Thursday, March 31, 2011

El Raval

De todos os bairros de Barcelona, sem dúvida o meu preferido é o El Raval, por toda a história e o que representa para a cidade. Além de ser do lado do bairro que eu vivo e quase todos os dias, passo por ali.

El Raval é um dos bairros mais antigos de Barcelona. Quando a cidade era cercada por muralhas medievais, que protegiam os nobres, os pobres chegavam e se instalavam ao lado dessas muralhas, foi isso que deu origem a esse bairro, que ainda hoje tem uma má fama na cidade.

Num de seus limites está a famosa La Rambla, ou seja, o bairro é muito bem localizado. Nasce na beira do porto e se estende até o prédio da Universidade de Barcelona, na Gran Via, uma das principais avenidas da cidade. Os nativos dividem esse bairro em três, o mal, o que está em processo de revitalização e o bom El Raval.

Esse sempre foi um lugar de prostituição e de fácil acesso às drogas, principalmente perto do porto. É possível enxergar marcas de sapatos nas paredes do início das Ramblas, que são marcas dos calçados com salto usados pelas prostitutas, ao longo de muitos anos, que se escoravam nesses prédios, que existem desde a época das muralhas.

Ainda se vê muitas garotas de programa e traficantes nas ruas próximas ao porto, esse é o El Raval mal, que nenhum cidadão aconselha um turista a conhecer.

A área de revitalização é o centro do bairro, que liga a parte boa e a má. Nessa região foi construída a Rambla de El Raval e é onde está um dos gatos do artista Fernando Botero. Há nas sacadas dos prédios, faixas escritas em catalão com frases do tipo: “somos um bairro digno” e “dignidade para El Raval”.

Mais ou menos nessa altura, porém com frente para a Rambla de Catalunya, está o mercado “La Boquería”, que o mercado público da cidade e um ponto turítico
superconhecido.

Atualmente, o bairro continua sendo morada de muitos imigrantes que chegam em Barcelona e eles se localizam, na sua maioria, nessa faixa do El Raval. Nas suas ruas podem ver-se comércios de todas as nacionalidades, tanto que durante muitos anos, foi popularmente conhecido como o Bairro Chinês. Porém, nos últimos anos, por causa da grande população paquistanesa, é chamado também Ravalkistão.

Na parte alta do El Raval, próximo à Gran Via, há uma das maiores concentrações de jovens, por causa dos prédios de diversos cursos da Univesidade de Barcelona, que estão situados no bairro, além da biblioteca pública.

Uma das faculdades está instalada no prédio que foi um hospital na época da Barcelona com muralhas e ele foi construído ali, porque os nobres não queriam doentes dentro de suas muralhas, sobrou então para El Raval.

O lindo Museu de Arte Contemporâneo de Barcelona também está nesse bairro. O MACB é um prédio de quatro andares, todo branco, que contrasta com todas as cores ao seu redor.

No El Raval bom, há muitos bares e restaurantes e, na minha opinião, as melhores lojas da cidade, são muitos os estabelecimentos de música, livrarias e lojas alternativas. Numa das ruazinhas do bairro está o conhecido bar “Ovelha Negra”, reduto de estudantes universitários e turistas, que leva esse nome por causa de sua localização.

As pessoas da Catalunya tem o hábito de preservar a história do lugar onde vivem, seja ela boa ou má. Há muitas tentativas para que essa história não seja esquecida. No final do bairro de El Raval, há no prédio que é o Centro de Cultura, uma parede toda espelhada, mais alta que sobe além do prédio e no final faz uma curva, como se fosse um arco partido no meio.

Com esses espelhos, de uma certa altura da praça que tem em frente, é possível enxergar todo o bairro de El Raval, até o mar. Essa é a maneira das pessoas que passam por ali não se esquecerem da história marginalizada que sempre teve esse local, do seu incrível poder de transformação e da importância que sempre teve para Barcelona.

Wednesday, March 30, 2011

Quando será que passa

Hoje você me doeu muito, demais da conta. Estou sempre pensando em você, mas já estou tão acostumada com a dor de não de ter, que nem lembro dela.

Estávamos brincando do jogo da garrafa na aula, para treinar o uso pretérito perfeito, até que minha professora perguntou se eu já tinha amado, “mas amar de querer passar o resto da vida junto, com tudo de bom e ruim.”

Por um momento tive vontade de dizer que não, mas ficaria visível que estaria mentira. Disse que sim, e claro que me perguntaram como tinha sido essa experiência e aí não sabia o que falar. Não sei como, me ouvi dizendo que não sabia, pois ainda doía.

Os colegas tentaram me ajudar. O Igor falou que viajar é uma ótima saída para deixar de amar, a Júlia disse que antes de eu me casar, sara. E a professora me garantiu, por experência própria, que sim, um dia passa.

