Friday, July 30, 2010

Oco

Perdi quatro quilos em dois meses. Não estou de dieta, nem precisava emagrecer quatro quilos. Eu simplesmente perdi a vontade de comer. E o pisca alerta já ligou. Eu, sem vontade de comer é preocupante. Só aconteceu uma vez e não gostaria que acontecesse de novo.

Na verdade, ando sem muitas vontades... Vontade de escrever eu tenho, mas chega na hora, desanimo. Ando lendo bastante, mas não por gostar, é mais pra fugir. Passo horas com um livro aberto, pensando, pensando e pensando. Maldito pensamento.

Tô com medo. Já perdi a vontade de comer e ando lendo pra fugir, o que mais pode acontecer? Qual é o próximo passo? É eu morrer sufocada pelo vazio da saudade que eu sinto? A Maysa que só queria morrer de muito amor, acabou num acidente de carro. Eu que nunca pensei em amar, devo acabar pior, de forma mais lenta e cruel: morrendo de saudade.

Sunday, July 25, 2010

...

Tem alguma coisa mais inexplicável que a nossa relação com o tempo? Acredito que não. E a consciência assustadora da transitoriedade das coisas só aprofunda ainda mais isso. E o que podemos fazer? Tem como reter algo, como segurar com as mãos o que não queremos que passe rápido demais?

Tem quase dois meses que ele foi embora. Mas ele já veio me ver, há quase duas semanas atrás. Duas semanas! E parece que foi ontem que eu chorava porque achava que nunca mais o veria. E ele veio! E os dois dias, entre eu saber e ele chegar, foram os mais longos da minha vida. Mas não foi sofrido, foi uma espera alegre, mas com medo de acordar a qualquer momento.

Eu pensei que fosse dar pra matar a saudade. Não deu. Só aumentou a certeza do que eu sinto. E essa saudade não morre nunca, cada vez se alimenta mais das coisas que eu lembro para sentir ele perto de mim. É como se fosse uma fome, mas a fome de um esfomeado, de um faminto e não de uma pessoa que se sacia sempre que sente vontade.

E eu não sei se quero que o tempo se arraste ou voe. Não sei o que é pior. Tenho medo de morrer de abstinência. De fome. De saudade. De amor.

Thursday, July 08, 2010

Rotina

Eu queria fazer tanta coisa contigo. Acordar do teu lado. Ficar bêbada. Transar muito bêbada. Olhar futebol na TV. Dormir no meio do filme. Ir no cinema. Juntar grana pra fazer alguma coisa importante. Viajar pra praia. Viajar no feriadão. Viajar pra longe. Viajar pra perto. Não sair de casa. Ficar perto. Ficar dentro. Te ver chegar. Te desejar bom trabalho. Lavar roupa. Achar uma meia perdida em algum lugar. Olhar fotografias. Ler. Te mostrar uma roupa nova. Tirar a roupa nova. Contar todas as pintinhas do corpo. Comer pizza. Fazer pizza. Esquecer a pizza no forno. Comer sorvete. Escolher as cores das coisas. Dar risada. Procurar alguma coisa perdida. Achar alguma coisa importante. Discutir. Fazer as pazes. Comemorar as pazes. Sonhar. Contar o sonho. Trocar lâmpada. Fugir de uma barata. Matar uma barata. Procurar o horóscopo no jornal. Duvidar da previsão do tempo. Arrumar a casa pra esperar teu filho. Ouvir tuas histórias. Contar histórias. Se lembrar. Sentir a água salgada batendo nas pernas. Reclamar da areia. Ver onde dói. Comprar remédio. Fazer careta. Achar graça. Reclamar do lençol desarrumado. Levantar só pra arrumar o lençol. Fazer planos. Ter surpresas. Dançar pra você. Dançar em cima de você. Arrumar gaveta. Ver você brincar com teu filho. Guardar algo com valor sentimental. Andar na rua sentindo o sol. Deitar na grama. Pegar sol até ficar ardido. Massagem. Beijo na nuca. Sexo. Contornar com as pontas dos dedos todas as tatuagens. Se divertir. Cochilar no sofá. Ouvir Bob Marley bem alto. Conferir se as portas e janelas estão fechadas. Ouvir os barulhos da noite. Ler emails. Contar uma piada de um email. Conversar até de madrugada. Contar uma novidade. Cuidar das plantas. Mudar móveis de lugar pra descobrir uma casa nova. Ler bula. Decifrar manual. Traduzir música. Ler em inglês. Sussurrar. Acordar atrasado. Tomar banho demorado até a mão murchar. Rir quando não pode. Abraçar. Beijar. Cheirar. Morder. Lamber. Chupar. Chorar. Chorar sem motivo. Chorar com causa. Mas nunca mais chorar de saudade. Viver. Viver e morrer o pouco que se morre todo dia sem se preocupar, sem se tornar uma pessoa frustrada, sem lamentar o quanto a vida poderia ter sido diferente.