Sunday, November 27, 2011

A sensibilidade que faz a diferença

Penso que é a sensibilidade que torna as pessoas mais, ou menos, humanas. No dicionário, essa característica é definida como a “capacidade de sentir”. Entenderam? Bingo!

Particularmente, eu prefiro fazer tratamento psiquiátrico para o resto da vida, porque caio em queda livre quando quem eu amo me rejeita, porque fico imensamente mal quando algum amigo me magoa, porque fico revoltada quando vejo algo que não me agrada, do que deixar de sentir qualquer coisa, simples ou complexa que a vida me ofereça.

Parece que os sensíveis sofrem mais, mas não. Não é questão de sofrimento, é questão de sentir e a nossa condição humana, nos permite não passar imune ao que nos toca.

Duas das palestras mais bacanas do curso do NPC não foram de Doutores em Comunicação, mas de pessoas com uma sensibilidade para a vida extremamente aguçada: o MC Fiell e o Marcelo Yuka.

Ambos, por não serem profissionais em comunicação, realizaram uma fala mais pessoal, relatando suas experiências. E foram nesses relatos, de um cara que escreveu um livro e criou uma rádio comunitária no morro da Santa Marta, do cara que tava no auge do sucesso quando por acidente, levou nove tiros e ficou paraplégico, que notamos a sensibilidade deles.

Para mim, claro que o mundo precisa de saúde, educação e segurança, mas como idealista que sou, desejo e defendo a sensibilidade no mundo. Só assim, nossos desejos serão de coração e as mudanças serão sólidas pois terão em seus alicerces, valores nobres.

Peixe dentro da água

A semana do dia 14 ao dia 20 foi totalmente atípica e infinitamente, boa. Reuniu três coisas que amo: viagens, jornalismo e dança.

No início da semana, estava em São Paulo participando do 12º Festival Internacional das Escolas Luxor de Dança do Ventre. São três dias de workshops com bailarinos do mundo todo e na noite, tem apresentação de bandas árabes e de bailarinos brasileiros e internacionais.

O fantástico disso tudo é não se sentir um peixe fora da água, como normalmente acontece quando se gosta de algo que tem um mercado bastante restrito e que é, geralmente, deturpado. É ridícula e revoltante a reação de algumas pessoas quando falo que faço dança do ventre.

E são nesses eventos que encontramos pessoas que nos entendem. E ali que podemos falar de arabesquis, pliês, básico egípcio, mayas e robôs com a certeza de que seremos entendidas. E quando nos damos conta que o que leva as centenas de mulheres para este curso, é apenas o amor pela dança. Porque não é pela dor no corpo no final, os calos em baixo do pé, o chulé insuportável da sapatilha ou o mau jeito no músculo que resolveu incomodar que dançamos.

Diante da satisfação de acertar o passo e de se manter dentro do ritmo, as bobagens que a gente escuta se tornam tão pequenas e fora da realidade, que dá pena dessas pessoas que veem dançarinas do ventre como odaliscas, pois não imaginam o universo imensamente rico que estão perdendo.

E terminei a semana no curso 17º curso anual do Núcleo Piratininga da Comunicação: “Comunicação e hegemonia num mundo em ebulição”, no Rio de Janeiro. Durante os cinco dias do evento, tínhamos o dia cheio de debates interessantíssimos, com profissionais das mais diversas áreas.

Além de ter sido uma baita experiência para a minha carreira, pois eu nunca havia participado desse curso, foi também para a minha vida, a começar pela companhia e a certeza de que voltei do Rio com uma grande amiga.

Novamente, o mais incrível são as pessoas como a gente que estavam participando do curso. Uma vez, quando fazia a monografia da minha pós, que abordou a manipulação da mídia referente aos assuntos dos movimentos sociais, ouvi de um jornalista que havia estudado comigo na faculdade, se eu sabia que o tal trabalho significava que eu sempre trabalharia numa imprensa marginal.

Sim, eu sabia. E não, não me arrependo. Lá no curso, só tinha jornalistas de uma imprensa marginal e é muito bom saber que apesar de sermos poucos, estamos por todos os lugares do Brasil, lutando como se pode, fazendo milagres para conseguir uma notinha num grande jornal e o melhor, com a certeza de que se está do lado certo.

Eu sempre me senti um peixe fora da água, por inúmeros motivos. Talvez considere essa semana tão especial porque conheci um monte de pessoas que também são peixes fora da água, só que desta vez, estávamos compartilhando um lindo e comum aquário.

“E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda”. Caio Fernando Abreu

Tuesday, November 15, 2011

A necessidade de ter um hobby

Passei o final de semana no 12º Festival Internacional da Escola Luxor de Dança do Ventre, o maior evento desse tipo de dança no Brasil, são três dias de shows e cursos com dançarinos internacionais. Custou caro, mas é um investimento que vale a pena.

Não sou, nem vou ser dançarina profissional. Mas ter um hobby e investir nisso abrange muito a nossa qualidade de vida. Há dias eu não conseguia me focar em algo a ponto de deixar de pensar nos problemas e, por algumas horas consegui.

Todo mundo deveria ter um hobby. Tenho um tio que é artesão e passou a vida toda inventando arte, um trabalho criativo, sem chefes e horários a cumprir que permitiu criar as minhas primas. Mas quer ouvir ele falar de um assunto por horas com a impolgação de uma criança é falar de jardinagem.

Ele compra livros sobre o assunto, entende qual é o melhor tipo de terra e adubo para determinado tipo de planta. Aliás o jardim a casa dele é praticamente um pomar que está sempre florido.

