Sunday, October 12, 2014

Você deveria ser escritora



Sempre ouvi que escrevo bem. De muita gente e gente diferente (que bom!). Na terceira série, a professora me chamou questionando quem tinha escrito a minha redação sobre a chuva, não sei se ela se convenceu que realmente tinha sido eu, mas foi a primeira vez que ouvi “você escreve muito bem.” Minha mãe questionava da onde eu tinha tirado aquilo ao ler algum texto meu e a resposta sempre era: de dentro de mim.

Na época do vestibular estava em dúvida entre história, ciências sociais e jornalismo. O fator decisivo foi que gostar de escrever, de contar histórias, sempre tive certeza que teria prazer em passar o resto dos meus dias fazendo isso. Durante toda a minha vida escolar (do pré ao ensino superior) meus textos eram elogiados, lidos e recebiam prêmios...

Numa disciplina do último semestre da faculdade, o professor que já tinha me dado aula nas matérias de redação disse após fazer a chamada no primeiro dia de aula: “A Renata tem um dos melhores textos que já li, tem tudo para ser uma ótima cronista.” Tomara! Meu terapeuta já afirmou que eu deveria mesmo levar a sério o lance de escrever, pois eu “abraçaria muita gente com os meus textos.”

E no serviço, volta e meia, depois de alguma matéria publicada, vem um e outro diretor na minha sala falar que escrevo bem. Teve um, depois de uma reunião, onde quase nada podia ser divulgado, que disse que eu tirava leite de pedra. Que seja, escrever é alquimia! Mas é tudo bem separado, a jornalista está numa caixinha bem organizada. A mulher que gosta de escrever e escreve num mosaico está em outra caixinha, essa bem maior, mais complexa, livre de regras, cheia de sensações e por vezes, bagunçada.

Já vendi redação no colégio, já escrevi poesia, já me inscrevi em concursos literários, já fiz cartas para a namorada de primo (como se fosse ele), já criei abertura de mostra de dança e tenho alguns enredos perdidos no desktop do meu note. Um sobre suicídio, outro para contar a história de um cara que procura uma antiga paixão e descobre que ela morreu quando fazia um aborto (de um filho dele), tem também sobre um idoso que no hospital repensa sua vida e resolve contar para os familiares as “pequenas” atitudes dele que acabaram alterando o rumo da vida de todos e claro, um enredo realista-fantástico inspirado na minha família.

Escrever é paradoxal. Me alegra, me entristece, me comove, me move, me acalma, me tumultua. É bem normal, dar risada ou chorar enquanto escrevo. Elaboro a vida escrevendo, me entendo assim, me traduzo, evito transbordamentos e repressões desnecessárias. Não sei se um dia eu vou ser escritora mesmo, mas confesso que gostaria.