Sunday, August 30, 2009

O show acabou

Sexta-feira foi minha última aula de dança na Arte e Equilíbrio, escola onde dancei por quatro anos. A escola vai fechar, todas as turmas, exceto as de dança de salão, já encerraram as atividades. Dificuldade com grana, falta de alunos, falta de profissionais, incompatibilidade de horários, falta de incentivo para tudo que envolva a cultura e outras coisas levaram a isso.

Uma pena. Mais do que a escola onde dancei, foi ali que descobri que era capaz de dançar. Lembro a primeira vez que entrei lá, dos quadros na parede, do incenso que tava queimando, da moça que me atendeu, lembro principalmente, que gostei de estar lá. Lugar alto astral. Sai com a certeza que voltaria no sábado para uma aula experimental de dança do ventre.

E tinha certeza que não passaria daquela aula. Afinal, sempre fui dura como uma porta. A certeza continuou quando na primeira aula não consegui fazer a batida lateral (passo básico da dança do ventre), mas algo me fez voltar no outro sábado e me matricular. E já se passaram quatro anos.

Nesse tempo conheci pessoas que amam a dança, aprendi a mexer o corpo, passei a usar expressões típicas de bailarinas, comprei várias sapatilhas, passei a ter calos nos meus pés, dores musculares e me orgulhar disso, aprendi a escutar música árabe, estudar tempos musicais, perdi o medo do palco, fiz várias passagens de palco, me apresentei em vários lugares e percebi que eu não só sei dançar, como amo muito isso. E isso foi fundamental pra mim sair da depressão que me encontrava quando entrei lá pela primeira vez.

Agora vai ficar as lembranças das apresentações de finais de ano, que eram incríveis. Ah, o camarim, a bagunça que eram aqueles camarins, o gelo seco, as luzes, os aplausos, os amigos que eu fiz, a ansiedade da espera na coxia... Eu vou continuar dançando, claro, agora na academia da minha professora de dança do ventre e me apresentado em festivais de dança árabe, como fiz domingo passado.

Eu deixo de ser uma aluna da Arte e Equilíbrio e passo a ser uma dançarina do ventre. Só. Não tenho mais a responsabilidade de representar uma escola, nem a proteção de pertencer a uma. Fica uma saudade, a certeza de que quando eu contar pra alguém como eu comecei a dançar, a escola vai voltar a existir, porque faz parte da minha história.

Em qualquer festival, festa, jantar, evento que eu me apresentar, estará ali, uma aluna da Arte e Equilíbrio. E já que o show acabou, vamos estourar os balões e festejar, porque era isso que acontecia quando as cortinas fechavam e terminava o espetáculo para os expectadores. Para nós, dançarinos, ficava o sabor do dever cumprido, a maquiagem pra tirar e a purpurina que grudava no corpo e nos acompanhava durante dias.

"Você precisa amar a dança para aderir a ela. Ela não lhe dá nada de volta, nada além daquele único momento fugaz quando você se sente vivo" Merce Cunningham

Friday, August 21, 2009

Antes e depois

“Por que escrevo? Porque é a minha vingança contra todas as palavras e sensações que morrem todos os dias mostrando pra gente que nada vale de nada. Toma esse texto, o único lugar seguro e eterno pra gente.” Tati Bernardi

Eu estava tri bem. Com o meu emprego que eu adoro, minha pós em sociologia, minha dança do ventre, meu balé, o Pilates, a casa espírita, pintando meu cabelo regularmente todos os meses, fazendo minhas unhas toda a semana, indo no cinema, no Margs, na Redenção, saindo com as minhas amigas, indo fazer festa com as gurias de Buenos Aires, escrevendo, cantando alto as músicas do Nando Reis... Estava vivendo e feliz.