Tem sido assim: às vezes escuto tua voz me falando sobre Barcelona, sinto teu perfume no ar. Quando vou atravessar a rua e para um homem do meu lado, geralmente penso que é você. Vejo um homem com óculos e reparo se o modelo é parecido com os teus, se um fumante segura o cigarro do mesmo jeito... E a dor tá lá, anestesiada.

Mas às vezes, quando acontece alguma coisa ou escuto palavras como amor, saudade, dor... Ela acorda, é como se arrancasem a casquinha da ferida e sangrasse de novo. Hoje eu sangrei muito de dor.

Logo depois desse jogo, a aula acabou. Eu não senti o gosto do sanduíche que almocei, não ouvi uma palavra do que foi falado na aula de cultura e chorei muito enquanto caminhava até o porto de Barcelona.

Gosto muito de passar as tardes no lá, vendo os barcos chegando e partindo, além do mar azul. Hoje fiquei lá até anoitecer e pensando se algum dia eu vou acordar sem que você me doa tanto.

Rumo ao Sul

“Um forasteiro chora duas vezes no sul: quando chega e quando vai embora.” (Bienvenido ao Sur)

Assisti ao filme italiano “Bienvenido ao Sur”, do director Luca Miniero. Infelizmente, penso que vai ser bastante difícil encontrar esse filme no Brasil, porém aqui na Espanha está passando nos cinemas de todo o país, com direito a propaganda em ônibus e tudo.

O filme conta a história de Alberto, um gerente de uma agência dos correos de uma cidade do norte da Itália, que quer conseguir uma tranferência para Milão. Mas acaba sendo mandado para uma cidade no sul do país, para desespero da sua esposa e dele.

Alberto, como todo bom cidadão do norte é cheio de estereótipos dos habitantes do sul, como em todos os países. Ele deve viver sozinho na nova cidade por dois anos, logo que chega acontecem inúmeras confusões por causa do julgamento que faz dos sulistas e vice-versa.

Claro que Alberto acaba gostanto da cidade e se adaptando, até melhor do que esperava. Mas esse filme me fez pensar sobre essa imagem que temos de pessoas de determinados lugares.

Como toda boa gaúcha sou tri bairrista, acredito que tudo no nosso Estado é melhor. Mas acredito, também, que cariocas, goianos, pernanbucanos e paranaenses também pensam que vivem no melhor Estado do Brasil.

Aqui na Espanha, isso não é diferente, cada região se denomina "a melhor". Nas aulas de cultura aprendemos que os sulistas, o povo da Andaluzia são os mais “vagabundos” e festeiros do país, isso porque vivem na praia e lá faz mais calor... Como no Brasil, lugar geográfico é um argumento para se “julgar” quem vive lá.

Ter ido pra Granada me vez perceber essa diferença entre o nordeste e o sul da Espanha. Os sulistas são, realmente, mais falantes e barulhentos. No filme, os Italianos do sul também tem essa fama de festeiros. Já no Brasil, a fama de festeiro não cabe aos gaúchos... Será por causa do nosso litoral sem formas?

Tuesday, March 29, 2011

Granada

Quien no ha visto Granada. No ha visto nada. (Provérbio espanhol)

Passei o último final de semana em Granada, uma pequena cidade universitária no sul da Espanha. Granada tem uma população aproximada de 270.000 e está localizada na Serra Nevada. Além disso, foi uma das primeiras cidades da Europa colonizada por árabes e uma das últimas a ser dominada pelos católicos.

Granada é de fato, uma cidade muito pequena, mas linda. Há muitos bares e restaurantes e padarias e pizzarias e sorveterias e eu comi mais em três dias lá, do que em um mês em Barcelona. Além disso, no sul faz mais calor. Muitas vezes pensei que tinha errado de cidade, quando decidi vir para cá.

O melhor foi ver a influência árabe que estava presente no mercado de artesanato, na arquitetura (inclusive da catedral), na comida... Eu quase enlouqueci com a quantidade de lenços para dança do ventre e CDs de música árabe, turca, marroquina e egípcia. Várias vezes, enquanto caminhava pela cidade foi possível escutar música árabe vindo das lojas.

E havia muitas, mas muitas ciganas nas ruas de Granada. Era impossível chegar em um ponto turístico sem ter que passar por no mínimo, dez delas. Claro que elas queriam ler “la suerte”, mas não se vestiam como no Brasil, num primeiro momento e impossível diferenciar as ciganas das outras mulheres.

Alhambra

Mas o principal motivo que me levou a Granada, além de sua história, foi a Alhambra (que significa "a Vermelha" em árabe.) A Alhambra é um conjunto de construções feita pelos árabes que formavam uma cidade, que deu origem a Granada. Boa parte dos edifícios são de tijolos vermelhos, daí vem seu nome.

Em 1984, a UNESCO declarou a Alhambra como Patrimônio Cultural Mundial, mais do que merecido, pois trata-se de um rico e impressionante complexo, que tem palácios, mesquitas, castelos, fortaleza e jardins, muitos jardins, um mais lindo que o outro.

