Saturday, January 24, 2015

Uma velha conhecida (Trilogia da leveza – parte III)


Foi na noite do 1º dia do ano, estava na cobertura de um prédio (9º andar, se não me engano), depois de um dia feliz com pessoas que amo e banho de mar numa praia de Santa Catarina, o fim de tarde tinha rendido cores lindas no céu, tinha aquele ventinho bom de noite na praia, estava tudo bem e eu me sentia em paz. Quando me dei conta da situação e percebi que não pensava em me matar e senti vergonha por todas as vezes que isso parecia ser a única opção. E orgulho por ter chegado até aqui.


De acordo com o diagnóstico do meu terapeuta, tenho distimia obsessiva, um tipo crônico de depressão, porém menos "grave", onde os sintomas depressivos podem durar um longo período, muitas vezes, dois anos ou mais. Só no Brasil existem de cinco a 11 milhões de indivíduos com a doença, em geral essas pessoas possuem um sentimento geral de inadequação e são excessivamente críticas.


Garanto, não fácil tocar a vida com um diagnóstico desse, mas é totalmente possível ser leve e até feliz apesar dele. Desde a adolescência eu faço terapia, sempre procurei entender o porquê do vazio. Já passei por vários psicólogos, por remédios – de Lítio a Fluoxetina, terapias alternativas – florais, reiki, meditação, acumpultura... Já ouvi que tudo isso é frescura.


Atualmente sigo só com a terapia psiquiátrica e nunca lidei tão bem com tudo isso, acho que é a experiência. Distimia, depressão, bipolaridade, borderline são doenças como diabetes, asma, tuberculose e precisam ser tratadas. Não tem nada de frescura nisso!


Hoje por exemplo, estou meio triste, mas é só tristeza - não estou subestimando esse sentimento, sei muito bem o estrago que faz - mas sei que neste momento é só isso, tristeza, pois algo que queria parece que não vai rolar. Coisas da vida... Não me sinto vazia, quando eu me encho de vazio, o sinal vermelho acende. Sei que isso pode e provavelmente irá acontecer em outros momentos da minha vida. Terei outras crises, mas penso que por ser reincidente, já coloquei uma cama elástica lá no final do meu abismo e por mais cheia de falta de sentido que eu volte a ficar, se a queda não for amortecida, ao menos não terá aquele desconforto de primeira vez. Conhecimento trás segurança e intimidade até com coisas não tão boas.


Esses anos todos em volta disso ampliaram muito minha consciência. Não me orgulho de escrever que houve momentos que eu não chegaria nem perto de uma sacada com medo de não resistir e me jogar e acabar com tudo, mas também não me envergonho. Tenho consciência disso e que tenho que lidar com os meus demônios. Mas tenho certeza de que esse assunto tem que deixar de ser tabu!


Por sorte ou mecanismos inconscientes de defesas, sempre tive coisas para me agarrar, para justificar minha permanência aqui. É questão de honra para mim me preencher o meu vazio com coisas que gosto, posso me sentir vazia mas oca, não sou. Rousseau diz que a “felicidade é um estado simples e permanente em que a alma basta a si mesmo.” Bingo!


Quando comecei a Trilogia da Leveza falando sobre autoconhecimento é porque isso foi fundamental para a Renata entender a Renata. Se me sinto leve, se penso que minha alma me basta foi porque um dia nada me bastava. 2015 começou muito bem, com energias boas, calmaria, família, perfume e risada de bebê, esperança, sossego, diria até que foi um começo bem feliz, melhor despedida para o Saturno não poderia ter. Fiz a lição de casa me sinto grata por isso. Ainda dá tempo de ter desejos de ano novo? Desejo cada vez mais ouvir a minha alma e não o meu ego.


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