Monday, October 30, 2006

Promessas eternas

Tenho uma dívida com a loirinha bochechuda que eu fui um dia. Prometi várias coisas para a vida dela e, à medida que ela foi crescendo e se dando conta do compromisso, começou a me cobrar!

Quando ela era a mais tímida da turma e tinha até vergonha de responder a chamada, prometi que ela teria uma profissão onde fosse obrigada a falar e se mostrar. Hoje, faço jornalismo. Teve uma época que ela se achava normalzinha demais, apagada até, prometi algumas cores para a vida toda. Fiz a primeira tatuagem com 14 anos e me orgulho das corres que carrego pelo corpo. Durante muito tempo meu cabelo foi roxo ou verde.

Quando ela achava que vegetarianos eram malucos demais, prometi que um dia ela seria como eles e que sobreviveria muito bem sem ingerir defunto. Há quatro anos não sei mais o gosto que tem um pedaço de carne e mostrei para ela que vegetarianos não morrem de fome, muito pelo contrário, comem muito bem.

Ela passou cinco anos indo a fonoaudiólogas para aprender a falar corretamente e eu prometendo: calma, um dia você não vai falar só português. Já dei aulas de inglês. Ela lia livros de detetives e queria ser como eles, então prometi que um dia investigar não seria ficção e adivinha: Me tornei uma detetive. Não trabalho diretamente com isso, mas entendo muito ofício investigativo e sei que ela se orgulha do registro na Abin.

Já trabalhei meses numa rádio só por prazer, ela precisava perder o medo que tinha do microfone. Fui integrante de grêmio estudantil e da UNE, era essa a maneira de cumprir a promessa de contribuir com um mundo melhor. Faço dança do ventre porque ela sempre se achou dura demais e assim ela se solta.

Prometi o mundo: amigos interessantes, muitas histórias para contar, uma carreira bem sucedida, alguns livros com o seu nome na capa, um namorado inteligente, gostoso e apaixonado, um show da Madonna, outro do U2, uma copa do mundo, o Caminho de Santiago, uma temporada em Londres, outra na Índia, muitos gibis...

É um mundo de interesses e realizações pessoais que estou buscando. Às vezes desanimo, tenho vontade de subir num lugar bem alto, abrir os braços e ir ver o que tem do outro lado. Mas aí ela aparece, com as bochechas gordas e vermelhas, supera a timidez e me fala com a petulância característica de quem sabe o que quer: “Você me prometeu!” Prometi e confesso: o meu maior medo é decepcionar a criança que eu fui um dia.

Monday, October 16, 2006

Um recado para Ramon


Foto:Without you/flickr


Nunca fui muito de crianças, muito menos de recém nascidos, como você! Mas acredite, por mais que não saiba demonstrar, já gosto de ti! Não sei lidar nem com meu afilhado, seu tio. Aliás, podemos fazer um trato: se um dia o Rockson reclamar, você me conta. O que acha?

Graças a Deus, nascestes numa família de colorados, onde a mais fanática por futebol sou eu! Claro, você terá alguns primos e tios que, inexplicavelmente, são gremistas. Prepare-se, pois você ouvirá muitas brincadeiras por causa disso.

Falando em tios e primos, essa sua família é uma loucura! Tem os carecas precoces como o tio Cristiano e os eternos cabeludos como o Miguel, o Doca e o teu avô. Ah, teu avô adora contar histórias e tua avó faz bolos deliciosos, mas odeia sujeira. Teu tio Rockson tem seis anos e é uma figura! Acho que ele vai ter um pouco de ciúme de ti...

A tua tia Amanda não tem nada haver com a sua mãe! A Agnes vai falar muito nos teus ouvidos, ela é uma tagarela. Mas acho que você vai gostar de todos. Ah, só para constar, a minha mãe será a tia que você mais verá, porque é a mais metida da família. E ela adora a Simone e a Moni adora tia Laine... Logo, vai te adorar também! Foi ela que passou todas as suas roupinhas e olha que minha mãe nunca foi muita dada a tarefas domésticas.

É muita gente! É muita gente diferente! Tem os que tão perto, mas parecem distante. Tem os que moram longe, mas estão sempre perto. Às vezes, alguém aparece e fica, como o teu pai! Aliás é só por isso que ele é teu pai. Ele apareceu e foi ficando até que a Moni foi ficando com ele... Um dia eles te explicam!

O bom de gente diferente na família é que a gente cresce com uma cabeça mais aberta do que a maioria das pessoas. E o mundo também é surpreendente! Você vai descobrir tanta coisa: banho de chuva, festa de aniversário, Papai Noel, castigo, flores, praias, vozes, abraços, promessas, música, escola, chão, tombo, machucados, amigos, folhas, bola, meninas, corpo, negrinhos na panela, choro, grito, rua, carro, barulho, cheiro, cabelo, caras e bocas entre um mundão de coisas que vem por aí que eu nem sei!

