Monday, December 24, 2012

Cuba


Daqui alguns dias vou para Cuba e só uma coisa me preocupa. Não são os taxis velhos, a ilha socialista, a possível falta de chocolate que vou sentir, a personalidade um tanto duvidosa do Fidel... Vou viajar com um grupo de mais de 10 pessoas e nem todas, conheço.

O máximo que já viajei foi com quatro pessoas. Estar fora de casa e com outros, é campo minado para se estressar, pois estamos em território desconhecido, tudo é novo e naturalmente, ficamos mais alertas. Não, nunca me estressei nas minhas viagens, ao menos, eu acho. Mas também, nunca foram 20 dias com viajeiros semi desconhecidos.

Quando fui para Europa, fui sozinha e solidão é complicado. Tinha dias que sentia falta de ouvir a minha voz e sinto uma pontinha de tristeza quando lembro que não há ninguém para compartilhar as lembranças do velho continente. Mas fazia o que queria, na hora que bem entendesse.

Claro, que ninguém é obrigada a ficar junto com todos. Porém, mais dias e mais gente, mais chances de rolar algum estress. Por outro lado, sei que vai ser uma baita experiência para mim, viajar em grupo. Com exceção de uma amiga, é a primeira vez em Cuba de todos. Vai ser, no mínimo, interessante observar as pessoas lá. Será um exercício sociológico.

Por mais que me preocupe e que tenha medo de me estressar ou que role muito estress no grupo, estou louca que chegue dia 28, para embarcar. A primeira vez que todos se encontrarão será dia 29 em Varadero, o destino mais caribenho de Cuba e onde passaremos a virada do ano.   

Lembro de um réveillon que passei na Ilha do Mel com uns amigos, anos atrás, apesar da indiada para voltar dia 1º pela BR 101, aqueles dias renderam muitas histórias boas. Imagina no Caribe? Preocupações a parte e qualquer possível dor de cabeça, sei que voltarei de Cuba feliz e como em toda viagem, um pouco mais pobre, mas muito mais rica.

Friday, November 23, 2012

Música, presente


“A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa”
(É o que me interessa, Lenine)

Ontem, dia do músico, assisti ao show do Lenine. E foi um baita show num Araújo Viana lotado.

Meu “dream team” da música é composto por Fito Páez, Nando Reis, Lenine e Teatro Mágico, pois  eles são cidadãos e dão o seu  recado seja vendendo apenas na internet ou na trilha sonora da novela.

Todos são grandes compositores, mas vão além da poesia pura, sabem brincar com a linguagem, com a fonética das palavras e criam arranjos musicais surpreendentes.

Ontem, no dia do músico, eu me dei um baita presente.

Vivo, Lenine


Al lado del camino, Fito Páez


Dentro do mesmo time, Nando Reis


 Pena, Teatro Mágico

Sunday, October 28, 2012

Pele

De todas as coisas que a tua ausência causa, a falta que sinto da tua pele é a mais perturbadora, o que me desatina. Se eu não pudesse beijar, abraçar, transar, só te tocar me salvaria. Contornar as tuas asas e sentir a tua morenice carioca me acalma.

Essa distância faz tudo parecer tão sofrido, mas se torna tão insignificante quando você me toca, deixando minha pele toda arrepiada. Ou quando estou nos teus braços e não consigo pensar em nada, nem mesmo em pedir, inutilmente, para o tempo parar, porque ele vai passar e na maior parte, não tenho você ao alcance da minha retina e das minhas mãos.

Gosto de olhar nos teus olhos mesmo quando está de óculos. Assim como gosto de contar os fios brancos que nascem na tua barba, embora sempre me perca e tenho que recomeçar. Geralmente é isso que eu fico fazendo enquanto você está entretido, assistindo algum filme de algum super herói que eu desconheço a existência.

Às vezes eu pego no sono e é tão bom dormir sentindo teu calor.  Tem vezes que acordo assustada, vai que dormisse mesmo e sonhasse que estava em outro lugar e não ali, com você? Então você me olha e sorri esse sorriso de menino que tens. Eu olho para tevê, faço de conta que estava assistindo o filme, mas logo volto a me perder na tua pele.

O medo dos mais pedidos

Tinha um professor na faculdade que falava: “vocês serão jornalistas, tem que assistir e ler de tudo, sem preconceitos.” A maioria suspirava aliviada, podiam parar de  se culpar por assistirem reality show, ouvir música pop e ler Best Sellers ou ao menos, tinham uma boa desculpa para isso.

Outro dia, duas amigas ficaram boquiabertas porque disse que tinha ganhado o “50 tons de cinza” e que seria minha próxima leitura. Ah mas você lê essas coisas que figuram nos mais vendidos? Sim e por que não. Além de ter sido um presente, é bom ler para tirar minhas próprias conclusões.

Não entendo esse medo das pessoas de serem mais uma. O que vou perder se assistir um programa que gosto? De ler livros de um autor que não é unanimidade da crítica? De cantarolar a música do momento? Se gostamos, teremos no mínimo, momentos de prazer. Se não gostamos, é só trocar de canal, fechar o livro e mudar de estação.

Na hora do debate, o senso comum não é o de quem está por dentro, é de quem está por fora, mas nem se deu o trabalho de conhecer por não querer fazer parte deste senso comum. Vimos recentemente o final da novela Avenida Brasil, bom, condeno o espaço que teve na mídia, com policiais e psiquiatras discutindo que  matou o Max. Jornalismo é para tratar da vida real, então acho um desrespeito esse tipo de matéria.

Mas qual o problema de assistir novela? De falar sobre isso. Eu raramente assistia, mas óbvio que vi o último capítulo, no pilates, mas assisti e não sou melhor nem pior do que alguém por isso. Ah sim, e eu também leio Paulo Coelho.

 

Wednesday, October 24, 2012

Morrer

“Meus amigos me adoram e talvez chorariam se eu morresse. Mas será que eles sabem que eu penso sempre na morte? Será que eles sabem que aquela garota alí no canto da mesa, de decote, rindo pra caramba, contando mais uma de suas aventuras vazias e descartáveis, acorda todos os dias pensando: o que eu realmente quero com essa vida? Como eu faço pra ser feliz? Será que eles sabem que se eu estou morrendo de rir agora, daqui a pouco vou morrer de chorar? E vice-versa? E isso 24 horas por dia?” - Tati Bernardi



Outro dia assaltaram uma colega do trabalho e pensei “por que não foi eu? Poderia ter levado um tiro e morrido.” Seria perfeito. Acidente. No lugar errado, na hora errado. Mas nunca fui assaltada, nem roubada, isso que vivo com a cabeça no mundo da lua. E o avião, por que não cai comigo dentro? Tragédia coletiva, uma dor ameniza a outra...

Por que não me atropelam, não passam em cima de mim? Fatalidades acontecem e são mais fáceis de entender colocando a culpa no tal de Deus que quis assim. Por que sou uma covarde que não faz nada além de aumentar a lista de hotéis que é possível morrer se atirando da janela?

Fico imaginando como seria a vida sem mim. Logo me tornaria um perfil esquecido e parado do Facebook. Uma criança que os primos teriam que fazer força para lembrar o nome, ao olhar as fotos amareladas da década de 90. Um assunto que boa parte da família evitaria. Para outros, me tornaria num questionamento ou até num lamento, quem sabe o que fica de nós?

Não tenho medo do que viria depois. Se o paraíso for uma adaptação daqui, já está bom. Eu só não queria ter que esconder para chorar, no meio da tarde, porque a dor crônica que sinto da vida, de repente se fez aguda. E viver seria um paraíso se eu não sentisse essa dor de existir.

Monday, October 22, 2012

Do êxtase a constatação musical

Me considero uma pessoa de bom gosto musical e adoro um show, é uma das puçás coisas que se eu gostar do artista pago o que for. Claro que, hoje em dia, penso duas vezes antes de ir num mega show, ficar cinco horas em pé... Atualmente, espetáculo musical está diretamente ligado com conforto. Os últimos shows que fui eram em teatros, ou acústicos, e tenho preferido assim, pois posso ficar sentada, só absorvendo a música.

Neste último final de semana, assisti ao show da Pouca Vogal, no teatro da UCS. Foi um baita show e adoro os dois cantores/compositores/escritores: Humberto Gessinger e Duca Leindecker pelas poesias que eles criam e os arranjos que fazem, relendo de maneiras diferentes as músicas das bandas Engenheiros do Hawaii e do Cidadão Quem.

