Friday, January 16, 2015

A arte de ser leve (Trilogia da leveza – parte II)


"Meu reino terrestre por um par de asas" - Roseana Murray



Uma querida amiga me deu no natal o livro “A arte de ser leve”, da jornalista Leila Ferreira. Lançado em 2010, a obra reúne histórias e impressões da autora sobre o conceito de leveza, que vão sendo aos poucos tiradas do cotidiano, da memória, das entrevistas acumuladas em sua carreira com pessoas importantes e dos bate-papos com anônimos. Mas também apresenta dados oficiais e interessantes obtidos em pesquisas recentes da psicologia, da sociologia e da medicina.

Claro que achei o máximo ganhar esse livro neste momento da minha vida e foi a primeira leitura do ano. A autora viajou o mundo para conversar com as pessoas sobre o assunto, aliás, as viagens são apontadas como fator de leveza. Assim como o silêncio, ter tempo para si, cultivar hobbies saudáveis, vínculos com pessoas que nos são caras e tantas outras coisas que já sabemos, lemos por aí, assistimos em qualquer matéria sobre bem estar e qualidade de vida.

Porém, não percebi no "A arte de ser leve" aquela pretensão dos livros de autoajuda, como se fosse um manual de instruções que ensinasse a viver. Bem pelo contrário, a escritora sempre ressalta como é difícil a busca pela tal leveza e afirma que está muito longe disso. Mas o melhor de tudo, é que fica claro que viver de forma mais leve é uma escolha e exige disciplina e força de vontade.

Compartilho com a Leila, a ideia de que a leveza não é felicidade, mas é um degrau bem próximo e que talvez, um ser humano leve é mais completo que um ser humano que se considera feliz. Num dos capítulos, há uma entrevista com o filósofo Janine Ribeiro, que alerta para a confusão entre prazer e felicidade, pois o prazer é se dá nos instantes (nascem e se esgotam ali), e buscamos em especial os prazeres que tem na paixão.

O filósofo define paixão como um estado de engano, causado muitas vezes pela euforia, que nos torna passivos diante da vida. Reproduzo a conclusão dele: "a felicidade é mais modesta. Faz parte dela o aprendizado, a renúncia, a capacidade de converter a decepção em algo positivo. Em outras palavras, só é feliz quem souber reciclar suas tristezas. Frustrações são importante matéria prima para a felicidade”. Mais do que nunca, penso que o caminho do meio é a leveza.

Conforme avançava nas páginas, me dava conta de que é possível ter esperança na raça humana com tanta gente leve e de bem por aí. E me chamava atenção o fato da escritora não ter falado em depressão, até que ela tocou no assunto, nos últimos capítulos quando relata o motivo que a levou a escrever o livro.

Leila conta que tem depressão há mais de 20 anos, que já se considerada casada com a fluoxetina e acredita que ainda assim pode ser leve. Mais um ponto para ela, não é fácil assumir que tem depressão, bipolaridade ou distimia, e conseguir escrever com a devida distância sobre um assunto teoricamente oposto, sem ser influenciada pela doença que tem. Mas depressão é assunto para o outro texto...

Por enquanto, só a ideia (sem certezas) de que leveza já está de bom tamanho.

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