Tuesday, May 31, 2011

Dose

Tenho tentado, juro. Saído, me divertido, estudado, bebido, finjindo que está tudo bem.

Hoje até cantei, a tarde toda no serviço. Escutava música, cantava e chorava. Ninguém reclamou, não sei se por medo ou pena. Logo eu né? Que não cantava nunca. Quer dizer, sussurrava “Menino do Rio” no seu ouvido. Você sorria, me beijava e essa era a melhor maneira de falar que eu não canto nada.

Mas tenho tentado, de verdade. Fiz um curso de diagramação em In Design e logo quero fazer um de Photoshop. Viu? Tenho ocupado minha cabeça. Arrumei mais um emprego, numa ONG com centenas de crianças e pasme, estou a-do-ran-do, queria todas para mim. Elas me lembram o teu filho.

Mudei? É uma tentativa. Podem ser doses muito pequenas de vida sem você, onde a sua falta é a única coisa que sobra, mas é melhor assim do que sucumbir. Acho que antes eu era melhor, porém morrer é fundamental para continuar vivendo.

Antes eu não bebia todos os dias. Eu não sentia tanta preguiça. Antes eu não comia um xis e uma hora depois uma porção de polenta, nem pizza três vezes na semana. Antes eu não pedia cigarro para minhas amigas. Antes eu não perdia a paciência por tão pouco. Antes eu não era tão distraída. Antes eu não chegava atrasada.

Realmente, antes eu era uma pessoa melhor, mas não sabia abrir uma garrafa de vinho.

Sunday, May 29, 2011

Alquimia

Cozinhar é uma das maiores alquimias possíveis na face da terra. Desde criança, penso que a junção de vários ingredientes que se transformam em algo totalmente novo e fundamental para a nossa existência, é um verdadeiro passe de mágica.

Ontem à noite eu agi como uma perfeita alquimista, transformando arroz em champignon no delicioso “Arroz Marquezin.” Como cobaias, a família, é claro. Confesso que já tinha cozinhado antes, mas coisas prosaicas e rápidas como omelete, miojo com requeijão (até então a minha especialidade). Nunca havia feito comida para outras pessoas.

E eu gostei. Não só porque minhas cobaias aprovaram, mas porque a simbologia de cozinhar sempre me atraiu. Além de, para mim, ser a representação do poder de transformação da natureza e do poder da intenção do ser humano, quer seja para agradar ou para atazanar uma pessoa.

Vejam por exemplo a palavra “comemorar”, que significa celebração de coisas boas, é muito difícil comemorarmos algo, sem ter alguma coisa para comer. A própria palavra ínsita essa ação nas suas duas primeiras sílabas.

Penso que tanto comer como comemorar, pedem mais pessoas para dividir esse momento e o alimento conosco. E talvez seja esse o segredo de uma boa receita.

Arroz Marquezin

Ingredientes:

½ cebola
Margarina
Arroz arbóreo
Vinho branco
Nata
Queijo ralado
Champignon (ou tomate seco, ervilha, brócolis...)
Caldo de galinho ou carne (opcional)

Modo de fazer:

Frite a cebola na margarina, coloque uma taça de vinho e deixe secar. Frite o arroz, vá colocando aos poucos água (com caldo de galinha), sempre mexendo. Quando tiver cozido, coloque o champignon, as duas colheres de nata e queijo ralado.

Sunday, May 22, 2011

Perdição

“O que tem de ser, tem muita força. Ninguém precisa se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é pra ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde.” Caio Fernando Abreu

Sou uma louca por acreditar que eu ainda vou casar com você? E que vamos passar a nossa lua de mel nas Ilhas Canárias? E que um dia eu vou dar uma irmãzinha linda para o teu filho? Que você ainda vai me agradecer por não ter desistido?

Ou sou uma louca por que tenho medo da mulher amarga e recalcada que posso me tornar se deixar de acreditar no que eu sinto? Posso me tornar uma workaholic ambiciosa que só pensa em dinheiro ou uma intelectualóide que ninguém entende e todos sentem pena?

Não acho que vou me cansar de esperar você, mas tenho tanto medo de me perder no meio do caminho, já é tão difícil tocar o barco em frente. Às vezes eu sinto tanta falta de você e tanta impotência diante da vida, que tenho vontade de bater com a minha cabeça na parede, só para doer mesmo, para eu sentir outro tipo de dor que não seja a falta de você.

E se eu me perder, como vai ser? Vou acabar num hospício, como aquelas velhas loucas que passam o dia sentadas, olhando para o nada e esperando alguém voltar, alguém que todos acham que não existe? Eu sei que essas pessoas não são loucas, apenas se perderam... Por favor, vem logo, antes que eu me perca.