Claro que a maioria dos elementos que vemos lá são de origem árabe, mas também é possível perceber algumas características essencialmente cristãs, devido as muitas intervenções em edifícios e jardins, ao longo dos séculos.

Eu passei uma tarde na Alhambra e comprei o ingresso, pela internet, duas semanas antes, é muito difícil conseguir entradas para o mesmo dia. Fiquei deslumbrada com os palácios, principalmente os detalhes, as janelas, os pilares todos desenhados, é lindo demais. Fora isso, a Alhambra está construída em cima de uma montanha, de lá é possível ver a cidade e a serra nevada. Sem dúvida, foi um dos lugares mais bonito que já conheci.

Andaluzia

A Andaluzia é a região sul da Espanha que muitos acreditam ser a mais bonita, por cuasa da natureza exuberante. Cidades conhecidas como Granada, Sevilla, Málaga, Cádiz e Córdoba são da Andaluzia. Tradições como o flamenco, a paella e a siesta vem dessa região.

Dizem que o nome provém de Al-Andalus, nome que os muçulmanos davam à Península Ibérica no século VIII. Mas há também outra versão, não oficial, pois na região sempre houve muitos ciganos e quandos eles mudavam de lugar, levavam algumas tochas com fogos para iluminar o caminho, por isso “anda luzes”, que com o tempo se tornou Andaluzia.

Não sei qual versão é a correta, de qualquer forma, isso mostra bem a mistura que é o sul da Espanha, tanto que seu povo é considerado, ao mesmo tempo, o mais bairrista e os mais aberto. Contradições espanholas...

Wednesday, March 23, 2011

Comida, ônibus e outras coisas rotineiras

Tem muita gente me perguntando como é a comida aqui em Barcelona e a vida, em geral no dia a dia. Bom, a comida, tem muita variedade, mas quase tudo com carne ou com jámon, que é o presunto da Espanha. Então para mim, sobram poucas opções. Tem bares que vendem “bocadillo” em todas as esquinas, o bocatillo é o nosso baguete. Um dos mais famosos é o bacatillo de patata, que é pão com recheio de batata.

As tortillas de patatas também são super comuns aqui, que são umas tortas quentes de batata. Além disso, tem as tapas, que nada mais são do que os nossos aperitivos, e tem todos os tipos de tapas que se pode imaginar. Batata frita é uma tapa, por exemplo. E eles comem bastante saladas e frutas, mas tudo com muito óleo e fritura...

Tem inúmeras linhas de metrô e ônibus que cortam a cidade, em todas as paradas ou estações, há uma lista das linhas que passam por ali e os horários. Nas estações, há relógios avisando quantos minutos faltam para o próximo trem. É possível adquirir bilhetes com um número determinado de passagens, que vale tanto para ônibus ou para o metrô. Eu achei super prático, só é difícil se localizar nas estações que tem cruzamento de várias linhas, mas com o tempo fica mais fácil.

Aqui, as motos andam por cima das calçadas. Claro que até eu me dar conta disso, perdi a conta de quantas vezes quase fui atropelada. Mas as calçadas são largas e há espaço para todo mundo, demarcados por listas no chão, em horário de grande movimento, ninguém invade o espaço do outro. Em quase todas as esquinas há uma banca de revistas, que vendem de tudo, de cigarros a gravatas, menos revistas e jornais. A cidade é bastante limpa, incluindo os parques.

Em muitos lugares, por toda a cidade, há os postos de “bicing”, aonde é possível alugar uma bicicleta por algumas horas ou dia. Eu ainda não fiz isso porque não sei como se faz, já li as instruções várias vezes, mas não sei onde compro a tarjeta para pegar a minha bici. Bom, ainda tenho alguns dias para descobrir.

E há também alguns postos que alugam motos, onde teoricamente, qualquer pessoa como eu, que não sabe nem onde se liga uma moto, pode ir lá e alugar uma. As motos são mais fácis, tem uma banquinha onde assinamos um terno de resposabilidade e pegamos a chave da moto.

É isso, quando eu descobrir como se aluga uma bicicleta eu escrevo, caso eu não descubra, pensei em comprar um jogo de chaves de fendas e desaparafusar uma delas, já andei analisando os parafusos... Ou alugo uma moto mesmo.

Tuesday, March 22, 2011

Fiesta de las Fallas







No último final de semana estive em Valência, uma cidade ao sul de Barcelona. Dia 19, dia de São José, é celebrada a Fiesta de las Fallas, uma comemoração incrível que os valencianos fazem para festejar a chegada da primavera.

Os moradores da cidade se organizam durante todo o ano para construirem dezenas de gigantes esculturas de madeira e papel, geralmente sátiras de pessoas e animais, conhecidas como "fallas". Estas esculturas, construídas por equipes chegam alcançar mais de vinte metros de altura e são de encher os olhos, tamanha a beleza e perfeição.

