Como todo mundo, ela não está satisfeita com o que é. Queria ser mais aberta com as pessoas, mais simpática, menos emburrada. Mas ela é aquela que não tem noção de como é especial, das qualidades raras que tem.
Como muitas, ela poderia ser mais uma estudante de direito. Mas ela é aquela que será uma excelente promotora de justiça. Como muitos, poderia pensar nisso almejando dinheiro, status e outras coisas medíocres, comuns hoje em dia. Mas ela é aquela que tem um amor incondicional por essa profissão e isso, combinado com a personalidade forte e decidida que tens e a dedicação necessária, é certeza de sucesso. E de pessoas mais felizes.
Nesse mundo caótico e injusto, ela, como todo mundo poderia aceitar as coisas. Mas ela é aquela que é sincera, que gosta das coisas certas e talvez por isso, pague um preço, se sinta só. Apesar da mãe, que tanto ama e do pai que aprendeu a levar sempre dentro do peito, apesar de pouco ter convivido. Como muita gente que perde alguém que ama cedo demais, ela poderia se fazer de vítima. Mas ela é aquela que tem a grandeza de amar o que não está mais presente fisicamente, porque tem a rara consciência de que levamos quem amamos sempre conosco.
Como todo mundo que não gosta de fumar, de beber e nem de baladas, ela poderia ser moralista. Mas ela é aquela que se permite chutar o balde nos shows da Ivete Sangalo e no Planeta Atlântida, e sim, também tem seus vícios: dormir e comer.
Como todo mundo, ela poderia reclamar da chuva. Mas ela é aquela que aproveita para refletir e pensar na vida. Como todo mundo, ela poderia planejar sua vida e não viver as surpresas que surgem no caminho. Mas ela é aquela que planeja e, sabe que uma dose de esforço é necessária para tudo e vive tudinho, que o mundo lhe oferece. Como todo mundo, ela poderia, apenas namorar. Mas ela é aquela que faz do namorado, o melhor amigo, que é apaixonada, que ama, que respeita, que admira.
Como todo mundo, ela poderia querer dividir. Mas ela é aquela que além de dividir, sabe somar e multiplicar. Ela não é como todo mundo que luta contra o que é. Ela é aquela que prefere o caminho difícil. Prefere aprender a se respeitar e se aceitar. Não luta contra sua própria essência.
Talvez seja essa a diferença entre ela e todo mundo. Ela poderia ser apenas uma “garota certinha”, mas ela é aquela pessoa verdadeira. E todo mundo, estranha e ao mesmo tempo se encanta, pois não é sempre que encontramos pessoas verdadeiras, que antes de serem (qualquer coisa), são humanas!
Andiara tem 18 anos e é a personagem desse texto. Ela é namorada do meu primo, Jú, tem um sorriso lindo e não é nada emburrada, como se acha. A gente sempre se fala no msn e morremos de saudades de tudo que já fizemos juntas e principalmente, do que ainda vamos fazer!
Saturday, September 29, 2007
Tuesday, September 25, 2007
Solidão no dia do coração
O título acima é bonitinho e até rima, mas o assunto é triste, ou solitário, no mínimo. Estava lendo na última TPM, uma entrevista com a atriz Alessandra Negrini e lá pelas tantas ela fala que sente uma solidão incrível, que nem mesmo seu marido tem conhecimento e justifica sua fama de difícil por se sentir sozinha.
Eu gostei de saber que até ela sente solidão, porque eu sinto e como todo solitário acho que não tenho ninguém (olha como solidão nos torna mais inteligente!) E sim, a fama de difícil e chata também me acompanham. Nem sempre a solidão vem sozinha, mas raramente ela vem acompanhada de coisas boas. Às vezes acho que minha mania de ter que falar tudo o que sinto e penso é um prato cheio para solidão, porque isso me faz lembrar do vazio que sinto, falar ou escrever, que seja, é uma maneira de se esvaziar.
E hoje me senti tri sozinha, sei lá o porquê, mas a tal solidão foi a única parceria. Tinha um Renato Russo na minha cabeça cantando “Hoje a tristeza não é passageira...” Que se revezava com o Wander Wildner e “Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro”. Até a Laura Paussini apareceu com sua La Solitude. E eu pensei que quis aprender italiano porque acho uma língua romântica e triste, logo me lembra solidão. Nem digo que falo italiano porque é solitário.
