Sunday, June 05, 2011

A elegância do ouriço

Nas longas horas que eu passei no aeroporto de Madrid, quando voltava ao Brasil, comprei alguns livros e nunca uma obra me foi tão recomendada quanto “La elegancia del erizo”, de Muriel Barbery. O livro já foi traduzido para o português, mas eu nunca tinha ouvido falar.

Comprei por pura curiosidade, simplesmente, todas as pessoas que estavam na loja falaram bem do livro! Bom, a história se passa em um edifício luxuoso de Paris e é contada por Paloma, uma menina de 12 anos e por Renée, a zeladora do prédio.

Penso que esse livro é a prova que o que sustenta uma história é suas personagens. Paloma e Renée vivem em universos diferentes. A menina é a caçula de uma família rica, filha de político. A zeladora é quarentona, viúva e solitária.

Mas ambas são inteligentíssimas e dividem uma visão ímpar do mundo, ora terna, ora ácida, e há também, o amor pelas artes, filosofia e as letras. Enfim, são personagens complexas e ricas e como todas as pessoas que se sentem a margem da realidade que vivem, elas tentam ao máximo passar sem serem notadas. Renée é de pouquíssimas palavras e acha que a vida nunca vai surpreendê-la. Paloma está decidida a se suicidar, já que pensa que na vida não há sentido.

São essas duas mulheres que contam uma história, de vida, delas mesmas. Separadas e entrelaçadas, as observações, as idéias, o vazio e a riqueza interior de ambas encantam e machucam. Se o leitor já percebe as semelhanças entre elas logo, as personagens passam a conviver de fato, quando o japonês bem-humorado Kakuro Ozu, se muda para o edifício.

Eu li o livro em espanhol e essa semana quero ver se o encontro em português. Vale a pena e eu recomendo, são poucos os livros que é necessário um tempo para assimilar o que se leu e esses, são justamente os melhores.

Ah sim, o título do livro é por causa do ouriço, o animal mesmo, porque lá pelas tantas, Paloma compara Renée com o bicho e explica: por baixo da aparência dura e estranha, os ouriços são um dos animais mais dóceis e inteligentes do mundo.

“'A vida tem um sentido que os adultos conhecem' é a mentira universal que todos crêem por obrigação. Quando nos tornamos adultos, compreendemos que isso não é verdade e já é muito tarde. O mistério da vida permanece intacto, porém faz tempo que gastamos toda a nossa energia em atividades estúpidas. Já não resta mais nada, a não ser nos anestesiarmos perante a vida e fazer de conta que tudo tem um sentido, enganando assim, nossos próprios filhos e os outros para tentar convencer a nos mesmos.” Muriel Barbery

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