As principais fallas ficam expostas nas praças e nos principais cruzamentos da cidade durante uma semana. No dia 19, uma miniatura de cada é levada para o museu das fallas, pois durante a noite, as esculturas principais serão queimadas.

Durante o dia 19, de hora em hora, há queima de fogos de artifício e a cidade fica cheia de turistas e moças com trajes típicos, “as falleras”. Eu vi inúmeros pais com seus filhos, jogando petardos (pequenos foguetes que estouram no chão), todos até muito tarde na rua. Às 22h acontece a “Cabalgata del fuego”, onde simbolicamente inicia a queima das fallas.

À 1h da manhã é queimada a última falla, na praça do Ayuntamiento, onde estão reunida todas as autoridades locais. Antes há um show pirotécnico lindíssimo e os fogos se mistura com as chamas das fallas, é um espetáculo lindo de se ver. Claro que dá pena de ver escultura tão lindas e bem feitas, muitas custam milhões de euros, acabar em poucos minutos.

Mas o clima em torno é de celebração, seja dos turistas que ficam impressionados diante do que veem ou dos moradores da cidades que cultivam essa tradição e acreditam que assim estarão iniciando uma nova etapa do ano, mais leves, com o espírito renovado.

Além das cores, vou ficar com a lembrança do cheiro de pólvora, das estrondosas explosões, das enormes torres em chamas, o cheiro das barraquinhas de “buñelos” e principlamente, da alegria das pessoas nas ruas.

Sunday, March 20, 2011

Notícias de um domingo que prometia

Eu fui para Valência ontem, numa excursão com a escola. Voltei hoje pela manhã, às 8h30, descia do ônibus em Barcelona. E tinha sol e céu azul, o domingo parecia que prometia. Só parecia, pois eu cheguei e fui dormir.

Eram 9h quando me deitei e sabem que horas sai da cama? Às 20h! Coisa boa, um dia a menos. Tá não caminhei no sol como eu gosto, mas também não passei frio e tive bons sonhos. Com minha família, minha professora de dança, até o Nando Reis apareceu no meu sonho para me animar.

Nem me dei o trabalho de arrumar minha cama hoje, pois daqui alguns minutos é para ela que eu vou voltar. Eu sei que se não estivesse tão doente, eu poderia estar me divertindo mais. Mas nada tira minha alegria quando risco um dia do calendário e penso “menos um”. Às vezes tenho vontade de pegar o primeiro avião e voltar!

Friday, March 18, 2011

Medo da bola

Estava lendo a coluna da Maria Ribeiro na TPM desde mês, onde ela fala sobre a sua infância e lá pelas tantas diz que tinha medo da bola nas aulas de educação física. Foi tão bom ler isso, tão bom saber que eu não fui a única a ter medo da bola.

Eu fui o pesadelo dos professoras de educação física que tive e essa disciplina, uma tortura para mim. Não sei porque cargas da água, essas aulas consistiam em: meninos jogando futebol e meninas jogando vôlei. Sim, eu não podia jogar futebol, para a minha tristeza. Mas vôlei também não jogava, por uma total falta de competência.

Era horrível, cada vez que via a bola vindo na minha direção, só pensava em sair correndo, nunca entendi o motivo das tais rotações e só acertei um único saque em toda a minha vida. Belo currículo, não? Foi na quinta série e lembro direitinho, porque saquei e ouvi gritos (coisa que meu colegas não faziam, porque já sabiam que eu iria errar) e depois a professora que eu não lembro o nome (às vezes, trauma gera o esquecimento), parou o jogo e nos deu uma aula sobre a importância de acreditar no impossível!

Claro que eu sempre matei muito as educações físicas, mas até chegar a esse ponto, muita história eu inventei. Eu estava sempre com cólica, sempre menstruada, sempre com dor de garganta, de dente... Só tive um professor que às vezes deixava a gente escolher o que quisesse jogar, o Chico, e aí eu jogava futebol.

Mas um dia ele chegou e disse: “hoje todo mundo joga volei.” Eu deveria ter uns 12 anos e não pensei duas vezes na hora de inventar alguma desculpa, fui até ele e disse que não poderia participar da aula porque estava com uma doeça raríssima, cancêr na próstata.

Pensei que tivesse acreditado, porque o “sor Chico” foi mais ator que eu e não riu, apenas me deixou ficar sentada os dois períodos. O tempo passou, veio as férias e graças a Deus, me livrei das aulas de educação física.

Um pouco antes de vim para Barcelona, encontrei o Chico, sua esposa e sua filha de três anos num supermecado, em São Leopoldo. Nos falamos e ele me disse bem sério que sua filha tinha uma doeça raríssima, que nunca poderia fazer educação física. Eu acreditei e lamentei, perguntei que doença era essa. “Câncer na próstata”, me disse. E mais de 10 anos depois, rimos muito dessa história.

Simplesmente July

Tenho uma amiga que conheci na pós-graduação, a Juliana, formada em história e funcionária do Incra, entre outras coisas. Às vezes, a Jú me dá cada puteada, dignas da minha mãe, mas não me importo, ela é uma das pessoas mais íntegra e correta que conheço.