Para mim, o ponto alto foi quando começaram a cantar um trecho de Banco, do Engenheiros do Hawaii.

Deve haver alguma coisa que ainda te emocione/Uma garota, um bom combate, um gol aos 46/Deve haver alguma coisa que ainda te emocione/Um cavalo em disparada/Pijamas...nada pra fazer/Deve haver alguma coisa que ainda te emocione/Um vinho tinto...um copo d'água/A chuva no telhado...um pôr-de-sol/Deve haver alguma coisa que ainda te emocione...

Aí, o Gessinger começou a brincar, citando coisas que podem emocionar, falou em partido político, ouviu um não, falou em causas, todos falaram siiiiiiiiim. Lembrou das causas perdidas e engatou Dom Quixote, minha música preferida:

Muito prazer, meu nome é otário/Vindo de outros tempos mas sempre no horário/Peixe fora d'água, borboletas no aquário/Muito prazer, meu nome é otário/Na ponta dos cascos e fora do páreo/Puro sangue, puxando carroça/Um prazer cada vez mais raro/Aerodinâmica num tanque de guerra,/Vaidades que a terra um dia há de comer./"Ás" de Espadas fora do baralho/Grandes negócios, pequeno empresário.

Muito prazer me chamam de otário/Por amor às causas perdidas./Tudo bem, até pode ser/Que os dragões sejam moinhos de vento/Tudo bem, seja o que for/Seja por amor às causas perdidas/Por amor às causas perdidas

Quando terminou, voltou os acordes de Banco e ele questiona: “Todo mundo tem alguém que lhe emociona e satisfaça?” Mudam os acordes e o Duca grita: Satisfaction! I can't get no. Sim, rola um trecho do clássico dos Stones: I can't get no satisfaction/I can't get no girl reaction/'Cause I try and I try and I try and I try/I can't get no/I can't get no...

Dá para enlouquecer... Nessas horas até penso que só por gostar de artes já vale a pena estar aqui, quem sabe pode ser um sentido? Mas a música seguinte me lembrou que se alguém encontrou um sentido pra vida, chorou/Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo...

Friday, October 19, 2012

Dom Quixote



Como não amar esta música?

Muito prazer, me chamam de otário...

Thursday, September 27, 2012

Estado intermediário

Tenho tentado ao máximo não escrever sobre você, para você, sobre o que sinto por você. Mas chega uma hora que eu transbordo e não sai uma linha sequer sobre outro assunto qualquer. É chegada a hora de vomitar, quem mandou ficar me entupindo de você. Mas não se preocupe, é melhor dar vazão agora do que explodir no limite.

Vai por mim, está tudo controlado, a fase da overdose já passou e eu sobrevivi. Restou uma pessoa mais madura e tolerante, mas não menos ansiosa e insegura. E a consciência disso, prova que isso também está longe de ser uma recaída. É só um transbordar de você, mas dessa vez é bom, eu que não estou acostumada com essa liberdade toda.

 O problema é esse estado intermediário, esse período de transição que talvez não chegue a lugar algum e isto me agonia. Eu não gosto de meios termos, de mais ou menos, de meias verdades...

Eu quero o que é ou o que não é, mas com toda a certeza do ser. E essa história está cheia de metades. Por isso eu ainda não posso ser inteira e é tão, mas tão difícil me podar. Me limitar a ser mulher, quando sou a forma da fêmea que deve te alimentar e o sentimento da ser humana que deve provocar sensações na sua vida. Então eu preciso transbordar, às vezes.

Mas como disse, tá sendo bom, parece até que dá pra gozar no final.

Sunday, September 23, 2012

@.kao

Faz 15 dias que a Arroba morreu e só agora eu consigo falar sobre isso sem chorar. Minha pequena era vira-lata, mas era a vira-lata mais linda do mundo. Ela era a minha Capitu, porque parecia dissimulada, não se mostrou de cara, tanto que a chamei de Arroba, a Capitu, Capitulina e no fim da vida, Capitulinda, veio depois, acho que uns dois anos depois, observando a maneira como ela gostava de espiar as coisas, ela nunca se mostrava, estava sempre atrás de uma parede, uma planta, uma cadeira...

Alguém me disse nesses dias, que luto por causa de bicho de estimação é igual ao de parente (só imagino que seja de parente que a gente gosta, porque isso não especificaram...). Mas deve ser mesmo, é difícil encontrar alguma lembrança nos últimos 12 anos que ela não esteve presente. Quando descia do ônibus às 23hh30, chegando da Unisinos, já ouvia os latidos dela. Cansei de escrever até de madrugada com a Arroba nos meus pés. Cansei de chorar na frente dela também. Desde filhote, quando eu acordava ia na janela mexer com ela, sempre. Nas raras vezes que isso não aconteceu, eu era repreendida pelo choro mais chantagista do mundo.

Ela não foi uma cachorra que andava de carro com a cara na janela, sempre ficava quietinha deitada nos pés do caroneiro, o mundo externo parecia não interessar. Adorava comer bergamota e melancia. Doida, ela ficava no natal e réveillon, por causa dos foguetes, a Arroba se enfiava embaixo da primeira cama que visse e para sair de lá, mobilizava todos que estivem na casa. Sempre que eu falo nela, a mãe diz que eu não tenho que ficar triste porque ela foi muito feliz.

Mas como se mede a felicidade de cão? Pelas plantas que ela derrubou? Pelos sapatos que destruiu? Às vezes, levávamos a Arroba para a praia, porém ela só viu o mar uma vez, foram alguns minutos eufórica, correndo atrás das aves, fugindo das ondas e cavando na areia. Quando parou começou a beber a água do mar. Bebeu tanto que se intoxicou e acabamos todos numa clínica veterinária de Mariluz. Acho que a Arroba só não era feliz quando voltava do pet shop, porque ela ficava estática, era engraçado, ela que não parava quieta, virava estátua e demorava para se soltar, desconfiava até da casa onde morava.

A última vez que a vi, estava tão magra que era possível contar os ossos da costela e não tinha forças nem para levantar, a única coisa que era igual, eram os olhos de Capitu.

Sunday, August 26, 2012

As faces do Face

Li outro dia que o Facebook aumentou o conhecimento dos jovens sobre a literatura brasileira. Fiquei pensando sobre isso e se for verdade, esse conhecimento é muito superficial. Pois parece que o número de pessoas que vão procurar as obras dos escritores depois de lerem as frases postadas na rede, é mínimo.

Portanto, esse conhecimento é raso. Alguém pode ser fã do Fernando Pessoa, do Mário Quintana, do Caio Fernando Abreu e tantos outros pelas postagens das pessoas no Facebook, mas nem por isso será um conhecedor da obra desde artista. Textos deixam de ter sentido quando se transformam em frases fragmentadas.

O Caio Fernando é para mim o melhor escritor da língua portuguesa, já li muito ele e sobre ele e, mais de uma vez. Garanto, o Caio Fernando Abreu não é o escritor de auto ajuda como parece nas frases postadas no Facebook. Há levezas, sim, nos contos dele, mas há predominantemente, vida. A vida de um jornalista forçado, de um viajante inveterado, de um astrólogo ateu, de um homossexual aidético, de um homem solitário, de um escritor premiado que se considerava um artesão.

Um ser desses vai muito além do “ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras coisas”. Essa frase dele é a que mais aparece nos murais dos meus amigos. Fico feliz como fã, já que a literatura brasileira sempre marginalizou o Caio e agora graças as redes sociais, ele virou pop.

Mas tem que ir além, os escritos dele são viscerais, há uma loucura consciente que enlouquece, que faz a vida parecer sem saída e ainda assim, leve. “Segura o turbante e vai”, Caio falava para os amigos. Tem que ler e reler O Triângulo das Águas porque não é um livro fácil, os clássicos Morangos Mofados, Os Dragões não conhecem o paraíso, Limite Branco e Pequenas Epifanias. O livro Cartas é uma raridade e lindo. Das biografias, recomendo Para sempre teu, Caio F.

Essas pessoas que postam frases dele, tem que saber que o cara escreveu para o teatro e para o cinema. Que deixou inacabada uma novela infantil sobre galinhas. Que trabalhou para as melhores revistas do país, que traduziu muita coisa, que foi o criador da expressão “saia justa”. Escreveu sobre amor, drogas, sexo, perdas, aborto, homossexualismo, suicídio, solidão e dor como ninguém.

