"Meu
reino terrestre por um par de asas" - Roseana Murray
Uma querida amiga me deu no natal o livro “A
arte de ser leve”, da jornalista Leila Ferreira. Lançado em 2010, a obra reúne
histórias e impressões da autora sobre o conceito de leveza, que vão sendo aos
poucos tiradas do cotidiano, da memória, das entrevistas acumuladas em sua
carreira com pessoas importantes e dos bate-papos com anônimos. Mas também
apresenta dados oficiais e interessantes obtidos em pesquisas recentes da
psicologia, da sociologia e da medicina.
Claro que
achei o máximo ganhar esse livro neste momento da minha vida e foi a primeira
leitura do ano. A autora viajou o mundo para conversar com as pessoas sobre o
assunto, aliás, as viagens são apontadas como fator de leveza. Assim como o
silêncio, ter tempo para si, cultivar hobbies saudáveis, vínculos com pessoas
que nos são caras e tantas outras coisas que já sabemos, lemos por aí,
assistimos em qualquer matéria sobre bem estar e qualidade de vida.
Porém, não
percebi no "A arte de ser leve" aquela pretensão dos livros de autoajuda,
como se fosse um manual de instruções que ensinasse a viver. Bem pelo
contrário, a escritora sempre ressalta como é difícil a busca pela tal leveza e
afirma que está muito longe disso. Mas o melhor de tudo, é que fica claro que viver
de forma mais leve é uma escolha e exige disciplina e força de vontade.
Compartilho
com a Leila, a ideia de que a leveza não é felicidade, mas é um degrau bem
próximo e que talvez, um ser humano leve é mais completo que um ser humano que
se considera feliz. Num dos capítulos, há uma entrevista com o filósofo Janine
Ribeiro, que alerta para a confusão entre prazer e felicidade, pois o prazer é
se dá nos instantes (nascem e se esgotam ali), e buscamos em especial os prazeres
que tem na paixão.
O filósofo
define paixão como um estado de engano, causado muitas vezes pela euforia, que
nos torna passivos diante da vida. Reproduzo a conclusão dele: "a
felicidade é mais modesta. Faz parte dela o aprendizado, a renúncia, a
capacidade de converter a decepção em algo positivo. Em outras palavras, só é
feliz quem souber reciclar suas tristezas. Frustrações são importante matéria
prima para a felicidade”. Mais do que nunca, penso que o caminho do meio é a
leveza.
Conforme avançava nas páginas, me dava conta de que é possível ter esperança na raça humana com tanta gente
leve e de bem por aí. E me chamava atenção o fato da escritora não ter falado
em depressão, até que ela tocou no assunto, nos últimos capítulos quando relata o motivo que a
levou a escrever o livro.
Leila
conta que tem depressão há mais de 20 anos, que já se considerada casada com a
fluoxetina e acredita que ainda assim pode ser leve. Mais um ponto para ela, não
é fácil assumir que tem depressão, bipolaridade ou distimia, e conseguir
escrever com a devida distância sobre um assunto teoricamente oposto, sem ser
influenciada pela doença que tem. Mas depressão é assunto para o outro texto...
Por enquanto, só a ideia (sem certezas) de que leveza já está de bom tamanho.
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