Sunday, October 28, 2012

Pele

De todas as coisas que a tua ausência causa, a falta que sinto da tua pele é a mais perturbadora, o que me desatina. Se eu não pudesse beijar, abraçar, transar, só te tocar me salvaria. Contornar as tuas asas e sentir a tua morenice carioca me acalma.

Essa distância faz tudo parecer tão sofrido, mas se torna tão insignificante quando você me toca, deixando minha pele toda arrepiada. Ou quando estou nos teus braços e não consigo pensar em nada, nem mesmo em pedir, inutilmente, para o tempo parar, porque ele vai passar e na maior parte, não tenho você ao alcance da minha retina e das minhas mãos.

Gosto de olhar nos teus olhos mesmo quando está de óculos. Assim como gosto de contar os fios brancos que nascem na tua barba, embora sempre me perca e tenho que recomeçar. Geralmente é isso que eu fico fazendo enquanto você está entretido, assistindo algum filme de algum super herói que eu desconheço a existência.

Às vezes eu pego no sono e é tão bom dormir sentindo teu calor.  Tem vezes que acordo assustada, vai que dormisse mesmo e sonhasse que estava em outro lugar e não ali, com você? Então você me olha e sorri esse sorriso de menino que tens. Eu olho para tevê, faço de conta que estava assistindo o filme, mas logo volto a me perder na tua pele.

O medo dos mais pedidos

Tinha um professor na faculdade que falava: “vocês serão jornalistas, tem que assistir e ler de tudo, sem preconceitos.” A maioria suspirava aliviada, podiam parar de  se culpar por assistirem reality show, ouvir música pop e ler Best Sellers ou ao menos, tinham uma boa desculpa para isso.

Outro dia, duas amigas ficaram boquiabertas porque disse que tinha ganhado o “50 tons de cinza” e que seria minha próxima leitura. Ah mas você lê essas coisas que figuram nos mais vendidos? Sim e por que não. Além de ter sido um presente, é bom ler para tirar minhas próprias conclusões.

Não entendo esse medo das pessoas de serem mais uma. O que vou perder se assistir um programa que gosto? De ler livros de um autor que não é unanimidade da crítica? De cantarolar a música do momento? Se gostamos, teremos no mínimo, momentos de prazer. Se não gostamos, é só trocar de canal, fechar o livro e mudar de estação.

Na hora do debate, o senso comum não é o de quem está por dentro, é de quem está por fora, mas nem se deu o trabalho de conhecer por não querer fazer parte deste senso comum. Vimos recentemente o final da novela Avenida Brasil, bom, condeno o espaço que teve na mídia, com policiais e psiquiatras discutindo que  matou o Max. Jornalismo é para tratar da vida real, então acho um desrespeito esse tipo de matéria.

Mas qual o problema de assistir novela? De falar sobre isso. Eu raramente assistia, mas óbvio que vi o último capítulo, no pilates, mas assisti e não sou melhor nem pior do que alguém por isso. Ah sim, e eu também leio Paulo Coelho.

 

Wednesday, October 24, 2012

Morrer

“Meus amigos me adoram e talvez chorariam se eu morresse. Mas será que eles sabem que eu penso sempre na morte? Será que eles sabem que aquela garota alí no canto da mesa, de decote, rindo pra caramba, contando mais uma de suas aventuras vazias e descartáveis, acorda todos os dias pensando: o que eu realmente quero com essa vida? Como eu faço pra ser feliz? Será que eles sabem que se eu estou morrendo de rir agora, daqui a pouco vou morrer de chorar? E vice-versa? E isso 24 horas por dia?” - Tati Bernardi



Outro dia assaltaram uma colega do trabalho e pensei “por que não foi eu? Poderia ter levado um tiro e morrido.” Seria perfeito. Acidente. No lugar errado, na hora errado. Mas nunca fui assaltada, nem roubada, isso que vivo com a cabeça no mundo da lua. E o avião, por que não cai comigo dentro? Tragédia coletiva, uma dor ameniza a outra...

