Acabei de ler o primeiro livro da escritora espanhola que adoro, Rosa Monteiro, Crónica del Desamor, que nunca encontrei no Brasil. Então comprei em Barcelona, numa feira de livros e antiguidades que acontece todo domingo no mercado de Sant Antoni e aproveitei para treinar o espanhol.
Publicado em 1979, conta a história de Ana, uma jornalista de seus 30 e poucos anos, que tenta escrever um livro, porém se debate na dúvida se os seus escritos, a maioria vivências próprias e de amigos, renderia uma publicação.
Rosa Monteiro também é jornalista e esse não foi o primeiro livro que li com essa história, só pra citar duas escritoras que como a Rosa, trabalham com comunicação e escreveram sobre isso: Fernanda Young e Claúdia Tajes, por coincidência, foram seus primeiros livros.
Uma das minhas promessas de ano novo de 2011 foi tentar escrever um romance, ou ao menos, algo com mais fôlego do que aqui no Mosaico. E adivinhem sobre o que é a história? Uma jornalista que tenta escrever um livro.
Isso não é falta de criatividade ou plágio, é natural que uma pessoa que goste de escrever, faça isso sobre o seu umbigo, o que tampouco é egocentrismo. É segurança e, muitas vezes, com boas doses de insegurança. É mais fácil escrever sobre o que a gente conhece e vivência.
Poderia contar uma história sobre um médico ou um promotor de justiça, mas o que eu sei sobre a rotina desses profissionais? Nada, teria que pesquisar e por falta de experiência, correria o risco de fazer apenas um estudo científico.
Por isso, é mais fácil percorrer um caminho conhecido, acredito que com o tempo, experiência e um pouco mais de segurança, outros enredos vão surgindo. Lembro de uma entrevista da Claúdia Tajes, onde ela contou que em um de seus livros o editor pediu para tirar um determinado capítulo, por considerá-lo inverossímel demais. Mas, segundo ela, todo o capítulo tinha sido real, era uma história que aconteceu com a própria Claúdia.
Coisas da vida, coisas de pessoas que gostam de escrever, histórias da vida que viram coisas escritas. Clichê? Talvez, mas a vida, assim como os romances, são cheias de clichês e alguns, surpreendentes, que rendem ótimas histórias.
“Piensa Ana que estaría bien escribir un día algo. Sobre la vida de cada día. Sobre Juan y ella. Sobre Curro y ella. Sobre la Pulga y Elena. Sobre Ana María, que ha perdido o tren en alguna estación y ahora se consume calladamente em la agonía de saberse vejia e incapaz de. Sobre Julita, muñeca rota tras separarse del marido. Sobre manos babosas, platos para lavar, reducciones de plantilla, orgasmos fingidos, llamadas de teléfono que nunca llegan, paternalismos laborales, diafragmas, caricaturas y ansiedades. Sería el libro de las Anas, de todas y ella misma, tan distinta y tan uma.” (Rosa Monteiro – Crónica del Desamor)
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