais escrever para ela. Ela disse que tudo bem, porque acha meu blog muito triste. Também pensei em escrever sobre o acidente e a vida nesse tempo todo, mas tanta coisa aconteceu, e tanta coisa que me machucou que acho um tremendo azar aquele carro não ter capotado mais uma vez.
Tem dias que estou com uma ideia na cabeça, escrever sobre um cantor de bar, mas nunca consigo. Também seria ótimo se eu mexesse no tal “livro”, que há semanas, não ganha uma linha. Tantas coisas podem ganhar letras e virar história, mas não hoje. Hoje eu tô atormentada demais, vou deitar e chorar.
Happy hour
Nestas duas semanas que estou em casa, poucas coisas me deixam mais feliz do que sentar num boteco e tomar cerveja com os amigos. Sexta-feira fui no boteco do Natalício com a Juliana e a Giovanna e sempre que as vejo, entendo porque me matriculei numa pós-graduação no último dia de inscrição.
Aliás, cada vez me convenço mais que a única coisa que faz a vida valer a pena são as pessoas que encontramos pelo caminho. A Jú e a Gi são formadas em história, e penso que essa é uma das poucas semelhanças que elas têm, até porque nós três somos totalmente diferentes.
Sempre que nos encontramos, prometemos que isso será mais frequente (tômara), mas ainda bem, somos mulheres independentes e bastante ocupadas. Eu adoro os sermões que a Jú me dá, me lembra a minha mãe, hehehehe. Mas na última sexta quem deu show no sermão foi a Gi, hehehehe.
Tirando o fato das poucas opções de comida que tem no boteco, sempre é muito bom ir lá com as gurias e com as colegas de trabalho da Jú, que sempre me receberam muito bem quando eu vou lá ou quando vou tomar cerveja com elas.
Esses momentos são de grande importância pra mim, pela companhia, pela conversa, pelas risadas e principalmente porque dá uma amenizada nas dores da alma. Não diminui nada, não cura nada também, mas é o mais doce dos remédios.
Thursday, May 05, 2011
Nocaute
“Já tentei três vezes. Mas eu era muito jovem e faz muito tempo. Achava muito chique se suicidar aos 20 anos. Mas chique é sobreviver”. Caio Fernando Abreu
A instabilidade da vida me assusta, realmente, não sei como ainda respiro. Não sei o que fazer. Acho que nunca soube. O vazio e o nó na garganta voltaram. Mas agora não é um vazio sem sentido, ele tem sentido, eu sei o motivo da minha dor e isso a torna, infinitamente mais forte.
Eu já fiz planos, mas assim como as coisas que eu já acreditei, não passaram de desculpas esfarrapadas para continuar. Realizei muito dos meus planos e perdi pelo caminho minhas crenças.
Até alguns dias atrás, pensava que tinha o melhor de todos os motivos para viver, acreditar no amor. Mas o tal do Deus ou do Diabo, ou sei lá quem é que brinca de marionete com os seres humanos, tirou o chão dos meus pés.
Mais uma vez, desabei. Não agüento mais ser nocauteada pela vida, não há motivos para insistir e resistir. E eu nunca gostei de coisas chiques.
A instabilidade da vida me assusta, realmente, não sei como ainda respiro. Não sei o que fazer. Acho que nunca soube. O vazio e o nó na garganta voltaram. Mas agora não é um vazio sem sentido, ele tem sentido, eu sei o motivo da minha dor e isso a torna, infinitamente mais forte.
Eu já fiz planos, mas assim como as coisas que eu já acreditei, não passaram de desculpas esfarrapadas para continuar. Realizei muito dos meus planos e perdi pelo caminho minhas crenças.
Até alguns dias atrás, pensava que tinha o melhor de todos os motivos para viver, acreditar no amor. Mas o tal do Deus ou do Diabo, ou sei lá quem é que brinca de marionete com os seres humanos, tirou o chão dos meus pés.
Mais uma vez, desabei. Não agüento mais ser nocauteada pela vida, não há motivos para insistir e resistir. E eu nunca gostei de coisas chiques.
Monday, May 02, 2011
Hábito
Será que um dia eu vou me acostumar com a dor de não te ter? Será que um dia essa saudade vai ser tão normal que a dor que ela me provoca não me machucará tanto? Esse final de semana sai com algumas amigas, me diverti como há tempos não acontecia, mas em nenhum momento você deixou de me doer. E eu me pergunto se isso não é “se acostumar”?
A noite foi quase perfeita. Eu sai com as gurias e, depois de dois meses sozinha, isso teve um valor e um sabor, inexplicáveis. Tomamos champanhe boa parte da noite. Fomos nos arrumar na casa de uma das amigas, bem coisa de mulherzinha, bem coisa que mulher adora fazer. Se vestir de alvo, se vestir para ser o alvo, ir para a guerra...
Depois dancei a noite toda, vi aquelas cenas impagáveis que toda festa proporciona a percepção de uma bêbada. Um careca cabeludo se aproximando da nossa mesa, um senhor com idade para ser meu avô insistindo para tomar uma cerveja comigo. E o de sempre, uma amiga chorar, outra brigar com o ficante, outra ficar, outra não desgrudar do celular...
Eu levei uns pirulitos de maconha que trouxe de Amsterdam e foi o maior sucesso, virou pirulito comunitário e tinha até fila. Até quem nunca tinha colocado essas “porcarias” na boca, experimentou. Foi divertido e inesquecível. Foi uma noite e uma festa tão boas, só não foram perfeitas porque você não estava lá.
Olhava para a mesa e imaginava onde você estaria sentado, o que estaria vestindo... Eu seria a mulher mais feliz do mundo se pudesse dançar com você, tomar cerveja, te beijar entre um gole e outro e curtir a ressaca do outro dia nos teus braços.
Até quando vou conseguir sorrir e falar que está tudo bem, quando minhas amigas me perguntarem o por quê estou tão quieta? Será que um dia eu vou estar numa festa e não vou precisar me esconder no banheiro e chorar para me esvaziar de você?
A noite foi quase perfeita. Eu sai com as gurias e, depois de dois meses sozinha, isso teve um valor e um sabor, inexplicáveis. Tomamos champanhe boa parte da noite. Fomos nos arrumar na casa de uma das amigas, bem coisa de mulherzinha, bem coisa que mulher adora fazer. Se vestir de alvo, se vestir para ser o alvo, ir para a guerra...
Depois dancei a noite toda, vi aquelas cenas impagáveis que toda festa proporciona a percepção de uma bêbada. Um careca cabeludo se aproximando da nossa mesa, um senhor com idade para ser meu avô insistindo para tomar uma cerveja comigo. E o de sempre, uma amiga chorar, outra brigar com o ficante, outra ficar, outra não desgrudar do celular...
Eu levei uns pirulitos de maconha que trouxe de Amsterdam e foi o maior sucesso, virou pirulito comunitário e tinha até fila. Até quem nunca tinha colocado essas “porcarias” na boca, experimentou. Foi divertido e inesquecível. Foi uma noite e uma festa tão boas, só não foram perfeitas porque você não estava lá.
Olhava para a mesa e imaginava onde você estaria sentado, o que estaria vestindo... Eu seria a mulher mais feliz do mundo se pudesse dançar com você, tomar cerveja, te beijar entre um gole e outro e curtir a ressaca do outro dia nos teus braços.
Até quando vou conseguir sorrir e falar que está tudo bem, quando minhas amigas me perguntarem o por quê estou tão quieta? Será que um dia eu vou estar numa festa e não vou precisar me esconder no banheiro e chorar para me esvaziar de você?
Wednesday, April 27, 2011
E o pensamento lá em você...
Estou no aeroporto de Madrid agora, esperando meu vôo para o Brasil, são quatro horas de espera, mas eu já não me importo, pois é um tempo que eu tenho para pensar em você. Seja lembrar dos momentos que estávamos juntos, imaginar o que você estará fazendo ou projetar um futuro.
As imagens são frágeis como asas de borboletas, mas igualmente belas. Tem vezes que elas se fortalecem tanto que parece que você vai se personificar na minha frente, pois por momentos sinto o teu cheiro, o teu calor e chego a sorrir com a certeza de que posso te tocar.
Mas aí, a realidade puxa o tapete voador que eu estou, seja com o barulho do aspirador que limpa aeroporto, seja com a voz do alto falante, algo que cai, alguém que passa apressado para não perder o vôo, me fez perder você. E eu sinto raiva.
Já quando estou muito otimista, penso que tudo é um sinal positivo, o avião que risca o céu, uma pessoa estranha que me sorri, a música que começa a tocar em uma das lojas (uma música romântica!)
É um sinal sim. Até o fato de eu continuar respirando é um sinal de que viver por você vai valer a pena. A realidade começa sempre na nossa imaginação, no nosso pensamento. Um dia essas imagens serão tão reais que eu vou achar banal.
Inclusive você já foi imaginação. Tuas tatuagens, teu anéis cor de prata (como os meus), teus gostos, teus gestos, teus carinhos, teu corpo, tua história... Isso explica porque sempre me senti muito a vontade contigo, porque já te conhecia dos meus sonhos.
As imagens são frágeis como asas de borboletas, mas igualmente belas. Tem vezes que elas se fortalecem tanto que parece que você vai se personificar na minha frente, pois por momentos sinto o teu cheiro, o teu calor e chego a sorrir com a certeza de que posso te tocar.
Mas aí, a realidade puxa o tapete voador que eu estou, seja com o barulho do aspirador que limpa aeroporto, seja com a voz do alto falante, algo que cai, alguém que passa apressado para não perder o vôo, me fez perder você. E eu sinto raiva.
Já quando estou muito otimista, penso que tudo é um sinal positivo, o avião que risca o céu, uma pessoa estranha que me sorri, a música que começa a tocar em uma das lojas (uma música romântica!)
É um sinal sim. Até o fato de eu continuar respirando é um sinal de que viver por você vai valer a pena. A realidade começa sempre na nossa imaginação, no nosso pensamento. Um dia essas imagens serão tão reais que eu vou achar banal.
Inclusive você já foi imaginação. Tuas tatuagens, teu anéis cor de prata (como os meus), teus gostos, teus gestos, teus carinhos, teu corpo, tua história... Isso explica porque sempre me senti muito a vontade contigo, porque já te conhecia dos meus sonhos.
Saturday, April 23, 2011
Trilha sonoa
Sempre gostei dessa música, mas ela nunca fez tanto sentido para mim, como agora...
Por Enquanto
Legião Urbana
Mudaram as estações
E nada mudou
Mas eu sei
Que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era prá sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba...
Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem...
Mesmo com tantos motivos
Prá deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta prá casa...
Por Enquanto
Legião Urbana
Mudaram as estações
E nada mudou
Mas eu sei
Que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era prá sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba...
Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem...
Mesmo com tantos motivos
Prá deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta prá casa...
Finaleira
É meu último dia da minha viagem é acho que já posso fazer um balanço da experiência. Sem dúvida, o mundo é muito lindo e viajar é muito bom. Não sei se volto melhor ou pior, mas volto diferente. Almoçar bolacha com banana sentada numa praça, me pareceu um banquete em Amsterdam e um omelete foi a comida mais sem gosto que já comi na vida, mesmo em Paris, a beira do rio Sena.
