Thursday, November 29, 2007

A celebração da memória

Essa reportagem foi feita por mim e pelas queridas colegas e jornalistas Ana Carolina Rodrigues e Roberta Emanuela Lampert. O texto está na edição nº 28 da revista Primeira Impressão, que teve como tema "Comemorações". Aqui o texto está na íntegra.


O primeiro sorriso, o primeiro passo, a primeira palavra, o primeiro aninho; o primeiro dia na escola, o primeiro dez... Esses são alguns dos momentos felizes e empolgantes que acontecem nos primeiros anos de vida de alguém. Depois vem os melhores amigos, o namoro, o primeiro emprego, a entrada na faculdade, o casamento, os filhos e a vida vai se encaminhando, cheia de sonhos, objetivos, metas a cumprir e você se sente meio interrogativo com certas coisas que lhe acontecem, apesar de saber que todas elas, invariavelmente, fazem parte de sua jornada. Existem momentos em que experimentamos sensações tão maravilhosas que parece que estamos flutuando de emoção. Ficamos alegres, risonhos, não cabemos no nosso corpo de tanto contentamento. Sem dúvida, a alegria de viver momentos que nos tiram o fôlego, de sentir o coração pulsando forte ou o corpo tomado de arrepios e sensações gostosas são alguns dos ingredientes que mexem com nossas emoções.

Saboreamos esses efeitos agradáveis constantemente e por esse e outros motivos, tendemos a comemorar. Mas, por que comemoramos?

A professora do curso de Comunicação da Unisinos e psicóloga Susana Gib Azevedo acredita que isso ocorre porque envolve prazer, satisfação, sendo que, em geral, pode se referir a uma meta ou objetivo alcançado. Em verdade, a necessidade de comemorar é aprendida no social e são feitas associações com esses momentos significativos do indivíduo.

Embora seja excitante, extasiante comemorar, existem pessoas que reagem a diversas situações da mesma maneira: ficando inertes. Segundo a psicóloga, isso pode ocorrer quando as pessoas não foram estimuladas a comemorar ou quando interpretam as situações e acontecimentos como obrigações e não como conquistas. Ela afirma que o aspecto sócio-cultural influencia comportamentos, porém, não se pode esquecer que as pessoas têm diferenças individuais em diversas dimensões, conforme processam as informações recebidas.

Não é difícil encontrar pessoas que aparentam ser apáticas com as situações que se passam em suas vidas, que parecem não sentir, não se importar. Contudo, conforme explica Susana, cada pessoa comemora do seu jeito. No entanto, emoções são inerentes ao ser humano e qualquer situação ou fato pode promover emoções que motivam o indivíduo. É preciso ressaltar também que há várias formas de extravasar, não somente através de comemorações.

Um pouco de história

Esses ritos, além de marcarem uma conquista ou um momento na vida de um indivíduo, são muito mais importantes do que imaginamos, pois retratam a identidade cultural de uma sociedade e revelam muito de seu povo. Acredita-se que as comemorações iniciaram com os povos antigos que cultivavam o hábito de louvar a chegada da colheita, comemorando. Também comemoravam a troca das estações, pois as consideram mudanças de ciclos, importante para uma colheita farta. Desde então, para muitos, comemoração é sinônimo de objetivo alcançado. As bruxas também comemoravam os ciclos da lua e festejam com a natureza, o simples fato de viverem.

O Brasil sempre foi apontado como um povo festeiro. Apesar de suas mazelas, os brasileiros não abrem mão de comemorar e festejar, prova disto é o carnaval, que mobiliza o país inteiro e transforma todos em foliões. E ao longo da história, o Brasil, assim como o mundo, sofreu grandes transformações. Passamos pela monarquia, república, encaramos uma ditadura, até chegarmos na atual democracia, porém, nunca deixamos de comemorar.

