Outro dia assaltaram
uma colega do trabalho e pensei “por que não foi eu? Poderia ter levado um tiro
e morrido.” Seria perfeito. Acidente. No lugar errado, na hora errado. Mas
nunca fui assaltada, nem roubada, isso que vivo com a cabeça no mundo da lua. E
o avião, por que não cai comigo dentro? Tragédia coletiva, uma dor ameniza a
outra...
Por que não me
atropelam, não passam em cima de mim? Fatalidades acontecem e são mais fáceis
de entender colocando a culpa no tal de Deus que quis assim. Por que sou uma covarde
que não faz nada além de aumentar a lista de hotéis que é possível morrer se
atirando da janela?
Fico imaginando como
seria a vida sem mim. Logo me tornaria um perfil esquecido e parado do
Facebook. Uma criança que os primos teriam que fazer força para lembrar o nome,
ao olhar as fotos amareladas da década de 90. Um assunto que boa parte da
família evitaria. Para outros, me tornaria num questionamento ou até num
lamento, quem sabe o que fica de nós?
Não tenho medo do que
viria depois. Se o paraíso for uma adaptação daqui, já está bom. Eu só não
queria ter que esconder para chorar, no meio da tarde, porque a dor crônica que
sinto da vida, de repente se fez aguda. E viver seria um paraíso se eu não
sentisse essa dor de existir.
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