Mas no meio da tarde abri meus e-mails e vi lá Dia Mundial do Coração, da Roberta, só podia ser dela! Ela é uma das pessoas mais doces que eu conheço e é uma baita escritora! Eu me senti menos sozinha com esse e-mail. E aí eu me lembrei do que tava escrito no meu signo ontem: coisas boas virão daqui para a frente. E por um instante até quis acreditar. Mas aí minha companheira inseparável me lembrava que era daqui para frente, não agora, porque hoje eu seria só dela.
Neste dia solitário aprendi que existe um dia mundial do coração, e achei ironia, fiquei feliz porque a Rô é minha amiga. E por mais que eu vá dormir me sentindo sozinha, eu vou pedir para o papai do céu, alguém que encha meu coração de cores, em troca prometo ser uma boa menina! Uma que não usa a solidão para se punir...
Eu gostei de saber que até ela sente solidão, porque eu sinto e como todo solitário acho que não tenho ninguém (olha como solidão nos torna mais inteligente!) E sim, a fama de difícil e chata também me acompanham. Nem sempre a solidão vem sozinha, mas raramente ela vem acompanhada de coisas boas. Às vezes acho que minha mania de ter que falar tudo o que sinto e penso é um prato cheio para solidão, porque isso me faz lembrar do vazio que sinto, falar ou escrever, que seja, é uma maneira de se esvaziar.
E hoje me senti tri sozinha, sei lá o porquê, mas a tal solidão foi a única parceria. Tinha um Renato Russo na minha cabeça cantando “Hoje a tristeza não é passageira...” Que se revezava com o Wander Wildner e “Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro”. Até a Laura Paussini apareceu com sua La Solitude. E eu pensei que quis aprender italiano porque acho uma língua romântica e triste, logo me lembra solidão. Nem digo que falo italiano porque é solitário.
Mas no meio da tarde abri meus e-mails e vi lá Dia Mundial do Coração, da Roberta, só podia ser dela! Ela é uma das pessoas mais doces que eu conheço e é uma baita escritora! Eu me senti menos sozinha com esse e-mail. E aí eu me lembrei do que tava escrito no meu signo ontem: coisas boas virão daqui para a frente. E por um instante até quis acreditar. Mas aí minha companheira inseparável me lembrava que era daqui para frente, não agora, porque hoje eu seria só dela.
Neste dia solitário aprendi que existe um dia mundial do coração, e achei ironia, fiquei feliz porque a Rô é minha amiga. E por mais que eu vá dormir me sentindo sozinha, eu vou pedir para o papai do céu, alguém que encha meu coração de cores, em troca prometo ser uma boa menina! Uma que não usa a solidão para se punir...
Sunday, September 23, 2007
Calmaria
Eu estou mudando, não há como negar, estou mais calma, para a minha própria surpresa. Fazer o trabalho de conclusão, para muitos, é um stress. Eu que sempre fui impaciente, nervosa, ansiosa, do tipo que morre afogada num copo d’água estou encarando esse tal de TCC. Pelas minhas características, seria do tipo que iria pirar!
Até que não, dá trabalho? Dá. Precisa de dedicação? Precisa. Eu gosto do assunto? Adoro. Então vamos embora. Meu trabalho é sobre notícia em rádios FM, para isso analiso dois programas, de 3 horas de duração, de rádios diferentes. Fiquei uma semana madrugando para gravá-los e desde então estou decupando. Decupar é transcrever tudo, mas tudo o que é gravado, seja em áudio ou vídeo. Até filme de Hollywood tem que ser decupado.
Vinte e cinco horas de gravação me esperavam. E vamos lá, sem reclamar. Coloquei meu rádio do lado do computador e, dá play na fita, rebobina a fita, escuta de novo, confere, descobre o nome da música chata que começou a tocar... Assim anda a minha rotina, às vezes duas folhas digitadas, são pouco mais de 2 minutos de fala no rádio...
Hoje, estava fazendo isso, na fita 2, da gravação 4, do programa 1. Já tinha decupado 8 horas, o que dá 53 laudas digitadas. Escuto um barulho estranho e adivinha: a fita arrebentou! O que eu fiz? Chorei um pouco, mas depois me arrumei e sai. Fui olhar Sonho de uma Noite de Verão no teatro São Pedro. Voltei e agora estou escrevendo isso que você está lendo.