Odeio aniversários, então já vou desejar agora. Todo de bom para você, uma vida repleta de felicidades, saúde, amor, paz, harmonia... Seja bem vindo à vida!


Ramon nasceu dia 15 de outubro, com 53cm e mais de 3 quilos. Espero sinceramente que ele não passe a vida ganhando um presente só, pelo aniversário e dia das crianças.

Saturday, October 14, 2006

3 x 4

Sou passional. E orgulhosa. E determinada. E disciplinada. E geniosa. E difícil. E leonina. E desconfiada. E companheira. E colorada. E emotiva. E preguiçosa. E vegetariana. E quieta. E ansiosa. E impaciente. E tímida, e como todo tímido pareço medita. Pior que eu gostar de alguém, é eu não gostar.

Gosto de escrever porque tenho uma necessidade de aparecer, sem me mostrar. E também porque sou maior que os meus 1.58 de altura. Quase uma necessidade física. Meu cabelo é castanho, de um castanho claro demais para o meu gosto, e quando eu pinto ele fica legal só no primeiro dia, depois desbota. E quando me olho no espelho parece que eu também desbotei. Meus olhos são azuis, mas ficam verdes quando eu choro.

Gosto de cores. De comer negrinho. De dormir ouvindo música. De cachorro. De banho de chuva. De malhar. De praia. De ler, muito, o tempo todo. Leio de Sartre a Maurício de Souza. Queria ser uma personagem dos livros da Claúdia Tajes ou do Jostein Gaarder. Faço jornalismo. Amo rádio e jornalismo literário. Falo inglês, quero fazer italiano e aprender esperanto. Faço dança do ventre e alguns anos tento tocar violão e fazer malabaris.

Já amei camarão e frango xadrez. Usar só roupa preta. Back Streeet Boys. Aqueles tamancos de plásticos da Melissa. Matar aula e ficar sentada na frente da escola... Ainda bem que a gente muda. Não gosto de gatos. De acordar cedo. De dormir cedo. De silêncio. De ser interrompida quando estou lendo. De carne. Tenho medo de barata, de ser sozinha, de ser abduzida, de ficar triste, muito triste. Já tive depressão e tenho medo de ter de novo. Faço musculação, tentando me tornar uma pessoa mais dura, por dentro e por fora.

Às vezes eu choro antes de dormir, porque sinto saudades, porque gosto de alguém que não gosta de mim, porque queria que ele gostasse de mim, porque lembro de coisas que queria esquecer, porque tenho medo das tais “voltas que o mundo dá...” Porque tenho medo de não ser uma pessoa feliz... Por mil motivos, por tudo. Daí eu rezo e peço pra tudo dar certo, mesmo eu sendo a pessoa egoísta que eu sou. O sono vem e no outro dia eu nem lembro. Mas também não me esqueço.

Tenho uma memória de elefante. E estrelas no meu quarto. E tatuagens. E piercing. E gastrite nervosa. E livros que eu comprei e não vou ler. E cds que me arrependi de ter comprado. E amigos que amo, longe ou perto, os de sempre e os mais recentes. E uma família hilária e enooooooooorme, com todo mundo diferente e igual. A maioria das pessoas não sabe como são importantes para mim.

Odeio minhas orelhas, adoro meus pés. Será que 200 ml de silicone em cada seio me fariam mais feliz? Às vezes tenho certeza que sim, as vezes que não. Cinco centímetros não têm jeito de eu conseguir... Odeio ficar vermelha. E eu sempre fico vermelha, eu nem sinto mais. Agora, quando eu sinto, e porque já estou rosa-xoque. Eu estou sempre gelada. Dizem por aí que “mãos frias, coração quente”, mas eu não sei...

Tem coisas que não cabem numa 3 x 4.

Friday, October 06, 2006

Algumas perguntas

Outro dia fiz esse texto para a aula de redação III, o professor gostou e elogiou bastante... Se realmente tá bom, não sei. Mas é verdadeiro, por isso está aqui.

Adoro escrever! Sempre gostei. Acho que esse é um dos principais motivos para eu estar nesse curso. Português e literatura sempre foram minhas matérias preferidas no colégio. Trocava redações por colas nas provas de matemática. Preferia a biblioteca às aulas de educação física. E sempre tive certeza: seja lá o que eu fosse quando crescesse, eu ia escrever.

Notícias? Não gosto muito. Mas está incluído no pacote! Reportagem? Adoro. Perfis, reportagem em aprofundamento, jornalismo literário... Qualquer coisa onde possa brincar um pouco. Mostrar mais e consequentemente descobrir mais. Gosto de dormir tarde porque é a hora que gosto de ler e principalmente escrever.