A minha professora de dança do ventre passou os três dias do Festival mais preocupada com os tecidos que ela tinha comprado na 25 de março do que com os cursos. Depois da dança, o que ela mais gosta de fazer é costurar, principalmente com Pacthwork.

Não pretendo viver só da dança e, nem gostaria. Meu tio não vai virar jardineiro e nem minha professora, costureira. Mas é bom fazer algo, por mais que leve tempo e custe caro, pra gente mesmo. Há um prazer inexplicável em se dedicar a algo por puro prazer e um desejo irresistível e duvidoso de um dia largar tudo e viver só desse prazer.

Wednesday, November 09, 2011

Saco!

Para ler ao som de “Ouro de Tolo” de Raul Seixas

Não é nada fácil ser eu. Assim, como imagino, não deva ser nada fácil ser você. Todo mundo tem perrengue, conta para pagar e dor de barriga na rua, quando não há nenhum banheiro por perto. E mesmo com tudo isso, a gente segue se equilibrando no abismo assustador entre o que a vida é e o que gostaríamos que ela fosse.

Cansa. Dói. Machuca. Viver é tão tedioso como um filme em plano sequência, um dia a gente sucumbe e deixa de achar graça na desgraça, ficamos mais chatos, mas compreendemos que certas inocências tem que serem perdidas.

Raul já dizia “mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado... eu acho tudo isso um saco!” Tenho escutado muito essa música e gritado bem alto (porque eu não sei cantar) que eu acho tudo isso um saco.

EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!
EU ACHO TUDO ISSO UM SACO!!!!


Mas ouro de tolos que somos, a gente sabe que quando olhamos no retrovisor, encontramos algumas boas histórias pra contar. Até que foi divertido e às vezes chegamos a pensar que a vida era uma comédia pastelão que passa na sessão da tarde. Há meia dúzia de pessoas que sentiremos saudade e que em diversos momentos nos despertaram o desejo de ser melhores, porque essas pessoas mereciam que fossemos melhores. Mas não somos.

O problema é que nada disso facilita a minha vida. Eu continuo achando tudo isso um saco! E você? É um saco pra você também?

Friday, November 04, 2011

O show que eu não fui

Foi o fim do mundo, quando aos 12 anos, não fui no show do Skank na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo. Fiquei pra morrer, um ano depois, quando meus primos não me levaram num show do Planet Hemp, na praia. Com 19, tive minha primeira crise de pânico, minutos antes do The Calling subir no palco, me levaram para enfermaria e eu perdi o show. Ano passado, foi necessário nem pensar em ir ver o Paul McCartney, todas as minhas economias estavam direcionadas para a viagem à Europa.

Esta noite, eu deveria ter ido no show do Hanson. Fui no show deles há 11 anos atrás, no Gigantinho, em Porto Alegre. Foi meu primeiro show sozinha, acordei de madrugada e me plantei do lado da cama dos meus pais. Apesar de ter sido meu primeiro show sozinha, meu pai e meu irmão me acompanharam na fila e depois da apresentação já ter começado, compraram dois ingressos por R$ 10,00 de um cambista e assistiram tudo da arquibancada.

Depois disso, perdi a conta de quantos shows fui sozinha, mas é deste que lembro com mais carinho, porque além das lembranças daquele dia de outubro de 2000, o Hanson me rendeu uma amiga: a Mérilin Mereza. Há mais de uma década somos amigonas, mas só nos conhecemos mês passado. Começamos trocando cartas (as fotos que tirou do show queimaram e ela colocou um anúncio no jornal), mas como acompanhamos a evolução do mundo, passamos para e-mail, MSN, orkut, facebook...

Ela é uma das amigas mais presentes que tenho, acompanhamos (mesmo de longe) muitas mudanças nesses anos todos. Nós conhecemos mês passado, na Casa de Nazaré, onde nós duas estamos trabalhando e foi como tinha de ser, como reencontrar uma velha amiga. Combinamos de ir no show do Hanson hoje, mas eu não fui, e nem vou tentar resgatar o dinheiro do ingresso, vou guardar de recordação. Não foi o fim do mundo não ter ido, porque realmente não teria condições de agüentar um show com a crise de sinusite que eu estou.

Quanto ao Hanson, não são mais minha banda preferida, mas ainda escuto os dois CDs que tenho deles, o primeiro Middle Of Nowhere, que tem o sucesso MMMBop e o segundo e ótimo, This Time Around. Quando estou triste, sempre ponho para tocar A Song to Sing e sinceramente, preferia ter continuado apaixonada pelo Zac Hanson, teria sido mais seguro.

Seria muito bom ter ido com a Mérilin no show do Hanson. Seria simbólico! Mas como o destino não falha, daqui alguns anos eles voltam e nos vamos. Por enquanto, vou mandar um email pra ela me enviar as fotos do show. Afinal, amigas são pra isso.

Thursday, November 03, 2011

Fim de tarde

Hoje, depois que cheguei do hospital, fiquei sentada no pátio, curtindo o entardecer e vendo o sol se pôr. Que nem os velhos fazem nos fins de tarde. Vi as vizinhas vindo da caminhada e me lembrei que alguns anos atrás eu chegava do serviço e tinha energia para caminhar... Me tornei uma velha com 26 anos.

Fiquei ali sentada vendo o céu azul acabar no verde das árvores. Estava lendo a biografia da Clarice Lispector. Se um tiver uma filha, ela vai se chamar Maria Helena ou Clarice, por causa da escritora.

Mas eu não terei filhos, nem enteado, nem marido. Nem serei escritora como a Clarice. Como uma velha num fim de tarde, cheguei no fim da linha. Já estive em poços bem fundos, mas nunca um fundo do poço foi tão fundo como este. Se o paraíso existe, o meu terá céu azul e árvores verdes.