Wednesday, October 24, 2012

Morrer

“Meus amigos me adoram e talvez chorariam se eu morresse. Mas será que eles sabem que eu penso sempre na morte? Será que eles sabem que aquela garota alí no canto da mesa, de decote, rindo pra caramba, contando mais uma de suas aventuras vazias e descartáveis, acorda todos os dias pensando: o que eu realmente quero com essa vida? Como eu faço pra ser feliz? Será que eles sabem que se eu estou morrendo de rir agora, daqui a pouco vou morrer de chorar? E vice-versa? E isso 24 horas por dia?” - Tati Bernardi



Outro dia assaltaram uma colega do trabalho e pensei “por que não foi eu? Poderia ter levado um tiro e morrido.” Seria perfeito. Acidente. No lugar errado, na hora errado. Mas nunca fui assaltada, nem roubada, isso que vivo com a cabeça no mundo da lua. E o avião, por que não cai comigo dentro? Tragédia coletiva, uma dor ameniza a outra...

Por que não me atropelam, não passam em cima de mim? Fatalidades acontecem e são mais fáceis de entender colocando a culpa no tal de Deus que quis assim. Por que sou uma covarde que não faz nada além de aumentar a lista de hotéis que é possível morrer se atirando da janela?

Fico imaginando como seria a vida sem mim. Logo me tornaria um perfil esquecido e parado do Facebook. Uma criança que os primos teriam que fazer força para lembrar o nome, ao olhar as fotos amareladas da década de 90. Um assunto que boa parte da família evitaria. Para outros, me tornaria num questionamento ou até num lamento, quem sabe o que fica de nós?

Não tenho medo do que viria depois. Se o paraíso for uma adaptação daqui, já está bom. Eu só não queria ter que esconder para chorar, no meio da tarde, porque a dor crônica que sinto da vida, de repente se fez aguda. E viver seria um paraíso se eu não sentisse essa dor de existir.

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