Tenho tentado, juro. Saído, me divertido, estudado, bebido, finjindo que está tudo bem.
Hoje até cantei, a tarde toda no serviço. Escutava música, cantava e chorava. Ninguém reclamou, não sei se por medo ou pena. Logo eu né? Que não cantava nunca. Quer dizer, sussurrava “Menino do Rio” no seu ouvido. Você sorria, me beijava e essa era a melhor maneira de falar que eu não canto nada.
Mas tenho tentado, de verdade. Fiz um curso de diagramação em In Design e logo quero fazer um de Photoshop. Viu? Tenho ocupado minha cabeça. Arrumei mais um emprego, numa ONG com centenas de crianças e pasme, estou a-do-ran-do, queria todas para mim. Elas me lembram o teu filho.
Mudei? É uma tentativa. Podem ser doses muito pequenas de vida sem você, onde a sua falta é a única coisa que sobra, mas é melhor assim do que sucumbir. Acho que antes eu era melhor, porém morrer é fundamental para continuar vivendo.
Antes eu não bebia todos os dias. Eu não sentia tanta preguiça. Antes eu não comia um xis e uma hora depois uma porção de polenta, nem pizza três vezes na semana. Antes eu não pedia cigarro para minhas amigas. Antes eu não perdia a paciência por tão pouco. Antes eu não era tão distraída. Antes eu não chegava atrasada.
Realmente, antes eu era uma pessoa melhor, mas não sabia abrir uma garrafa de vinho.
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