Fora as tradicionais datas festivas, comemoradas no mundo inteiro, buscamos comemorações próprias, que resgatem a nossa história e nos devolvam sentimentos muitas vezes enfraquecidos, como o patriotismo, sempre exaltado na Semana da Pátria e em época de Copa do Mundo. O historiador de Canoas Marcelo Demetrio cita a comemoração dos 500 anos do Brasil como um grande fato que teve muitas influências, tanto na área política quanto na cultural, pois foram realizados eventos alusivos à data em todo o Brasil. Segundo ele, o pai das comemorações e dos festejos do país foi Getúlio Vargas. “Provavelmente se não fosse pela influência do governo Vargas não faríamos comemorações em nosso país”, declara.

Além disso, Demétrio destaca que as comemorações estão diretamente ligadas a dois marcos políticos da história do país no período de 1930 a 1964. “Entre a década de 30 e 50 o presidente da República, o gaúcho Getúlio Vargas com sua política nacionalista e ditatorial, inclui as políticas culturais e educativas. Existia a disciplina de Moral Cívica nas escolas, que tinha como objetivo instruir os alunos a dar um significado para as grandes façanhas da história do país. Seu governo foi um dos mais longos do Brasil. Ele conseguiu fazer com que os alunos dessa década fossem educados de uma forma bem diferente dos dias de atuais, dando mais valor para a história”, conclui.

Mitologia

As comemorações além de marcarem a história de um país, também servem como marco na vida pessoal dos seres humanos, que sempre procuram dar um sentido especial
à vida e eternizar momentos e conquistas. Para o professor de História de uma escola de Porto Alegre Gilson Gruginskie, a existência humana necessita de justificativas que respondam a imprevisibilidade da vida. Gruginskie faz uma comparação com o mito de Ariadne.

Conforme a mitologia, Teseu, um jovem herói ateniense, sabendo que a sua cidade deveria pagar a Creta um tributo anual, com sete rapazes e sete moças, para serem entregues ao insaciável Minotauro, que se alimentava de carne humana, solicitou ser incluído entre eles. Em Creta, encontrando-se com Ariadne, a filha do rei Minos recebeu dela um novelo que deveria desenrolar ao entrar no labirinto, onde o Minotauro vivia encerrado, para encontrar a saída. Teseu adentrou o labirinto, matou o Minotauro e, com a ajuda do fio que desenrolara, encontrou o caminho de volta.

“O novelo de Ariadne é repleto de expectativas, assim como a vida. Como os fios que serviram para desvendar os caminhos do labirinto, a humanidade desenvolve linhas de questionamentos que denunciam uma trilha de um percurso temporal. Realiza perguntas do presente sobre o passado, virando-se para trás com olhares que já determinam uma leitura de um mundo que nunca houve. Assim, constituímos mitos fundadores de sociedades, etnias e culturas”, acredita. Para ele, festejar é um rito que fornece significação, constrói uma memória e sustenta as utopias de cada um. “Mais que uma história oficial, as comemorações de datas ou acontecimentos estabelece os nexos necessários para o fortalecimento de identidade”, completa.

O primeiro sorriso, o primeiro aninho, o primeiro dia na escola, o primeiro dez, uma viagem com os amigos, o namoro, o primeiro emprego, a entrada na faculdade, a formatura, o casamento, o aniversário dos filhos... São momentos especiais na vida de qualquer pessoa, que se tornam ainda mais especiais quando festejados com uma comemoração histórica. Comemorações que dão sentido para a história pessoal de qualquer indivíduo e, coletivamente, dão sentido para a história do mundo.

Friday, November 23, 2007

Prezado jornalista

Caro Miguel, aqui, quem escreve é uma jornalista, além de ser tua prima. Outro dia li uma reportagem onde falava que há dois caminhos para escolher uma profissão e ser bem sucedido nessa escolha. Uma, é ir atrás dela. Outra, é deixar ela chegue até você.