Meu conto preferido é Os Sobreviventes, seguido de Carta Anônima (esse posso ler 3456 vezes que sempre vou chorar) e Zero Grau em Libra. Ele estaria de aniversário agora, começo de setembro, virginiano com ascendente em libra. Grosso modo, um certinho vaidoso, um organizado desequilibrado. Regido por Mercúrio e Venus, só podia dar um artesão das palavras.

Não é a por acaso que tatuei uma frase dele: “Que seja doce...” Esta também é uma frase que vejo seguido no Facebook. É linda, assim sozinha. Mas o verso todo, que não tatuei por ser muito grande, é instigante, termina com “mas não pergunte o que deverá ser doce, posso não saber, pois tudo e tão vago quanto o nada”. Meu escritor preferido morreu jovem, com 48 anos, hoje estaria um cinquentão e imagino que teria uma relação de amor e ódio com as redes sociais e com a orgia tecnológica que a sociedade se transformou.

Encerro esse texto com uma das minhas frases preferidas dele e desejando que as pessoas vão atrás da obra do Caio e não fiquem só nas frases bonitinhas do Face, que apenas confortam, não incomodam. "Exigimos o eterno do perecível, loucos".

Monday, August 20, 2012

Porque

Roubei esse texto do blog do Duda Rangel. Porque ele é ótimo, é meu colega, é impossível não se identificar e principalmente porque essa profissão dá um prazer que nem Freud explica.

O post jornalístico dos porquês

Por que o Globo Repórter só fala de bicho e colesterol? Por que o piso salarial do jornalista é muito mais piso do que o piso de várias outras profissões? Por que o jornal de domingo tem mais anúncio do que notícia interessante? Por que tem repórter que nunca sabe a diferença entre por que, por quê, porque e porquê? Por que pauteiros e assessores de imprensa têm uma relação de amor e ódio? Por que eu não ouvi meu pai antes do vestibular? Por que nos telejornais só existem as moças do tempo e nunca os moços do tempo? Por que a nossa liberdade é sempre capenga? Por que a nossa profissão dá um prazer que nem Freud explica? Por que a cobertura do Dia das Mães é todo ano igual? Por que tem frila que demora tanto a ser pago? Por que ainda tem tanto jornalista que se acha? Por que ainda tem tanto jornalista perdido? Por que os portais de internet são tão poluídos? Por que jornalista é uma raça desunida? Por que a Ana Paula Padrão insiste em chamar a Record de Globo? Por que o jornalismo é um vício difícil de largar? Por que o Ministério da Saúde não adverte porra nenhuma sobre esse vício? Por quê? Por quê? Por que jornalista tem essa mania de querer saber o porquê de tudo?

Monday, July 30, 2012

Rodolfo, me encanta









“Enquanto o mundo cai em pedaços. Eu gosto de estar do lado do caminho” – Al lado del camino

Melhor do que admirar alguém é reafirmar esse sentimento. Sou muito fã do Fito Páez, tive a sorte de ir em vários shows dele e no último domingo não foi diferente. Fito comemora 20 anos do seu CD "El Amor despúes del amor", o disco mais vendido na história do rock argentino. A primeira hora da apresentação foi literalmente as músicas desse disco, depois veio alguns dos muitos sucessos que esse cara tem.

Eu estava na primeira fila e vi o Fito cantar a um metro de mim. De todos os shows que já fui, esse foi o que ele menos tocou piano. Mais da metade da apresentação foi em pé e na minha frente, deu pra fazer um book de tantas fotos que tirei... Mas nada de arroubos histéricos e juvenis, só contemplação para não perder nada daquele homem, quase cinquentão, que faz o artista que eu admiro.

Postei um texto em 2008 falando sobre um show dele, reli e foi bom perceber que alguns gostos não mudam. De 2008 pra cá, teve outros shows e em todos eu me encanto com o senhor que toca piano como se fosse uma criança diante de um brinquedo, me emociono com Al lado del camino e acho impossível não reparar como o cabelo e a barba estão brancos... Neste show percebi que a cada troca de roupa, ele também trocava de óculos. E sim, aquele homem de gola alta e blazer, tocando piano, é um charme só.

Diante de uma indústria cultural que nos apresenta cada vez mais, coisas fugazes e artificiais, considero esse argentino o artista mais completo da nossa contemporaneidade. Inteligentíssimo, trouxe o piano para o rock, faz releituras de suas próprias músicas, cria arranjos sensacionais, tem um discurso consciente e politizado sem ser pedante ou demagogo e é um compositor de uma sensibilidade ímpar.

Andam dizendo que o Fito está se achando, negando entrevistas, virando estrela. Duvido, mas se ele virar estrela, terei mais um motivo para olhar para o céu, da primeira fila onde os fãs de verdade, tem que estar.

Queda

“Aguerrida entrega. Nesse nosso desbravar...”- Da entrega, O Teatro Mágico

Viver é estar em queda livre num imenso abismo. Mas não é assim: nasceu, caiu. Primeiro nos colocam numa planície e lá nos deixam até começarmos a olhar em volta e a caminharmos mais longe. Um belo dia, nos deparamos com ele, lindo e assustador. Parece infinito.

Alguns se jogam sem pensar, outros escorregam por descuido e a maioria volta, preferem a segurança de plano reto, sem curvas e monótono. Desses, penso que alguns esquecem completamente o abismo, já outros devem lembrar constantemente. Poucos, bem poucos ficam se equilibrando, é difícil ter consciência do abismo.

Quem está caindo conserva algumas similaridades com o povo da planície. Há os que perdem a noção do que está acontecendo, outros estão sempre ligados e atentos a tudo e tem alguns que oscilam, ora de olhos abertos, ora de olhos fechados, pois é muito fácil se perder diante da vida.

Há lugares incríveis, trechos coloridos e uma trilha sonora bem legal durante a queda. Às vezes, nos momentos de calmaria, é possível se iludir e achar que estamos no comando, planando e admirando a paisagem.

Dá para ficar atordoada com tanta informação e gente passando por nos, tentar se agarrar a algo pode ser um erro. Uma vez em queda, não é possível voltar para a planície, então acumular saudades também não facilita nada, só aumenta o peso da alma e isso dificulta qualquer entrega.

Bom mesmo é o que se sente. Dói, é verdade, mas é a única maneira de se tornar mais inteiro mesmo com todos os vazios que irão abrir em nos e ao nosso redor. Eles são fundamentais para a compreensão de nos, da vida e dos abismos.

Eu não sei dizer se me atirei sem pensar, se escorreguei, se me equilibrei por algum tempo... Quando me dei conta já estava no maior de todos os abismos, talvez seja por isso que os outros, por mais que me incomodam, não me assustam. O melhor é se dar conta, que não parece infinito, é.

Friday, June 15, 2012

Duas décadas

Tanta coisa aconteceu nestas duas décadas, às vezes gosto de imaginar como a vida seria se você ainda estivesse aqui. Talvez o Ricardo não tivesse ido para o Rio, talvez o Miguel aparecesse mais seguido, talvez o Cristiano fosse só um tio e não um tio quase irmão.

Provavelmente você teria ficado triste com o destino da tua poupança graças ao Collor, a mãe sempre fala que você achava ele bonito. Lembra que eu adorava falar impeachment? Pensava que soava tão lindo e que era uma palavra muito difícil para uma criança, acho que foi ali que surgiu minha consciência política. Falando nisso, lembra do Brizola, que tu sempre falava? Almocei com a neta dele outro dia.

Com certeza eu teria aprendido a cozinhar do teu lado e não sozinha. Acho que teria condições de pronunciar algumas palavras em alemão e não só entender coisas soltas no meio de conversas que escuto por aí. Ah, no final de 1992, eu li meu primeiro livro, lembra que eu chorava que eu não ia aprender a ler? Não só aprendi, como isso é o que eu mais gosto de fazer.

E muitas vezes depois disso, chorei por não conseguir entender nada de matemática, e não entendo até hoje. O tio Cristiano que me ajudava, nossa já se deu conta que o teu bebê vai fazer 40 anos este ano? Ele tá tri bem, festeiro, alegre e mulherengo como sempre, mas quase totalmente careca. Às vezes, quando a gente sai, ele fala: “vamos lá Rê, eu preciso de um sobrinho e você, de uma tia” e eu respondo: “não me importo de ter uma tia mais nova se você aceitar um sobrinho mais velho.”

Tanta coisa aconteceu nesses 20 anos, comigo, com a gente, com o mundo. Não sou mais loira, virei vegetariana, tenho piercings e tatuagens, não quis festa de 15 anos (pedi o silicone, mas não deram porque era muito nova, mas ganhei dinheiro) e me dou bem com todos os meus primos.