Saturday, May 21, 2011

Dedicatória

Ei, você, desculpa qualquer coisa, mas tenho que te dizer: eu não escrevo para você. Eu escrevo para mim. Para alimentar o vazio que me acompanha desde sempre. Para saciar meu ego. Para conter a vontade de dar um tiro na cabeça. Para me aliviar. Não é uma exposição. Escrevo, justamente, para me proteger. Meus textos são a minha defesa do mundo.

Nem pra ELE eu escrevo, embora ELE seja constantemente citado nas minhas palavras, que são sobre o que eu sinto por ELE. Quando escrevo para ELE, envio para ELE lê. ELE é o meu leitor preferido e a minha melhor inspiração. Agora, se nem para ELE eu dedico algo, você acha que escrevo para você?

Não. Mas não é nada pessoal. Apenas não gosto dessa mania que você tem de julgar. A maior herança que a família de malucos, que eu tenho, vai me deixar é a aceitar e não me meter na vida alheia.

Grande parte dos meus familiares usam drogas e eles nunca deixaram de ser bons pais, mães, filhos, tios, tias... Meu irmão não é um marginal por ser punk. Eu não sou uma alcoólotra porque gosto de ficar bêbada. Você não tem o direito de se meter na minha vida porque me lê.

Tampouco me importo se você gosta ou não dos meus textos. Minha excelentíssima mãe, não gosta e nunca me escondeu isso. Se ela ler esse post, vai ter certeza que é para ela, assim como você teve estar pensando, né?

Mas hoje vou abrir uma exceção, excepcionalmente a última frase deste texto, é dedicada a você. Um verso de uma letra de uma canção da nossa grande Música Popular Brasileira. Confesso que não a incluo nas minhas preferências, mas considero esse trecho uma verdadeira obra prima, um apelo de respeito em tempos de tamanha exposição e opinião alheia. Para você: “ado, ado, ado. Cada um no seu quadrado.”

Friday, May 20, 2011

Meio ano

Seis meses. Há exatos 182 dias eu estava morrendo. Morri durante a madrugada, confortável, deitada numa cama, de banho tomado, coberta com edredons e abraçada no homem que eu amo. Fiz muitas coisas nesses meses. E tudo não mudou o nada e o vazio que tomaram conta da minha vida.

Chorei. Rezei. Implorei. Me humilhei. Estudei. Viajei. Voltei. Me alegrei. Me decepcionei. Bebi. Fumei. Cherei. Li. Prometi. Menti. Não cumpri. Escrevi. Esperei. Me perdi. Perdi a fé. Mas nunca mais me enchi.

Pensei em ir embora, em nunca mais voltar, em sair por aí, em sair sem dar tchau. Pensei em ir para um convento, para um hospício, para um monastério, para um bordel, para um presídio. Eu quis me matar. Queria me enterrar.

Foi sendo levada sem sentir que cheguei até aqui. O corpo dói. Anestesia até. Respirar é difícil. Suspirei muito. Meu reflexo são frases pequenas e soltas. Fragmentos. Pedaços que lembro e junto os caquinhos para recordar a nossa história. Sem contexto. Sem sentido. Sem valor. Nada.

Não conto os dias da tua ausência, o que conto são os dias da minha sobrevivência. Há 182 dias, eu me tornava uma viva morta, sou um nada que respira.

Friday, May 13, 2011

Curta e grossa

Por que essa saudade dilacerante que eu sinto não me mata de uma vez, ao invés de ficar me torturando?

Sunday, May 08, 2011

Tormenta

Hoje é dia das mães e eu queria tanto escrever algo bonitinho, tipo uma homenagem. Mas discuti tanto hoje com a “mamuska” que perdi a vontade. Então pensei em escrever sobre como minha relação com a maternidade mudou, que um dia quero ser, como ando sensível em relações as crianças e como esses pequenos seres são as únicas coisas que conseguem me comover.

Como eu mudei né? “Nada é fácil de entender” diz o Renato Russo no rádio... Hoje também faz um ano que capotei de carro e perdi metade do meu cabelo. Aliás, a briga com a mãe foi sobre isso. Ela chegou em casa e eu estava um pouco alegre e disse “mãe hoje tu estaria na minha missa de um ano de morte.” Ela me olhou com cara feia e eu, na minha melhor intenção de bêbada, emendei. “E eu ia tá fazendo careta atrás do padre.”

Depois disso, discutimos e discutimos. Eu disse que não iria mais escrever para ela. Ela disse que tudo bem, porque acha meu blog muito triste. Também pensei em escrever sobre o acidente e a vida nesse tempo todo, mas tanta coisa aconteceu, e tanta coisa que me machucou que acho um tremendo azar aquele carro não ter capotado mais uma vez.