Um tempo atrás, ela me ligou preocupada com as citações muito depressivas que eu estava colocando no Mosaico, as frases do Caio Fernando Abreu, e disse por fim, que não gostava dele e pronto. Ainda me mandou ler algo que me fizesse bem.

Mais um tempo depois, a Jú me liga pedindo nomes de livros do Caio, porque de tanto eu falar nele, ela foi atrás na internet e claro, adorou. E eu também, mais uma fã de Caio F. no mundo.

Semana passada, estava falando com ela no MSN, quando me disse estava pensando em fazer um blog. E fez, o Simplesmente July. E eu fiquei toda feliz, mais uma blogueira no mundo. No primeiro post, fala que foi eu que a inspirei, querida!

A última vez que falei com ela, alguns dias atrás, me disse que não pensava em outra coisa, a não ser escrever. É assim mesmo Jú e também, terá épocas que não saíra uma vírgula, por mais que você tente. Às vezes, o blog ficará jogado às traças, em outras ocasiões não irá nem acumular pó, de tanto que você irá escrever.

Seja lá como for, te desejo sorte e inspiração. Vida longa ao Simplesmente July.

Wednesday, March 16, 2011

I miss him

Estava jantando agora com a minha família espanhola. É divertido, dois espanhóis, um americano, um chinês e eu fazendo de conta que somos uma família, sem preconceitos, é claro. Assim, como em todos os lares, tem um membro antissocial, é a nossa hermana coreana não janta com a gente. E hoje teve “pasta” para agradar a brasileira com cara de italiana da família.

Conversamos um pouco em espanhol e um pouco em inglês e isso é sim, muito divertido. Até que o Kevin me perguntou: “Ruenata como és that word que so tien in portuguuuese?” Me faço de desentendida, abaixo a cabeça é falo: “What? No comprendo...” Aí o chinês fala com um inglês tão perfeito que todo mundo se surpreeende: “That word about a felling?” Continuo me fazendo de louca e enfio um monte de massa na boca. Roger e Montse percebem meu desconforto e falam que hoje estou faminta e mudam de assunto. Vamos hablar da chuva que não para!

Porém agora, a massa que estava uma delícia, se tornou amarga e trancou minha garganta. Meus olhos ficaram mareados, uma bateria de escola de samba surgiu na minha cabeça, tentei tossir, mas algo me trancou e só consegui enxergar o banheiro e vomitar até a alma. Depois tremi e fiquei com vergonha. Até a coreana apareceu para falar que isso era culpa do meu comportamento ocidental.

Kevin disse que foi o vinho que tomamos antes da janta. Montse me preparou um chá enquanto tomava banho, Roger saiu para comprar remédios. O chinês assistiu a tudo com seus olhos pequenos arregalados. Ele saiu do meu quarto agora pouco, veio saber se eu estava bem e me disse se esforçando para que eu entendesse: “It was because the word that only exist in portuguese”. Si, yo dije. I miss him.

Tuesday, March 15, 2011

Primeira série

Se tem uma coisa que eu recomendo para qualquer pessoa, de qualquee idade, é aprender um novo idioma. Pode ser apenas por alguns meses, mas estude pra valer, a gramática, os verbos, os pronomes, essas coisas chatas que tem em todas as línguas. Sim, é chato e cansativo.

Mas serve, justamente, para isso, para que percebemos o quanto temos que aprender. A sensação ao final de uma frase com sujeito, verbo e objeto é de objetivo alcançado. Hoje na aula, escrevi meu primeiro texto em espanhol, obviamente está digno de uma primeira série.

Publico ele abaixo. É bobinho, claro. Era para usar os verbos no pretérito indefinido. Está com todos os errinhos que cometi, não me importo, fiquei orgulhosa do meu primeiro texto. Até ganhei um "muy bien" da professora. Sim, começar a estudar um idioma é entrar de novo, na primeira série.

El fin del mundo

Año pasado, yo y tres amigos fuimos hasta Ushuaia, uma pequeña ciudad em sur del Argentina, conocida como “el fin del mundo”. Salimos del aeroporto de São Paulo hasta Buenos Aires. Después, cogemos al tren hasta Ushuaia. El viaje fue em um día porque nevó muchíssimo y el tren tuve que parar muchas veces.

Cuando llegamos a Ushuaia nos alojamos em um albergo juvenil, pero no tenía calefación y tuvimos mucho frío. Además, quedamos dos días dentro del albergue porque hubo una nevada, una gran parte de la ciudad quedo cerrada.

Solamente, em el tercer día salimos y jugamos em la nieve. Tambien anduvimos em el teleferico y practicamos esqui. iNos divertimos mucho!

Al outro día, tuvimos que volver a Brasil. Pasamos um día más dentro del tren hasta Buenos Aires. Allí paramos para comer churros y perdemos el avión. Por fin, después de “el fin del mundo”, pasamos uma noche em las calles da capital Argentina. Volvimos a Brasil em autobus, llegamos dos días después.