O Marcellinho é um alemão lindo, tá no Piauí agora. O Tiago está praticamente casado. O Júnior também, casado e empregado, é jornalista para o orgulho da prima gaúcha. O Márcio é uma figura, sempre em função do corpo, academia e lutas. O cabrito do meu irmão é aquela coisa meio conservadora, meio tradicional, meio trabalhadora e muito divertida (sério, às vezes, ele é hilário). A senhora ia se amarrar no Wesley, no Rockson e no Ramon.

Viu que agora temos um Jasmim? Lindo, fica aqui na sacada do meu quarto, sempre converso e faço carinho nele. Estou louca para que chegue a primavera, para ele florir e deixar meu quarto perfumado... Nem tudo mudou em 20 anos. Pensar no 15 de junho de 1992 em 2012, faz parecer tão distante, mas ainda assim tão nítido.

Não sei se sinto saudade, porque por mais que me doa, prefiro pensar que o agora é melhor, odeio o papo de “para qual época gostaria de voltar”, para nenhuma, minha época é agora. Parece que é um gostar de imaginar como seria se você estivesse aqui. E eu gostaria que estivesse.

Sunday, June 10, 2012

Easy like sunday morning

“I wanna be free to know the things I do are right” – Lionel Richie

Algodão doce. Melhor do que isso, só aquelas pipocas do saco cor de rosa, que de vez em quando tenho a sorte de encontrar por aí e elas tornam qualquer parte do meu dia, melhor.

Ouvir os discos que herdei do meu avô, principalmente Maysa, pode estar chovendo, começa a tocar “O Barquinho”, o sol aparece. Descobrir que a música de um artista ocidental tem a batida de algum ritmo árabe e é perfeita para o palco.

Implicar com meu irmão, deixar ele bem irritado, começar a brigar e no meio da discussão falar: “cabrito, se comporta!”, só para ele rir, só para a gente dar gargalhadas depois. Tentar não rir quando meu afilhado vem me fazer cócegas, óbvio que não consigo, o que só faz com que ele se divirta ainda mais. E eu também.

Vinho e livro sábado de noite são melhores do que qualquer balada. Há não ser quando saio com o meu tio e faço a maior propaganda para as minhas amigas. Mas, sair com o meu tio e perceber que ele faz a maior propaganda de mim para os amigos dele, é melhor.

Dor. Aquela dor boa que dá na cintura no dia seguinte de um ensaio que durou horas. Ensaiar e ensaiar e quando acaba, ter fôlego para mais algumas horas. Dançar. Perceber a expressão das pessoas quando a gente dança, deixar alguém sem jeito, quando no meio de um passo a gente olha nos olhos dela.

Debater algum assunto com meu primo de quatro anos. Escutar do meu ex que sou uma das melhores profissionais que ele conhece. Atender o telefone e ouvir a amiga, que tem idade para ser minha mãe dizendo: “quero saber tua opinião porque confio muito em ti.”

Ir no supermercado com meu pai. Viajar. Olhar fotos. Caminhar. Ler. Conversar com o meu jasmim. Brincar com a Arroba. Cozinhar. Dormir até tarde aos domingos, geralmente toda a manhã. Escrever.

Saturday, June 09, 2012

O melhor show de todos os tempos da tecnologia

“I'm so happy
'Cause today I've found my friends
They're in my head”

Lithium - Nirvana


Elvis não morreu. E irá tocar no Brasil em outubro, a turnê Elvis in Concert vai passar por Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Na capital paulista, haverá um show extra, pois os ingressos para a primeira apresentação já estão esgotados.

Se tem uma coisa que eu gosto, é de ir em shows, é uma das poucas coisas que pago o preço que for e não reclamo. Adoraria ir num show do Elvis Presley, imagina cantar Suspicious Minds com ele? Mas dessa vez não irei. Infelizmente, contrariando a lenda, o Elvis morreu antes mesmo de eu nascer.

O que virá ao Brasil em outubro é a mais avançada das tecnologias com projeção holográfica, telões gigantes e áudio remasterizado. Tudo isso irá torna o show mais realista, impressionante e o morto mais vivo que nunca. Um salve para a tecnologia e para o show business, mas esse tipo de espetáculo não me pega.

Quando soube da possibilidade de ressuscitarem grandes astros com holografia, pensei: “se rolar um show do Nirvana, eu vou. Ver o Kurt Cobain, de pertinho, cantar Lithium, Come as you are, About a girl... e daí que é faz de conta?”

Mas não rola né? Justamente por ser fã do Nirvana, que não conseguiria ver o Kurt num telão. O Cobain holográfico seria do começo da década de 90, mas como seria o músico quarentão se ele tivesse suportado a vida e não tivesse se matado? Imagino um Kurt Cobain lindo, maduro e profundo, com a voz mais rouca e menos cabelo.

Por esse, o Kurt de verdade, eu pagaria o preço que fosse. Provavelmente, pelo Elvis também. Sou muito resistente a vincular arte com negócio, but business is business e mega shows mexem com milhões de dólares, por que não trazer de volta artistas que foram cedo demais e ainda tem um público cativo? Por que não assistir a um espetáculo assim?

Porque, para mim, um espetáculo desse tipo, por mais que haja um baita planejamento por trás, depende muito do improviso, do inesperado. Emoções e sensações não podem ser produzidas por tecnologia. Eu me nego a aplaudir um Elvis no telão, aplaudiria de pé o idoso que ele seria hoje.

Enquanto escuto os mesmos CDs de sempre do Nirvana, a voz rasgada do Kurt diz que ele está feliz e desejo que ele e tantos outros artistas geniais virem lenda, pó, estátua, borboleta, qualquer coisa, menos projeções holográficas.

Sunday, June 03, 2012

Da capacidade de ter sangue frio

Eu gosto de política, como o mecanismo que legitima ações de alguns atores (sejam pessoas, ONGs, partidos políticos, entidades sociais, sindicais e estudantis) em prol do coletivo. Gosto de pensar sobre isso e qualquer pessoa que entende um pouquinho de política (não precisa gostar) percebe que a possível coligação do PCdoB com o PP é uma aberração política por causa da ideologia de cada partido.

Por mais que o PCdoB seja o mais elitizado dos partidos “ditos” de esquerda, por sempre ter investido em formação para seus lideres e que o PP seja uma sigla bastante popular devido ao grande número de prefeituras que governa, esse cruzamento é uma falta de respeito com a história de cada partido e uma afronta à inteligência dos eleitores. É como querer cruzar um morcego com um peixe.

Apesar dessas incoerências que acompanho diretamente dos bastidores, gosto das informações privilegiadas que eu tenho, da abertura de transitar em setores da sociedade que poucos têm acesso. Tenho cabeça, estômago e profissionalismo para trabalhar com isso e, sangue frio para testemunhar comportamentos tão baixos.

Passei boa parte da minha infância afirmando que seria veterinária, mudei de ideia quando percebi que não bastava gostar de cachorro, gato, papagaio e tartaruga, mas ter sangue frio para lidar com eles nas piores situações. Já na adolescência, queria ser comissária de bordo, o que só durou até eu me dar conta que dificilmente manteria o equilíbrio numa situação de risco, já não mantenho no dia a dia.

Gosto de trabalhar com isso, porque é aqui que encontro todo o tipo de gente, do político corrupto ao idealista solitário; do advogado que enche a boca para se denominar Doutor e não se dá conta que é Phd em alienação; do professor que trocou a universidade para dar aula para o MST e desde então tem que provar que não é marginal ao puxa saco do assessor do político que sempre quer se dar bem; da garota de programa que veste Prada e Hermès ao homem que exige respeito mas não sabe respeitar nenhuma mulher; da moça que se acha esperta e tenta engravidar de algum político, ou rico, ou famoso ao homem otário que engravidou a moça, porque queria desfilar com uma beldade do lado e vai passar a vida se submetendo a chantagens...

É um zoológico, uma hospiciolândia, uma torre de babel, uma arca de Noé com todos os tipos da medíocre, a grandiosa e contraditória espécie humana. Estamos todos no mesmo barco, furado, revezando os remos até o dia do naufrágio, até o dia que o mundo acabe, até o dia que Deus resolver acabar o mundo com o fogo e não água, já imaginaram o dia da fogueira final? Ou até o dia que eu pular do barco. Game over for me!