Lembrei de mim. E de você. Eu fui atrás do jornalismo, nunca me imaginei fazendo outra coisa, era minha única opção. Você deixou que o jornalismo chegasse até você, por pura falta de opção. Não deu outra. Nos tornamos bem sucedidos.

Tivemos sorte sim, mas talento também e, mais que tudo perseverança. Lembra de quantos colegas da faculdade desistiram? De quantas colegas fúteis que só queira aparecer na TV, aparecem e sumiram na mesma velocidade? Do stress de fazer monografia, trabalhar, dos estágios que nos escravizavam? De estudar para as outras matérias, namorar, badalar, visitar a família e tudo que uma pessoa normal faz. Lembra da formatura, que foi no mesmo mês? E dos lugares que entrávamos sem pagar, porque somos da imprensa?

Mas teve também muitos feriados dentro das redações, muitos Natais fazendo cobertura em hospitais. E furos de reportagens. E entrevistas com um monte de gente bacana. E um monte de gente chata. E pauteiros sem noção. E editores chatos. E noites sem dormir...

E a nossa agência? Quanta cabeçada até engrenar. Quanta discussão. Quanta falta de grana. Quanto estagiário preguiçoso. Quantas dúvidas. E quanta coragem! Mas não é que deu certo? Afinal, que outra opção teríamos? O que é o planejamento estratégico, hein? Ah, muito bom esse último repórter que tu contratou, li as matérias dele, gostei!

Voltando, quase perdi teu casamento porque estava fazendo uma reportagem especial com as vítimas da guerra na Somália. E você chegou com dois dias de atraso no meu, porque foi cobrir a final do campeonato mundial de arrancada na Finlândia. Se tivesse se atrasado mais, tu seria a testemunha do divórcio.

Foi tanta coisa. Mas chegamos lá! Eu, por ser a minha única opção e você, por falta de opção.

PS: Tenta aparecer no próximo feriado. Nem que tu venha de moto e a Andi de carro com as crianças. Os funcionários da sucursal de Florianópolis vão cuidar direitinho da agência nesse feriado. No próximo, se tudo der certo, nós vamos. Pois acho que já vai dar praia!

Atenciosamente,

Sunday, November 18, 2007

Bastidores

Ato I
“Estão todos aí?”
“Quando eu entro?”
“Cadê a maquiagem?”
“Não se atrasem. Quando terminar uma coreografia, os da próxima já tem que estar na posição para entrar!”
“Alguém me ajuda a me vestir...”
“Perdi minha saia!!!!!!”
“Meninas vou tirar a roupa, fechem os olhos.”
“Uso a sapatilha bege ou branca?”
“As crianças já estão prontas?”
“Adora as odaliscas!”
“Me perdi na passagem de palco”
“Gente vou começar!”
“Odeio meia calça!”
“Não quero ninguém na coxia atrapalhando os dançarinos!”
“Tô nervosa!”
“Não toma muita água.”
“Vamos tirar fotos?”
“Minha maquiagem não tá legal.”
“Relaxa, vai dar tudo certo”
“A platéia já tá cheia!”
“Tem um celular tocando...”
“Quando as fotos vão estar no site?”
“Chama a mãe dela. As crianças não querem entrar!”
“Em qual coreografia tá? A minha já é a próxima?!”
“Agora são vocês!”
“Onde eu entro?”
“Ai... Merda para todo mundo!”

Ato II

Luz. Música. Cabeça erguida, olhando em frente. Passos lentos, jeitinhos, oitos para trás. Sorriso para a platéia, quantas batidas para baixo são? Música rápida, batidas, sorrisos, cambrês, passês, giros, solo. Na marcação, séria, encara a platéia. Espanholas, postura, oitos para trás, lento, rápido, lento, rápido! Espanholas, postura! Sorrisos, jogo de cintura. Olha para a platéia. Tem que provocar. Batidas para baixo, giro, passo, olha o público. Treme. Maya. Egípcio. Meia ponta! Camelos. Posição final. Black out. Agradecimento. Palmas!!!

