Saturday, February 27, 2010

Por que hoje valeu a pena?

Um tempo atrás li um texto, onde falava que todo dia a gente tinha que listar as coisas que fizeram o dia valer a pena. Gostei do texto, que não achei na internet, li ele numa revista que estava no chão do trem... Coisas da vida.

Desde então fiquei com o texto na cabeça. Ele terminava propondo que listássemos o que tinha valido a pena nos últimos sete dias. Tenta também. Aí vai:

Domingo – Vi o Dani, a Tati e o Wesley. O dia foi muito divertido. Encontrei a Aline e o Epi no ônibus, na volta de Florianópolis.
Segunda – Cheguei a tempo e não me atrasei para o serviço. Dormi na minha cama.
Terça – O médico me deu a certeza de que não quebrei nada. Marquei minha tatuagem.
Quarta – Terminei minha pesquisa para a monografia da pós, no Museu de Comunicação.
Quinta – Consegui fazer pilates e não me esqueci de tomar os remédios.
Sexta – Fiz minha tatuagem nova. Fui na pizzaria com os amigos (Nessa, Dani, Xan, Flávio e Marcos).
Hoje – Dormi a tarde toda. Fui ao cinema. Já não dói tanto quando eu caminho.

Tuesday, February 23, 2010

Depois da queda, a consulta

Para o médico que me atendeu e matou a barata.

- Renata Valquíria.
O médico já começou ruim, me chamando de Valquíria.
- Licença. Meu Deus! Tem uma barata na janela!
- Ah, às vezes elas aparecem por causa do calor. Senta.
- Vou ficar em pé para sair correndo quando esse bicho voar na minha direção.
- Daqui um pouco ela sai. O que houve?
- Eu cai um tombo e desde então tô com muita dor.
- Quando e como foi?
- Sábado de noite. Escorreguei numa escada e cai sentada.
- Sábado? E tu só veio no médico hoje, na terça...
- E que hoje é o dia que mais tá doendo e na hora não pensei que fosse grave. Mata esse bicho, por favor!!!!
- Onde dói?
- O corpo todo, principalmente o lado direito e na cintura. E dói pra tudo: sentar, caminhar, dormir... Mata a barata, por favor, antes que eu enfarte.
- Deixa o bichinho, quando ela sai pra rua eu fecho a janela. E enjôos, tu tá tendo?
- Ontem eu tive um pouco. Mas no domingo não...
- Ficou algum hematoma?
- Sim.
Levanto o vestido e o médico faz uma cara de espanto.
- Nossa, tá muito feio isso aí! Coloca uma perna em cima da cadeira. Agora a outra.
- Pra quê?
- Aparentemente tu não quebrou o cóccix, mas vamos ter que fazer um raio X. Pode ter saído algum órgão fora do lugar, por isso os enjôos. Deita na maca, de bruços, faz favor.
A maca ficava do lado da janela.
- Nem pensar, com esse bicho aí não dá.
- Ai meu Deus. Espera que vou colocar ela pra rua.
Nisso a barata sumiu.
- Ela foi embora, pode deitar.
- Não. Ela vai voltar. Não tem outra sala?
- Meu Deus. Vamos tirar o raio X primeiro, então.