Por mais que ache natural trabalhar com isso, sei que estou num compartimento da embarcação que reúne os exemplares mais podres da nossa sociedade, os políticos e isso, misturado com o vai e vai do barco, mais as imperfeições humanas, sobrecarregam o meu estômago. Mas eu tenho sangre frio o suficiente para continuar remando, respirar fundo e pensar: “é meu trabalho”.

No meio de tudo isso, fazer trabalho voluntário é uma válvula de escape, uma possibilidade, não só de dedicar o meu tempo e mão de obra a coisas mais leves, penso que faço isso mais por mim do que pelas crianças. Tem vezes que tenho que representar a creche que trabalho em reuniões, geralmente com a Secretaria de Educação ou Assistência Social e eles me mandam, justamente, porque estou acostumada com esse ambiente político.

Só que quem vai nesses encontros é a cidadã e a cidadã não tem o mesmo sangue frio da jornalista. Quando me deparo numa reunião para discutir o que fazer com o vice diretor de uma creche comunitária que leva para casa uma boa percentagem dos alimentos doados para a entidade, não dá pra não me revoltar.

Sei que esse tipo de comportamento baixo e corrupto acontece em qualquer setor da sociedade. E concordo que deve ser baita pepino fazer milagres com um orçamento mínimo que vem de convênios com os órgãos públicos para dar conta de alimentar e tornar possível a educação de centenas de crianças.

Mas considero muito pior quando o corrupto é quem a gente menos espera, é quem conhece a realidade que está roubada, pior, faz parte dela. Políticos não, eles vivem num mundo a parte, grande parte deles já se esqueceram de sua condição humana e priorizam sempre o seu umbigo.

Participar de uma reunião, com secretários do município para discutir essa situação é quase uma inversão de valores: políticos cobrando ética de um cidadão. Posso rir? Alguém vem segurar o meu remo porque eu vou ali assimilar tudo isso e fazer meu estômago entender que nem sempre o homo sapiens se comporta como tal.

Friday, May 18, 2012

Paraísos artificiais

“Para digerir a felicidade natural, assim como a artificial, é preciso primeiro ter a coragem de engolir” - Charles Baudelaire

"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito" - William Blake



Assisti ao filme Paraísos artificiais, do Marcus Prado, que conta a história de jovens que buscam prazer, satisfação e felicidade em drogas como mescalina, ecstasy, GHB e cocaína. Já li que há pessoas que defendem que a obra é o retrato perfeito de grande parte da classe média brasileira. Não sei, não sei... Concordo que há muita gente vazia e por isso se perdem, mas também conheço muitas que não são nada vazias e são usuários de drogas.

Em alguns momentos, o filme consegue tornar mais palpável a subjetividade das alucinações provacadas pelas drogas e isso de cara, me pegou. Agora, o que me ganhou mesmo foi uma cena que os personagens Érika e Mark estão conversando sobre uma “bad trip” dela. Mark, interpretado por Roney Villela é o personagem mais velho da trama, é um ponto de referência para os outros, já experimentou diversas drogas, sempre tem alguma no bolso para oferecer aos outros e está sempre por perto pra trazer a pessoa de volta.

Nessa conversa, Mark afirma que o grande problema não são as drogas, mas a índole dos usuários. Diz algo do tipo “as drogas são o que você quer, levam para onde você quer.” Fiquei pensando nisso...Foram poucas vezes que experimentei drogas e com raríssimas exceções, elas nunca me levaram para um lugar muito bom. Culpa minha, segundo o filme.

Boa parte das pessoas que convivo, fazem uso de drogas. Talvez pelo fato de ter usuários de drogas na família, essas pessoas se sentem mais confortáveis em falar disso comigo, em fazer certas coisas na minha frente, mesmo sabendo que eu não sendo parceira para dividir nenhuma carreira de cocaína ou fechar um. As pessoas que me refiro são todas adultas, já passaram da fase de se deslumbrar quando falo da minha família, coisa que acontecia quando era adolescente.

Há pessoas, já nos sessenta anos que fumam maconha há mais de quarenta e isso nunca foi empecilho para serem bons pais, boas mães, bons profissionais. Mas já vi também, alcoolistas perderem tudo, caírem, levantarem e recaírem. Outros há anos tentam deixar de cheirar, conseguem e não conseguem. Acho fantástico quem tenta parar sem procurar ajuda, a força de vontade deve muito maior.

Das coisas que eu ainda quero experimentar estão a Mescalina e o Daime e sim, acho interessantíssimo provar algumas coisas, como defendia Huxley no seu "As portas da percepção", experimentar certas substâncias é uma experiência significativa. Simpatizo com os alucinógenos (com exceção da maconha que deixa minha pressão baixa demais), para mim, elas alteram a percepção da realidade sem alterar tanto a atividade mental como as estimulantes ou depressoras, que são as que eu e a grande maioria das pessoas, mais usam, já que as drogas lícitas pertencem a essas categorias.

Não sei se seria viciadona, acho que não tenho mais idade para isso, mas se fosse, seria nessas drogas alucinógenas ou gostaria que fosse. E espero nunca saber se puxei ao tio sessentão e maconheiro ou ao alcoolista que já foi internado diversas vezes e até hoje deixa todo mundo com o coração na mão por causa de uma possível recaída.

De todas as minhas experiências com drogas, com exceção dos remédios que tomo, poucas foram boas. Talvez porque considero esses experimentos praticamente um exercício antropológico e então tento manter um distanciamento quase impossível, acabo tentando manter o controle, o que só torna as coisas piores.

Pode ser também que eu não saiba o que quero tirar das drogas, é só para ver o que acontece e se realmente elas apenas potencializam o que somos, sou uma pessoa muito triste. Minha melhor viagem foi com chá de cogumelo e repeti a experiência duas vezes, alguns anos atrás. Teve a tristeza também, mas com certeza foi a única substância que me levou para um lugar melhor.

Me senti numa ilha de silêncio e o mundo, as coisas, as pessoas brilhavam. Era tudo tão colorido, que era impossível não se sentir bem no meio de um arco-íris. E voltar para essa realidade de cores apagadas foi de forma lenta e gradual e em nenhum momento tive a sensação de precisar de mais e mais e mais. Só senti tristeza, mas porque era bom e eu sabia que era tão bonito que não deveria virar algo comum, como as coisas que com o passar do tempo perde a beleza porque a gente cansou de olhar.

Tuesday, May 15, 2012

Próxima tarefa

Deitar a cabeça no travesseiro e chorar. Preciso esvaziar antes que transborde.

Sunday, May 13, 2012

Herança materna

Estava lendo a matéria de capa da Donna ZH, sobre as heranças sejam materiais, comportamentais ou emocionais, que as mães deixam para as filhas. Sou a cara da minha mãe, só que desbotada. E tenho um anel que ganhei quando fiz 15 anos, lindo, de ouro branco com uma pedra verde, foi o anel de noivado da minha avó, que a mãe ganhou com 15 anos, também. E para aí a minha lista de coisas herdadas da mãe.

Somos bastante diferentes. Até uma marca de nascença dela foi para o corpo do meu irmão. Além do anel, estão comigo um livro de receitas e um travesseiro que eram da avó. E volta e meia escuto que sou igual a dona Helga. Minha avó era alemoa, do tipo que no segundo gole de vinho já começa a corar. E eu herdei isso dela.

Isso e o gosto por jasmim, por doces, por melancia, por cozinhar, por esmaltes cor de rosa. De todos esses itens, o único que minha mãe compartilha é o gosto por doce, mas só comê-los. Para minha avó, a diversão começava na hora de fazer. Para mim, ainda bem, também.

Essas são as coisas que lembro, mas tem o que não me dou conta, geralmente manias, coisas que quando percebo, minha mãe está me observando. O jeito de passar o batom, uma ou outra coisa que faço quando estou cozinhando, a maneira que leio o jornal... Às vezes ela fala coisas do tipo “a mãe ia adorar te ver assim” ou “criticava tanto a mãe por isso e a minha filha é igual.”

Elas eram super ligadas. A mãe era a única filha de sete filhos e por todas as coisas que aconteceram com a mãe, dava para ver como a ligação delas era grande. Todos os dias, todos, a mãe ia na casa da avó, nem que fosse por alguns minutos, mas sempre passava lá. Foi assim até a dona Helga morrer.

Talvez eu ser tão diferente da mãe e tão parecida com a minha avó, seja além de herança, um presente, para nós três.

Sunday, April 29, 2012

Marcadores de páginas do tempo

Existem algumas pessoas, especialmente as crianças, que são verdadeiros marcadores de páginas do tempo. Mas negligenciamos esse fato, o que é até natural, já que estamos ocupados demais sendo testemunhas de alguém que está aprendendo a andar, a falar, que logo vai para escolinha...