Ato III

“Foi um sucesso!”
“Tu viu? O público adorou!”
“Gente pisei na minha saia!”
“Não precisava ficar assim!”
“Tu viu o cara da terceira fila?! Tava babando!”
“Me perdi na parte do pescoço!”
“Ninguém errou o tempo.”
“Minha perna a pareceu?”
“Deu para ver que eu me enganei?”
“Gurias! Foi muito bom, vocês estavam perfeitas!”
“Vou me trocar! Ai adorei!”
“Quantas palmas!”
“Gente vi uma amiga na platéia que não via há anos!”
“Tu viu? Nem errei!”
“Uhu, que adrenalina boa!
“É um nervoso gostoso!”
“Foi um espetáculo!”


As fotos do espetáculo "Cine Espetacular", da escola de dança Arte e Equilíbrio, estão no site www.claudioetges.com.br

Friday, November 16, 2007

Seqüelas

Você foi o melhor e o pior da minha vida. Ou de uma fase dela, da qual ainda convivo com as seqüelas. O estrago foi feio e depois de passar um tempo lambendo minhas feridas, não estou mais arrancando as casquinhas e nem lembro o tempo todo a causa do ferimento.

Me curei na marra. Tomei vários remédios, mas em nenhuma das bulas que li havia a indicação sobre você. Ai me drogava sabendo que não ia adiantar nada. Que o delírio iria continuar. Eu veria você em todos os lugares. E andaria de cabeça baixa com medo de te encontrar realmente. E sairia correndo para a frente da TV sempre que escutasse uma notícia sobre a cidadezinha do norte do Estado, de onde tu saiu, só para me sentir mais perto...

Não sei bem em que momento eu voltei a olhar para frente. Fui arrumando outras distrações, deixando de cutucar o machucado. Percebendo outras pessoas e me dando conta que você foi o melhor e o pior da minha vida. Não corro mais para ver notícias da sua cidade. Nem caminho pelo teu bairro. Nem procuro saber um pouquinho de engenharia.

Hoje tenho a mesma noção de mundo que tinha antes de você entrar nele e provocar catástrofes. Porém, se antes, as portas ficavam encostadas, hoje elas ficam fechadas e trancadas. Perdi um pouco da inocência, talvez. Se antes achava que as pessoas não prestam, hoje, tenho certeza. Ao menos aprendi alguma coisa. Minha desconfiança natural das coisas e, principalmente, das pessoas tem que ser multiplicada por todo o seu potencial ao cubo. E talvez ainda seja pouca.

Estou lidando bem com as seqüelas, não há nada que alguns anos de terapia não cure. Acho até que não vou enfartar se um dia te encontrar por aí. Nem te matar. Às vezes queria que isso acontecesse, só para ver minha reação. Às vezes eu tenho medo de expor muito a ferida, por mais que esteja cicatrizada, a pele (ou o coração) sempre fica mais sensível.

Não sei em qual noite eu deixei de chorar de saudade de você e passei a chorar de saudade de mim e do mundinho perfeito que eu tinha. Você foi o melhor porque me deu um chute que me fez cair no mundo real. Você foi o pior porque me deu um chute que me fez cair no mundo real. Você foi o melhor porque era medíocre e não percebia. Você foi o pior porque era medíocre e hoje eu percebo.

Eu deixo meu orgulho leonino com vergonha cada vez que lembro das seqüelas de uma doença medíocre. Se ainda fosse uma grande tragédia, que tivesse válido a pena... Mas foi só uma doença boba que, por um bom tempo, não me deixou olhar em frente. E olhando em frente o máximo que pode acontecer é eu tropeçar em algo medíocre e nem me dar conta.