Na sala do raio X:
- Tira o piercing e abaixa um pouco a calcinha?
- Não consigo tirar o piercing, nunca tirei.
- Tem que tirar. Enquanto isso me conta exatamente como tu caiu pra ficar desse jeito.
- Eu tava numa festa sábado de noite, quando fui no banheiro, escorreguei numa escada que tinha dois degraus.
- Tava na Factory?
- Não, estava em Florianópolis.
- Tu tava sozinha?
- Com meu primo.
- Onde ele tava quando tu caiu? Ele viu?
- Não, ele tava dançando no queijinho.
- E o que tu fez depois?
- Levantei toda torta, fui fazer xixi e depois fui dançar. Doeu só um pouquinho...
- Tu tinha bebido?
- Não.
- E usado drogas?
- Não.
- E o que tu fez no domingo?
- Passei o dia na piscina, esse roxo não tava tão feio. Consegui tirar o piercing.
- Ótimo! Tu veio de lá de ônibus?
- Sim, sentei lá e só levantei aqui em São Leopoldo, não conseguia nem me mexer de tanta dor.
- Imagino. Quantos anos tu tem?
- 24. Demora para o raio X ficar pronto?
- Uns minutos. Tu tá na idade de sair, beber todas, usar saltos altíssimos e pagar mico no banheiro da balada.
- Eu não bebi nada, tava de plataforma baixa e não paguei mico, o chão tava molhado e muita gente caiu.
- Nossa então tem mais coisa por trás desse hematoma? Agora deita na maca.
Ele mede meu roxo, aperta, olha com uma lanterninha...
- E que parece que tinha estourado um cano no banheiro. E outras pessoas caíram comigo.
- Dói na frente também?
- Sim, o corpo todo. Até para rir.
- Impossível acreditar que tu fez isso sóbria... E ontem? Tu foi trabalhar? Fez tudo normal?
- Sim, só que cai de novo.
- De novo???
- Tava lendo na rede e ela arrebentou, cai de bunda, de novo. Acho que é por isso que hoje é o dia que mais tá doendo.
- Com certeza. Vamos lá pra minha sala, conversar.
- Lá tem a barata, não dá pra ficar aqui?
- Ai, tá pode ser. Seguinte, tu lecionou o tecido da bacia. Não quebrou nada, mas tá muito machucado internamente. Vai ficar com essa dor mais uma semana. O roxo vai demorar semanas, até meses para sair, porque tu deveria ter feito alguma coisa logo depois do tombo. Agora não tem o que fazer. Vou te receitar um gel relaxante e um remédio pra dor e enjôo. Ah, os enjôos são normais, porque a queda foi muito forte.
- Eu faço dança e pilates, posso continuar normalmente?
- O pilates sim, mas tem que ser um treino muito, muito leve. E qual dança que tu faz?
- Do ventre.
- Nem pensar! Enquanto estiver com dor, sem dança.
- Ah, sério?
- Sim, pois pode lecionar ainda mais.
- Que saco. Que tombo ridículo e que vai me dar dor de cabeça... Meu Deus, a barata tá vindo. Ai é muito azar, toda quebrada e perseguida por uma barata.
- Hahahahahahaha, vou matar a barata, já que tu não pode correr.
- Mata por favor! Não posso correr mesmo?
- Não. Não pode correr, nem usar salto muito alto, nem carregar muito peso na bolsa e se transar, nada de posições mirabolantes. Mas só por umas duas, três semanas. A barata tá morta.
- Ela tá se mexendo. Mata melhor, até sair a melequinha.
- Isso é um hospital, temos que ter o mínimo de higiene.
- Hahahahahaha, ter baratas vivas num hospital já é totalmente anti-higiênico. Me ajuda a colocar o piercing.
- Olha o que tu me faz fazer...
- Eu que o diga, vou até escrever.
- Escrever? Vê se o piercing tá direito.
- Tá. Vou escrever isso para o meu blog. Quero escrever sobre o tombo.
- Tu tem blog? Que legal. Escreve de mim?
- Vamos ver...
- Qual o endereço?
- mosaico de reflexos ponto blogspot ponto com
Ele anota o endereço do blog.
- Vou entrar depois. Dedica o texto para mim.
- Não sei se tu merece.
- Claro que mereço, até matei uma barata.
- Tá bom... É isso?
- É. Guria te cuida, cuida pra não cair. E não bebe.
- Mais eu não dava bêbada.
- Sei...
- Tchau.
- Tchau.
- Ah, qual teu nome? Pra eu colocar no texto.
- Tem na receita.
- Tá.

Eu esqueci a receita na farmácia e não li o nome do médico.

Monday, February 22, 2010

Para um morto

Bem feito para mim né? Quem mandou perder meu glorioso e escasso tempo com uma criança? Quem mandou eu me deslumbrar com uns cachinhos estrategicamente desarrumados e uma barba planejada para estar sempre por fazer? Agora tô aqui, escrevendo para um morto que está bem vivo e gosta de meninas “bem meninas”, só para se sentir mais homem.