Se fosse há alguns meses atrás, eu teria pirado, quebrado todas as outras 30 fitas que eu tenho com as gravações dos programas. Teria atirado o rádio pela janela. Quebrado o teclado do computador. Brigado com meu pai, com minha mãe, com meu irmão, com o cachorro, com o vizinho, com o cachorro do vizinho...
Claro que fiquei louca com esse acidente, mas vou mandar um e-mail para minha orientadora contando o que aconteceu. Vou tentar conseguir a gravação na rádio, se não der, gravo tudo de novo e começo a decupar tudo de novo. Paciência! Eu preciso disso!
Agora?! Posso até chorar, afinal, a raiva precisa ser extravasada. Mas tenho coisas mais importantes para fazer, pintar as unhas, ligar para a Lê, combinar a panqueca de amanhã, ler o último gibi da Magali que comprei, estudar para a prova do Ziegler...
Estou mudando, não há como negar...
Até que não, dá trabalho? Dá. Precisa de dedicação? Precisa. Eu gosto do assunto? Adoro. Então vamos embora. Meu trabalho é sobre notícia em rádios FM, para isso analiso dois programas, de 3 horas de duração, de rádios diferentes. Fiquei uma semana madrugando para gravá-los e desde então estou decupando. Decupar é transcrever tudo, mas tudo o que é gravado, seja em áudio ou vídeo. Até filme de Hollywood tem que ser decupado.
Vinte e cinco horas de gravação me esperavam. E vamos lá, sem reclamar. Coloquei meu rádio do lado do computador e, dá play na fita, rebobina a fita, escuta de novo, confere, descobre o nome da música chata que começou a tocar... Assim anda a minha rotina, às vezes duas folhas digitadas, são pouco mais de 2 minutos de fala no rádio...
Hoje, estava fazendo isso, na fita 2, da gravação 4, do programa 1. Já tinha decupado 8 horas, o que dá 53 laudas digitadas. Escuto um barulho estranho e adivinha: a fita arrebentou! O que eu fiz? Chorei um pouco, mas depois me arrumei e sai. Fui olhar Sonho de uma Noite de Verão no teatro São Pedro. Voltei e agora estou escrevendo isso que você está lendo.
Se fosse há alguns meses atrás, eu teria pirado, quebrado todas as outras 30 fitas que eu tenho com as gravações dos programas. Teria atirado o rádio pela janela. Quebrado o teclado do computador. Brigado com meu pai, com minha mãe, com meu irmão, com o cachorro, com o vizinho, com o cachorro do vizinho...
Claro que fiquei louca com esse acidente, mas vou mandar um e-mail para minha orientadora contando o que aconteceu. Vou tentar conseguir a gravação na rádio, se não der, gravo tudo de novo e começo a decupar tudo de novo. Paciência! Eu preciso disso!
Agora?! Posso até chorar, afinal, a raiva precisa ser extravasada. Mas tenho coisas mais importantes para fazer, pintar as unhas, ligar para a Lê, combinar a panqueca de amanhã, ler o último gibi da Magali que comprei, estudar para a prova do Ziegler...
Estou mudando, não há como negar...
Thursday, September 20, 2007
O 20 de setembro é daquele irmãozinho...
Não, eu vou não escrever sobre a Revolução Farroupilha, nem sobre o feriado histórico. Pois hoje, aquele meu irmãozinho estaria de aniversário.
Antes de eu nascer, minha mãe teve outra gravidez, só que a criança nasceu morta. E há 22 anos, eu ouço, todo dia 20 de setembro: “Hoje, aquele teu irmãozinho faria aniversário”.
Hoje, ele faria 24 anos. Sei que poucas pessoas viram ele, meu pai, minha vó e mais alguém que eu não lembro. Minha mãe sempre falou que preferiu não ver. Sabe-se lá o que esperar 9 meses um filho e ele já nascer morto. Espera-se a vida e se recebe o oposto. Sei também que todo o enxoval dele foi dado, não ficou nadinha... Meu único contato: uma vez foi no cemitério levar flores para ele, com meu pai. Só.
E como seria se ele fosse vivo? Será que o Fi (meu irmão mais novo também existiria), ou depois que eu nascesse meus pais teriam se contentado? Será que a gente ia se dar bem? Será que ele seria meu amigo? E o Fi, ciumento como é, será que ia se dar bem com ele? Meu vô sempre falou que ele seria bem gaudério. Seria até engraçado, um irmão, com nome bíblico, de bombacha e outro, com nome de velho, de moicano.
