Saturday, January 03, 2009

A reforma

Em geral, não gosto de reformas. E essa reforma ortográfica, por favor, ninguém merece! Acho um absurdo ter que reaprender a escrever. Considero a língua um patrimônio da humanidade, que deveria ser intocável.

Sei-lá-quem resolveu mudar tudo para padronizar o idioma português, por causa da globalização. Ótimo, só que dentro do global tem que haver espaço para o local, porque sem isso, perde-se a identidade de uma região. Não acredito que as diferenças na escrita nos países de língua portuguesa sejam tantas para precisar de uma padronização. E essas diferenças se devem ao contexto e a localização geográfica de cada país.

Eu andei pelas livrarias atrás de guia de português já com a reforma. Não achei. Tampouco existem dicionários com o tal padrão. E os livros? Ninguém soube me dizer se as editoras já estão imprimindo com as novas regras. Já pensaram na confusão. Bem por cima, sei que caíram os hífens, os tremas e alguns acentos. Mas não sei quais hífens, nem quais acentos direito. E para piorar, tem as exceções, como sempre.

E como será para quem está sendo alfabetizado agora? Aprende que tal palavra não vai acento, mas ao pegar na biblioteca da própria escola um Monteiro Lobato, tá lá tal palavra acentuada. Se nem os adultos estão gostando e entendo essa tal reforma, imaginem as crianças. E os coitados dos vestibulandos, depois de anos na escola, tem que esquecer das aulas de gramáticas. Não será fácil (não sei se em fácil o acento permanece ou não...).

E para quem lida com a palavra escrita todos os dias? E para os professores que corrigem redações? Quanto tempo eles não iram perder, porque agora não é só corrigir, é corrigir com as novas normas, que eles não aprenderam, diferente de tudo que eles corrigiram até agora.

E falam que isso não vai mudar a maneira de falar. Eu acredito que com o tempo, muda sim. Bóia não tem mais acento. Sabemos como se fala boia, mesmo sem acento, porque aprendemos assim. E as crianças que aprenderão tudo nas novas regras? Falarão boia como se fala sem o acento, até porque elas não vão saber que já houve acento em bóia. Ou os professoras vão explicar que já houve acento e tem que ter uma entonação tal no o de boia? Imaginem quanto trabalho e quanta confusão!

Não sei se isso pega. Sinceramente, gostaria que não pegasse. Por mim, todo mundo que fala português, aqui ou no Timor Leste, se faria de louco e escreveria como sempre escrevemos. Por enquanto, peço desculpas antecipadas pelos erros de português que vou cometer. Afinal, depois de anos na escola e de uma faculdade, ainda não aprendi minha língua mãe.

3 comments:

About - Andiara Clara said...

Prima... Como sempre textos maravilhosos. Criei um blog tbm. Depois passa lá!

Bjus e saudades.

Anonymous said...

olha.. acho essa reforma um saco tb :/

Vanessa Reis said...

Calma. Por que tanto ódio nesse coraçãozinho?
No começo eu não tinha opinião formada, não sabia se gostava ou não, depois percebi que eu podia continuar não tendo, afinal, a reforma taí, não pede aceitação. Quantos às editoras, aos profissionais, os professores, alunos, etc... Eles terão tempo. Quatro anos de transição é bastante. Acho que a padronização ajuda em vários departamentos. Para as empresas que têm relações comerciais, deve ser uma mão na roda. Para quem tem que ler polígrafos de autores portugueses (como eu já tive), aposto que a leitura vai fluir melhor sem aquelas consoantes "fora de lugar". Mudanças acontecem, não é de hoje. Não é o fim do mundo. Flor já foi flôr. Ele já foi êle. Eu li palavras assim num livro da minha Dinda, impresso nos anos 70. Alguns anos e todo mundo se acostuma. Profissionais da área responsáveis por uma atitude dessas não iam insistir na idéia se não tivesse várias utilidades provadas através de estudos realizados por pessoas que como nós, ficam anos e anos estudando pra saber o que está fazendo. E para ter a credibilidade resultante disso.
É isso.
Vou transformar isso aqui num post. Abraço!