Depois de alguns 10 em português, zeros em física e química, uma prova de vestibular para jornalismo, o conhecimento do lide e da pirâmide invertida, aqui estou. Escrevendo. Porém me pergunto será que tenho talento para a coisa? Encabeçar a lista da Veja dos mais vendidos não está nos meus planos, mas lançar um ou dois livros está. E agora? Será hobby, profissão, talento ou ilusão?

Até o final do ano eu faço meu blog, não fiz ainda porque tenho um pouco de receio, às vezes a internet me parece “terra de ninguém”. Estipulei até o final do ano, porque algo me diz que está na hora de mostrar o que escrevo, nem que seja para minha mãe e meia dúzia de amigos.

Será a tal crise dos 21 anos? Não sei! O fato é que a possibilidade de passar o resto da vida fazendo algo que eu sempre sonhei assusta. Hoje é só um blog, amanhã é a coragem de bater numa editora. Ontem eu era só a guria que trocava redações por números. Agora é um texto para a aula de redação, depois um texto para o site que trabalho, e depois?

Às vezes a folha em branco se torna algo bem legal, noutras é um lixo. E quem sou eu para julgar? O que o meu estado de espírito entende para achar alguma coisa? Sim, porque é esse o único critério que eu uso: se estou bem, escrevo bem. Se estou mal, escrevo mal! E hoje? Hoje eu estou questionadora! Não sei nem dizer o que é isso que estou escrevendo. Crônica, balela, poesia, conto de fadas, clichês... Para terminar, só mais uma perguntinha: Alguém tem as respostas?

Monday, October 02, 2006

Crias da tecnologia

Foto:Aloha Mamma/flickr



A infância de hoje em dia é indiscutivelmente muito diferente do que a de menos de uma década atrás. Mudanças são comuns de geração em geração, mas o avanço da tecnologia parece ter acelerado as coisas. Além dos computadores, videogames, DVDs e outros aparelhos da casa ou da escola, eles estão muito acostumados com os portáteis pessoais, como celulares e mp3 de música digital.

É indiscutível as mudanças que a tecnologia trouxe para a nossa vida, para o nosso cotidiano. Enquanto muitos adultos ainda estão em fase de adaptação, a maioria das crianças já está totalmente inserida nesse novo contexto tecnológico. A cultura digital, fruto direto da tecnologia.

O repórter Marcelo Miranda do portal Acessa.com, fez uma reportagem onde abordou as crianças e a tecnologia. Ele cita o caso do menino de 10 anos Caio César Silva Lima faz jus a essa cultura. O garoto é usuário praticamente avançado da web, entre outras coisas sabe navegar, usar MSN, tem perfil no Orkut, estuda e pesquisa no computador.

O site Pra Saber mais de Fernando Barrichelo, tem um link chamado Ciência e Tecnologia para as crianças. Onde, entre outras coisas, ensina o funcionamento de inúmeros aparelhos tecnológicos com uma linguagem própria para esses precoces usuários. Para muitos adultos essa facilidade se deve ao fato de "a criança já nascer inserida no mundo da tecnologia".

Especialistas ressaltam que de nada adianta escolas adaptadas com grandes recursos tecnológicos e a convivência precoce com computadores se não saberem qual a função que esta tecnologia pode ter para esta criança.

O preço da modernidade

Foto:Darniw Bell/flickr


Que a tecnologia trouxe inúmeras mudanças para a nossa vida, percebemos no cotidiano. Muitos pagam caro para se adaptar e aderir a tanta novidade tecnológica, inclusive com a saúde.

A principal característica dessa cultura é a permanente busca pelo novo. Um exemplo claro é quando compramos um celular recém lançado e já tem outro no mercado, que coloca nossa recente aquisição na fila de entrada do museu. Para muitos é um verdadeiro stress a adaptação à esses aparelhos, causando em algumas pessoas um distúrbio chamado tecnoestresse.

Esse distúrbio se caracteriza pela da convivência cada vez maior das pessoas com a tecnologia. “É a irritação que sentimos por não conseguir operar o videocassete novo ou quando ligamos para alguém insistentemente e ouvimos que o telefone celular está fora de área”, explica o psicólogo americano Larry Rosen em entrevista a um site de psicologia. “Veja o caso da internet, a pessoa de perde diante de tanta informação. A conseqüência imediata disso é o stress”, completa.

A edição 419 de 27 de maio de 2006, da Revista Época trouxe uma reportagem sobre a cultura da tecnologia, tão inserida e comentada nos nossos dias. A publicação fornece um mapa desse mundo vasto e fascinante, com o intuito de ajudar os leitores a participar mais intensamente da cultura do nosso tempo. No mesmo exemplar há um teste para ver se a tecnologia estressa o leitor.

Útil e fútil. Necessária e supérflua. Cabe a nós não nos tornamos vítimas dessa realidade que a cada instante bate a nossa porta.