Mas só seria, porque hoje seria o aniversário do meu irmãozinho. E o “IA” nos finais dos verbos indica o futuro do pretérito, o que seria futuro, mas como nunca foi presente, já o colocamos no passado, mesmo não negando a possibilidade de um futuro, apesar de saber que nesse caso não há nem passado, presente e futuro.
Ele sempre vai ser “aquele irmãozinho”, irmãozinho porque nunca deixou de ser um recém nascido e aquele porque é a maneira de se definir algo distante, mas ainda assim presente. Ele não é um irmãozinho que ocupa um lugar na mesa, ou no sofá, que tem voz, rosto, gostos, ele não sai pra balada, nem chega tarde, não dá preocupação, nem alegrias. Então ele é aquele.
Como aquela pessoa que não quer ficar com a gente. Aquela vizinha chata. Aquele colega que faz pergunta no final da aula... Aquele, que por algum motivo se tornou distante ou nos o colocamos distante e ao mesmo tempo, de alguma forma, está presente.
Hoje, aquele meu irmãozinho estaria de aniversário. Mas o verbo é conjugado no futuro do pretérito e ele é aquele. Aquele que nasceu e morreu num 20 de setembro de 1983, mas nunca vai deixar de ser meu irmãozinho.
Antes de eu nascer, minha mãe teve outra gravidez, só que a criança nasceu morta. E há 22 anos, eu ouço, todo dia 20 de setembro: “Hoje, aquele teu irmãozinho faria aniversário”.
Hoje, ele faria 24 anos. Sei que poucas pessoas viram ele, meu pai, minha vó e mais alguém que eu não lembro. Minha mãe sempre falou que preferiu não ver. Sabe-se lá o que esperar 9 meses um filho e ele já nascer morto. Espera-se a vida e se recebe o oposto. Sei também que todo o enxoval dele foi dado, não ficou nadinha... Meu único contato: uma vez foi no cemitério levar flores para ele, com meu pai. Só.
E como seria se ele fosse vivo? Será que o Fi (meu irmão mais novo também existiria), ou depois que eu nascesse meus pais teriam se contentado? Será que a gente ia se dar bem? Será que ele seria meu amigo? E o Fi, ciumento como é, será que ia se dar bem com ele? Meu vô sempre falou que ele seria bem gaudério. Seria até engraçado, um irmão, com nome bíblico, de bombacha e outro, com nome de velho, de moicano.
Mas só seria, porque hoje seria o aniversário do meu irmãozinho. E o “IA” nos finais dos verbos indica o futuro do pretérito, o que seria futuro, mas como nunca foi presente, já o colocamos no passado, mesmo não negando a possibilidade de um futuro, apesar de saber que nesse caso não há nem passado, presente e futuro.
Ele sempre vai ser “aquele irmãozinho”, irmãozinho porque nunca deixou de ser um recém nascido e aquele porque é a maneira de se definir algo distante, mas ainda assim presente. Ele não é um irmãozinho que ocupa um lugar na mesa, ou no sofá, que tem voz, rosto, gostos, ele não sai pra balada, nem chega tarde, não dá preocupação, nem alegrias. Então ele é aquele.
Como aquela pessoa que não quer ficar com a gente. Aquela vizinha chata. Aquele colega que faz pergunta no final da aula... Aquele, que por algum motivo se tornou distante ou nos o colocamos distante e ao mesmo tempo, de alguma forma, está presente.
Hoje, aquele meu irmãozinho estaria de aniversário. Mas o verbo é conjugado no futuro do pretérito e ele é aquele. Aquele que nasceu e morreu num 20 de setembro de 1983, mas nunca vai deixar de ser meu irmãozinho.
Tuesday, September 18, 2007
Carência
Eu quero o sol surgindo no meio da tarde de um dia cinza. Uma chuva (forte) de verão no fim de uma tarde quente. E gostar por não ter um guarda-chuva na bolsa. E curtir a chuva. E depois fazer um pedido quando aparecer o arco-íris. E ter a certeza medíocre que banhos de chuva não dão gripe e a certeza bendita que, assim como existe um pote de ouro no fim do aro-íris, os desejos mais inocentes sempre se realizam.
Eu quero a palavra certa para escrever. E a certeza de que vale a pena. A ilusão de que tenho inspiração para criar histórias. E a consciência que transpiração é tão necessário quanto a tal inspiração. E a impressão que a melhor história é a que vai surgir, um dia, do nada, quando eu não tiver buscando inspiração. Quero um alfabeto inteiro de possibilidades.