Sabe que não te culpo? Nenhum pouco. Era óbvio que seria trocada por uma criança, tu não capacidade de ter uma mulher do teu lado. Pelo simples motivo que você não sabe cultivar nada além dos seus neurônios. E a prova disso é que nem amigos você tem. Confesso que admiro seus neurônios, só que homens também são feitos de hormônios e testosterona, ah confiança e pau duro também estão no pacote do que toda a mulher deseja.

Sei que no fundo foi melhor assim. Já estava de saco cheio de bancar a adulta madura e compreensiva que tem que entender o pós adolescente mimado, egocêntrico e prepotente que está ficando. Tua barba me arranhava e eu ficava puta cada vem que encostava a mão nos teus cabelos e você resmungava “não bagunça meu cabelo, que eu demorei tanto pra arrumar”, bem gay. Ah, várias pessoas acham que você é gay. Vai saber né...

Desejo que você passe a eternidade toda fazendo o que mais gosta, estudar e estudar, para ser doutor antes dos 30. Sei que você vai conseguir. Sei, também, que dificilmente eu estarei no doutorado antes dos 30, mas tu pode ter certeza que serei feliz. Essa é principal diferença entre eu e você.

Você quer ser doutor, eu me contento em ser feliz. Ser doutor deve ser bem bacana, mas ser feliz é mais, pode acreditar. E do fundo do meu coração que você levante os olhos dos livros, às vezes, e se permita viver. Pois eu ficaria chateada de encontrar você daqui uns anos e me deparar com um doutor digno de pena.


“Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem”
Cazuza

Friday, February 12, 2010

Recado do ego

É necessário que fique bem. Que tente sempre se sentir bem, se divertir. Que perceba que isso vai passar, você sabe que sempre passa. Que virão outros momentos, outros ciclos, outras pessoas, novas oportunidades e certezas.

Nem sempre as pessoas são filhas da puta, embora todo mundo seja um filha da puta em algum momento da vida. Se acha que será bom voltar a fazer análise, volte. Talvez não precise voltar para um psiquiatra, quem sabe basta um psicólogo.

Agora não é hora de recusar convites, seja para trabalho, para tomar cerveja, para praia, para conversar, seja lá o que for, vá. Já perdeu tempo demais vivendo só para dentro. Agora é hora de viver para fora.

Se a história se repetiu, vire a página e escreva algo diferente. Mude a tática. Não deixe a tristeza ser maior do que o necessário, permita que ela venha na dose certa, o suficiente pra gente dar valor ao que tem de bom na vida e quem tem ao seu lado.

Não precisa ficar lembrando do que passou, o passado foi do jeito que deveria ser para te tornar a pessoa que és hoje. Pense no futuro, mas planeje grandes coisas para um futuro (bem) próximo e faça acontecer. Se permita. E brinde sempre o que virá.

Tuesday, February 09, 2010

Assim, assim

Hoje eu tô assim, assim... Assim: meio triste, meio feliz. Assim: um pouco decepcionada e nem um pouco surpresa. Alguns dias atrás eu estava só assim, muito feliz. Agora eu tô assim, assim, sem saber direito como. Num estado intermediário entre coisas que me sufocam.

Tenho uma amiga que fala que as pessoas só se apaixonam por quem permite isso. Logo, acho que a gente só se decepciona, se nós mesmos deixarmos que tal coisa aconteça. Mas será que sabemos? Será que tem como saber?

Eu não sei... Hoje eu tô assim, cheia de reticências... Pois há tantas respostas para as minhas dúvidas que os pontos de interrogação perdem a importância. Fica um monte de reticências pairando no ar, dentro e fora da gente.

Mas não essas que nos oferecem oportunidade para imaginar o mundo. Às vezes, quando eu tô assim, só sopra essas reticências vazias, de quem perdeu oportunidades, o timing, a chance, a hora, o ônibus, o primeiro tempo.

Fica uma tristeza trancada, um nó na garganta, uma melancolia, uma saudade do que não se fez, do que não falou. Do que poderia ter sido. Uma dorzinha (se é que dor, pode ser “inha”) que não vai me impedir de viver, mas que vai me deixa assim. Sem saber, sem entender, com um monte de reticências vazias...