Monday, March 14, 2011

"Passantes"

No curso de espanhol tenho colegas da Itália, da Alemanha, da França e da República Tcheca. Apesar de inúmeras diferenças, somos parecidas, já que por algum tempo estamos vivendo longe de nosso país e de nossas casas. Sei pouca coisa delas e elas tão pouco sabem de mim.

Não penso que são pessoas as quais possa ter um grande amizade, embora vá me lembrar para sempre delas. Talvez daqui alguns anos vá forçar a memória para me certificar se a Jana era a loira eslovena ou a alemã morena.

E já percebi que essas pessoas, que sem fundamento nenhum denomino como passantes, pois estão como eu, passando por uma baita e diferente experiência de vida e estão passando pela minha vida, logo são passantes. Então os passantes são muito comuns numa situação como essa.

Outro dia sai sozinha para ver um show de Flamenco e terminei a noite na mesa de um bar com mais oito pessoas, todas estrangeiras, todas passantes. Erámos homens e mulheres que nos comportamos durante algumas horas como velhos amigos.

Bebemos, brindamos, conversamos e brincamos. E nunca tínhamos nos vistos antes. Nos despedimos com beijos e abraços e cada um vai embora sem saber nada do outro, sem compromissos de novos emcontros nem nada, no melhor estilo viver o momento.

No domingo estava olhando o mapa, procurando o Parque da Ciutadela, dentro do ônibus, quando chegou uma passante da Grécia, me perguntando onde descia para o mesmo parque. Acabamos indo juntas para o local, antes ainda paramos para almoçar. Chegando na Ciutadela, cada uma foi para um lado. Devo ter passado por ela no parque, mas não a vi.

Nesses encontros e despedidas não há lamentações ou coisas do tipo, sabemos e aceitamos a nossa condição de viajantes e de passantes. No começo, pensei que isso era orgulho ou até mesmo, arrogância, mas agora já sei que não é, é apenas resignação.

Tem uma professora que todo dia faz uma brincadeira com a gente. Todos os dias temos que nos apresentar, acrescentando uma nova informação. Ela diz que é para a gente praticar o vocabulário, se conhecer mais e não esquecermos uma da outra. Eu já penso que é para nos mesmas, não nos esquecermos de quem somos. Do que há de permanente enquanto passamos.

Sunday, March 13, 2011

Primeiras impressões: de Barcilo até Barcelona

Depois de uma semana em Barcelona já deu para sentir um pouco da cidade. Barcelona é capital da Catalunha e a segunda maior cidade da Espanha, perdendo apenas para Madrid. Com uma população de cerca de 1.621.537, a cidade é banhada pelo Mar Mediterrâneo.

Considerada capital européia do movimento modernista, a cidade abriga obras incríveis de Gaudí e Miró, além do museu Picasso, que conta com o maior acervo do artista. E também, em menos de uma hora de trem, se chega a Figueres, terra do Salvador Dalí, que abriga um museu em sua homenagem.

A cidade é antiga, mas soube dosar a medida certa de modernidade, avanço e preservação da sua história. Sua origem é do período da dominação romana e a grande Barcelona era apenas uma pequena colônia chamada Barcino.

O belo museu de História da Cidade de Barcelona (MHCB) ainda conseva numerosos vestígios da antiga colônia romana, como alguns fragmentos da muralha que circundava a cidade, o templo de Augusto, a necrópolis e restos de estruturas que se podem observar no subsolo do museu. No elevador do museu, escolhemos em qual século queremos desembarcar...

No século 13, com aconstrução da catedral da cidade, o vilarejo viveu um grande apogeu e se estendeu para além das grandes muralhas que o cercavam. Foi nesse época que Barcelona encontrou o mar e se tornou uma cidade de mercadores, navegantes e comerciantes.

O mais incrível disso tudo, é que as muralhas, as ruelas estremamente esrteitas, as fortalezas e os palácios medievais estão muito bem preservadas, ainda hoje. O bairro Gotic e o La Ribera formam o eixo da chamada “cidade velha”. Nessas ruazinhas a gente mal enxerga a luz do sol e a umidade prevaleçe, carro também não entra.

O bom mesmo foi andar a pé por esses bairros e me perder a vontade. Não tem como não se sentir um personagem épico nessa parte da cidade.

As igrejas de Barcelona

É impossível passar por Barcelona e não visitar ao menos três igrejas: a catedral, a igreja de Santa Maria del Mar e a Sagrada Família, todas são verdadeiras obras de arte.

A catedral abriga em torno do altar, inúmeras capelas, uma para cada santo que é popular na Espanha. Parece ser várias igrejas diferentes dentro de uma só. Além disso, a catedral tem um pátio e um jardim que são deslumbrante, com direito a patos andando soltos e fonte de São Jorge.