Eu quero o abraço apertado do meu afilhado quando eu me dou conta de que o tempo passa rápido demais. O cheiro da minha mãe quando eu fico com medo do que vai vir pela frente. O sorriso calmo do meu pai quando eu perco a calma. Os passos pesados do meu irmão quando me sentir longe demais. Quero ter a consciência de aproveitar tudo isso porque um dia não terei mais. E não me lamentar depois.
Quero algodão doce (rosa) quando sentir saudade da minha infância. Quero sair por aí de mochila quando precisar de um tempo. E voltar com uma mochila cheia quando perceber que chegou a hora. Quero dançar música egípcia, de vermelho, para provocar. E dançar música turca, de azul, para encantar. E saber que a mistura música diferente + dança sensual sempre causa uma reação. E saber lidar com essa reação.
Quero abraço, braços, beijo, boca, língua sempre que sentir saudade de ti. E corpo para percorrer. E tatuagens para descobrir. E entender que nem sempre eu terei sua mão e sua atenção. Quero dias de céu azul e noites estreladas. Quero praia vazia e pista cheia. Quero vinho para curtir e cerveja para divertir.
Quero juntar os pedacinhos de carência, para, quem sabe um dia, me tornar inteira.
Eu quero a palavra certa para escrever. E a certeza de que vale a pena. A ilusão de que tenho inspiração para criar histórias. E a consciência que transpiração é tão necessário quanto a tal inspiração. E a impressão que a melhor história é a que vai surgir, um dia, do nada, quando eu não tiver buscando inspiração. Quero um alfabeto inteiro de possibilidades.
Eu quero o abraço apertado do meu afilhado quando eu me dou conta de que o tempo passa rápido demais. O cheiro da minha mãe quando eu fico com medo do que vai vir pela frente. O sorriso calmo do meu pai quando eu perco a calma. Os passos pesados do meu irmão quando me sentir longe demais. Quero ter a consciência de aproveitar tudo isso porque um dia não terei mais. E não me lamentar depois.
Quero algodão doce (rosa) quando sentir saudade da minha infância. Quero sair por aí de mochila quando precisar de um tempo. E voltar com uma mochila cheia quando perceber que chegou a hora. Quero dançar música egípcia, de vermelho, para provocar. E dançar música turca, de azul, para encantar. E saber que a mistura música diferente + dança sensual sempre causa uma reação. E saber lidar com essa reação.
Quero abraço, braços, beijo, boca, língua sempre que sentir saudade de ti. E corpo para percorrer. E tatuagens para descobrir. E entender que nem sempre eu terei sua mão e sua atenção. Quero dias de céu azul e noites estreladas. Quero praia vazia e pista cheia. Quero vinho para curtir e cerveja para divertir.
Quero juntar os pedacinhos de carência, para, quem sabe um dia, me tornar inteira.
Thursday, September 13, 2007
Divulgando o Tele Senado!
Não precisamos entrar no mérito do conteúdo. Mas a capa do jornal Diário Gaúcho de hoje, 13 de setembro, estava demais, muito boa mesmo!
Um dia depois que o Senado absolveu o Renan Calheiros e fez o Brasil inteiro engolir uma pizza amarga, exibindo um enorme nariz de palhaço, todos os jornais se manifestaram, mas pouco com a ironia e audácia do jornal Diário Gaúcho. Esse mesmo, aquele jornal de pobre, que custa centavinhos, sensacionalista, que escorre sangue pelas páginas e exibe mulher semi-nua na capa...
Grande Diário Gaúcho, eis a manchete do dia “Quer pizza? Ligue para o Tele Senado: 61 3311 4141”.
Eu que trabalho com política e sei o telefone do Senado não acreditei quando vi o número na capa. Tômara que muita gente tenha ligado para confirmar! Se de cada dez leitores, um sucumbiu a curiosidade e pegou o telefone para confirmar, já estamos no lucro. Há, se mais jornais tivessem a coragem de divulgar o telefone do Senado Federal, muitas publicações ditas elitizadas, não publicam nem o telefone do posto de saúde da esquina!
