Monday, March 14, 2011

"Passantes"

No curso de espanhol tenho colegas da Itália, da Alemanha, da França e da República Tcheca. Apesar de inúmeras diferenças, somos parecidas, já que por algum tempo estamos vivendo longe de nosso país e de nossas casas. Sei pouca coisa delas e elas tão pouco sabem de mim.

Não penso que são pessoas as quais possa ter um grande amizade, embora vá me lembrar para sempre delas. Talvez daqui alguns anos vá forçar a memória para me certificar se a Jana era a loira eslovena ou a alemã morena.

E já percebi que essas pessoas, que sem fundamento nenhum denomino como passantes, pois estão como eu, passando por uma baita e diferente experiência de vida e estão passando pela minha vida, logo são passantes. Então os passantes são muito comuns numa situação como essa.

Outro dia sai sozinha para ver um show de Flamenco e terminei a noite na mesa de um bar com mais oito pessoas, todas estrangeiras, todas passantes. Erámos homens e mulheres que nos comportamos durante algumas horas como velhos amigos.

Bebemos, brindamos, conversamos e brincamos. E nunca tínhamos nos vistos antes. Nos despedimos com beijos e abraços e cada um vai embora sem saber nada do outro, sem compromissos de novos emcontros nem nada, no melhor estilo viver o momento.

No domingo estava olhando o mapa, procurando o Parque da Ciutadela, dentro do ônibus, quando chegou uma passante da Grécia, me perguntando onde descia para o mesmo parque. Acabamos indo juntas para o local, antes ainda paramos para almoçar. Chegando na Ciutadela, cada uma foi para um lado. Devo ter passado por ela no parque, mas não a vi.

Nesses encontros e despedidas não há lamentações ou coisas do tipo, sabemos e aceitamos a nossa condição de viajantes e de passantes. No começo, pensei que isso era orgulho ou até mesmo, arrogância, mas agora já sei que não é, é apenas resignação.

Tem uma professora que todo dia faz uma brincadeira com a gente. Todos os dias temos que nos apresentar, acrescentando uma nova informação. Ela diz que é para a gente praticar o vocabulário, se conhecer mais e não esquecermos uma da outra. Eu já penso que é para nos mesmas, não nos esquecermos de quem somos. Do que há de permanente enquanto passamos.

1 comment:

Anonymous said...

Belo texto, bela reflexão.
Bjs, Chico.