Tuesday, January 19, 2016

Vamos brincar?

- Qual a sua brincadeira preferida?

- Caçar palavras com a minha inspiração!

Wednesday, January 13, 2016

A estudante

Segunda-feira e eu, bêbada. Deveria estar em casa, fazendo o trabalho de História da Psicologia. Disse num bar da Cidade Baixa. Tem a impressão de que falou alto demais, mas parece que as amigas nem ouviram.

Você falou alto sim, Luisa. E tem bebido em demasia também, daqui um pouco começa a lamúria sobre o tempo perdido. Aquele conhecido discurso de que depois de cinco anos de cursinho, criou coragem e enfrentou os pais. Desistiu da medicina para a psicologia e finalmente passou.

Do que é o trabalho, Lú? Questiona uma das moças, deixando a voz interna longe e trazendo a jovem de volta para a mesa do bar. A sensação de tontura parece mais intensa. Preciso ir no banheiro, pensa enquanto começa a responder.

Sobre histeria. Já assisti Freud Além da Alma, que mostra como ele ousou em usar a hipnose para tratar essa patologia. Mas preciso de mais leituras, conta desanimada. Nunca entendi teu amor repentino pela psicologia, até porque no primeiro semestre, tu passaste com notas baixas em todas as matérias.

É essa a deixa para começar a contar a historinha triste, daquelas que não são inverdades de fato, mas mudamos daqui, contamos um pouquinho diferente ali e acaba virando uma mentira que a gente tem certeza que é verdade. Vai Luisa, dá a sua versão. Não queria mais que o pai pagasse o cursinho, se libertou e entrou na faculdade para realizar um sonho. Não é isso que espalha por aí?

Luisa passou o trajeto até a cobertura onde mora com os pais, ouvindo essa voz. Incomodada, chegou a chorar no banco de trás do táxi... Se sabotou tantos anos moça, afinal, a adotada nunca poderia ser médica como os irmãos e os pais. Cresceu ouvindo a história bonita que a mãe contava, cheia de orgulho, que ela foi salva num parto complicadíssimo, onde a mãe biológica não resistiu. Muito se perguntou quantas vezes essa versão fora ensaiada. Nunca perguntaram o que ela queria. O pai não iria mais pagar cursinho, estudasse qualquer coisa, mas entrasse numa universidade. Foi o que fez.

Sobe os degraus do prédio cambaleando, os segundos que espera o elevador parecem intermináveis. As portas abrem e ela paralisa. Lá dentro tem o reflexo uma moça de vinte e poucos anos, maquiagem borrada de bebidas, risadas e lágrimas. Bonita como ela, mas sem a malemolência que o álcool adiciona à pessoa e o autocontrole de quem pode ter um ataque histérico a qualquer momento. A mulher do reflexo tem uma beleza séria, seca, julgadora e castradora. Como um superego.