Sunday, January 01, 2017

Hoje estou triste



Há dois anos, escrevi três textos sobre leveza. Estava num período ímpar da minha vida, de muita consciência, gratidão e, leveza. Depois de tantos anos na batalha silenciosa e árdua, estava vencendo a minha depressão e me sentia feliz. Hoje, não me sinto feliz. Sou só tristeza. Já aprendi que são momentos, ciclos, sei que vou voltar a potencializar a bendita leveza, mas agora preciso dar vazão à tristeza.

Após um 2016 bastante difícil coletivamente, vivi o pior dezembro da minha vida, me senti sozinha, humilhada, desamparada por fatores internos e externos. Depois de anos, estou vivendo minha primeira crise depressiva após ser considerada “curada” - sei que isso é normal, porém sempre tive medo de que acontecesse e ingenuamente, achava que nunca mais sofreria disso.

A tristeza, bastante potencializada pela minha natureza depressiva, tem motivo - e um sorriso lindo. Ontem, tomei um remédio pra dormir, algo que fiz pouquíssimas vezes, e de fato, só queria dormir, o que não conseguia há três noites, e parar de chorar, o que também não acontecia há dias.

Sei que a tristeza não é natural dos seres humanos. Mesmo com todas as coisas que estudo e busco para me ajudar como terapia, espiritismo, PNL, Gisele Vallin, Arly Cravo, Hélio Couto, Osho, Flavia Melissa, ainda assim, o caminho da alegria é bastante difícil para mim.

Meu terapeuta fala que é da minha natureza essa tristeza, essa batida mais densa, pesada. Nunca gostei de ouvir essa afirmação, mas compreendi o que ele dizia quando fiz o renascimento. Muito das minhas lembranças intra uterinas são de tristeza, solidão e medo. E a gente trás tudo isso na nossa mochila.

Houve períodos no ano que acabou que estava tão feliz e realizada que me culpava. Olhava em volta e via a democracia atacada, direitos ameaçados, retrocessos... E eu num estágio de felicidade por estar amando e sendo amada que comecei a me culpar, parecia não ser justo.  Hoje, me pergunto se foi neste momento que deixei o ego tomar conta da situação. Esses últimos dias, foram, também, de culpa pelo meu fracasso emocional.

Me sinto mal, pesada e cansada. Dói muito, tenho medo de como vou reagir com o que vem pela frente. Daqui alguns anos quero ler esse texto com o mesmo distanciamento que li a Trilogia da Leveza, onde quase não me reconheci. Sou muito feliz e grata por ter conhecido o amor. Mas hoje preciso acolher a minha tristeza, fruto da minha imaturidade. Preciso pensar como dar vazão ao amor que há e que não pode ser.

Percebo minha vida como se estivesse no mar, nadando, nadando para chegar na praia. Houve momentos que coloquei meus pés no chão, me ergui, consegui aproveitar as ondas, mergulhar, os dias de sol e as nuvens não me assustavam mais, lavei a alma e foi neste momento que me percebi feliz. Porém, prepotente que sou, me iludi achando que tinha controle da natureza, então veio uma onda mais forte que me derrubou e com o repuxo, voltei para o alto mar.

Agora estou aqui nadando, nadando, nadando e nadando. O corpo dói, as lágrimas embaçam a vista e as luzes da praia parecem ainda mais longe do que são. Tem momentos que eu relaxo, pareço boiar e cogito se o melhor não é deixar a maré me afundar de uma vez, mas então lembro que não posso desistir... Me debato, volto para a superfície e respiro de novo.


Feliz 2017 para vocês. Vou nadar bastante ainda. Um dia chego na praia.