Sunday, April 29, 2012

Marcadores de páginas do tempo

Existem algumas pessoas, especialmente as crianças, que são verdadeiros marcadores de páginas do tempo. Mas negligenciamos esse fato, o que é até natural, já que estamos ocupados demais sendo testemunhas de alguém que está aprendendo a andar, a falar, que logo vai para escolinha...

Acho que demora alguns anos até a gente se dar conta de como o tempo passou. A minha criança, nesse caso, é o meu afilhado e o primeiro sinal foi quando ele adorava me abraçar só para depois falar, com aquele sorriso que não cabe no rosto, “tô quase do teu tamanho”, “te alcancei” e finalmente: “tô maior que tu, dinda.” Sim, ele já está mais alto do que eu e vai permanecer assim o resto da vida, mas me pergunto até quando ele vai ter prazer em falar isso? Até quando ser mais alto que a dinda será motivo de comemoração?

Passei a perceber outros sinais quando roupa e tênis passaram a ser os presentes ideais, quando ele passou a escolher os filmes que assistimos no cinema, vendo ele se servir sozinho num restaurante, quando percebi que ele prestava atenção em qualquer conversa que envolvia bares, casas noturnas, namoros...

Posso pedir uma explicação para o tempo? Cadê aquela criança que tinha cachos miúdos, que só comia se tivesse arroz, que adorava dinossauros, fazia fusões mágicas quando mexia as mãos e que não se importava de ser chamado de “lindo da dinda”?

Alguns cargos familiares parecem só ter sentido quando uma das partes for criança. Claro que meu afilhado pode contar comigo para sempre, mas não me imagino mordendo a barriga dele, como sempre fazia. Nem ele vai sair correndo quando mostrar minhas unhas (ele nunca gostou das minhas unhas).

O problema é que meu primeiro marcador de página do tempo tá grandão e eu estou louca para ter outro, espero que meu irmão perceba e me dê uma sobrinha logo. Enquanto isso vou me preparando para as namoradas do meu afilhado, vou me divertir muito contando que um dia, ele me perguntou, com toda a inocência do mundo, o que eu tinha feito para o Latino ter gravado Renata Ingrata.

Friday, April 13, 2012

Em construção...












"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem..."
Chico Buarque

Saturday, April 07, 2012

Dia do jornalista



"O jornalismo é a mais emocionante e divertida profissão que eu conheço"- Millôr Fernandes

Dizem que 7 de abril é Dia Nacional dos Jornalistas. Dizem, porque como imparcialidade não existe, há muitas versões desse fato por aí e tem outras datas que também são consideradas dia dos jornalistas.

A ideia de ser jornalista sempre rondou minha cabeça, desde criança, mas foi só pelos 15 anos que me rendi, antes pensava que era tímida demais para isso. Hoje, se tivesse 16 anos e fosse prestar vestibular novamente, não teria dúvida nenhuma e muito menos, medo de timidez.

Outro dia ouvi de uma amiga jornalista, que trabalha há 20 anos como produtora numa televisão, que o filho dela cresceu sem entender porque ela não aparecia na TV. Típico. Na minha festa de formatura, um primo de uns cinco anos, veio me perguntar se agora eu iria ficar famosa.

Falando nisso, me formei cedo, com 22 anos e naquela época o diploma ainda tinha valor, o twitter não era fonte de informação e eu não sabia da existência do Gilmar Mendes. E apesar de estar saindo da faculdade com emprego, estava aterrorizada com as previsões que ouvi durante todo o curso: “não há mercado para jornalista!”

Eu trabalho pra caramba, não posso reclamar do tal mercado, mas sei também que é uma mistura de competência, sorte e tesão. Sem tesão não há solução, já dizia o poeta. Me divirto muito fazendo o que faço e observando exemplares da mesma espécie.

Não tem nada mais engraçado do que ver aquele bando de jornalistas, amontoados, com blocos, canetas, máquinas, gravadores e câmeras a postos esperando a hora de voarmos em cima da presa. Porque somos urubus, segundo boa parte da sociedade.

Outra clássica acontece neste momento de amontoamento jornalístico, sempre tem um que grita: “vou ter um orgasmo com essa credencial no pescoço!” E quando participamos de congressos e seminários e encontramos os colegas que só encontramos em alguma cobertura ou só falamos por telefone, quando precisamos de informação.

Sensação boa é conhecer aquele colega que a gente só conhece por texto, é fazer uma baita entrevista com aquela fonte tri difícil, encontrar aquela credencial cheia de anotações no verso, é ver que aquela notícia repercutiu e ajudou alguém...

Há coisas boas e más, como em qualquer outra. Há plantões, muitas horas extras, litros de café, diagramações até a madrugada, fontes inesquecíveis, dead lines absurdos, editores e assessorados egocêntricos, horários malucos (tem dias que almoço às 11h, noutros, às 15h).

Apesar de tudo isso, parabéns pra quem assim como eu, é um ser apaixonado por esta profissão e sonha com o dia que teremos a melhor notícia do mundo: nosso registro voltou a ter valor. Faço o tipo: jornalista idealista.

Renata Machado, jornalista (MTb.: 14.046)

Sunday, April 01, 2012

No automático

“Escrever é um trabalho de tempo integral, embora apenas poucas horas do dia sejam gastas no trabalho efetivo de escrever” – Hemingway

É isso. Eu escrevo o tempo todo, é uma loucura, minha cabeça não para nunca, registra tudo que vejo, como longos e às vezes, chatos capítulos de descrição. Poucas coisas me fascinam tanto como observar as pessoas.

Escutar trechos de conversas no ônibus, no restaurante, na rua, falando ao telefone é o que eu preciso pra imaginar mil e um desfechos, o ouvinte, o motivo, as tragédias e os milagres que uma conversa podem resultar.

O problema é que com a correria dos dias, cada vez escrevo menos. Melhor, escrevo no bloquinho que carrego sempre ou no meu diário (sim, eu tenho diário). Mas isso não conta.

Depois de passar horas diagramando na frente do computador até os olhos arderem, de escrever textos políticos, notas curtas, descobrir como tornar útil a fala inútil de uma fonte, a última coisa que quero é encarar um monitor.

Me culpo por não ter o tempo que gostaria de ter para escrever e nem é tanto por ser algo que eu curto fazer. Também me sinto culpada quando falto o pilates. A culpa é porque não acho justo guardar tanta gente e história dentro de mim. Qualquer dia, vou explodir.

O ideal mesmo, seria ter um cabo USB que todo final de dia eu conectasse e descarregasse toda e qualquer palavra. Seria bem mais fácil ... Mas enquanto ainda não temos isso, fico aqui tentando descobrir o que me chamou atenção na moça de olhar perdido que caminhava pela avenida Independência e disse quando atendeu o telefone: “tô no automático”.

Seria só uma obra de ficção, onde qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência?