Monday, October 29, 2007

Tête-à-tête

O livro tem quase 500 páginas, é da Hazel Rowley e fala da história do maior casal da história: Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Gosto também do John Lennon e da Yoko Ono, do Sid Vicius e da Nancy Spungem, de Cristo e da Maria Madalena... Mas esses foram apenas casais, um do outro. Já Sartre e Simone foram do mundo, sem deixar de serem um do outro.

Sartre, por se achar feio, resolveu conquistar todas as mulheres que quisesse, pelas palavras. Simone deu graças a Deus por seu pai não ter dinheiro para lhe pagar um bom dote. Acabaram se encontrando, felizmente. Antes de qualquer coisa, eles tinham um trato de dividir tudo, inclusive os inúmeros casos paralelos que tinham, o que muitas vezes resultava numa multiplicação de casais.

Sim, uma baita putaria, na década de 30, 40, 50... Era Simone com amigo de Sartre, Sartre com alunas da Simone, alunas e professora. Mas nunca deixaram de ser um do outro, por toda a vida. Passavam até dois anos sem se ver, sem cobranças. E por aí vai. Se acho isso certo? Não sei. Mas sim, acho muito melhor aceitar o outro com toda a liberdade que está condicionada num ser.

Existe algo mais raro do que aceitar a liberdade do outro? Não é questão de gostar. A Simone era possessiva ao extremo. Sartre, um ciumento de plantão. E ambos eram inteligentes o suficiente para saber que aprisionar o outro é limitar. E o mundo já nos impõe limites demais, então não seriam eles a serem mais uma pedra no caminho de quem amavam.

Não aceitamos nem os defeitos perdoáveis dos outros, quanto mais a condição humana de mudar de idéia, de experimentar, de buscar novas pessoas... Não acho que ser fiel, até que morte os separe, seja impossível. Apenas penso que uma pessoa é uma possibilidade e trás consigo muitas outras possibilidades.

Falta de romantismo? Liberdade? Existencialismo filosófico de boteco? Utopia? Pouca vergonha? Talvez um pouco de tudo. Pois, a liberdade aceita tudo. Como a Simone diz numa certa altura do livro: “Qualquer tête-à-tête que tenha com Sartre, vale mais que uma vida inteira”. É isso!

1 comment:

Anonymous said...

Graças a Deus os feios podem conquistar alguém pelas palavras...
A liberdade é a melhor coisa que existe... O direito a liberdade o é na verdade...
Temos a liberdade de querer quem quisermos mesmo sabendo que aquela não é a pessoa certa!
Quantas pessoas certas temos na vida? Já ouvi dizer que são três...
A Simone (pelo que inferi do que tu contou) achou a pessoa certa em Sartre, mas mesmo assim passava até dois anos sem o vê-lo. "Como é possível?" pensariam os ortodoxos rotuladores e guardiões da "moral e da ética" que existem no mundo...
Acondição humana é uma maravilha e é ela que nos dá o direito de entre milhões, bilhões de pessoas querer estar com uma só.