Monday, February 01, 2010

Jamais visto




Sabe quando as coisas acontecem sem nenhuma pretensão e acabam se tornando uma das melhores coisas que a gente já fez? Ou quando a gente quer fazer uma coisa, mas pensa em desistir mesmo não querendo? E quando a gente fica feliz só por estar num parque de diversão com pessoas bacanas e sabemos que teremos lembranças incríveis desse dia?

Então, no final de semana anterior eu fui para o Beto Carrero e tudo que descrevi acima aconteceu nessa trip. Primeiro porque a ideia nasceu do nada, sem pretensão nenhuma, numa janta com amigos. Segundo porque estava atolada de trabalho devido ao Fórum Social Mundial e no dia da viagem pensei mil vezes em não ir. Terceiro porque tudo foi incrível, uma sintonia jamais vista.

Éramos seis: três meninos e três meninas ou um menino, dois gays e três meninas, ou dois morenos e quatro loiros ou ainda uma jornalista, um professor de inglês, dois engenheiros químicos, uma estudante de educação física e um estudante, também pode ser cinco de 20 e poucos anos e um adolescente... Como quiserem, mas todos parceiros (SOPA*!).

Fomos de excursão (era indiana, né?!), sentamos bem no fundão, pois o restante do ônibus era dominado por famílias levando a prole para o maior parque temático da América Latina. Claro que fizemos a maior zoeira, apesar da cerveja e da champanhe ficarem esquentando no bagageiro. Por isso, só nos restou atacar a mochila do Flávio e devorar os amendoins.

No parque, farra total, ninguém se estressou com ninguém, para a surpresa de todos. É difícil seis pessoas, que pouco se conhecem, viajarem e passarem o tempo todo juntos. Fire whip? Sopa. Elevador? Sopa. Big Tower? Sopa. Tchibum? Sopa. Até o fato de passarmos o dia todo encharcados virou piada. E uma hora e meia na fila do trem-fantasma? Ninguém perdeu o senso de humor.

Claro que no final do dia estávamos exaustos. No hotel: decide quem dorme com quem e deixa o quarto no andar mais baixo pra quem tem pânico de elevador. E põe as bebidas pra gelar. E tem gente que tem pique pra balada. E vamos tomar a champanhe quente mesmo. E grita na sacada e brinda e grita na sacada e derruba champanhe e brinda. Os guris se foram. Às 5h da manhã acordei pensando “será que os guris chegaram e eu não ouvi?”. Uma hora depois eles chegam. E contam tudo, a balada, o sushi man, quem pegou quem... Até que um ficou mudo. Capotou.

No outro dia, só dá tempo de passar na farmácia antes de entrar no ônibus e encarar a volta. Escondemos as cervejas no frigobar. Dormimos, comemos, dormimos, comemos... Cadê nossas cervejas? Chama o Kelvin (o guia que parece ser o namorado perfeito e já foi mais de 100 vezes para o Beto Carrero). Depois de muita conversa, mudamos a impressão que o guia tinha da turma do fundão.

Na noite de domingo chegávamos em Porto Alegre com a certeza de que a indiada foi perfeita, que a galera é parceira e Buenos Aires nos espera. Ah sim, os pais que estavam na excursão nunca mais vão achar que ir para o Beto Carrero é um programa família, afinal nunca se sabe quem vai sentar no fundão do ônibus.

Eu cheguei em casa podre, mas certa de que entre uma semana e outra de trabalho intenso, esse final de semana era a melhor coisa que poderia ter acontecido. As cervejas acabaram com o pai da Vanessa. Tirando a tosse do Xan e a gripe da Dani, ninguém teve maiores problemas com as roupas molhadas.

A única dúvida que eu tenho é aonde foram parar os saquinhos de Trink? A última vez que vi foi em cima da cama, no hotel. Ah, outra dúvida que me ocorre agora: será que dona Rosa (a entidade espiritual, mentora da viagem) já voltou de Miami?

*SOPA = Sou parceiro (a)