Poderia ter aproveitado melhor Barcelona. Caiu a ficha e eu passei a me dar conta do que estava vivendo depois do email do homem que amo. Aliás, percebi o quanto as pessoas são de fato, importante para mim. Teve dias, que eu daria minha vida para enxergar um rosto conhecido.
A aventura que é ter três minutos para trocar de trem, cheia de malas, numa cidadezinha no interior da Alemanha, poderia ser muito engraçada se eu tivesse alguém compartilhando a viagem comigo. Mas eu não tive e fui obrigada a me aturar, principalmente, o meu silêncio.
Não lembro a última vez que conversei com alguém, mas isso já não me incomoda. No começo incomodava, sim. Depois vem a raiva de ter se metido nisso sozinha e por fim, a resignação. O silêncio não incomoda mais, a gente começa a conversar com estranhos como velhos conhecidos.
Penso que depois desses dois meses dou mais valor para as pessoas que convivem comigo, pois, senti muito a falta delas, mas sobrevivi à saudade e a distância. Portanto, por mais que ame todos vocês, dá para viver longe.
Também penso que estou menos desconfiada. Viajando sozinha, passei por situações que fui obrigada a confiar em estranhos. Seja nas pessoas que pedia informação na rua ou nas estações de trem, quando deixava toda a minha bagagem sozinha e ia no banheiro.
Tem coisas que aprendi e serviram de lição, outras vou fazer diferente e algumas, espero nunca ter que repetir. Estou louca pra voltar para casa sim, para minha cama, colocar roupas limpas, sair sem mapa e não me perder com tanto freqüência. Também estou louca para sentar num bar com minhas amigas, abrir uma cerveja e conversar e conversar e conversar.
Volto com esperança de dias melhores. Aconteceram coisas muito boas enquanto estive aqui e elas, podem não estar, ainda, do jeito que eu sonho, mas me dão esperança e vontade de viver, considerando que eu sou uma pessoa que tem muita vontade de morrer, ter vontade de viver é algo para se comemorar.
Então, posso dizer que estou voltando com vontade de viver, com esperança, com alguns quilos para engordar sem encanar, com histórias para contar e já pensando nas próximas férias.
Poderia ter aproveitado melhor Barcelona. Caiu a ficha e eu passei a me dar conta do que estava vivendo depois do email do homem que amo. Aliás, percebi o quanto as pessoas são de fato, importante para mim. Teve dias, que eu daria minha vida para enxergar um rosto conhecido.
A aventura que é ter três minutos para trocar de trem, cheia de malas, numa cidadezinha no interior da Alemanha, poderia ser muito engraçada se eu tivesse alguém compartilhando a viagem comigo. Mas eu não tive e fui obrigada a me aturar, principalmente, o meu silêncio.
Não lembro a última vez que conversei com alguém, mas isso já não me incomoda. No começo incomodava, sim. Depois vem a raiva de ter se metido nisso sozinha e por fim, a resignação. O silêncio não incomoda mais, a gente começa a conversar com estranhos como velhos conhecidos.
Penso que depois desses dois meses dou mais valor para as pessoas que convivem comigo, pois, senti muito a falta delas, mas sobrevivi à saudade e a distância. Portanto, por mais que ame todos vocês, dá para viver longe.
Também penso que estou menos desconfiada. Viajando sozinha, passei por situações que fui obrigada a confiar em estranhos. Seja nas pessoas que pedia informação na rua ou nas estações de trem, quando deixava toda a minha bagagem sozinha e ia no banheiro.
Tem coisas que aprendi e serviram de lição, outras vou fazer diferente e algumas, espero nunca ter que repetir. Estou louca pra voltar para casa sim, para minha cama, colocar roupas limpas, sair sem mapa e não me perder com tanto freqüência. Também estou louca para sentar num bar com minhas amigas, abrir uma cerveja e conversar e conversar e conversar.
Volto com esperança de dias melhores. Aconteceram coisas muito boas enquanto estive aqui e elas, podem não estar, ainda, do jeito que eu sonho, mas me dão esperança e vontade de viver, considerando que eu sou uma pessoa que tem muita vontade de morrer, ter vontade de viver é algo para se comemorar.
Então, posso dizer que estou voltando com vontade de viver, com esperança, com alguns quilos para engordar sem encanar, com histórias para contar e já pensando nas próximas férias.
Espécie humana
Morando um tempo no exterior e estudando numa escola que recebe alunos de todos os lugares do mundo, pude conhecer pessoas totalmente diferentes de mim e uma das outras. Mas o mais incrível é perceber como, de uma certa maneira, somos iguais.
O mesmo percebi no mês que fiquei viajando pela Europa. Sem dúvida, as pessoas foram o mais interessante. É estranho é ao mesmo tempo, acolhedor, ter conhecido uma alemã que também adora o Jostein Gaarder. O mesmo senti ao saber que meu professor, Samuel, também lê os livros da Rosa Monteiro.
Eu tive uma colega eslovena, a Jana, que se parece muito com minhas amigas. Muito divertida, adora uma cerveja, ri alto, é inteligente e despachada. Poderia ser uma grande amiga, se vivesse mais próxima de mim.
Viajando, percebi que por mais clichê que seja, nossos sonhos são iguais, todo mundo deseja amor e paz, todo mundo quer ser feliz. Todos ficam estarrecidos com tragédias naturais como o terremoto do Japão ou barbaridades humanas como o absurdo que aconteceu na escola do Rio de Janeiro.
Em todos os lugares que fui, havia fila no banheiro feminino e mulheres do mundo todo reclamavam e perguntavam por que no banheiro masculino nunca há filas. Há placas para não pisar na grama e há as pessoas que pisam. Há lojas de marcas oficiais e ambulantes vendendo cópias idênticas na praça central.
