Seis de março de 2011
Tinha sete anos quando dormi fora de casa pela primeira vez, passei uma semana na casa dos meus padrinhos, na rua de trás da minha. E na época, foi uma aventura e tanto! Depois, tinha 22 quando dormi fora do meu país, pela primeira vez. Foi em Buenos Aires e foram apenas três noites, estava de excursão para o show da Madonna.
Essa é minha primeira noite em Barcelona e a situação é outra. Vou passar dois meses fora de casa. Sempre imaginei como seria a primeira noite que estaria em um país distante, não apenas por passeio, mas para morar por um tempo. Pois, em março, o meu endereço será Calle Calábria, 86, 3-2. Ah, estou morando num apartamento.
Minha família, um casal, são professores universitários. Tem um rapaz americano e um coreano, também de intercâmbio. Meu quarto tem as paredes rosas, um espelho imenso, um roupeiro branco e uma janela minúscula, que dá para a parede do apartamento da frente. Ainda bem que tenho uma luminária, porque a luz é bem fraquinha.
Ainda assim, acho que vou passar muito tempo dentro desde quarto, espero que minhas vistas não cansem. Hoje, Já me perguntei várias vezes, porque trouxe apenas três livros? Espero deitar e dormir, hoje. Estou cansada e com dor de cabeça, faz bastante frio aqui e acho que logo estarei gripada.
Estou resistinto bravamente para me deitar. Quer coisa mais íntima que a cama da gente? Eu estou num país que não é o meu, numa família que não conheço e o pior, num colchão que não tem a forma do meu corpo e com travesseiro que não ter as marcas das minhas lágrimas.
Na casa dos meus padrinhos, aos sete anos, eu chorei e acabei passando as outras noites no quarto com as minhas primas. Em Beunos Aires, eu estava eufórica e já um pouco bêbada. E agora? Na primeira noite na Espanha e eu estou como estava antes da viagem... Apenas estou. Não tenho vontade chorar, não tenho vontade de rir. Estou aqui, só.
Sete de março de 2011
Acordei a pouco e para minha surpresa, dormi a noite inteira. Sem choros, sem perguntas do tipo “o que estou fazendo aqui?”, sem medos e inseguranças. Devo ter deixado a menininha covarde que mora em mim no Brasil.
Cheguei até a sonhar, com a minha vó e a minha prima. Achei estranho sonhar com as duas únicas pessoas, mais próximas de mim, que já morreram da minha família. Se bem que, por serem espíritos, elas são as únicas que podem me acompanhar aqui na Europa. Pensando nisso agora, me sinto muito bem acompanhada e pretegida, entendi porque não chorei.
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