Sunday, September 09, 2007

Um pouco de saudade

Tem dias que eu acordo pensando muito em ti, como se tivesse a certeza que a qualquer momento você vai chegar aqui em casa, me chamando de batata. E a gente vai conversar, vamos rir, eu vou achar graça da sua risada que faz você perder o ar... Mas você não vem. Nunca mais vai vim.

Não fomos o que podemos chamar de grandes amigas, mas éramos primas. Não estávamos sempre juntas, mas ficávamos sempre juntas. Sempre fomos tão diferentes, em tudo. Você gostava da Mara Maravilha e eu da Xuxa, era morena e eu loira, gostava de brincar de casinha e eu de escritório, jogava vôlei e eu futebol, preferia biologia e eu literatura, fazia enfermagem e sonhava com uma família e eu queria escrever e correr o mundo. Era gremista e falante, nossa como tu falava! Independente disso, eu queria muito que você ainda fosse!

Lembra da festa de formatura da Sandra? Foi nossa última festa, você dançou a noite toda. Eu lembro. E de todo o resto: Dos aniversários, das apostas de quem comeria mais negrinhos, dos verões, quando eu ia para Imbé e você, Tramandaí, o que na ótica de duas crianças era uma distância imensa. E os sustos que dávamos na vó!? Nossa, quantos castigos por causa disso. Virada de ano era (pra mim) apenas ensaio para o teu aniversário. Teve um ano que você me pediu um cd do Daniel (outra diferença, tu sempre gostou de música ruim), eu dei, e junto, um da Tequila Baby (nunca desisti de fazer teu gosto evoluir), ai no meu aniversário, tu apareceu com um cd da Sandy e Júnior que eu nunca ouvi, mas confesso, nunca vou colocar fora.

Tu sempre fez tudo primeiro que eu, apesar de ser mais nova, talvez porque tivesse pouco tempo. Acho que na minha vida inteira eu não vou ter metade dos namorados que você teve em 18 anos. O que eu mais gostava em ti era, que apesar da vida nunca ter sido fácil contigo, tu sempre estava bem, feliz, alegre. (Outra diferença!) Agora é péssima essa certeza que não vou mais te encontrar na Unisinos, que não vai ter você na minha formatura, que não vamos no próximo Grenal, que não vamos nos encontrar na casa de algum tio ou no centro...

Lembro das coisas ruins também, que estão longe de ser as nossas briguinhas infantis... Aquele caminhão, naquela tarde chuvosa e o silêncio depois... O dia seguinte teve um sol lindo e céu azul (como o Grêmio, tu falaria com certeza), lembro do Juliano chorando, do meu pai dirigindo quieto e sério (lembra, ele nunca é sério e sempre dirigi cantando), do por quê estampado nos rostos de todos os teus amigos... Depois disso, tanta coisa aconteceu, e sempre que vou para praia lembro de ti, talvez porque suas cinzas estão lá, tornando você parte de tudo...

Agora eu estou morena, o Juliano e o Dé já são pais, o Dionatah não é mais filho único, o Fi tem uma risada igual a tua. A Sabrina decidiu fazer pedagogia, a Sandra tá fazendo mestrado. Meu time foi campeão do mundo e eu, definitivamente, não gosto de caminhões...

Me espera com um bandeja de negrinhos, que um dia vamos ter muita coisa para conversar. Ah, prometo que vou levar teus cds de música ruim e os papéis de carta que você pediu para eu guardar.

Escrito depois de um feriadão show, com céu azul e um monte de coisa bacana, mas com um pouco de saudade de quem faz uma falta danada...

4 comments:

Anonymous said...

Caramba Renata, quase chorei...Você tem a manha...Que lindo o seu texto...Nem posso comentar tanto porque é uma coisa tão particular sua...
Mas mudando de assunto: nem ela te fez ver o lindo lado azul da vida e esquecer o intermunicipal?

Memórias & Recordações said...
This comment has been removed by the author.
Memórias & Recordações said...

Renata, essa foi uma das coisas mais emocionantes que eu já li...sabe aqueles e-mail's que a gente recebe com uma histórinha com um final que te sacode, te dá um puxão?! Pois é, assim eu estou, com os olhos cheios de lágrimas e uma vontade louca de chorar.
Beijo
Lizi

Anonymous said...

Rê...
Essa doeu até em mim...
Como é triste perder pessoas que são parte de nós e saber q não as veremos tão cedo, q não brindaremos nossos momentos c elas...
Sei a falta danada q me fazem as pessoas q ainda amo e se foram...
Imagino sua dor...
Texto lindo, tocante e muito show!
Bjaum, Robertinha