Os mendigos também andam com cachorros do lado. Há liquidações de fazer filas em frente às grandes lojas. Tem pessoas estúpidas que furam fila, fumam em lugares proibidos, sentam nos lugares destinados para os idosos e são arrogantes em todos os lugares.
Às vezes encontrava um vegetariano e noutras, pessoas que me perguntavam como é possível viver sem carne. Conheci católicos, ateus, espíritas, protestantes e gente que se identifica muito com o budismo. Em muitas praças do mundo, há ciganas que querem ler a sorte e beatas que nos entregam panfletos com salmos escritos.
Nos postes de Barcelona, Paris, Berlim e Milão também há placas de cartomantes e afins que prometem trazer o nosso amor em três dias. Há lixos pelas ruas e ruas mal iluminadas. Há pais com filhos nos parques, aos domingos, aproveitando o sol e o tempo livre. Nos mesmos parques, há adolescentes aproveitando uma pseudo liberdade e fumando maconha embaixo das árvores mais distantes. Como os pais já fizeram, como os filhos irão fazer.
Há gente reclamando do tempo, da economia, do preço das coisas, dos políticos, dos jovens, dos velhos, do número de adolescentes grávidas, do trabalho, da escola. Conheci jovens do mundo inteiro e todos reclamaram do alto custo que é fazer uma faculdade, seja no Brasil, nos Estados Unidos ou na Coréia.
Viajar, também é caro, mas no mundo todo há pessoas que se lançam nessa aventura e acabam conhecendo não só o mundo, mas o melhor é o pior dele, a espécie humana.
O mesmo percebi no mês que fiquei viajando pela Europa. Sem dúvida, as pessoas foram o mais interessante. É estranho é ao mesmo tempo, acolhedor, ter conhecido uma alemã que também adora o Jostein Gaarder. O mesmo senti ao saber que meu professor, Samuel, também lê os livros da Rosa Monteiro.
Eu tive uma colega eslovena, a Jana, que se parece muito com minhas amigas. Muito divertida, adora uma cerveja, ri alto, é inteligente e despachada. Poderia ser uma grande amiga, se vivesse mais próxima de mim.
Viajando, percebi que por mais clichê que seja, nossos sonhos são iguais, todo mundo deseja amor e paz, todo mundo quer ser feliz. Todos ficam estarrecidos com tragédias naturais como o terremoto do Japão ou barbaridades humanas como o absurdo que aconteceu na escola do Rio de Janeiro.
Em todos os lugares que fui, havia fila no banheiro feminino e mulheres do mundo todo reclamavam e perguntavam por que no banheiro masculino nunca há filas. Há placas para não pisar na grama e há as pessoas que pisam. Há lojas de marcas oficiais e ambulantes vendendo cópias idênticas na praça central.
Os mendigos também andam com cachorros do lado. Há liquidações de fazer filas em frente às grandes lojas. Tem pessoas estúpidas que furam fila, fumam em lugares proibidos, sentam nos lugares destinados para os idosos e são arrogantes em todos os lugares.
Às vezes encontrava um vegetariano e noutras, pessoas que me perguntavam como é possível viver sem carne. Conheci católicos, ateus, espíritas, protestantes e gente que se identifica muito com o budismo. Em muitas praças do mundo, há ciganas que querem ler a sorte e beatas que nos entregam panfletos com salmos escritos.
Nos postes de Barcelona, Paris, Berlim e Milão também há placas de cartomantes e afins que prometem trazer o nosso amor em três dias. Há lixos pelas ruas e ruas mal iluminadas. Há pais com filhos nos parques, aos domingos, aproveitando o sol e o tempo livre. Nos mesmos parques, há adolescentes aproveitando uma pseudo liberdade e fumando maconha embaixo das árvores mais distantes. Como os pais já fizeram, como os filhos irão fazer.
Há gente reclamando do tempo, da economia, do preço das coisas, dos políticos, dos jovens, dos velhos, do número de adolescentes grávidas, do trabalho, da escola. Conheci jovens do mundo inteiro e todos reclamaram do alto custo que é fazer uma faculdade, seja no Brasil, nos Estados Unidos ou na Coréia.
Viajar, também é caro, mas no mundo todo há pessoas que se lançam nessa aventura e acabam conhecendo não só o mundo, mas o melhor é o pior dele, a espécie humana.
Wednesday, April 20, 2011
Melhor lugar do mundo
Eu passei a noite num trem, numa cabine minúscula, onde só cabia uma cama, uma mesinha e as minhas malas. Era possível ficar em pé e com cinco passos, eu percorria toda a cabine. É um trem de uma companhia russa, os camareiros mal falam inglês e pedir um café foi uma novela.
O fato é que pensei tanto em você, o que não é nenhuma novidade. Mas também, não deixa de ser insólito, alguém pensar em você num trem russo, a caminho de Milão. Falando da Itália, esse teu sobrenome italiano combina perfeitamente com o meu nome.
As paisagens que estou vendo da janela são lindas, está amanhecendo e o céu está alaranjado. Acho que agora vamos passar por uma área residencial, pois o trem reduziu a velocidade... O mundo é tão lindo, isso que só vi uma pequena parte dele. Bom, ninguém melhor do que você para saber do mundo e suas belezas.
Apesar dos solavancos do trem nos trilhos e do barulho, eu peguei no sono e até sonhei com você, que estávamos em um aeroporto. Talvez seja um sinal que ainda vamos viajar muitas vezes juntos.
Nossa tem um morro imenso do lado de fora, com uma cachoeira, bem bonito. No alto do morro é possível ver a torre de uma igreja. Um cenário lindo. Estou passando por uma cidade no norte da Itália, chamada Trento. A próxima estação será em Verona, local onde se passou a história de Romeu e Julieta.