Acho que demora alguns anos até a gente se dar conta de como o tempo passou. A minha criança, nesse caso, é o meu afilhado e o primeiro sinal foi quando ele adorava me abraçar só para depois falar, com aquele sorriso que não cabe no rosto, “tô quase do teu tamanho”, “te alcancei” e finalmente: “tô maior que tu, dinda.” Sim, ele já está mais alto do que eu e vai permanecer assim o resto da vida, mas me pergunto até quando ele vai ter prazer em falar isso? Até quando ser mais alto que a dinda será motivo de comemoração?

Passei a perceber outros sinais quando roupa e tênis passaram a ser os presentes ideais, quando ele passou a escolher os filmes que assistimos no cinema, vendo ele se servir sozinho num restaurante, quando percebi que ele prestava atenção em qualquer conversa que envolvia bares, casas noturnas, namoros...

Posso pedir uma explicação para o tempo? Cadê aquela criança que tinha cachos miúdos, que só comia se tivesse arroz, que adorava dinossauros, fazia fusões mágicas quando mexia as mãos e que não se importava de ser chamado de “lindo da dinda”?

Alguns cargos familiares parecem só ter sentido quando uma das partes for criança. Claro que meu afilhado pode contar comigo para sempre, mas não me imagino mordendo a barriga dele, como sempre fazia. Nem ele vai sair correndo quando mostrar minhas unhas (ele nunca gostou das minhas unhas).

O problema é que meu primeiro marcador de página do tempo tá grandão e eu estou louca para ter outro, espero que meu irmão perceba e me dê uma sobrinha logo. Enquanto isso vou me preparando para as namoradas do meu afilhado, vou me divertir muito contando que um dia, ele me perguntou, com toda a inocência do mundo, o que eu tinha feito para o Latino ter gravado Renata Ingrata.

Friday, April 13, 2012

Em construção...












"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem..."
Chico Buarque

Saturday, April 07, 2012

Dia do jornalista



"O jornalismo é a mais emocionante e divertida profissão que eu conheço"- Millôr Fernandes

Dizem que 7 de abril é Dia Nacional dos Jornalistas. Dizem, porque como imparcialidade não existe, há muitas versões desse fato por aí e tem outras datas que também são consideradas dia dos jornalistas.

A ideia de ser jornalista sempre rondou minha cabeça, desde criança, mas foi só pelos 15 anos que me rendi, antes pensava que era tímida demais para isso. Hoje, se tivesse 16 anos e fosse prestar vestibular novamente, não teria dúvida nenhuma e muito menos, medo de timidez.

Outro dia ouvi de uma amiga jornalista, que trabalha há 20 anos como produtora numa televisão, que o filho dela cresceu sem entender porque ela não aparecia na TV. Típico. Na minha festa de formatura, um primo de uns cinco anos, veio me perguntar se agora eu iria ficar famosa.

Falando nisso, me formei cedo, com 22 anos e naquela época o diploma ainda tinha valor, o twitter não era fonte de informação e eu não sabia da existência do Gilmar Mendes. E apesar de estar saindo da faculdade com emprego, estava aterrorizada com as previsões que ouvi durante todo o curso: “não há mercado para jornalista!”

Eu trabalho pra caramba, não posso reclamar do tal mercado, mas sei também que é uma mistura de competência, sorte e tesão. Sem tesão não há solução, já dizia o poeta. Me divirto muito fazendo o que faço e observando exemplares da mesma espécie.

Não tem nada mais engraçado do que ver aquele bando de jornalistas, amontoados, com blocos, canetas, máquinas, gravadores e câmeras a postos esperando a hora de voarmos em cima da presa. Porque somos urubus, segundo boa parte da sociedade.

Outra clássica acontece neste momento de amontoamento jornalístico, sempre tem um que grita: “vou ter um orgasmo com essa credencial no pescoço!” E quando participamos de congressos e seminários e encontramos os colegas que só encontramos em alguma cobertura ou só falamos por telefone, quando precisamos de informação.

Sensação boa é conhecer aquele colega que a gente só conhece por texto, é fazer uma baita entrevista com aquela fonte tri difícil, encontrar aquela credencial cheia de anotações no verso, é ver que aquela notícia repercutiu e ajudou alguém...

Há coisas boas e más, como em qualquer outra. Há plantões, muitas horas extras, litros de café, diagramações até a madrugada, fontes inesquecíveis, dead lines absurdos, editores e assessorados egocêntricos, horários malucos (tem dias que almoço às 11h, noutros, às 15h).

Apesar de tudo isso, parabéns pra quem assim como eu, é um ser apaixonado por esta profissão e sonha com o dia que teremos a melhor notícia do mundo: nosso registro voltou a ter valor. Faço o tipo: jornalista idealista.

Renata Machado, jornalista (MTb.: 14.046)

Sunday, April 01, 2012

No automático

“Escrever é um trabalho de tempo integral, embora apenas poucas horas do dia sejam gastas no trabalho efetivo de escrever” – Hemingway

É isso. Eu escrevo o tempo todo, é uma loucura, minha cabeça não para nunca, registra tudo que vejo, como longos e às vezes, chatos capítulos de descrição. Poucas coisas me fascinam tanto como observar as pessoas.

Escutar trechos de conversas no ônibus, no restaurante, na rua, falando ao telefone é o que eu preciso pra imaginar mil e um desfechos, o ouvinte, o motivo, as tragédias e os milagres que uma conversa podem resultar.

O problema é que com a correria dos dias, cada vez escrevo menos. Melhor, escrevo no bloquinho que carrego sempre ou no meu diário (sim, eu tenho diário). Mas isso não conta.

Depois de passar horas diagramando na frente do computador até os olhos arderem, de escrever textos políticos, notas curtas, descobrir como tornar útil a fala inútil de uma fonte, a última coisa que quero é encarar um monitor.

Me culpo por não ter o tempo que gostaria de ter para escrever e nem é tanto por ser algo que eu curto fazer. Também me sinto culpada quando falto o pilates. A culpa é porque não acho justo guardar tanta gente e história dentro de mim. Qualquer dia, vou explodir.

O ideal mesmo, seria ter um cabo USB que todo final de dia eu conectasse e descarregasse toda e qualquer palavra. Seria bem mais fácil ... Mas enquanto ainda não temos isso, fico aqui tentando descobrir o que me chamou atenção na moça de olhar perdido que caminhava pela avenida Independência e disse quando atendeu o telefone: “tô no automático”.

Seria só uma obra de ficção, onde qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência?

Wednesday, February 29, 2012

Like a virgin...

touched for the very first time (Madonna)

Doeu, ardeu, sangrou. Não consegui parar de pensar, um minuto que fosse, no que estava fazendo. Era bom e eu queria, estava bem segura, mas isso não me impediu de pensar, na hora da dor, o motivo de estar ali.

Terminar antes da hora? Nem me passou pela cabeça, sabia que o final seria bastante prazeroso. E em alguns momentos a dor diminuía e eu até curtia. Era grande e era bom ser grande, mas pensava o tempo todo se o tamanho era o causador da dor e da ardência que sentia.

Ainda bem que ele era experiente, sabia o que estava fazendo e ao mesmo tempo, era preocupado e cuidadoso. Me perguntava se estava doendo ou muito rápido, se queria trocar de posição para ficar mais confortável...

Eu só mudava se ele pedisse, mas quando ia muito rápido e meu corpo se contraía por causa da sensação da pele estar rasgando, pedia para diminuir o ritmo. Às vezes, as mãos dele pareciam leves como plumas na minha pele, noutras, bastante pesadas e arranhavam, isso quando não colocava todo o seu peso em cima de mim. Tinha certeza que as dores no corpo no outro dia seriam inevitáveis.

Tentei prestar atenção nos barulhos, nas vozes e carros na rua, nos latidos perdidos de algum cachorro dos prédios próximos, na respiração dele, na trilha sonora que era bastante anos oitenta. Tocou Like a virgin, da Madonna, e fiquei pensando nos momentos que nos remetem as nossas primeiras experiências. Aquele era um.

Não era minha primeira vez. Comecei cedo, com 15 anos, aconteceu logo depois do meu aniversário. Mas foi só essa semana, onze anos e quase vinte tatuagens depois que me dei conta do quanto se tatuar pode ser dolorido e sofrido.