Nem sei te dizer quando foi que eu reparei. Eu sei que um dia você me olhou e eu senti um frio na barriga. E fazia tanto tempo que eu não sentia isso, que até gostei. Me peguei acordando 10 minutos mais cedo, só pra dar tempo de passar base, lápis e rímel. Percebi, também, que leio o teu signo antes do meu. E já me pesquisei na internet se leão combina com libra e, graças a Deus, os astros conspiram a favor.

Eu te achei tão diferente, tão surpreendente, tão diferente daquela primeira impressão. Conversei tanto, isso que sou de poucas conversas. E agora eu tô aqui com milhares de borboletas no meu estômago, sem saber o que fazer. Sem saber no que vai dá. Com medo de errar de novo, de possibilitar o erro. Tô aqui pensando se chorar, vai aliviar; se escrever, você vai ler; se insistir, vai dar certo; se não fugir, vou conseguir; se desistir, me arrepender...

Eu não sei o que vai acontecer. Não sei o que sinto, além do nó na garganta e de uma certa ansiedade. Antes, eu tava bem, agora já não sei, mas aprendi (cedo demais), que o durante sempre acaba, isso sempre passa. E depois que acabar, minha vida vai seguir exatamente como era antes, sem você.

Saturday, August 08, 2009

Mais um ano

Hoje é meu primeiro dia de idade nova. Eu nunca fui muito de aniversário. E essa história de envelhecer, de ver o tempo passar não me agrada muito. Só que eu tô bem, tô feliz, tô curtindo a vida adoidado. Então resolvi não reclamar tanto hoje, não lembrar de coisas e pessoas que de fato, não merecem serem lembradas. E entrar no clima.

Prefiro me concentrar no ano limpinho que tenho pela frente. E sinceramente, só quero que meu estado de espírito continue assim como tá. Livre, leve, solto e feliz. Só! De verdade! Tem muita coisa pra eu realizar, mas estou no caminho. Meu mantra atual é: o melhor está por vir!

Então é isso: felicidades pra mim! E pra você: tudo em dobro!

Monday, August 03, 2009

Passado

O Marcello, meu primo de Florianópolis, me mandou um e-mail pedindo ajuda pra fazer a árvore genealógica da família, pegar os dados do povo daqui. Como gosto dessas coisas, adorei a idéia. E pensei que seria divertido e trabalhoso. Só que tá sendo bizarro... e trabalhoso!

Minha mãe não tem certeza do nome do avô dela! Fora os tios, os primos que ninguém sabe “que fim levou”. Está sendo engraçado ouvir as histórias. Tenho um bisavô que vivia preso durante a segunda guerra porque quando bebia demais, falava bem do Hitler.

Tem um irmão da minha avó que teve o armazém mais conhecido de Esteio. Só que as pessoas não lembram o nome do cidadão. E meu avô tem vários irmãos de criação, só que a maioria morreu e ele tá fazendo confusão de quem é irmão legítimo, quem é de criação. Fora que quando eu ligo para os meus tios avós (cruzes!), eles começam com histórias e mais histórias, mas as informações que eu preciso, não lembram.

Tirando o divertimento momentâneo, me dá medo. Fico me perguntando em que momento as pessoas se perdem? Não só famílias, tios, primos. Amigos também. Por que algumas pessoas são extremamente importantes em algumas fases? Por que com o passar do tempo as pessoas vão ficando pra trás?

Parece que não conseguimos administrar tudo que a vida nos trás. Emprego, faculdade, amigos, namoros... fora as mudanças que acontecem. Dá a impressão que não cabe todo mundo numa vida só. Ou analisando de uma maneira bem prática, não temos tempo pra conviver com todo mundo, aí conforme as coisas vão acontecendo, as prioridades e as pessoas vão mudando.

Mas é estranho pensar que daqui alguns anos as pessoas que fazem parte da minha vida hoje, podem estar só na lembrança. E vão estar. Como a minha amiga Gabi está. E isso era impensável há uns três anos atrás. Às vezes eu me pergunto como a ela está. Daqui uns anos vou me lembrar dela e pensar “que fim levou a Gabi?”

E nós? Que fins irão nos levar?