Queria tanto que você tivesse aqui, ou a menos, gostaria de poder te ligar e contar tudo que vejo, tudo que estou fazendo e dizer que sim, o mundo é incrível, mas o melhor lugar que eu já estive, foi nos teus braços.
O fato é que pensei tanto em você, o que não é nenhuma novidade. Mas também, não deixa de ser insólito, alguém pensar em você num trem russo, a caminho de Milão. Falando da Itália, esse teu sobrenome italiano combina perfeitamente com o meu nome.
As paisagens que estou vendo da janela são lindas, está amanhecendo e o céu está alaranjado. Acho que agora vamos passar por uma área residencial, pois o trem reduziu a velocidade... O mundo é tão lindo, isso que só vi uma pequena parte dele. Bom, ninguém melhor do que você para saber do mundo e suas belezas.
Apesar dos solavancos do trem nos trilhos e do barulho, eu peguei no sono e até sonhei com você, que estávamos em um aeroporto. Talvez seja um sinal que ainda vamos viajar muitas vezes juntos.
Nossa tem um morro imenso do lado de fora, com uma cachoeira, bem bonito. No alto do morro é possível ver a torre de uma igreja. Um cenário lindo. Estou passando por uma cidade no norte da Itália, chamada Trento. A próxima estação será em Verona, local onde se passou a história de Romeu e Julieta.
Queria tanto que você tivesse aqui, ou a menos, gostaria de poder te ligar e contar tudo que vejo, tudo que estou fazendo e dizer que sim, o mundo é incrível, mas o melhor lugar que eu já estive, foi nos teus braços.
Thursday, April 14, 2011
Crónica del desamor
Acabei de ler o primeiro livro da escritora espanhola que adoro, Rosa Monteiro, Crónica del Desamor, que nunca encontrei no Brasil. Então comprei em Barcelona, numa feira de livros e antiguidades que acontece todo domingo no mercado de Sant Antoni e aproveitei para treinar o espanhol.
Publicado em 1979, conta a história de Ana, uma jornalista de seus 30 e poucos anos, que tenta escrever um livro, porém se debate na dúvida se os seus escritos, a maioria vivências próprias e de amigos, renderia uma publicação.
Rosa Monteiro também é jornalista e esse não foi o primeiro livro que li com essa história, só pra citar duas escritoras que como a Rosa, trabalham com comunicação e escreveram sobre isso: Fernanda Young e Claúdia Tajes, por coincidência, foram seus primeiros livros.
Uma das minhas promessas de ano novo de 2011 foi tentar escrever um romance, ou ao menos, algo com mais fôlego do que aqui no Mosaico. E adivinhem sobre o que é a história? Uma jornalista que tenta escrever um livro.
Isso não é falta de criatividade ou plágio, é natural que uma pessoa que goste de escrever, faça isso sobre o seu umbigo, o que tampouco é egocentrismo. É segurança e, muitas vezes, com boas doses de insegurança. É mais fácil escrever sobre o que a gente conhece e vivência.
Poderia contar uma história sobre um médico ou um promotor de justiça, mas o que eu sei sobre a rotina desses profissionais? Nada, teria que pesquisar e por falta de experiência, correria o risco de fazer apenas um estudo científico.
Por isso, é mais fácil percorrer um caminho conhecido, acredito que com o tempo, experiência e um pouco mais de segurança, outros enredos vão surgindo. Lembro de uma entrevista da Claúdia Tajes, onde ela contou que em um de seus livros o editor pediu para tirar um determinado capítulo, por considerá-lo inverossímel demais. Mas, segundo ela, todo o capítulo tinha sido real, era uma história que aconteceu com a própria Claúdia.
Coisas da vida, coisas de pessoas que gostam de escrever, histórias da vida que viram coisas escritas. Clichê? Talvez, mas a vida, assim como os romances, são cheias de clichês e alguns, surpreendentes, que rendem ótimas histórias.
“Piensa Ana que estaría bien escribir un día algo. Sobre la vida de cada día. Sobre Juan y ella. Sobre Curro y ella. Sobre la Pulga y Elena. Sobre Ana María, que ha perdido o tren en alguna estación y ahora se consume calladamente em la agonía de saberse vejia e incapaz de. Sobre Julita, muñeca rota tras separarse del marido. Sobre manos babosas, platos para lavar, reducciones de plantilla, orgasmos fingidos, llamadas de teléfono que nunca llegan, paternalismos laborales, diafragmas, caricaturas y ansiedades. Sería el libro de las Anas, de todas y ella misma, tan distinta y tan uma.” (Rosa Monteiro – Crónica del Desamor)
Publicado em 1979, conta a história de Ana, uma jornalista de seus 30 e poucos anos, que tenta escrever um livro, porém se debate na dúvida se os seus escritos, a maioria vivências próprias e de amigos, renderia uma publicação.
Rosa Monteiro também é jornalista e esse não foi o primeiro livro que li com essa história, só pra citar duas escritoras que como a Rosa, trabalham com comunicação e escreveram sobre isso: Fernanda Young e Claúdia Tajes, por coincidência, foram seus primeiros livros.
Uma das minhas promessas de ano novo de 2011 foi tentar escrever um romance, ou ao menos, algo com mais fôlego do que aqui no Mosaico. E adivinhem sobre o que é a história? Uma jornalista que tenta escrever um livro.
Isso não é falta de criatividade ou plágio, é natural que uma pessoa que goste de escrever, faça isso sobre o seu umbigo, o que tampouco é egocentrismo. É segurança e, muitas vezes, com boas doses de insegurança. É mais fácil escrever sobre o que a gente conhece e vivência.
