De todos os textos que eu já li em defesa da regulamentação da profissão de jornalista, sem dúvida o que achei mais bonito é esse que reproduzo abaixo. O texto O acerto no erro, da jornalista Susana Vernieri, foi publicado no site do Sindicato dos Jornalistas do RS, no dia 16 de abril.
Faço das palavras da minha experiente colega, as minhas.
O acerto no erro
Susana Vernieri*
O prédio era destinado a ser um almoxarifado e foi transformado a fórceps em Faculdade. A sala de redação era recheada com máquinas de escrever antigas. As câmeras de TV eram pesadas e velhas. A ilha de edição, quase que analógica. O laboratório fotográfico, uma peneira. A biblioteca desatualizada. Nada parecia convidar a entrada naquela casa.
O atrativo era o erro. A liberdade de exercitar a falha. Não é teoria, técnica, arte que a Universidade de Jornalismo ensina, mas a possibilidade de se acreditar ser um humano. É esta sua justificativa maior. Dentro dela encontramos a geléia real da vida. O professor bom ensaia o espelho do futuro chefe exemplar. O ruim, nos alerta para os perigos do futuro. O coleguismo é amostra do que se poderá contar no ombro a ombro da jornada. Como norte de toda esta experiência está a tão desgastada palavra Ética.
O diploma serve para que se ateste perante a nós mesmos e aos outros, que empreendemos uma aventura ao centro da questão e estamos aptos a seguir viagem. Ele é documento imprescindível, passaporte para um mundo onde há menos tolerância para o erro. O espaço do profissionalismo não perdoa os fracos. A sociedade, muito em breve, irá cobrar do Supremo a decisão de acabar com a exigência do diploma para o exercício legal da profissão de jornalista caso isso venha acontecer. Toda população, em seu íntimo, quer uma Imprensa forte, pois sem palavra forte, o povo é escravo.
* Doutora pela Ufrgs, ex-professora de Jornalismo da Famecos, Fabico e Unisinos, trabalhou dez anos em Zero Hora
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