Monday, November 29, 2010

Mais sobre a fé ou a falta de...

Pior do que perder a fé nas coisas, sejam elas abstratas e espirituais, é perder a fé em si, nas coisas práticas e diárias. Não ver sentido em levantar da cama todas as manhãs. Não acreditar nem que exista um amanhã e que as coisas podem melhorar.

Eu não consigo mais planejar nada. Outro dia comentei sobre fazer mestrado com um colega do serviço, eu sempre pensei em continuar estudando, mas me pareceu tão estranho. Fazer mestrado pra quê? Para contribuir com as pesquisas acadêmicas? Ninguém liga pra isso. Pra satisfazer uma vontade minha? É só pra manter minha cabeça doentia ocupada.

Eu não entendo porque uma pessoa que de repente, se tornou tão vazia como eu, ainda respira. Inspirar, encher os pulmões de ar, expirar... Pra quê? Por quê? Qual é o sentido dessa porra toda?

Ainda hoje uma amiga me disse que é a esperança, a fé (seja lá no que), que nos faz levantar da cama e ir em frente, de cabeça erguida. A única coisa que me impulsiona é que todas as manhãs eu penso que é um dia menos desta tortura toda. Um dia isso tudo vai acabar.

Sunday, November 28, 2010

Sem fé

“...não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?”Caio Fernando Abreu.

Eu sempre fui uma pessoa crente e sempre achei importante crer em algo. Mas alguma coisa mudou e me faz questionar tudo, de Deus ao vegetarianismo. Eu me sinto vazia de fé. As coisas perderam o sentido.

Astrologia, Feng Shui, I – Ching, trânsitos planetários, cartomantes, Pais de Santos... Não acredito mais nisso. E podem ser coisas superficiais, mas que me faziam bem. Meu quarto foi planejado com o Feng Shui, sabia de cor em qual signo a lua se encontrava e como os planetas estavam no dia. Eram coisas que me davam um sentido.

Conspiração do universo, energia positiva, pensamento premonitório... Faziam eu pensar em coisas boas. Só. Agora não me pegam mais. Nada mais me pega. Eu que sempre andei com a cabeça na lua, cai na terra de cabeça.

Anjos, mentores espirituais, Kardecismo, Deus... Sinceramente? Não sei. Tudo não passa de um grande ponto de interrogação dentro de mim. Tem uma semana que eu não oro mais, eu tentei, mas não consegui, foi quando percebi algo estranho. Desde o dia que morri não consigo mais orar, não creio mais no poder da oração.

Eu não queria que isso tivesse acontecido, é triste não encontrar um sentido nas coisas. Talvez eu vire uma adepta do racionalismo. Não iria estranhar, quando a gente perde a fé, a gente perde também, a capacidade de se surpreender com a vida. Não vou estranhar nem se me der vontade de comer uma boa e sangrenta carne assada.

Twittando

Agora eu tenho um twitter (@re_remachado). E daí né? Mais uma inutilidade pessoal numa era de inutilidades coletivas. Não basta ter amigos, temos que ter seguidores!

Foi a Fabi e o Cris que me convenceram a fazer um, isso há duas semanas. No dia, perguntei: “mas o que eu vou twittar?” Mesmo com essa dúvida, eles me convenceram e eu prometi. Demorei, mas cumpri.

Não sei mexer direito naquilo e continuo sem saber o que escrever lá, ainda mais com tão poucos caracteres... Ando tão de saco cheio da vida. Não preciso twittar isso e, nem as pessoas merecem, ficarem lendo minhas chatices, já basta aqui.

Sei lá, tô no twitter agora, até quando não sei...

Saturday, November 27, 2010

Missa de 7º dia

Eu morri há sete dias. Isso aqui é uma celebração, como uma missa de 7º dia. Nunca entendi o motivo do 7º dia após a morte, nem agora... Bom, eu que acreditava que o corpo morria e o espírito continuava vivinho da silva, estou perdida e sem entender.

Como assim, a alma morreu e o corpo continua? Meu corpo está tentando manter as aparências, tanto que ainda fico em pé! Ainda trabalho, como, converso, leio, escrevo... Deve ser como aquela sensação que pessoas mutiladas têm quando sentem dor nas partes do corpo que não existem mais...

Há exatos sete dias eu estava morrendo. Porque na verdade eu não morri assim, de uma hora para outra. Eu fui morrendo, lentamente, lá em Santa Maria. Dizem que as pessoas pressentem quando vão morrer e de fato, é verdade, quando eu embarquei no ônibus sabia que seria uma viagem sem volta.