Tem dias que estou com uma ideia na cabeça, escrever sobre um cantor de bar, mas nunca consigo. Também seria ótimo se eu mexesse no tal “livro”, que há semanas, não ganha uma linha. Tantas coisas podem ganhar letras e virar história, mas não hoje. Hoje eu tô atormentada demais, vou deitar e chorar.

Happy hour




Nestas duas semanas que estou em casa, poucas coisas me deixam mais feliz do que sentar num boteco e tomar cerveja com os amigos. Sexta-feira fui no boteco do Natalício com a Juliana e a Giovanna e sempre que as vejo, entendo porque me matriculei numa pós-graduação no último dia de inscrição.

Aliás, cada vez me convenço mais que a única coisa que faz a vida valer a pena são as pessoas que encontramos pelo caminho. A Jú e a Gi são formadas em história, e penso que essa é uma das poucas semelhanças que elas têm, até porque nós três somos totalmente diferentes.

Sempre que nos encontramos, prometemos que isso será mais frequente (tômara), mas ainda bem, somos mulheres independentes e bastante ocupadas. Eu adoro os sermões que a Jú me dá, me lembra a minha mãe, hehehehe. Mas na última sexta quem deu show no sermão foi a Gi, hehehehe.

Tirando o fato das poucas opções de comida que tem no boteco, sempre é muito bom ir lá com as gurias e com as colegas de trabalho da Jú, que sempre me receberam muito bem quando eu vou lá ou quando vou tomar cerveja com elas.

Esses momentos são de grande importância pra mim, pela companhia, pela conversa, pelas risadas e principalmente porque dá uma amenizada nas dores da alma. Não diminui nada, não cura nada também, mas é o mais doce dos remédios.

Thursday, May 05, 2011

Nocaute

“Já tentei três vezes. Mas eu era muito jovem e faz muito tempo. Achava muito chique se suicidar aos 20 anos. Mas chique é sobreviver”. Caio Fernando Abreu

A instabilidade da vida me assusta, realmente, não sei como ainda respiro. Não sei o que fazer. Acho que nunca soube. O vazio e o nó na garganta voltaram. Mas agora não é um vazio sem sentido, ele tem sentido, eu sei o motivo da minha dor e isso a torna, infinitamente mais forte.

Eu já fiz planos, mas assim como as coisas que eu já acreditei, não passaram de desculpas esfarrapadas para continuar. Realizei muito dos meus planos e perdi pelo caminho minhas crenças.

Até alguns dias atrás, pensava que tinha o melhor de todos os motivos para viver, acreditar no amor. Mas o tal do Deus ou do Diabo, ou sei lá quem é que brinca de marionete com os seres humanos, tirou o chão dos meus pés.

Mais uma vez, desabei. Não agüento mais ser nocauteada pela vida, não há motivos para insistir e resistir. E eu nunca gostei de coisas chiques.

Monday, May 02, 2011

Hábito

Será que um dia eu vou me acostumar com a dor de não te ter? Será que um dia essa saudade vai ser tão normal que a dor que ela me provoca não me machucará tanto? Esse final de semana sai com algumas amigas, me diverti como há tempos não acontecia, mas em nenhum momento você deixou de me doer. E eu me pergunto se isso não é “se acostumar”?

A noite foi quase perfeita. Eu sai com as gurias e, depois de dois meses sozinha, isso teve um valor e um sabor, inexplicáveis. Tomamos champanhe boa parte da noite. Fomos nos arrumar na casa de uma das amigas, bem coisa de mulherzinha, bem coisa que mulher adora fazer. Se vestir de alvo, se vestir para ser o alvo, ir para a guerra...

Depois dancei a noite toda, vi aquelas cenas impagáveis que toda festa proporciona a percepção de uma bêbada. Um careca cabeludo se aproximando da nossa mesa, um senhor com idade para ser meu avô insistindo para tomar uma cerveja comigo. E o de sempre, uma amiga chorar, outra brigar com o ficante, outra ficar, outra não desgrudar do celular...

Eu levei uns pirulitos de maconha que trouxe de Amsterdam e foi o maior sucesso, virou pirulito comunitário e tinha até fila. Até quem nunca tinha colocado essas “porcarias” na boca, experimentou. Foi divertido e inesquecível. Foi uma noite e uma festa tão boas, só não foram perfeitas porque você não estava lá.

Olhava para a mesa e imaginava onde você estaria sentado, o que estaria vestindo... Eu seria a mulher mais feliz do mundo se pudesse dançar com você, tomar cerveja, te beijar entre um gole e outro e curtir a ressaca do outro dia nos teus braços.

Até quando vou conseguir sorrir e falar que está tudo bem, quando minhas amigas me perguntarem o por quê estou tão quieta? Será que um dia eu vou estar numa festa e não vou precisar me esconder no banheiro e chorar para me esvaziar de você?