Poderia contar uma história sobre um médico ou um promotor de justiça, mas o que eu sei sobre a rotina desses profissionais? Nada, teria que pesquisar e por falta de experiência, correria o risco de fazer apenas um estudo científico.
Por isso, é mais fácil percorrer um caminho conhecido, acredito que com o tempo, experiência e um pouco mais de segurança, outros enredos vão surgindo. Lembro de uma entrevista da Claúdia Tajes, onde ela contou que em um de seus livros o editor pediu para tirar um determinado capítulo, por considerá-lo inverossímel demais. Mas, segundo ela, todo o capítulo tinha sido real, era uma história que aconteceu com a própria Claúdia.
Coisas da vida, coisas de pessoas que gostam de escrever, histórias da vida que viram coisas escritas. Clichê? Talvez, mas a vida, assim como os romances, são cheias de clichês e alguns, surpreendentes, que rendem ótimas histórias.
“Piensa Ana que estaría bien escribir un día algo. Sobre la vida de cada día. Sobre Juan y ella. Sobre Curro y ella. Sobre la Pulga y Elena. Sobre Ana María, que ha perdido o tren en alguna estación y ahora se consume calladamente em la agonía de saberse vejia e incapaz de. Sobre Julita, muñeca rota tras separarse del marido. Sobre manos babosas, platos para lavar, reducciones de plantilla, orgasmos fingidos, llamadas de teléfono que nunca llegan, paternalismos laborales, diafragmas, caricaturas y ansiedades. Sería el libro de las Anas, de todas y ella misma, tan distinta y tan uma.” (Rosa Monteiro – Crónica del Desamor)
Quando um email vira felicidade
Nessas viagens de trem, que tenho feito, às vezes com mais de 5 ou 6 horas, tenho me permitido pensar sobre a minha viagem e como muitas vezes estive alheia a ela. Antes de vir, minha falta de preocupação era absurda e muitas vezes em Barcelona, passava as tardes no Port Vell, sem fazer absolutamente nada. Nem pensar, eu pensava. Ficava lá, apenas esperando o tempo passar.
Eu sempre quis viajar, essa experiência é a realização de um sonho, mas nos últimos meses a vida me surpreendeu mostrando como nossos sonhos podem se tornar menores pertos de certos sentimentos.
Tanto que a melhor coisa que aconteceu na minha viagem, veio lá do Brasil. Um email curto e engraçado, enviado do interior do Rio Grande do Sul. Foi o dia mais feliz, o céu de Barcelona esteve mais azul, o clima mais quente e eu, mais presente, mais consciente das coisas ao meu redor.
Foi também o dia que mais me diverti, li esse email no meio da tarde, aí falei para o Kevin, o americano que morava comigo, e fomos no mercadinho da esquina comprar cerveja pra comemorar meu estado de graça. Era um menino indiano que cuidava desse estabelecimento e depois de cinco anos em Barcelona, o pouco espanhol que falava era misturado com o catalão e o inglês. Mas ele entendeu que eu estava feliz e acabamos nos três sentados no cordão da calçada, bebendo cerveja.
Foi o maior porre, entramos noite a dentro bebendo, no final, até eu já estava atendendo no mercadinho. Algumas cervejas o indiano não cobrou em consideração a comemoração, outras o Kevin pagou em consideração a minha alegria e, outras eu paguei, porque afinal, eu que tinha convidado. Essa foi a minha última noite em Barcelona e a melhor de todas, graças à um email.
Não sei explicar direito, mas o simples fato dessa pessoa, que amo tanto, ter me escrito e ter se preocupado comigo, me tornou mais consciente, mais presente.
Naquela noite, a ficha enfim caiu, eu me dei conta de onde estava, da viagem que estava fazendo, de que uma etapa que tinha se acabado em Barcelona e da outra, que iria começar no dia seguinte.
Até agora, de todas as lembranças que tenho dessa trip, essa é única que quando recordo sinto de novo as sensações daquele dia. Sartre, muitas vezes, defendeu que a gente só guarda na lembrança as coisas que vivemos inteiramente, de corpo e alma e são essas coisas que quando recordadas, nos proporcionam as mesmas emoções. Eu acredito, porque quando lembro daquele email, da alegria que senti, fico feliz de novo, sentada num cordão da calçada, bebendo com um americano e um indiano.
“A formação da lembrança é contemporânea à da percepção; é ao tornar-se representação, no momento mesmo em que é percebida, que a imagem-coisa-sensações tranforma-se em lembrança” (Jean-Paul Sartre, em A Imaginação)
Eu sempre quis viajar, essa experiência é a realização de um sonho, mas nos últimos meses a vida me surpreendeu mostrando como nossos sonhos podem se tornar menores pertos de certos sentimentos.
Tanto que a melhor coisa que aconteceu na minha viagem, veio lá do Brasil. Um email curto e engraçado, enviado do interior do Rio Grande do Sul. Foi o dia mais feliz, o céu de Barcelona esteve mais azul, o clima mais quente e eu, mais presente, mais consciente das coisas ao meu redor.
Foi também o dia que mais me diverti, li esse email no meio da tarde, aí falei para o Kevin, o americano que morava comigo, e fomos no mercadinho da esquina comprar cerveja pra comemorar meu estado de graça. Era um menino indiano que cuidava desse estabelecimento e depois de cinco anos em Barcelona, o pouco espanhol que falava era misturado com o catalão e o inglês. Mas ele entendeu que eu estava feliz e acabamos nos três sentados no cordão da calçada, bebendo cerveja.
Foi o maior porre, entramos noite a dentro bebendo, no final, até eu já estava atendendo no mercadinho. Algumas cervejas o indiano não cobrou em consideração a comemoração, outras o Kevin pagou em consideração a minha alegria e, outras eu paguei, porque afinal, eu que tinha convidado. Essa foi a minha última noite em Barcelona e a melhor de todas, graças à um email.