Eu estava feliz, não uma felicidade eufórica (que sentia no sábado de manhã, último dia da minha vida). Mas uma felicidade branda, que se contenta com pouco, de quem sabe que tentou até o último minuto.

Morri durante a madrugada, confortável, deitada numa cama, de banho tomado, coberta com edredons, com ar condicionado ligado e abraçada no homem que eu amo. Eu chorei, peguei no sono e não acordei mais.

Meu corpo levantou, foi colocado num taxi, entrou num ônibus para Porto Alegre e chorou os quase 300 quilômetros. Chorei a minha própria morte, o amor que me deu sentido, a saudade que quase me enlouqueceu e a minha alma que estava morta e tinha ficado para trás.

Eu morri há sete dias, num apartamento em Santa Maria. Foi numa noite agradável, estrelada e de lua linda e cheia no céu. Eu morri feliz.

Tuesday, November 23, 2010

Trilha do meu momento

Vale de Lágrimas
Lulu Santos


Deixa eu lhe dizer
O que eu passei
Desde que você
Se desapegou de mim

Eu zanzei pelas ruas,
um molambo
Sonâmbulo,
insone e insano
Queria me atirar no mar
Só para me afogar
Que ainda é melhor
Que ser um devedor
Nas contas do amor
Preferia um deserto atravessar
Sob o sol e as noites sem luar
Do que dar meu braço a torcer
Que você não está
Que você não vem
Faça-me um favor
Volta para mim

É o que sei dizer,
nada mais
Senão me repetir

Que zanzei pelas ruas,
um molambo
Sonâmbulo,
insone e insano
Queria me atirar no mar
Só pra me afogar
Que ainda é melhor
Que ser um desertor
Dos campos do amor
Preferia um deserto atravessar
Sob o sol e as noites sem luar
Do que dar meu braço a torcer
Que você não está
Que você não vem
Faça-me um favor
Volta para mim

É o que sei dizer,
nada mais
Senão me repetir
Outra vez

Preferia um deserto atravessar
Sob o sol e as noites sem luar
Do que dar meu braço a torcer
Que você não está
Que você não vem
Faça-me um favor
Volta para mim

Thursday, November 18, 2010

Pedaços

Eu ando em pedaços. Às vezes eu tenho que correr atrás de algum pedaço que avança pelo caminho. Em outras, que tenho que parar e esperar os pedaços que ficaram para trás.

Estar em pedaços cansa. Pois tenho que fazer um esforço sobre humano para parecer inteira. É quase uma mentira e, uma mentira que deforma a alma. Dói muito, dói tudo. Até sorrir machuca.

Por hora, estou conseguindo manter alguns pedacinhos juntos e em pé, eles desmoronam sim e várias vezes ao dia. Em inúmeros momentos eu penso: “deu, agora eu vou desmoronar!”

Mas sempre tem uma ou outra parte que resiste. É uma tortura, um esforço físico e mental. Eu tenho que manter a ordem do caos. Eu tenho que viver, morta por dentro.

Monday, November 15, 2010

A Feira





Acho que todos os anos eu escrevo alguma coisa sobre a Feira do Livro. Esse ano, para não perder o hábito, não será diferente, embora tenha sido bastante diferente. Eu tinha pensando em passar longe da praça da Alfândega, contenção de gastos total por causa da viagem. Só que comprei três livros e meio, mais um guia de viagem de Barcelona, ou seja, gastei mais do que queira...

Os livros: Marilyn últimas sessões, de Michel Schneider, que foi o maior achado da feira, a biografia da Marilyn Monroe por R$ 13,00! Olhares Cruzados, que tem vários artigos de intelectuais europeus e latino-americanos sobre a questão da identidade nesses dois continentes. O extraordinário Poder da Intenção, livro de auto-ajuda que trouxe pra mãe, mas não nego, talvez dê uma olhada, estou apelando para tudo...

O meio livro: Clarice na cabeceira, vários contos da Clarice Lispector apresentados por diversas pessoas (Adriana Falcão, Lya Luft, Malu Mader, Mônica Waldvogel, entre outros). É meio livro, porque rachei com Fabi, vimos na banca, nos olhamos e levamos. Eu vou ler primeiro, mas realmente, comprar meio livro é engraçado, hehehe. Com quem ele vai ficar depois?

Falando na Fabi, foi com ela e com o Cristian (que eu conheci hoje), que fui na feira. Bom, a Fabi: só ela pra me aturar, pra me tirar de casa e me fazer rir. O Cris: gente fina, elegante e sincera. Libriano com ascendente em gêmeos.