A igreja de Santa Maria del Mar fica dentro do labirinto que é o bairro de La Ribera, em frente tem uma pequena praça, onde os turistas fazem malabarismos para conseguir enquadrar na foto, a torre da igreja, que é imensa. Eu só consegui fotografar, há três quadras de distância. A torre é alta, pois também servia de farol para os pescadores.

Já a Sagrada Família se encontra no bairro de mesmo nome, já na parte “moderna” da cidade. Gaudí passou os últimos anos de sua vida se dedicando a essa construção, a obra está até hoje inacabada. E ainda assim é de uma grandeza assustadora. Toda a riqueza de detalhes e esculturas que temos na fachada não é um terço da beleza que se encontra dentro da obra.

Num primeiro momento, a Sagrada Família é clara e até um pouco fria por dentro. Pintada com cores suaves transmite uma sensação de sepúlcro, de um lugar de fato, sagrado, parece como toda igreja. Mas a Sagrada Família tem vitrais, muitos vitrais e eles estão dispostos de tal maneira, frente a frente, que quando a luz do sol bate numa das janelas, reflete em outra e assim por diante.

A igreja fica repleta de cores e sombras coloridas, deixando de ser sagrada para se tornar divina. O silêncio, que antes era pesado, fica leve, tamanha a leveza daquelas cores e genialidade daquela obra. Eu fui visitar uma igreja e me senti dentro de um arco-íris.

Para mim, essas igrejas são a cara de Barcelona. A representação perfeita dessa cidade de arquitetura fantástica. Medieval, intacta, moderna, prática, colorida e surpreendente.

Saturday, March 12, 2011

Estopim

Tenho tanta coisa para escrever sobre Barcelona, sobre os lugares que fui, a impressão dessa cidade, as pessoas únicas que já conheci... E cadê que eu escrevo? Sempre que começo, dou voltas e voltas e acabo sempre no mesmo lugar, com a tela em branco.

Amanhã faz exatamente uma semana que cheguei e desde então, não tinha derramada uma lágrima. Além disso, tenho dormido incrivelmente bem. A insônia que sempre me pega pela mãe e me leva noite a dentro tirou férias.

Porém, mais cedo ou mais tarde, eu ia desabar. E estou desabada agora, justo hoje, quando há um ano atrás te conhecia. Estou há horas olhando para esse note e tentado escrever alguma coisa, nem que seja pra você, quem sabe assim, eu consigo escrever o resto?

Quem sabe seja necessário um estopim? Você é meu estopim, porque você é meu tudo. E daí que estou na Europa? Que graça tem? Tudo o que eu faço, penso que é tão triste não poder te contar. Logo para você, que iria entender tão bem.

Ontem eu fui no porto, passei a tarde lá, sentada olhando o mar Mediterrâneo e os barcos passarem. Tenho consciência que sou uma pessoa de sorte por estar realizando esse viagem e mais, por ter sonhado com isso desde sempre.

Mas ontem, no porto, me peguei dando gargalhadas sozinha. Que ironia, eu que sempre quis viajar, trocaria tudo isso por um abraço. Um abraço! E poderia passar o resto dos meus dias em qualquer província, que seria a mulher mais feliz do mundo e você, o homem mais amado.

Ao menos chorando, a saudade sai para fora um pouco e quem sabe assim, eu consiga escrever.

Monday, March 07, 2011

Primeira noite

Seis de março de 2011

Tinha sete anos quando dormi fora de casa pela primeira vez, passei uma semana na casa dos meus padrinhos, na rua de trás da minha. E na época, foi uma aventura e tanto! Depois, tinha 22 quando dormi fora do meu país, pela primeira vez. Foi em Buenos Aires e foram apenas três noites, estava de excursão para o show da Madonna.

Essa é minha primeira noite em Barcelona e a situação é outra. Vou passar dois meses fora de casa. Sempre imaginei como seria a primeira noite que estaria em um país distante, não apenas por passeio, mas para morar por um tempo. Pois, em março, o meu endereço será Calle Calábria, 86, 3-2. Ah, estou morando num apartamento.

Minha família, um casal, são professores universitários. Tem um rapaz americano e um coreano, também de intercâmbio. Meu quarto tem as paredes rosas, um espelho imenso, um roupeiro branco e uma janela minúscula, que dá para a parede do apartamento da frente. Ainda bem que tenho uma luminária, porque a luz é bem fraquinha.

Ainda assim, acho que vou passar muito tempo dentro desde quarto, espero que minhas vistas não cansem. Hoje, Já me perguntei várias vezes, porque trouxe apenas três livros? Espero deitar e dormir, hoje. Estou cansada e com dor de cabeça, faz bastante frio aqui e acho que logo estarei gripada.

Estou resistinto bravamente para me deitar. Quer coisa mais íntima que a cama da gente? Eu estou num país que não é o meu, numa família que não conheço e o pior, num colchão que não tem a forma do meu corpo e com travesseiro que não ter as marcas das minhas lágrimas.