Adorei, como estudante de comunicação e principalmente, como cidadã. Mandei e-mail para o editor parabenizando pela audácia, foi merecido! Enquanto todos os outros jornais divulgavam a vergonha brasileira e o sabor amargo dessa pizza, o Diário Gaúcho dizia nas entrelinhas: “Reclama, tá difícil de entender essa piada, tá se sentindo um palhaço no meio do picadeiro verde-amarelo, a pizza que enfiaram goela abaixo tá amarga? Reclama! Aqui está o número dos pizzaiolos!”
Eu liguei! E você?
Sunday, September 09, 2007
Um pouco de saudade
Tem dias que eu acordo pensando muito em ti, como se tivesse a certeza que a qualquer momento você vai chegar aqui em casa, me chamando de batata. E a gente vai conversar, vamos rir, eu vou achar graça da sua risada que faz você perder o ar... Mas você não vem. Nunca mais vai vim.
Não fomos o que podemos chamar de grandes amigas, mas éramos primas. Não estávamos sempre juntas, mas ficávamos sempre juntas. Sempre fomos tão diferentes, em tudo. Você gostava da Mara Maravilha e eu da Xuxa, era morena e eu loira, gostava de brincar de casinha e eu de escritório, jogava vôlei e eu futebol, preferia biologia e eu literatura, fazia enfermagem e sonhava com uma família e eu queria escrever e correr o mundo. Era gremista e falante, nossa como tu falava! Independente disso, eu queria muito que você ainda fosse!
Lembra da festa de formatura da Sandra? Foi nossa última festa, você dançou a noite toda. Eu lembro. E de todo o resto: Dos aniversários, das apostas de quem comeria mais negrinhos, dos verões, quando eu ia para Imbé e você, Tramandaí, o que na ótica de duas crianças era uma distância imensa. E os sustos que dávamos na vó!? Nossa, quantos castigos por causa disso. Virada de ano era (pra mim) apenas ensaio para o teu aniversário. Teve um ano que você me pediu um cd do Daniel (outra diferença, tu sempre gostou de música ruim), eu dei, e junto, um da Tequila Baby (nunca desisti de fazer teu gosto evoluir), ai no meu aniversário, tu apareceu com um cd da Sandy e Júnior que eu nunca ouvi, mas confesso, nunca vou colocar fora.
Tu sempre fez tudo primeiro que eu, apesar de ser mais nova, talvez porque tivesse pouco tempo. Acho que na minha vida inteira eu não vou ter metade dos namorados que você teve em 18 anos. O que eu mais gostava em ti era, que apesar da vida nunca ter sido fácil contigo, tu sempre estava bem, feliz, alegre. (Outra diferença!) Agora é péssima essa certeza que não vou mais te encontrar na Unisinos, que não vai ter você na minha formatura, que não vamos no próximo Grenal, que não vamos nos encontrar na casa de algum tio ou no centro...
Lembro das coisas ruins também, que estão longe de ser as nossas briguinhas infantis... Aquele caminhão, naquela tarde chuvosa e o silêncio depois... O dia seguinte teve um sol lindo e céu azul (como o Grêmio, tu falaria com certeza), lembro do Juliano chorando, do meu pai dirigindo quieto e sério (lembra, ele nunca é sério e sempre dirigi cantando), do por quê estampado nos rostos de todos os teus amigos... Depois disso, tanta coisa aconteceu, e sempre que vou para praia lembro de ti, talvez porque suas cinzas estão lá, tornando você parte de tudo...
Agora eu estou morena, o Juliano e o Dé já são pais, o Dionatah não é mais filho único, o Fi tem uma risada igual a tua. A Sabrina decidiu fazer pedagogia, a Sandra tá fazendo mestrado. Meu time foi campeão do mundo e eu, definitivamente, não gosto de caminhões...
Me espera com um bandeja de negrinhos, que um dia vamos ter muita coisa para conversar. Ah, prometo que vou levar teus cds de música ruim e os papéis de carta que você pediu para eu guardar.
Escrito depois de um feriadão show, com céu azul e um monte de coisa bacana, mas com um pouco de saudade de quem faz uma falta danada...
Não fomos o que podemos chamar de grandes amigas, mas éramos primas. Não estávamos sempre juntas, mas ficávamos sempre juntas. Sempre fomos tão diferentes, em tudo. Você gostava da Mara Maravilha e eu da Xuxa, era morena e eu loira, gostava de brincar de casinha e eu de escritório, jogava vôlei e eu futebol, preferia biologia e eu literatura, fazia enfermagem e sonhava com uma família e eu queria escrever e correr o mundo. Era gremista e falante, nossa como tu falava! Independente disso, eu queria muito que você ainda fosse!
