Acho que hoje eu não vou conseguir dormir (às vezes penso se é dormir ou durmir...). Sempre escrevo mais à noite. Tenho mais idéias ou apenas me escuto, não sei. Quantas vezes deitei na cama e comecei a escutar a voz, às vezes conseguia virar pro lado e pegar no sono, noutras levantava e escrevia.
Uma das poucas certezas que sempre tive na vida é que escrever pra mim é tão vital quanto respirar. Era criança e já imaginava que quando crescesse queria ser vegetariana (sempre achei bonito), teria tatuagens (nunca entendi porque não somos coloridos) e escrevia (eu tenho mil e um motivos pra isso).
Sempre andei com papel e caneta. Sempre escutei essa voz que só cala quando eu escrevo. Às vezes me pergunto se é vocação ou piração e tenho medo da resposta, seja qual for. Já me conformei que vou ter que escutá-la por toda minha vida.
Acho que é só pra escrever que fiz jornalismo. E a poucas horas da formatura penso nas histórias que ainda vou contar. Nas que ouvirei das fontes e nas que a voz vai me contar. E acho que foi a voz que me levou até esse momento. Claro que jornalismo não é só escrever, eu trabalho muito mais com projeto gráfico do que com redação. Mas é um ouvir histórias constantes.
É como eu gosto de ouvir histórias, por isso que falo pouco e escrevo muito. Tenho diário até hoje! Fora uns cadernos onde escrevo quando não tô a fim de digitar. Fora o que escrevo e toco fora. Fora a agenda e um monte de papel que tenho do lado do computador. Enfim, todos os caminhos me levaram a escrever. E a voz insistia...
Eu tô ansiosa com a formatura, escrevo (neste momento) pra me acalmar um pouco. Por isso instantâneo! A voz por mais incrível que pareça, tá queitinha, acho que ela tá com medo. Mas sei que vou deitar na cama e não vou dormir. Então escrever também serve pra passar o tempo. Contar pra várias pessoas o que não tenho ninguém pra contar. Eternizar pessoas. Extravasar.
Quando eu tinha uns 13, 14 anos achava que escrevendo eu iria me encontrar. Hoje eu sei que eu escrevo porque não quero me achar. Posso ser outras. Posse ser diferente. Me exponho sem quer. Me exponho com consciência. Exponho os outros sem querer e por querer. Sou a leonina com ascendente em escorpião, e aceito todo o ego e gênio difícil dessa combinação. Sou a doce canceriana que gostaria de ser, às vezes. Posso me perder, que a voz me guia.
Gosto de frases curtas. E-emendar-um-monte-de-palavras-assim. Porque faz a gente perder o fôlego. Eu gosto de perder o fôlego. Escrevo na primeira pessoa porque é mais fácil começar. Gosto de reticiências... E me pergunto qual a melhor hora de acabar?
O texto abaixo tá no livro “A Casa da Esquina”, que eu comprei com meu primeiro salário, fez eu me sentir mais normal e aceitar essa vocação ou piração.
“Pesco palavras entre tantas que invadem meu pensamento vindas de um lugar distante. Ouço frases inteiras como se um outro conversasse incansavelmente comigo contando segredos da minha personalidade. Sussurradas, às vezes parecem palavras de medo. Medo de que eu realmente saiba tudo e não me poupe de qualquer detalhe.
Não sei exatamente por que, mas cresci ouvindo esta voz que me acompanha onde quer que eu vá. Me acalma, me irrita, me entende. Na cama, posso escutá-la com mais clareza. Ás vezes me excita, às vezes canta, chora, ri.”
Duca Leindecker
1 comment:
Não li esse livro e não sei se alguma voz fala comigo, mas sei que hoje, após a formatura, posso dizer que foi tudo muito surpreendente. Emoções nunca antes vividas. Como é bom se surpreender! beijos
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