O melhor de tudo é que tomamos umas cervejas e fizemos planos. Eu até consegui rir, embora não tenha esquecido. Uma hora vi um livro lindo (e caríssimo) sobre fotografia, bah, que vontade meu deu de comprar pra dar pra ele...

Vamos aos planos de ordem prática e real. Vou sair da Era Paleolítica que vivo e vou fazer um twitter, essa semana, escrevo sobre isso aqui no blog quando der esse passo gigantesco para mim, mas mínimo para a nossa modernidade atual, hahahaha.

Agora o melhor de tudo, lá por junho, julho de 2011, eu, Fabi, Cris e quem mais for parceiro, vamos passar uns dias em Buenos Aires. Coisa boa né? Melhor ainda é alguém com a mente suicida que eu tenho, fazer planos, às vezes isso é tão difícil...

No final das contas, foi um bom dia. Não me fez esquecer de nada, não amenizou a saudade, mas consegui respirar ares diferentes... Adorei a tarde, as minhas aquisições e a companhia.

Wednesday, November 10, 2010

Que seja doce




Essa frase “que seja doce” virou quase um mantra pra mim, porque é singela e densa ao mesmo tempo. Está num verso do Caio Fernando Abreu, ele que sempre foi tão bom em descrever sentimentos e coisas abstratas, merecia estar na minha pele.

Dizem que por trás de cada tatuagem, de cada desenho no corpo, tem uma marca na alma. E na minha tem o desejo de que as coisas sejam doces. Que a vida seja doce. E também, é para não esquecer que muita coisa na minha vida já foi doce, por isso essa tatuagem está num lugar que eu possa enxergar sempre.

Essa é a quarta frase que tenho tatuada. Eu gosto de frases, porque gosto de livros e histórias. Assim como gosto de mantras e letras de música. Como gosto, principalmente, de tudo que contêm esses sinais gráficos que chamamos de letras, é através delas que me comunico melhor, que tento me salvar.

Espero que cada pessoa que ler meu braço fique com essa frase na cabeça, que seja doce, que seja doce, como um pedido lançado ao universo ou uma pequena prece em meio há tantos devaneios que passam pela nossa cabeça. Não importa o que, importa sim, é nos darmos conta da doçura das coisas. Mais do que nunca, eu preciso que seja doce!


“Que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se fosse nada.”
Caio Fernando Abreu

Monday, November 08, 2010

Futuro bom

Queria beijar você para o resto da minha vida e eu não iria enjoar. Queria também, ver teus cabelos ficarem brancos e notar que você está engordando e, mesmo se eu reclamasse, pode ter certeza que ainda te acharia o homem mais lindo do mundo. E toda vez que te visse de óculos e gola alta, falaria que você está muito sexy.

Eu te daria colo, ombro, ouvidos e todo o resto, do corpo e da alma. Cuidaria de você com gripe, dor de cabeça, tosse e até mau humor crônico, e seria a mulher mais feliz do mundo por isso. Agradeceria todo dia, ter o privilégio de viver com o homem que amo.

Não, não há nem um pouco de exagero nisso, há sim, muita lucidez. Tem a consciência branda de quem percebeu o porquê se nasceu, os caminhos que percorreu, de quem, de uma hora para outra ou lentamente, se deu conta do sentido de tudo. Você chegou e me explicou muita coisa, me deu um sentido.

Por mais que eu pense em me atirar na frente de um caminhão para acabar com a saudade infinita que sinto de você, é justamente, a necessidade de matar essa saudade que me faz continuar, que me levanta da cama, todos os dias.

Porque eu amo tanto você, que um dia a gente vai se encontrar, a tal força que move o universo e faz as coisas darem certo me levarão até você. Às vezes, dá medo de nunca mais te ver, mas eu penso que nem o diabo seria tão desumano assim.

Até porque ele já deve se divertir bastante com essa situação, um dia ela vai cansar e me largar de mão. Nesse dia algo vai acontecer. Nesse dia eu vou ter a certeza que valeu a pena acreditar em todo o amor que eu sinto.

Preciso tanto aproveitar você
Beijar teus olhos, olhar tua boca
Ouvir palavras de um futuro bom

(Palavras de um futuro bom - Jota Quest)

Saturday, November 06, 2010

Comer, Rezar, Amar

Já tem tempinho que fui assistir ao filme Comer, Rezar, Amar, inspirado no livro da americana Elizabeth Gilbert. E prefiro o livro que li enquanto estava em Florianópolis, em fevereiro de 2009. O filme é maçante e monótono.