Wednesday, February 15, 2012

Voltas

Para ler ouvindo Eu Não Entendo, do Nenhum de Nós

“Você até parece um vício. Que largar é quase impossível. Exige muito sacrifício. E quando eu me considerava limpo. Vem você pra me oferecer mais.”


O improvável aconteceu e agora a vida está aí, se divertindo com o nosso amadorismo diante dela. Falar que não quer? Como? Se isso foi o que mais se desejou. Segundo alguns, o querer foi tanto que chegou a beirar a obsessão.

É bastante difícil levar a vida adiante quando a gente tem um sentimento que parece uma âncora. E é muito triste ter que se conformar e pensar como terminadas histórias mal resolvidas.

Esses casos mal terminados pesam a alma, povoam de pontos de interrogações lembranças banais e sempre serão recordadas com dor, por mais que o tempo pareça ter amenizado.

Agora que eu já estava no estágio de não mexer na casca da ferida para não provocar dor, de não falar, de não perguntar, de desviar caminhos, de ter certeza que nunca mais... Numa dessas voltas da vida, eis que o improvável, ou talvez o mais provável, aconteceu.

E veio com o sorriso mais lindo e a voz firme de quem quer impor a sua vontade. Chegou a hora de falar de coisas mal resolvidas, de parar de carregar âncoras e esperar que a vida permita que eu pinte as asas de um anjo que eu conheci.

Wednesday, February 08, 2012

O Palhaço




Finalmente, consegui assistir ao filme “O Palhaço”. Adoro filmes brasileiros, temas prosaicos, conflitos internos e enredos que se desenrolam sem presa, em longos planos sequencias, como a vida. E sim, sou fã do Selton Mello diretor, desde o Feliz Natal.

No filme, Benjamim (Selton Mello) e o pai, Valdemar (Paulo José) são a dupla de palhaços Pangaré & Puro Sangue do Circo Esperança (reparem no nome). Mais do que isso, eles que administram o circo. Só que para Benjamin, a vida está sem graça e além de ter que fazer graça para os outros, ele tem que se preocupar com o adiantamento dos músicos, o alvará da prefeitura, o sutiã para a Dona Zaira, o terreno arenoso e os documentos (identidade, CPF e comprovante de residência), que ele não tem e o impedem de comprar um ventilador, o que ao longo da história vira uma obsessão.

Logo no começo, fica claro a insatisfação do personagem. Porém, ele passa boa parte do filme adiando uma mudança, uma conversa, uma tentativa, um olhar pra si. E não agimos na vida assim, também? A maior parte do tempo fingindo estar tudo bem, outra boa parte criando coragem para sair da zona de conforto e alguns momentos, mudando...

E Benjamim muda, ou melhor, deixa de se mudar com o circo. Fica numa cidadezinha qualquer do interior, mora num quarto de hotel, tira os documentos, arruma um emprego, pega ônibus cedo, passa gel nos cabelos todos os dias, compra um ventilador, observa a vida de outro ângulo e volta. Volta porque na vida cada um faz o que sabe e ele saber ser palhaço.

Entre o enredo todo, é possível perceber as mudanças no humor do Benjamim pelas cores das cenas. As tomadas das apresentações do circo explodem em cores, muito vermelho, muito laranja, como as risadas que explodem da platéia, cada vez menor, mas que dão a certeza para as personagens e para os telespectadores (do circo e do cinema), que o picadeiro cumpre muito bem, a sua função.

Encerrado o espetáculo, a vida em torno do circo é marrom, bege, cinza, apática com o tempo passando indolente. Nas imagens amplas, que pegam todo o circo, este sempre se encontra no meio de grandes vales, com verde em volta, a cor que para muitos representa a esperança, lembram do nome do circo?

Já nas viagens entre uma cidade e outra, a monotonia e os rostos cansados dos artistas contrastam com movimento típico de uma mudança. São talvez, as cenas onde haja mais silêncio, as personagens só conversam se algo interrompe o trajeto.

Outra coisa que achei fantástica: a primeira cena é de uma mulher (artista do circo) que sai do picadeiro e vai até onde o Benjamim se maquia. A última é de uma menina (artista do circo) que também sai do picadeiro e vai até o “quarto” de Benjamim. Cenas iguais, mas totalmente diferentes, a do início remetia ao fim, ao fim de um espetáculo, de um tempo, de uma relação, de uma etapa de vida. A cena do final remete a tudo que ainda está por vir, novos ânimos, novos sorrisos, novos lugares, novos artistas e espetáculos.

O filme O Palhaço emociona. Pode não fazer dar gargalhadas, nem chorar, mas incomoda e na última cena, quando a menina entra no quarto, o sol vai junto e encontra as lantejoulas coloridas das roupas, a câmera capta isso e para ali, o filme acaba quando o sol refletido sai da tela, entra pela retina e o telespectador é obrigado a fechar os olhos. Talvez para assimilar o que se viu, talvez porque O Palhaço parecia não surpreender, talvez para olhar para si...

Friday, February 03, 2012

Característica incompatível com perfil exibido

Estava almoçando hoje com três colegas quando disse "gurias, vocês assistiram Mulheres Ricas esta semana?" Todas pararam e me olharam sem acreditar no que haviam ouvido. “Vocês não olham? Ah tem que ver, eu adoro, dou muita risada", continuei...
Pasmas, elas falaram que era absurdo uma pessoa como eu assistir a esse programa e pior ainda, gostar.

Mulheres Ricas é exibido nas segundas, às 22h30, na Band. É um reality show em formato documental que mostra o cotidiano de cinco mulheres milionárias. O programa estreou este ano e vem sendo bastante criticado por causa da ostentação das cinco mulheres num país tão desigual como o nosso. Mas convenhamos, isso não é problema delas. Mulheres Ricas está longe de ser um programa inteligente, mas vende e vende bem.

Agora qual é o problema de eu gostar desse programa fútil, inútil, por vezes, vazio? Por que não é o que esperam de mim? Uma das minhas colegas disse: “se fosse eu, que gasto mais do meu salário em roupas de marcas, seria normal, mas tu Rê! Ah, o mundo tá virado.”

Só que o mundo não tá virado. Tanto que ela, que teria tudo para ser fã, não assiste, o que é uma característica incompatível com perfil exibido pela minha colega. O que me surpreende também. Por que temos essa mania inconveniente de querer que o outro seja da maneira que nos percebemos?

Tenho uma amiga que é repórter de esportes num jornal de Porto Alegre e também tem um blog, onde escreve de tudo. Um dia, postou um texto falando sobre sua paixão por esmaltes (ela tem mais de 1.000, coleciona mesmo) e o povo reclamou, porque gostar de esmaltes não combina com aquela moça que entende tudo de futebol e faz kite surf nas horas vagas.

Somos um universo tão grande que certas características ou atitudes não deveriam incomodar ou constar no pacote “isso não combina com você”. Tudo combina com seres que são livres, certo? E tudo deveria ser considerado aceitável quando se tem consciência da liberdade, nossa e do outro.

Assisto TV muito pouco. Faz anos que não tenho uma no meu quarto e não faz falta. Notícias, acompanho pela internet, o tempo todo. Filmes, no cinema, computador e quase sempre, nos finais de semana estou sozinha em casa, com três televisões para escolher.

O único programa que não perco é Mulheres Ricas. Assistir uma atração com o único objetivo de me divertir, de não pensar, não vai mudar em nada minha opinião sobre as coisas. Não assistir por achar que não combina comigo, aí sim, mudaria e aí sim, não seria eu.

Thursday, January 19, 2012

A era do "faz parte"

Nunca curti muito escrever sobre política ou assuntos que estão em discussão no momento aqui no Mosaico. Primeiro, porque escrever sobre política ou assuntos do momento é o meu trabalho, faço isso todos os dias. Segundo, as posições que defendo, exponho quando necessário nas reuniões, plenárias, fóruns e eventos de comunicação que participo. Terceiro, meu compromisso no blog é com os meus devaneios, só.

Mas dessa vez, não da pra fugir. Sim, o assunto já tá enchendo o saco. Sim, é sobre o tal estupro do Big Brother, ou melhor, sobre tudo que isso gerou. Chegamos no fundo do poço do grotesco. O que aconteceu na casa mais vigiada do Brasil, a mistura de alguém passando dos limites e alguém que não mediu as conseqüências, infelizmente, pode ser visto em qualquer festa. O que entristece, mesmo, é a postura da Rede Globo.

