Thursday, September 20, 2007

O 20 de setembro é daquele irmãozinho...

Não, eu vou não escrever sobre a Revolução Farroupilha, nem sobre o feriado histórico. Pois hoje, aquele meu irmãozinho estaria de aniversário.

Antes de eu nascer, minha mãe teve outra gravidez, só que a criança nasceu morta. E há 22 anos, eu ouço, todo dia 20 de setembro: “Hoje, aquele teu irmãozinho faria aniversário”.

Hoje, ele faria 24 anos. Sei que poucas pessoas viram ele, meu pai, minha vó e mais alguém que eu não lembro. Minha mãe sempre falou que preferiu não ver. Sabe-se lá o que esperar 9 meses um filho e ele já nascer morto. Espera-se a vida e se recebe o oposto. Sei também que todo o enxoval dele foi dado, não ficou nadinha... Meu único contato: uma vez foi no cemitério levar flores para ele, com meu pai. Só.

E como seria se ele fosse vivo? Será que o Fi (meu irmão mais novo também existiria), ou depois que eu nascesse meus pais teriam se contentado? Será que a gente ia se dar bem? Será que ele seria meu amigo? E o Fi, ciumento como é, será que ia se dar bem com ele? Meu vô sempre falou que ele seria bem gaudério. Seria até engraçado, um irmão, com nome bíblico, de bombacha e outro, com nome de velho, de moicano.

Mas só seria, porque hoje seria o aniversário do meu irmãozinho. E o “IA” nos finais dos verbos indica o futuro do pretérito, o que seria futuro, mas como nunca foi presente, já o colocamos no passado, mesmo não negando a possibilidade de um futuro, apesar de saber que nesse caso não há nem passado, presente e futuro.

Ele sempre vai ser “aquele irmãozinho”, irmãozinho porque nunca deixou de ser um recém nascido e aquele porque é a maneira de se definir algo distante, mas ainda assim presente. Ele não é um irmãozinho que ocupa um lugar na mesa, ou no sofá, que tem voz, rosto, gostos, ele não sai pra balada, nem chega tarde, não dá preocupação, nem alegrias. Então ele é aquele.

Como aquela pessoa que não quer ficar com a gente. Aquela vizinha chata. Aquele colega que faz pergunta no final da aula... Aquele, que por algum motivo se tornou distante ou nos o colocamos distante e ao mesmo tempo, de alguma forma, está presente.

Hoje, aquele meu irmãozinho estaria de aniversário. Mas o verbo é conjugado no futuro do pretérito e ele é aquele. Aquele que nasceu e morreu num 20 de setembro de 1983, mas nunca vai deixar de ser meu irmãozinho.

1 comment:

Memórias & Recordações said...

É só ficar alguns dias sem ler, e quando volto...SURPRESA. É impressionante como as histórias, (ou estórias) se parecem, mas acho que eu não saberia falar do assunto com tanta destreza como tu falas.
São coisas que ficaram dentro de um baú, e agora aberto por esse texto.
Renatinha... tu falas por mim.