Se no livro sobra emoção, no filme, falta. E faltou também o amigo que tocava violão que ela conheceu em um dos países que visitou, não lembro qual (esse personagem não mudaria a história, mas simpatizei com ele...). E não precisava aquela cena que o brasileiro Felipe dá um selinho no filho, que justifica isso como um comportamento natural do caloroso povo brasileiro.

Claro que alguma coisa no filme iria faltar, já é extenso, com quase duas horas de duração e nunca consegue colocar todo um livro no cinema. O filme não conseguiu mostrar que a grande viagem aconteceu, de fato, no interior da personagem. Já o livro trás passagens interessantes sobre o que Liz pensa sobre o amor, a depressão, a felicidade...

É um trecho que fala sobre a felicidade que reproduzo aqui. Um belo trecho, pois se ser feliz fosse tarefa fácil, só nascer já bastaria e viver seria secundário. Mas não, é necessário viver e sempre alerta e atento, prestando atenção em tudo pra perceber onde está, de fato, a nossa felicidade. Ou o que nos move em direção a ela.


“...as pessoas tendem a pensar universalmente que a felicidade é um golpe de sorte, algo que talvez lhe aconteça se você tiver sorte suficiente, como o tempo bom. Mas não é assim que a felicidade funciona. A felicidade é conseqüência de um esforço pessoal. Você luta por ela, fez força para obtê-la, insiste nela, e algumas vezes viaja o mundo à sua procura. Você precisa participar o tempo todo das manifestações de suas próprias bênçãos. E, uma vez alcançado um estado de felicidade, nunca deve relaxar em sua manutenção, deve fazer um esforço sobre-humano para continuar para sempre nadando contra a corrente rumo a essa felicidade, para permanecer flutuando em cima dela. Se não fizer isso, seu contentamento interno irá se esvair. É muito fácil rezar quando se está passando por um momento difícil, mas continuar a rezar mesmo quando a sua crise já passou é como um processo de selamento, que ajuda sua alma a se aferrar às coisas boas que conquistou.” Elizabeth Gilbert - Do Livro Comer, Rezar, Amar.

Wednesday, November 03, 2010

Saudade mata

Eu sinto tanta saudade, mas tanta saudade que falta o ar, dói a cabeça, o peito, o estômago e dá nó na garganta. Às vezes dá calafrios, noutras tonturas e quase sempre, fica a certeza que eu vou morrer de tanta saudade.

Se eu enfartar, ter uma parada cardiorrespiratória, cair de tontura e arrebentar minha cabeça, morrer de gastrite, de câncer, de pancreatite, com um AVC, se eu acabar esquizofrênica, bipolar ou me atirar pela janela, a causa será só uma: saudade.

Saudade mata a gente, sim, de uma maneira cruel e lenta. Porque as horas se arrastam e o tempo não passa, mas quando percebemos passou muito tempo e a gente se pergunta como conseguimos viver assim? E percebemos que não foi vida, foi meia vida, porque boa parte de nos já morreu.

Ela vai matando aos poucos, sem muito alarde. Mata o sono, com isso a vontade de levantar da cama de manhã também vai embora. Saudade acaba com a atenção, o rendimento no trabalho cai, vozes de pessoas ao nosso lado parecem ruídos que vem de longe, as pessoas se tornam cada vez mais distantes, paisagens ficam desfocadas e as cores ficam com tons de cinza.

As risadas ficam escassas e os sorrisos, tristes. Os olhos se perdem fácil e a visão não absorve o que realmente enxerga. A firmeza das pernas escapam entre os músculos firmes e bambeiam, porque saudade mata a gente e com muita dor.

Por fim, as vontades somem. Nenhuma fica, vão todas embora, uma a uma, algumas resistem mais tempo que as outras, mas a saudade leva todas elas pela mão... A gente assiste tudo e morre mais um pouquinho cada vez que uma vontade se vai.

Quando só fica o vazio, a saudade mata porque começa a roer e a corroer a falta, o nada... Saudade mata a gente, sim, porque quanto mais pensamos numa maneira de acabar com ela, mais forte ela se torna, mais presente fica. O alimento da saudade é a dor que ela mesma causa.

A saudade nos mata, mas deixa o nosso corpo zanzando por aí, aos pedaços, murcho e oco, a gente só não voa, porque a saudade é pesada. Tem o peso do amor que nos falta.