Acabei de chegar de uma pizzaria, estávamos num grupo de 20 pessoas, todas adultas, comemorando o aniversário de uma amiga. Claro que falamos sobre isso e lamentavelmente, a discussão ficou em torno do “foi sexo, não foi”, “ela estava acordada e gostando”, “ela queria”... E isso me irrita, muito pior do que aconteceu é a Rede Globo, a maior grupo de comunicação do Brasil, teoricamente comandada por pessoas capazes de pensar e raciocinar, deixar isso ter acontecido. É um desrespeito com os participantes do programa, com os funcionários que cumprem ordens e com os telespectadores.

Onde estavam os produtores que acompanham os confinados 24 horas? Se alguém passa mal, se um resolver se matar, se outro beber demais e se afogar na piscina, eles vão intervir. E nessa situação, por que não intervieram? Talvez acender as luzes tivesse evitado... Mas acho que a produção e o tal do Boni vibravam com as possíveis manchetes do dia seguinte: “primeira festa do BBB acaba em sexo”, “Sexo na Casa”, “Recorde do BBB, sexo na primeira festa”...

Só que hoje tem Twitter, onde todo mundo expõe seus achismos e teve alguém que achou que a moça estava dormindo. Muitos acharam a mesma coisa... Tenho certeza que muita gente ficou sabendo da história pelo Twitter, como eu, e domingo a noite se prestou a assistir o programa e aí começou o “apogeu da chinelagem” como definiu o Juremir Machado. Para o Bial, o amor é lindo e o show tem que continuar!

Depois de muito auê nas redes sociais e, aposto como isso influenciou muito, o rapaz saiu do programa, sem maiores explicações. Até tentaram, mas se tem algo que a Globo não sabe fazer é se explicar. E vai ficar por isso mesmo... Os outros BBBs já criaram o Bambam, a gorda, a lésbica, o gay, a vovó... E se a situação não for esclarecida, essa edição criou o estrupador e a estrupada.

E a cabeça dessas criaturas, como fica? Penso que os dois foram vítimas de uma situação montada (festa e bebida liberada), de uma edição manipulada e de uma orientação, da direção, despreparada. E o público? O grande público que tem como único meio de informação e entretenimento, a televisão. Eles não tem acesso a internet e inúmeros artigos com os mais diversos pontos de vista, o que é bom, propicia uma reflexão... Esses brasileiros não merecem uma explicação da Rede Globo? Sério, tem gente que não sabe o motivo de um dos participantes simplesmente sumiu!

Absurdo? Sim, tão absurdo como o Brasil ser o único país do mundo a chegar a 12ª edição dessa bosta. Tão absurdo quanto incentivar o consumo de álcool se todos os dias, os meios de comunicação fazem campanha contra. Tão absurdo quanto sair em sites da Globo que a moça abusada “usava roupas insinuantes” quando são os produtores que determinam a roupa dos participantes nas festas...

Reality show já foi inovador, agora é lugar comum. Acredito que infelizmente essa postura é o reflexo da sociedade brasileira. Niilista, omissa, moralistas, machista, o país do jeitinho, do tanto faz, do deixa disso, do qualquer coisa serve, do faz parte... A gente aceita, fazer o que né?

Agora, a política ou o devaneio: é fundamental uma legislação para os meios de comunicação no Brasil, que inclua dos meios de produção aos produtos e a forma de distribuição. Isso não é censura, é uma maneira de qualificar a mídia brasileira e evitar que esses constrangimentos sociais aconteçam.

Quando não sabemos lidar com a liberdade, as coisas tem que ser centralizadas e determinadas sim! Quando se é educado a pensar que liberdade é “pode tudo”, não demora muito para isso virar libertinagem (querem exemplo melhor que o suposto estrupo no BBB?)

Há várias ações rolando na internet e posições dos movimentos sociais para que o Big Brother saia do ar, lamentável isso não chegar ao grande público. O Ministério das Comunicações tem o poder de tirar o programa do ar e de proibir uma futura edição (o que penso não terá coragem de fazer), mas gostaria muito que isso acontece. Ao menos o debate no próximo verão, seria mais qualificado.

Até lá a gente vai engolindo essa edição. Agora, se na primeira semana já alcançamos esse nível de baixeza, imaginem o que vem por aí, nos três meses de programa que restam. Seja lá o que for, faz parte.

Wednesday, January 11, 2012

Mano







Há 24 anos, eu ganhava um irmão e lembro exatamente do dia que meus pais chegaram do hospital com ele. Assim como recordo perfeitamente uma noite que faltou luz e ele acordou desesperado, gritando que estava cego. Da mesma maneira, que nunca vou me esquecer dele segurando três bolsas, duas mochilas e um balão, debaixo de chuva no meio do Beto Carreiro.

Meu irmão com todas as suas tatuagens e piercings ainda conserva uma ingenuidade rara nos dias de hoje, quase infantil. Ele não gosta de nada que lhe tire do caminho, da rota, da rotina, do planejado. É maniático com organização e hipocondríaco. Sempre quis casar e ter filhos, sempre namorou sério. É uma pessoa bem diferente de mim.

E sempre foi assim, às vezes vem, me pergunta alguma coisa, coça o cavanhaque, diz “é mesmo, mana?” e sai pensativo. Posso falar a coisa mais séria do mundo ou a maior bobagem, que a cena se repete. Apesar disso, meu irmão mudou muito no último ano, aprendeu a ler, mais que isso, aprendeu a gostar de ler.

Estudar nunca foi o forte dele, nunca pensou em faculdade, mas fez uns cursos do SENAI, conseguiu um bom emprego, está lá até hoje e se a vida segue mansa, pra ele está bom. Eu estava viajando quando a mudança ocorreu. Sei que começou lendo a Bíblia, um dia recebi um email da mãe falando “teu irmão está fazendo a festa com teus livros”.

Quando voltei, me deparei com um leitor voraz e lê coisa boa o menino: Marx, Voltaire, Rousseau, Durkheim, Nietzsche, Boaventura, Gramsci... Ah, é muito bom ver alguém se desalienando, além de ter uma pessoa dentro de casa para conversar sobre isso.

Às vezes ele vem, entra no meu quarto, pergunta se tenho algum polígrafo da pós sobre determinado assunto, lê, a gente conversa e ele diz “é mesmo, mana?” e sai pensativo, do mesmo jeito que fez a vida toda e que eu espero, faça até um de nos morrer.

“É mesmo, mana?” é a bússola de todo irmão mais velho. É o que dá sentido, é a minha chance de responder. Eu posso nunca ter para quem perguntar, mas sempre vou ter quem vai procurar as minhas respostas.

Quando a mãe chegou com o mano do hospital, eu sai correndo e ali naquele instante, ele saiu correndo atrás de mim.

Tuesday, January 03, 2012

2012

Então ano novo, qual é a tua? Já passaram três dias e estou te achando com cara de tudo igual. Aliás, me segurei para não escrever no dia 1º, corria o risco de fazer listinhas bobas com desejos e promessas que não se sustentam nem até o quinto dia útil.

Mas, teremos que conviver até que tu acabe em um ritual com fogos de artifícios, programas especiais na televisão e simpatias para atrair amor, dinheiro, emprego... Por quê? Por que essa necessidade do ser humano de ritos de passagem, de demarcar o tempo como se fosse algo concreto?

É por causa da nossa incapacidade de lidar com a infinitude do tempo e com a finitude das coisas, das pessoas, da vida, que você existe ano novo. É porque eu gosto de escrever e uma tela em branco é como um palco que se pode tudo, que estou conversando com você. Como se em algum lugar o jovem ano novo me lesse e o grande senhor tempo, também. E, quem sabe um dia, me mandem as respostas.

Talvez seja importante pensarmos em blocos de 12 meses, ao menos é um período razoável para tentar alguma coisa. Se der certo, o ano foi uma maravilha. Se der errado, ano que vem tudo será diferente e melhor. Simples, assim. O tempo, macaco velho em artimanhas e armadilhas, deve se divertir um bocado com as nossas esperanças, desejos e promessas renovadas a cada final de dezembro.

De todas as coisas que ouvi na noite do dia 31, a mais original foi de uma tia, que me disse: “por favor, não entra em parafuso esse ano”. Fiquei pensando nisso, é um desejo bem diferente, duvido que ano que vem ela vá me falar a mesma coisa.

Então 2012, olhe e ajuste com cuidado os meus parafusos, mas se caso for necessário para minha evolução dar uma surtada, pode se distrair um pouco. Afinal, eu vou me virar né? Nem eu, nem você pensamos que chegaríamos até aqui.