Lembra da festa de formatura da Sandra? Foi nossa última festa, você dançou a noite toda. Eu lembro. E de todo o resto: Dos aniversários, das apostas de quem comeria mais negrinhos, dos verões, quando eu ia para Imbé e você, Tramandaí, o que na ótica de duas crianças era uma distância imensa. E os sustos que dávamos na vó!? Nossa, quantos castigos por causa disso. Virada de ano era (pra mim) apenas ensaio para o teu aniversário. Teve um ano que você me pediu um cd do Daniel (outra diferença, tu sempre gostou de música ruim), eu dei, e junto, um da Tequila Baby (nunca desisti de fazer teu gosto evoluir), ai no meu aniversário, tu apareceu com um cd da Sandy e Júnior que eu nunca ouvi, mas confesso, nunca vou colocar fora.
Tu sempre fez tudo primeiro que eu, apesar de ser mais nova, talvez porque tivesse pouco tempo. Acho que na minha vida inteira eu não vou ter metade dos namorados que você teve em 18 anos. O que eu mais gostava em ti era, que apesar da vida nunca ter sido fácil contigo, tu sempre estava bem, feliz, alegre. (Outra diferença!) Agora é péssima essa certeza que não vou mais te encontrar na Unisinos, que não vai ter você na minha formatura, que não vamos no próximo Grenal, que não vamos nos encontrar na casa de algum tio ou no centro...
Lembro das coisas ruins também, que estão longe de ser as nossas briguinhas infantis... Aquele caminhão, naquela tarde chuvosa e o silêncio depois... O dia seguinte teve um sol lindo e céu azul (como o Grêmio, tu falaria com certeza), lembro do Juliano chorando, do meu pai dirigindo quieto e sério (lembra, ele nunca é sério e sempre dirigi cantando), do por quê estampado nos rostos de todos os teus amigos... Depois disso, tanta coisa aconteceu, e sempre que vou para praia lembro de ti, talvez porque suas cinzas estão lá, tornando você parte de tudo...
Agora eu estou morena, o Juliano e o Dé já são pais, o Dionatah não é mais filho único, o Fi tem uma risada igual a tua. A Sabrina decidiu fazer pedagogia, a Sandra tá fazendo mestrado. Meu time foi campeão do mundo e eu, definitivamente, não gosto de caminhões...
Me espera com um bandeja de negrinhos, que um dia vamos ter muita coisa para conversar. Ah, prometo que vou levar teus cds de música ruim e os papéis de carta que você pediu para eu guardar.
Escrito depois de um feriadão show, com céu azul e um monte de coisa bacana, mas com um pouco de saudade de quem faz uma falta danada...
Wednesday, September 05, 2007
Ponto de vista
Sempre escrevo de noite. Mas agora são 6h30 da manhã, acordei há uma hora, pois tenho que gravar dois programas de rádio para um trabalho da faculdade, não posso dormir e como não tem nada para fazer (por enquanto, depois vou ter 25 horas de gravação para decupar)... Resolvi escrever.
Não sei se muda alguma coisa. Mas de noite é melhor, não há nada para fazer, então só me resta escrever. O dia já acabou, já trabalhei, já estudei, já fui para academia, já me irritei, já me acalmei, me atrasei...
E agora, há tudo para fazer! E isso me deixa angustiada... Se eu tiver que parar no melhor do texto porque tá na hora de ir correr? Eu posso não ir, claro, mas depois vou ficar irritada. O texto vai ficar pior do que já é. Se eu for mais tarde posso me atrasar toda, durante todo o dia.
Mas claro que agora a cabeça tá mais limpa (tipo colégio: estudar de manhã é melhor, estamos mais descansados e bláblá...) E será que para escrever isso é bom? A noite e, principalmente, a madrugada inspira, talvez pelo silêncio, pelo ar, pelas pessoas já entregues e cansadas, portanto sem máscaras, mais verdadeiras. Será que isso se reflete no que escrevo?
Talvez seja só um ponto de vista, até porque escrevo outras horas do dia, mas de noite, quando já fiz tudo o que tinha que fazer e só eu e as inspirações (ou pirações) que à noite as pessoas deixam escapar.
Não sei se muda alguma coisa. Mas de noite é melhor, não há nada para fazer, então só me resta escrever. O dia já acabou, já trabalhei, já estudei, já fui para academia, já me irritei, já me acalmei, me atrasei...