Não sei explicar direito, mas o simples fato dessa pessoa, que amo tanto, ter me escrito e ter se preocupado comigo, me tornou mais consciente, mais presente.
Naquela noite, a ficha enfim caiu, eu me dei conta de onde estava, da viagem que estava fazendo, de que uma etapa que tinha se acabado em Barcelona e da outra, que iria começar no dia seguinte.
Até agora, de todas as lembranças que tenho dessa trip, essa é única que quando recordo sinto de novo as sensações daquele dia. Sartre, muitas vezes, defendeu que a gente só guarda na lembrança as coisas que vivemos inteiramente, de corpo e alma e são essas coisas que quando recordadas, nos proporcionam as mesmas emoções. Eu acredito, porque quando lembro daquele email, da alegria que senti, fico feliz de novo, sentada num cordão da calçada, bebendo com um americano e um indiano.
“A formação da lembrança é contemporânea à da percepção; é ao tornar-se representação, no momento mesmo em que é percebida, que a imagem-coisa-sensações tranforma-se em lembrança” (Jean-Paul Sartre, em A Imaginação)
Monday, April 11, 2011
Espanha X Alemanha
Eu estou em Berlim agora. Durante o tempo que estive na Espanha sempre ouvi falar muito dessa cidade e da Alemanha, como um todo. Os espanhóis são muito orgulhosos do seu país, mas também, bastante críticos. Acham que são o pior país da Europa, reclamam da corrupção, da falta de respeito dos governantes, que o serviço público não tem qualidade, do número de mendigos na rua, do ônibus que atrasa, das ferrovias mal conservadas, da falta de políticas públicas para a educação...
Para os espanhóis, um modelo de perfeição é a Alemanha, onde tudo funciona bem e as pessoas não reclamam porque não tem motivos para tal coisa. Muitas vezes, nas aulas de cultura, eu e outros colegas, defendiamos que pensar que no seu país as coisas não funcionan direito e que há outros lugares melhores, é universal. Mas os nossos professores eram categóricos: “na Alemanha tudo é perfeito e eles não reclamam.”
Pelo visto, a mania de achar a grama do vizinho mais verde é mundial. Cheguei em Berlim hoje a tarde e apenas, dei uma volta pelas redondezas do hotel para me localizar, nessa pequena caminhada vi um terreno baldio cheio de lixo e na hora lembrei dos professores e pensei: “eles não sabem que o serviço de recolhimento de lixo não funciona muito bem aqui.”
Mas também fiquei pensando, será que se não tivesse ouvido tantas maravilhas sobre a Alemanha, eu teria percebido o lixo no terreno? Amanhã eu vou pegar o metrô e circular pela cidade e estou duvidando que nada vai atrasar ou que eu não vá encontrar um nativo que reclame daqui.
Ah sim, o taxista que me trouxe da estação até o hotel, me falou coisas muito boas sobre Berlim, mas ele é da Argélia, na África. Quando eu perguntei se ele gostava de viver aqui, suspirou e disse: “aprendi a gostar e a não reclamar”. Tá explicado.
Para os espanhóis, um modelo de perfeição é a Alemanha, onde tudo funciona bem e as pessoas não reclamam porque não tem motivos para tal coisa. Muitas vezes, nas aulas de cultura, eu e outros colegas, defendiamos que pensar que no seu país as coisas não funcionan direito e que há outros lugares melhores, é universal. Mas os nossos professores eram categóricos: “na Alemanha tudo é perfeito e eles não reclamam.”
Pelo visto, a mania de achar a grama do vizinho mais verde é mundial. Cheguei em Berlim hoje a tarde e apenas, dei uma volta pelas redondezas do hotel para me localizar, nessa pequena caminhada vi um terreno baldio cheio de lixo e na hora lembrei dos professores e pensei: “eles não sabem que o serviço de recolhimento de lixo não funciona muito bem aqui.”
Mas também fiquei pensando, será que se não tivesse ouvido tantas maravilhas sobre a Alemanha, eu teria percebido o lixo no terreno? Amanhã eu vou pegar o metrô e circular pela cidade e estou duvidando que nada vai atrasar ou que eu não vá encontrar um nativo que reclame daqui.
Ah sim, o taxista que me trouxe da estação até o hotel, me falou coisas muito boas sobre Berlim, mas ele é da Argélia, na África. Quando eu perguntei se ele gostava de viver aqui, suspirou e disse: “aprendi a gostar e a não reclamar”. Tá explicado.
Anne Frank
“Hei-de publicar um livro depois da guerra. (...) Ao escrever esqueço-me de tudo, a minha tristeza dissipa-se e o meu espírito revigora! Mas, e essa é a grande questão, será que alguma vez consiguerei escrever algo de grandioso?” (Anne Frank, 5 de abril de 1944)
Quando fechei o roteiro da minha viagem, a única cidade que não abriria mão era Amsterdam, por causa do museu da Anne Frank, na casa que serviu de abrigo para ela e mais sete pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.
“Contos do Esconderijo – O diário de Anne Frank” foi o primeiro livro de “adulto” que li. E lembro muito bem desse primeiro contato. Minha mãe e eu estavamos na casa da minha madrinha, elas no quarto falando sobre espíritos – assunto que na época me dava medo. Então fui para sala mexer na estante, até que achei o livro, gostei da capa e do que li, quando abri aleatoriamente. A Anne falava sobre como espiava a lua por um buraco da cortina preta, ela só podia ver a lua naquela determinada fase, que era quando a posição lunar cabia no furo do tecido.