Por que não me atropelam, não passam em cima de mim? Fatalidades acontecem e são mais fáceis de entender colocando a culpa no tal de Deus que quis assim. Por que sou uma covarde que não faz nada além de aumentar a lista de hotéis que é possível morrer se atirando da janela?

Fico imaginando como seria a vida sem mim. Logo me tornaria um perfil esquecido e parado do Facebook. Uma criança que os primos teriam que fazer força para lembrar o nome, ao olhar as fotos amareladas da década de 90. Um assunto que boa parte da família evitaria. Para outros, me tornaria num questionamento ou até num lamento, quem sabe o que fica de nós?

Não tenho medo do que viria depois. Se o paraíso for uma adaptação daqui, já está bom. Eu só não queria ter que esconder para chorar, no meio da tarde, porque a dor crônica que sinto da vida, de repente se fez aguda. E viver seria um paraíso se eu não sentisse essa dor de existir.

Monday, October 22, 2012

Do êxtase a constatação musical

Me considero uma pessoa de bom gosto musical e adoro um show, é uma das puçás coisas que se eu gostar do artista pago o que for. Claro que, hoje em dia, penso duas vezes antes de ir num mega show, ficar cinco horas em pé... Atualmente, espetáculo musical está diretamente ligado com conforto. Os últimos shows que fui eram em teatros, ou acústicos, e tenho preferido assim, pois posso ficar sentada, só absorvendo a música.

Neste último final de semana, assisti ao show da Pouca Vogal, no teatro da UCS. Foi um baita show e adoro os dois cantores/compositores/escritores: Humberto Gessinger e Duca Leindecker pelas poesias que eles criam e os arranjos que fazem, relendo de maneiras diferentes as músicas das bandas Engenheiros do Hawaii e do Cidadão Quem.

Para mim, o ponto alto foi quando começaram a cantar um trecho de Banco, do Engenheiros do Hawaii.

Deve haver alguma coisa que ainda te emocione/Uma garota, um bom combate, um gol aos 46/Deve haver alguma coisa que ainda te emocione/Um cavalo em disparada/Pijamas...nada pra fazer/Deve haver alguma coisa que ainda te emocione/Um vinho tinto...um copo d'água/A chuva no telhado...um pôr-de-sol/Deve haver alguma coisa que ainda te emocione...

Aí, o Gessinger começou a brincar, citando coisas que podem emocionar, falou em partido político, ouviu um não, falou em causas, todos falaram siiiiiiiiim. Lembrou das causas perdidas e engatou Dom Quixote, minha música preferida:

Muito prazer, meu nome é otário/Vindo de outros tempos mas sempre no horário/Peixe fora d'água, borboletas no aquário/Muito prazer, meu nome é otário/Na ponta dos cascos e fora do páreo/Puro sangue, puxando carroça/Um prazer cada vez mais raro/Aerodinâmica num tanque de guerra,/Vaidades que a terra um dia há de comer./"Ás" de Espadas fora do baralho/Grandes negócios, pequeno empresário.

Muito prazer me chamam de otário/Por amor às causas perdidas./Tudo bem, até pode ser/Que os dragões sejam moinhos de vento/Tudo bem, seja o que for/Seja por amor às causas perdidas/Por amor às causas perdidas

Quando terminou, voltou os acordes de Banco e ele questiona: “Todo mundo tem alguém que lhe emociona e satisfaça?” Mudam os acordes e o Duca grita: Satisfaction! I can't get no. Sim, rola um trecho do clássico dos Stones: I can't get no satisfaction/I can't get no girl reaction/'Cause I try and I try and I try and I try/I can't get no/I can't get no...

Dá para enlouquecer... Nessas horas até penso que só por gostar de artes já vale a pena estar aqui, quem sabe pode ser um sentido? Mas a música seguinte me lembrou que se alguém encontrou um sentido pra vida, chorou/Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo...

Friday, October 19, 2012

Dom Quixote



Como não amar esta música?

Muito prazer, me chamam de otário...