Thursday, November 15, 2007

Sobre o meu umbigo

Outro dia li, numa entrevista de uma psicóloga, que os esportes que uma pessoa exerce fala muito de sua personalidade. Se gosta de esportes coletivo é uma pessoa agregadora, que gosta de trabalhar em grupo, etc... Se gosta de esportes individuais é individualista, egoísta e por aí vai.

E gosto de musculação e corrida. Só. Curto futebol também, mas não jogo, obviamente, porque acho que é muita gente para eu ter que mandar e a maioria não vai me levar a sério, daí eu vou pirar e acabar com o jogo antes da hora. Então, malho sozinha todo dia e feliz da vida. Só preciso dos aparelhinhos disponíveis. Detesto academia cheia.

Antes de começar a correr, caminhava com uma amiga e adorava. Mas ela deixou de ir, no começo foi ruim ir sozinha, até me dar conta que era muito melhor não ter ninguém para me encher a paciência. Além do que, posso correr, no meu ritmo, quando quero.

Mas tem mais. Eu sempre fui na minha. Vou no cinema sozinha, olho o filme-alternativo-poora-louca que eu quiser no cinema-ladob-perdido-num-bairro-cult na hora que quiser. E não preciso discutir o enredo com ninguém depois.

E eu não quero ter filhos porque sou egoísta demais para isso. Se eu tiver um filho para cuidar, como vou me cuidar? Claro, às vezes tenho medo que Deus resolva em castigar, pois nunca fui uma pessoa muito temente à ele e resolva me fazer mãe. Mas aí lembro que sempre existe uma clínica de aborto clandestina por aí.

No colégio, na faculdade, em algum trabalho em grupo eu sou do tipo que faz tudo. Enquanto todos me acham a “coitadinha que tá fazendo o trabalho sozinha”, eu faço do meu jeito, que é o melhor, claro. Às vezes levanto a cabeça, dou um sorriso e peço alguma sugestão, mas só para eles ficarem a sensação de que colaboraram. Sou uma individualista generosa.

Se as coisas saem erradas? Ao menos eu não vou culpar ninguém. Sim, porque como toda pessoa individualista, egoísta e orgulhosa disfarçada de generosa, carrego minhas culpas e sei que são só minhas. O que fazer para não pensar, não pirar, não enjoar de mim, já que eu não gosto de conversar? Escrever!

Sunday, November 11, 2007

Histórias da Feira do Livro

Mais uma feira do livro chega ao fim e, como sempre, gastei mais do que devia e menos do que gostaria. A feira é meu natal. Alguns anos a feira é libriana, noutros é escorpiana, mas sempre será bem-vinda, cheia de surpresas e histórias, óbvio. Mas não essas histórias que a mídia no conta todos os anos, sobre a importância e o tamanho da feira, enfeitada pelos Jacarandás.

Outras histórias, as que eu vivi, ou vi. Foi numa feira do livro que vi Mário Quintana, na minha primeira feira e a última dele. Fui levada pela mão do meu vô e esperava encontrar muitos gibis da Magali e livros para colorir. Encontrei bem mais que isso. Havia um poeta sorridente no meio do caminho. Eu que achava que poetas não existiam...

Anos depois, num curso de jornalismo na feira, ouvi estórias de quem trazia marcas da história mundial no corpo. Éramos um grupo de estudantes diante de um senhor simpático, calmo, pacífico, que pisou em cima de uma mina quando cobria a guerra do Vietnã. Foi na sombra de um dos Jacarandás que entrevistei o mestre José Hamilton Ribeiro.

Foi caminhando na feira que vi o Vitor Ramil comprar sorvete para seus filhos. Peguei o mesmo elevador que a Cláudia Tajes, no Santander Cultural. Ouvi o Jorge Furtado lê Dom Quixote. O Gabriel, Pensador, declamar poesia para as crianças. Peguei um baita temporal para ouvir o Caco Barcellos. Descobri que o coronel, quando não é o coronel da Feira, é o dono de uma banca de revista da Praça da Alfândega.