Eu tinha 11 anos na época e desde então esse livro está comigo (pedi emprestado para a minha dinda e nunca mais devolvi, nem vou) e muita coisa já li e pesquisei sobre essa menina. Visitar a casa dela era questão de honra para mim.
Infelizmente não é possível tirar fotos no interior do museu. Felizmente a fila estava imensa (grande Anne!). A visita toda é planejada, não é possível passar o dia perambulando por lá como eu gostaria. O roteiro dura pouco mais deuma hora e passa por toda a casa, na parede há trechos do diário e em cada pessa, uma explicação do que era na década de 40.
Mas a casa da Anne não é um ambiente pesado, muito pelo contrário, é cheio de vida.
Há fotos de todos os refugiados no esconderijo, tirados pela própria. As marcas feita pelo seu pai, Otto Frank, para medir o crescimento das filhas, ainda estão na parede. O quarto que era de Anne, contem as fotos e postais de cinema colados por ela “o que concedeu ao quarto um aspecto mais alegre”.
Porém, a medida que a visita continua, o ar se torna pesado, as pessoas ficam em silêncio, não para assistir aos vídeos de depoimentos, mas porque se dão conta do que aconteceu ali. Andando pela casa, vendo e lendo partes do diário daquela adolescente a gente se sente culpado, não pela sua morte, mas pelos anos roubados, os anos escondidos, pela repressão que ela sofreu por causa da inexplicável intolerância humana.
No final do museu, há uma sala ampla, com um telão no meio, onde mostra depoimentos de pessoas, nos dias de hoje, que lutam contra qualquer tipo de preconceito e há um livro com o nome de todos o judeus mortos durante a Segunda Guerra.
Anne Frank viveu no esconderijo de maio de 1942 até agosto de 1944, quando o lugar foi descoberto e todos deportados para o campo de concentração de Westerbork, depois, para Auschwitz. Anne morreu de tifo, em março de 1945, aos 15 anos.
Seu pai foi o único sobrevivente da família Frank e quando teve acesso aos diários da filha, resolveu abrir a casa que serviu de esconderijo para visitação, não apenas para que sua filha não seja esquecida, mas para que histórias como essa não se repitam.
“Uma única Anne Frank comove-nos mais do que a quantidade infindável do todos aqueles que sofreram tanto como ela, mas cujas imagens permaneceram nas sombras. Talvez tenha que ser assim: se pudéssemos experimentar o sofrimento de todos eles, seria impossível continuarmos a viver”. (Primo Levi, escritor e sobrevivente de Auschwitz).
Quando fechei o roteiro da minha viagem, a única cidade que não abriria mão era Amsterdam, por causa do museu da Anne Frank, na casa que serviu de abrigo para ela e mais sete pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.
“Contos do Esconderijo – O diário de Anne Frank” foi o primeiro livro de “adulto” que li. E lembro muito bem desse primeiro contato. Minha mãe e eu estavamos na casa da minha madrinha, elas no quarto falando sobre espíritos – assunto que na época me dava medo. Então fui para sala mexer na estante, até que achei o livro, gostei da capa e do que li, quando abri aleatoriamente. A Anne falava sobre como espiava a lua por um buraco da cortina preta, ela só podia ver a lua naquela determinada fase, que era quando a posição lunar cabia no furo do tecido.
Eu tinha 11 anos na época e desde então esse livro está comigo (pedi emprestado para a minha dinda e nunca mais devolvi, nem vou) e muita coisa já li e pesquisei sobre essa menina. Visitar a casa dela era questão de honra para mim.
Infelizmente não é possível tirar fotos no interior do museu. Felizmente a fila estava imensa (grande Anne!). A visita toda é planejada, não é possível passar o dia perambulando por lá como eu gostaria. O roteiro dura pouco mais deuma hora e passa por toda a casa, na parede há trechos do diário e em cada pessa, uma explicação do que era na década de 40.
Mas a casa da Anne não é um ambiente pesado, muito pelo contrário, é cheio de vida.
Há fotos de todos os refugiados no esconderijo, tirados pela própria. As marcas feita pelo seu pai, Otto Frank, para medir o crescimento das filhas, ainda estão na parede. O quarto que era de Anne, contem as fotos e postais de cinema colados por ela “o que concedeu ao quarto um aspecto mais alegre”.
Porém, a medida que a visita continua, o ar se torna pesado, as pessoas ficam em silêncio, não para assistir aos vídeos de depoimentos, mas porque se dão conta do que aconteceu ali. Andando pela casa, vendo e lendo partes do diário daquela adolescente a gente se sente culpado, não pela sua morte, mas pelos anos roubados, os anos escondidos, pela repressão que ela sofreu por causa da inexplicável intolerância humana.
No final do museu, há uma sala ampla, com um telão no meio, onde mostra depoimentos de pessoas, nos dias de hoje, que lutam contra qualquer tipo de preconceito e há um livro com o nome de todos o judeus mortos durante a Segunda Guerra.
Anne Frank viveu no esconderijo de maio de 1942 até agosto de 1944, quando o lugar foi descoberto e todos deportados para o campo de concentração de Westerbork, depois, para Auschwitz. Anne morreu de tifo, em março de 1945, aos 15 anos.
Seu pai foi o único sobrevivente da família Frank e quando teve acesso aos diários da filha, resolveu abrir a casa que serviu de esconderijo para visitação, não apenas para que sua filha não seja esquecida, mas para que histórias como essa não se repitam.
“Uma única Anne Frank comove-nos mais do que a quantidade infindável do todos aqueles que sofreram tanto como ela, mas cujas imagens permaneceram nas sombras. Talvez tenha que ser assim: se pudéssemos experimentar o sofrimento de todos eles, seria impossível continuarmos a viver”. (Primo Levi, escritor e sobrevivente de Auschwitz).
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