Monday, April 26, 2010

Das coisas que vão morrer com a gente...

Li uma frase hoje, num livro que não lembro o nome, passei num sebo no centro de Porto Alegre, peguei um livro, abri e li uma frase mais ou menos assim: “certos tipos de traições vão morrer com a gente, como tantas outras coisas...” Fiquei com isso na cabeça. Passei o resto do dia pensando nas coisas que fiz e vão morrer comigo. E são muitas coisas.

E acredito que seja assim com todo mundo. Inúmeros segredos vão morrer comigo, um deles: foi eu que quebrei a cabeça da Barbie, novinha, da minha prima Amanda, quando era criança. E jurei que não tinha sido eu. Menti.

E mentiras também vão morrer comigo e com todo mundo. Mentiras nos fazem morrer um pouco, porque tira de nós mesmos a verdade. Todas elas, até um automático “tudo bom”, quando não tá nada bom. Ou um “não vi teu namorado lá”, quando na verdade é “claro que vi e estava no maior amasso com a fulana”. Também "a aula estava boa", e a verdade seria "estava no motel, numa orgia com três colegas."

Traições também. Ainda não trai nenhum homem com quem me relacionei. Mas já fiquei com homens comprometidos e, confesso, sempre quis ser amante. Certos desejos e opiniões também vão morrer comigo. Que me desculpem as comprometidas, mas acredito muito mais em lealdade, do que fidelidade. Fidelidade é quase uma obrigação, lealdade é liberdade de escolha, é consciência. Boa parte das nossas fantasias também vão morrer com a gente, das mais banais até as totalmente esdrúxulas.

O chicle colado no banco da igreja, a inveja da coleguinha da escola, o ciúme da amiga, a raiva do pai ou da mãe, o nojo do irmão, o tesão pelo vizinho, os orgasmo fingidos, a má-fé de furar a fila, os porres homéricos, o suicídio que esteve por um triz, as drogas usadas, as palavras que saíram sem pensar e as que nunca saíram... Tantas coisas vão morrer com a gente.

Penso que quem morre são dois. O eu que morre para os outros e o eu que vai morrer comigo.

Friday, April 23, 2010

Let it be

Estou numa fase let it be total. Queria estar na I’m so happy, mas não... Não que eu não esteja feliz, porque estou sim, mas mais do que nunca, estou let it be. É quase uma questão de sobrevivência.

Ando pensando em voltar a fazer terapia. Ando tão bipolar. Não sei o que fazer depois que a pós acabar. Não sei o que fazer quando ele for embora. Não sei o que fazer, por isso let it be.

Ontem tive uma ideia ótima para escrever e desenvolver uma história, mas ainda não coloquei nada no papel. Tenho uma pilha de livros pra ler, uma monografia pra terminar, o edital do mestrado pra analisar e uma vontade louca de estudar astrologia.

Às vezes acho que vou acabar numa camisa de força... Tenho vontade de tocar fora vários planos e começar tantos outros. Precisava telefonar pra minha madrinha, conversar coisas de mulher, contar do drama (ou comédia) que é minha vida sentimental.

E o meu telefone que não toca? E o MSN que não pisca? Não combinamos só curtir, sem se apaixonar? Eu não me apaixono, você não se apaixona e a gente finge ter controle sobre isso. Você iria para o Canadá comigo?

Tem dias que não almoço e não durmo direito, mas está tudo sob controle. Só acho que estou apaixonada. Preciso ensaiar minha coreografia, voltar a fazer pilates três vezes na semana e comprar um espartilho branco e usar para ele, só para ele tirar, antes que tudo acabe.

Mas não sei. Não sei se iria para o Canadá com você, Turquia, sim, Canadá não sei. Acho que astrólogas ganham mais que jornalistas. Se eu não passar no mestrado vou ficar chateada. Prefiro espartilho preto. Minha terapeuta foi embora pra Roraima e agora tô com preguiça de contar tudo de novo. Vou sentir saudades até do cheiro do cigarro...

Let it be... Não está nada sob controle!

Tuesday, April 20, 2010

Jogo da velha

Entrei no trem hoje, quase quatro horas da tarde, comendo meu almoço que se resumia a uma barrinha de cereal com Toddynho, na minha frente três senhoras. Uma bem feliz, gordinha, de blusa floriada, chapéu de crochê e de mãos dados com o marido, também gordo e feliz.

A outra bem distinta, de calça social, camisa branca de seda, unhas bem vermelhas e com muitas bijuterias douradas, sentada do lado da gorda e lendo a Veja. A terceira senhora era bem humilde, de chinelos Havaianas, com um casaco e calças de moletom, com uma regata cinza por baixo, que denunciavam a ausência do sutiã, carregava duas sacolas plásticas com latinhas amassadas.

Essa última ficou de pé por um momento, na minha frente, me fulminando porque não dei meu lugar pra ela, até que o moço do lado da senhora distinta levantou e ela se sentou. Ficaram as três me olhando. E eu, olhando para as três.

Elas pareciam ter a mesma idade, mas nada mais em comum. Uma parecia viver numa eterna lua de mel, falava com o marido o tempo todo, sorrindo muito. A outra parecia atrasa e ocupada demais para prestar atenção no que se passava, mas era visível que sentia e se incomodava com a presença da velha com as latinhas do seu lado, que pouco se mexia e tinha um olhar vazio, parado no ar.