E agora, há tudo para fazer! E isso me deixa angustiada... Se eu tiver que parar no melhor do texto porque tá na hora de ir correr? Eu posso não ir, claro, mas depois vou ficar irritada. O texto vai ficar pior do que já é. Se eu for mais tarde posso me atrasar toda, durante todo o dia.
Mas claro que agora a cabeça tá mais limpa (tipo colégio: estudar de manhã é melhor, estamos mais descansados e bláblá...) E será que para escrever isso é bom? A noite e, principalmente, a madrugada inspira, talvez pelo silêncio, pelo ar, pelas pessoas já entregues e cansadas, portanto sem máscaras, mais verdadeiras. Será que isso se reflete no que escrevo?
Talvez seja só um ponto de vista, até porque escrevo outras horas do dia, mas de noite, quando já fiz tudo o que tinha que fazer e só eu e as inspirações (ou pirações) que à noite as pessoas deixam escapar.
Sunday, September 02, 2007
Utopia
Eu acordo, misteriosamente com 10 centímetros a mais e de bom humor, olho para aquele homem deitado na cama, lindo, inteligente, bom de cama e sei que ele me ama. Sei também que nossos filhos: Théo, Maria Eduarda e Ernesto, todos adotados, foram as melhores escolhas de nossas vidas.
Meu último livro está algumas semanas na lista dos mais vendidos, estou trabalhando num novo roteiro para o cinema, a adaptação de um livro do Jostein Gaarder. Minha paixão, o jornalismo, foi dando lugares a outros amores, mais brandos e com menos possibilidade de me decepcionar, mas tudo cria da comunicação. Quem diria, a assessoria que montei com o Júnior é hoje uma das maiores produtoras do país.
Depois de algumas temporadas no Belly Dance Ballet, dou aula para as presidiárias da penitenciária feminina da minha cidade, que eu ainda não decidi qual será, mas tenho certeza que deverá ter um mar lindo e azul por perto.
Até que fim consigo falar fluentemente alemão, para orgulho da minha avó que não pôde me ensinar tudo porque foi embora cedo demais. E não confundo mais vacanze com vacation, nada que umas férias no sul da Itália não resolvesse.
As pessoas estão mais humanas, os aviões mais seguros, os ladrões em extinção, os homens mais fiéis, meu irmão menos vagabundo, chocolate não engorda, negrinho é universal e silicone agora não é perecível.
O próximo projeto: Talvez um documentário sobre o interior da Nova Zelândia, ou a vida decadente de uma estrela pop ou ainda lançar a biografia de algum ex-presidente do Brasil. Um dia meu restaurante vegetariano sai do papel!
A vida segue, como tem de ser, com algumas risadas e outras cabeçadas, cada um atrás de seus sonhos ou vivendo vidinhas medíocres e eu, escrevendo minhas utopias.
Meu último livro está algumas semanas na lista dos mais vendidos, estou trabalhando num novo roteiro para o cinema, a adaptação de um livro do Jostein Gaarder. Minha paixão, o jornalismo, foi dando lugares a outros amores, mais brandos e com menos possibilidade de me decepcionar, mas tudo cria da comunicação. Quem diria, a assessoria que montei com o Júnior é hoje uma das maiores produtoras do país.
Depois de algumas temporadas no Belly Dance Ballet, dou aula para as presidiárias da penitenciária feminina da minha cidade, que eu ainda não decidi qual será, mas tenho certeza que deverá ter um mar lindo e azul por perto.
Até que fim consigo falar fluentemente alemão, para orgulho da minha avó que não pôde me ensinar tudo porque foi embora cedo demais. E não confundo mais vacanze com vacation, nada que umas férias no sul da Itália não resolvesse.
As pessoas estão mais humanas, os aviões mais seguros, os ladrões em extinção, os homens mais fiéis, meu irmão menos vagabundo, chocolate não engorda, negrinho é universal e silicone agora não é perecível.
O próximo projeto: Talvez um documentário sobre o interior da Nova Zelândia, ou a vida decadente de uma estrela pop ou ainda lançar a biografia de algum ex-presidente do Brasil. Um dia meu restaurante vegetariano sai do papel!
A vida segue, como tem de ser, com algumas risadas e outras cabeçadas, cada um atrás de seus sonhos ou vivendo vidinhas medíocres e eu, escrevendo minhas utopias.
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