Da minha primeira feira do livro, sai com o almanaque da Turma da Mônica. Mas, mais do que isso, sai impressionada com o mundo que descobri. Há um lugar, durante alguns dias do ano, onde se é possível ver, ouvir e viver histórias. Onde os poetas existem e escritores pegam elevadores e tomam cerveja no pub do Margs.

O Almanaque da turma da Mônica e os livros que colori, não existem mais, muitos dos livros que comprei na feira, eu dei. Mas as estórias (com es, mesmo, porque são fantásticas), essas, são minhas!

Me empolguei e listei 20 livros que li e recomendo. Essa pequena lista não seguiu nenhum critério, a não ser, meu gosto. Se é que isso tem algum valor.

1) O Dia do Coringa – Jostein Gaarder
2) A Viagem de Théo - Catherine Clément
3) Feliz Ano Velho – Marcelo Rubens Paiva
4) Mate-me por Favor – Legs McNeil e Gillian McCain
5) As Veias Abertas da América Latina – Eduardo Galeano
6) Quase Tudo – Danuza Leão
7) Tête-à-Tête – Hazel Rowley
8) Clube dos Corações Solitários – André Takeda
9) As Pernas de Úrsula e Outras Possibilidades – Claúdia Tajes
10) Confissões de uma Groupie - Pamela Des Barres
11) A Sangue Frio - Truman Capote
12) Por que Estudar a Mídia – Roger Silverstone
13) Através do Espelho – Jostein Gaarder
14) A Náusea - Sartre
15) Dom Casmurro – Machado de Assis
16) A Mulher que não Prestava - Tati Bernardi
17) Clarissa – Érico Veríssimo
18) A Casa dos Budas Ditosos – João Ubaldo Ribeiro
19) Verônica Decide Morrer – Paulo Coelho
20) Divã - Martha Medeiros

Thursday, November 01, 2007

Consciência

Era uma madrugada de sábado e eu estava chegando em casa de uma festa, passei pela porta do quarto do meu irmão, entreaberta, e vi as pernas de um homem adulto. Não as pernas de uma criança. Corri para o telefone e chamei a polícia, dizendo que havia um homem deitado na cama do meu irmão. Meus pais acordaram e meu irmão saiu do quarto dele, perguntando quem era o ladrão. Eu podia estar bêbada, mas naquele momento percebi que meu irmão era um homem e pior, o tempo passava. Ali eu senti o tempo passar.

Outro dia eu estava passeando na Redenção com meu primo e sua namorada, até que ele disse que a gente devia combinar para ter nossos filhos próximos, para eles crescerem juntos. E mais uma vez, senti o tempo passando. Aliás, cada vez que eu vou na Redenção, sinto o tempo passando, seja no açaí da lancheria, que hoje eu acho pequena. Seja na lancheria do Parque, onde eu não podia ir sozinha quando era criança, porque tinha que atravessar a Osvaldo Aranha e era perigoso.

No meio de um show do Wander Wildner, que a Ana Paola, produtora dele me apresentou como “a jornalista”. Ela foi uma das primeiras professoras que tive na Unisinos e quando entrei no camarim do Wander como “a jornalista”, percebi que o tempo passava. Eu não era apenas uma fã ou uma guria que gosta e rock e curte Wander.

Sempre que abro os jornais e encontro alguma foto que fiz, alguma matéria que envie, sinto o gosto, doce e amargo, do tempo passando. Não sou mais a irmão mais velha, a prima que a única preocupação que tem é com o próximo verão, a estudante que curte Wander. Sou a irmã de um homem feito, a mulher que pensa se um dia terá filhos e se preocupa com isso, a pessoa que sabe como chegar na lancheria do Parque sem se perder pela Osvaldo Aranha, a jornalista política que sabe o que vai estar na capa dos jornais amanhã...

Alguém que quando menos se espera tem a consciência assustadora de que o tempo está passando.