“Hei-de publicar um livro depois da guerra. (...) Ao escrever esqueço-me de tudo, a minha tristeza dissipa-se e o meu espírito revigora! Mas, e essa é a grande questão, será que alguma vez consiguerei escrever algo de grandioso?” (Anne Frank, 5 de abril de 1944)
Quando fechei o roteiro da minha viagem, a única cidade que não abriria mão era Amsterdam, por causa do museu da Anne Frank, na casa que serviu de abrigo para ela e mais sete pessoas durante a Segunda Guerra Mundial.
“Contos do Esconderijo – O diário de Anne Frank” foi o primeiro livro de “adulto” que li. E lembro muito bem desse primeiro contato. Minha mãe e eu estavamos na casa da minha madrinha, elas no quarto falando sobre espíritos – assunto que na época me dava medo. Então fui para sala mexer na estante, até que achei o livro, gostei da capa e do que li, quando abri aleatoriamente. A Anne falava sobre como espiava a lua por um buraco da cortina preta, ela só podia ver a lua naquela determinada fase, que era quando a posição lunar cabia no furo do tecido.
Eu tinha 11 anos na época e desde então esse livro está comigo (pedi emprestado para a minha dinda e nunca mais devolvi, nem vou) e muita coisa já li e pesquisei sobre essa menina. Visitar a casa dela era questão de honra para mim.
Infelizmente não é possível tirar fotos no interior do museu. Felizmente a fila estava imensa (grande Anne!). A visita toda é planejada, não é possível passar o dia perambulando por lá como eu gostaria. O roteiro dura pouco mais deuma hora e passa por toda a casa, na parede há trechos do diário e em cada pessa, uma explicação do que era na década de 40.
Mas a casa da Anne não é um ambiente pesado, muito pelo contrário, é cheio de vida.
Há fotos de todos os refugiados no esconderijo, tirados pela própria. As marcas feita pelo seu pai, Otto Frank, para medir o crescimento das filhas, ainda estão na parede. O quarto que era de Anne, contem as fotos e postais de cinema colados por ela “o que concedeu ao quarto um aspecto mais alegre”.
Porém, a medida que a visita continua, o ar se torna pesado, as pessoas ficam em silêncio, não para assistir aos vídeos de depoimentos, mas porque se dão conta do que aconteceu ali. Andando pela casa, vendo e lendo partes do diário daquela adolescente a gente se sente culpado, não pela sua morte, mas pelos anos roubados, os anos escondidos, pela repressão que ela sofreu por causa da inexplicável intolerância humana.
No final do museu, há uma sala ampla, com um telão no meio, onde mostra depoimentos de pessoas, nos dias de hoje, que lutam contra qualquer tipo de preconceito e há um livro com o nome de todos o judeus mortos durante a Segunda Guerra.
Anne Frank viveu no esconderijo de maio de 1942 até agosto de 1944, quando o lugar foi descoberto e todos deportados para o campo de concentração de Westerbork, depois, para Auschwitz. Anne morreu de tifo, em março de 1945, aos 15 anos.
Seu pai foi o único sobrevivente da família Frank e quando teve acesso aos diários da filha, resolveu abrir a casa que serviu de esconderijo para visitação, não apenas para que sua filha não seja esquecida, mas para que histórias como essa não se repitam.
“Uma única Anne Frank comove-nos mais do que a quantidade infindável do todos aqueles que sofreram tanto como ela, mas cujas imagens permaneceram nas sombras. Talvez tenha que ser assim: se pudéssemos experimentar o sofrimento de todos eles, seria impossível continuarmos a viver”. (Primo Levi, escritor e sobrevivente de Auschwitz).
1 comment:
Rê, que experiência incrível!
Eu fui visualizando o caminho, juntando a tua descrição com as lembranças que tenho do livro.
Maravilhoso. Visitei o museu pelo teu post!
Saudades de ti, querida!
Boa viajem. Beijos
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