Fiquei pensando em qual tipo de velha irei me tornar. Se eu desencalhar muito tarde, posso me deslumbrar, casar e acabar como a primeira. Se continuar só pensando no meu umbigo, provavelmente fico como a do meio. E se eu não voltar para terapia corro sério risco de ficar como a terceira.

Porque a gente não sabe o que nos espera ali na frente, na curva da estrada, na esquina, no final da escada rolante... Assim como não sei que tipo de jovens aquelas senhoras foram. Parece que casar sempre foi o sonho da primeira, que ser bem sucedida era tudo o que a segunda queria, embora ela não parecesse muito feliz e catar latinhas, com certeza, não estava nos planos da terceira.

Mas o que será que aconteceriam com elas? O tal marido podia ser na verdade um amante, por isso aquela alegria exagera. A sisudez da segunda poderia ser fruto de um câncer recém descoberto, de uma viuvez precoce, da perda de um filho e não de um conhecimento exagerado que torna as pessoas difíceis. E a terceira pode ter ganhado na mega-sena no sorteio desta noite.

Os sobreviventes

Adoro o conto que reproduzo abaixo, é Os sobreviventes, que está no livro Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu. Adoro a história e o tom rápido e veloz, tudo junto e sem vírgula porque a vida não tem vírgula. Li num polígrafo da faculdade, no primeiro semestre de jornalismo e foi meu primeiro contado com o Caio, escritor que hoje me ajuda a sobreviver. E coloco aqui no Mosaico porque acredito que todo mundo já tentou de tudo e volta e meia se pergunta o que fazer, além de sobreviver?


Sri Lanka, quem sabe? Ela me pergunta, morena e ferina, e eu respondo por que não? Mas inabalável ela continua: você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as pessoas pensem nossa, como é que em foi parar em Sri Lanka, que cara louco esse, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? Uma certa saudade e você em Sri Lanka, bancando o Rimbaud, que nem foi tão longe, para que todos lamentem ai como ele era bonzinho e nós não lhe demos a dose suficiente de atenção para que ficasse aqui entre nós, palmeiras e abacaxis. Sem parar, abana-se com a capa do disco da Ângela enquanto fuma sem parar e bebe sem parar sua vodca nacional sem gelo nem limão. Quanto a mim, a voz tão rouca, fico por aqui mesmo comparecendo a atos públicos, pichando muros contra usinas nucleares, em plena ressaca, um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Teresa de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica mesinha de centro em junco indiano que apóia nossos fatigados pés descalços ao fim de mais outra semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus orgasmos e crediários atrasados.

Eu peço um cigarro e ela me atira o maço na cara como quem joga um tijolo, ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, a velha angst, saco, mas ando, ando, mais de duas décadas de convívio cotidiano, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, ah não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz.

Ai que gracinha nossos livrinhos de Marx, depois Marcuse, depois Reich, depois Castañeda, depois Laing embaixo do braço, aqueles sonhos tolos colonizados nas cabecinhas idiotas, bolsas na Sorbonne, chás com Simone e Jean Paul nos 50 em Paris, 60 em Londres ouvindo here comes the Sun here comes the Sun little Darling, 70 em Nova York dançando disco-music no Studio 54, 80 a gente aqui mastigando esta coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora nem esquecer esse azedo na boca. Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação Cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê?

Caio Fernando Abreu

Monday, April 12, 2010

Last news

Meu Deus, eu ando relapsa com meu blog e o tempo tá voando ainda mais. Tanta coisa pra escrever, tanta coisa pra contar, tanta coisa acontecendo na cabeça, no serviço, no coração, na vida, no mundo. Eu tenho que respirar fundo!

Precisava escrever sobre o feriadão de páscoa, mas isso já parece tão distante. Já se passou uma semana desde que voltei! Mas tava muito perfeito, nada melhor do que passar uns dias com pessoas queridas, do bem!

Ficamos em Ponta das Canas, a minha segunda praia preferida em Floripa (a primeira é Daniela), eu, Xande, Flávio e Vanessa. O Xande levou a Narguilé, fumamos loucamente e, preciso de uma Narguilé. Fomos parados pela polícia na ida para os Ingleses devido ao megafone. E tivemos que descer todos do carro! Quase meia hora dando explicação para a polícia.

No sábado pela manhã madrugamos e fomos para o Costão do Santinho fazer a trilha até a praia de Moçambique. Foram quase duas horas de caminhada num sobe e desce morro danado. Depois do merecido banho de mar, mais 40 minutos para voltar, pelas dunas. Foi, sem dúvida, a trilha mais doida que fiz, eu preocupada com a minha bacia, o Xan vendo uma cobra a cada 5 metros, o Flávio com problema no escapamento e a Vanessa perdendo os chinelos.

À noite, passamos no Doca, pegamos o Marcello e giramos muito na Concorde, a única balada que faço questão de ir, sempre. Arrasamos até às 4h da manhã, hora de levantar acampamento, até Ponta são cerca de 30 quilômetros. No domingo, não sei como, levantamos cedão e começamos a volta. Foram quase 12 horas de viagem, chuvaradas, engarrafamentos e restaurantes caros...

Foram quatro dias incríveis, que rederam ótimas fotos e recordações! Quero tudo de novo! Agora tô aqui escrevendo bem resumidamente uma história que merecia ser contada com uma imensa riqueza de detalhes, mas o turbilhão que tá minha vida não me deixa... Preciso respirar...