Na casa dos meus padrinhos, aos sete anos, eu chorei e acabei passando as outras noites no quarto com as minhas primas. Em Beunos Aires, eu estava eufórica e já um pouco bêbada. E agora? Na primeira noite na Espanha e eu estou como estava antes da viagem... Apenas estou. Não tenho vontade chorar, não tenho vontade de rir. Estou aqui, só.

Sete de março de 2011

Acordei a pouco e para minha surpresa, dormi a noite inteira. Sem choros, sem perguntas do tipo “o que estou fazendo aqui?”, sem medos e inseguranças. Devo ter deixado a menininha covarde que mora em mim no Brasil.

Cheguei até a sonhar, com a minha vó e a minha prima. Achei estranho sonhar com as duas únicas pessoas, mais próximas de mim, que já morreram da minha família. Se bem que, por serem espíritos, elas são as únicas que podem me acompanhar aqui na Europa. Pensando nisso agora, me sinto muito bem acompanhada e pretegida, entendi porque não chorei.

Em trânsito

Estou escrevendo dia 05 de março de 2011, no aeroporto internacional de Garulhos, em São Paulo, indo para dois meses na Europa. Minha mãe já encheu os olhos d’água quando me deu tchau. Meu pai com o otimismo de sempre, só falava pra eu aproveitar cada segundo. Meu irmão saiu e nem me deu tchau, típico dele.

Amanhã, um primo e a namorada dele estão de partida para a Irlanda, onde ficarão por um ano, trabalhando e estudando. Na segunda, outro primo (irmão desse que vai para Irlanda), vai para uma missão religiosa, onde ficará por dois anos num país, que ele ainda não sabe qual é. Seu único contato com o mundo que será permitido é escrever uma carta por semana.

Quando lhe perguntei se ele não achava isso ruim, disse que não, que apenas se distanciando do meio e vivendo novas experiências, saberá o que de fato quer da vida. Durante um bom tempo, não vai ter tanta graça ir para Florianópolis, sem meus primos lá. E espero que quando retornarmos para o Brasil, estejamos mais certos do que queremos, mais verdadeiros, mais corajosos e principalmente, com o coração mais aberto.

Às vezes, é necessário ir para longe, em busca de nós mesmos. Não importa que essa busca se esconda atrás de um belo motivo: um tour na Europa, a busca de melhores condições de vida, a missão de divulgar o que se acredita. Chega um momento, que é necessário nos conhecer e quanto mais longe e distante de todos, melhor. Só com nós mesmos vamos nos enxergar.

Provalvelmente, quando conseguir postar esse texto, já terão se passados alguns dias e, quando menos esperarmos, chegará a hora de voltar e espero essa experiências tenha nos ternado melhores. Pessoas com olhares diferentes e, se permetir essa viver longe de tudo, já é um grande passo para se enxergar.

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." Fernando Pessoa

Friday, March 04, 2011

Considerações antes de partir

Não mudou em nada o que eu sinto por você. Te amo do mesmo jeito ou até mais, se você não sentisse algo por mim, teria ido me ver, pois seria muito fácil ir, me comer e continuar tudo igual. Mas não né? Você não foi. Sabe que não me senti tão mal como pensei que ficaria?

Só de saber que eu estava na mesma cidade que você, que você anda pelas ruas que eu estava andando, nossa, já agradeço ao mundo por essa oportunidade. Não tem problema nenhum eu ter ficado quase 20 horas trancada num quarto de um hotel muquifo, esperando um homem que eu sabia que não iria. Tem vezes que me odeio, mas já aprendi a me suportar, então encarei isso como uma boa oportunidade de pensar.

E como eu pensei. E não, não vou desistir de você. Desistir de você, seria desistir de mim.



Eu sempre imaginei que o dia que eu fosse viajar, estaria eufórica, que seria a pessoa mais feliz do mundo. Mas não. Daqui poucas horas estou embarcando para a Europa e não sei o que sinto em relação a isso.

Desde criança, sonho em viajar, mas nos últimos meses não pensava nisso como o sonho que iria realizar. Essa viagem era só uma desculpa para ver se eu continuava tocando o barco. Foi uma muleta. Algo que “inventei” para ter o que pensar.

Agora essa muleta é real e ainda não assimilei o que vai acontecer. Não estou indo para fugir de ninguém, nem de nenhuma situação, talvez eu esteja indo pra ver se consigo o distanciamento necessário e entender tantas coisas que acontecerem na minha vida no último ano.

Mudei muito. E só consegui realizar esse sonho de viajar agora, quando percebo que o que move minha vida não são os lugares para onde irei. O que move minha vida é o amor que eu sinto.



Estou indo para a Espanha amanhã. Fico lá até dia 02 de abril, depois faço um tour pela Europa e volto no final de abril. Sempre que possível, estarei escrevendo, gostaria muito de escrever coisas sobre os lugares para onde irei, mas não sei se vou conseguir, geralmente eu escrevo para sobreviver.