Assisti ao filme vencedor do Festival de Cinema de Gramado desde ano, o falado Nome Próprio. Um baita filme do Murilo Salles, baseado nos textos da gaúcha Clarah Averbuck e com a atriz Leandra Leal, aliás, mais que merecido o Kikito de melhor atriz, ela está excelente, virei fã, até a novela das seis assisto de vez em quando só pra vê a Elzinha.
Bem por cima, o filme conta a história da Camila, uma jovem que se muda pra São Paulo com o namorado e quer ser escritora. Bem por cima, porque o filme é muito mais que isso, é surpreendente, tem um monte de histórias e muda o tempo todo. A cada cena uma surpresa. Só o que não muda é os escritos da Camila no seu blog. Que saem da tela do computador e invadem a tela do cinema.
Ainda hoje li uma matéria que dizia que o filme está sendo tema para grandes discussões. Sobre a “geração internet”, a estética da obra, o comportamento da personagem, os textos da Clarah... Acho bacana estarem discutindo sobre o filme, que é inteligente, atual e tem uma personagem rica e intensa. O mais bacana que achei na Camila foi a falta de hipocrisia, uma verdade em ser, uma coragem de não se esconder que assusta e por isso incomoda.
A personagem passa boa parte do filme nua, principalmente quando está escrevendo. E foi isso o que mais me chamou a atenção. O blog dela era sua catarse e nessa catarse valia tudo, pedir uma moradia, explicar que não gostava de comentários sobre seus textos, curar seus porres e até falar para o namorado que ela não traiu, foi ele que chegou em casa na hora errada.
Mário Quintana já dizia que “até uma vírgula é uma confissão” e partindo do princípio que quem escreve se expõe, nada anormal a personagem aparecer nua. Para mim, a cena mais bonita do filme é quando a Camila está nua, sentada no chão e liga o computador, a única luz em cena é a do monitor que reflete não só o corpo dela, mas a pessoa. A cena muda e ela nem chega a escrever. E ali, naquele momento, nem precisava. A escritora já era o suficiente e não cabia em nenhuma história.
Saturday, August 30, 2008
Monday, August 25, 2008
O dia seguinte. Um dia depois
Queria ter escrito esse texto ontem. Mas não consegui. Ainda tava pensando muito no dia anterior. 23 de agosto. “Amanhã é 23...”, já cantava Paula Toller. O estranho é pensar que esperei tanto por esse dia. Ontem pensei muito para ver se a ficha caia.
Foram meses de expectativa, reuniões, confraternizações, festas, discussões, dores de cabeça... Daí chega o dia. Não parecíamos nervosos antes, eu só comecei a me dar conta do que tava acontecendo quando esperávamos o Daniel Scola (nosso paraninfo). Tentávamos escutar alguma coisa da cerimônia... Alguém falou que o Daniel chegou, meu coração quase saiu pela boca e a partir daí foi tudo rápido.
Não sei como consegui chegar até o palco e como esse trajeto rendeu algumas fotos bacanas. Hino, juramento e começou a entrega do diploma, eu era a quinta. Quando percebi, me chamaram eu não ouvi minha música (Vida louca vida, do Cazuza), mas lembro que meus colegas cantaram. Também não sei como cheguei onde tinha que chegar.
Eu ainda consegui me esquecer para quem que eu tinha que entregar o barrete. Olhei para um, olhei para o outro e não sabia. Aí olhei para o Daniel e me lembrei que ele era o segundo... Grande Daniel! Me salvou! Depois foi um senta-levanta, senta-levanta. Que quando vi, os oradores já estavam fazendo o discurso, já tinha rosas na minhas mãos para entregar aos meus pais, o Daniel já estava fazendo o tão esperado discurso dele, hino do Rio Grande do Sul e acabou.
Lá fora um monte de gente, mais do que eu esperava! Até minha professora da primeira série, adorei que ela foi! Imagina, ela que me ensinou a ler, tinha que estar lá, de certo modo, é responsabilidade dela também. E boa parte da família. Queria meu vô tivesse ido... Minha vô e minha prima sei que mesmo no céu (sic) estavam lá comigo!
Eu não sei o que senti. Não tem explicação o que é estar em cima daquele palco, é diferente de tudo que tinha imaginado. Eu queria escrever mais sobre o que eu senti... Não consigo, me lembro e começo a chorar. Talvez porque é muito recente ainda. Mas eu gostaria de lembrar desse dia daqui alguns anos e sentir o que eu tô sentindo agora.
Foram meses de expectativa, reuniões, confraternizações, festas, discussões, dores de cabeça... Daí chega o dia. Não parecíamos nervosos antes, eu só comecei a me dar conta do que tava acontecendo quando esperávamos o Daniel Scola (nosso paraninfo). Tentávamos escutar alguma coisa da cerimônia... Alguém falou que o Daniel chegou, meu coração quase saiu pela boca e a partir daí foi tudo rápido.
Não sei como consegui chegar até o palco e como esse trajeto rendeu algumas fotos bacanas. Hino, juramento e começou a entrega do diploma, eu era a quinta. Quando percebi, me chamaram eu não ouvi minha música (Vida louca vida, do Cazuza), mas lembro que meus colegas cantaram. Também não sei como cheguei onde tinha que chegar.
Eu ainda consegui me esquecer para quem que eu tinha que entregar o barrete. Olhei para um, olhei para o outro e não sabia. Aí olhei para o Daniel e me lembrei que ele era o segundo... Grande Daniel! Me salvou! Depois foi um senta-levanta, senta-levanta. Que quando vi, os oradores já estavam fazendo o discurso, já tinha rosas na minhas mãos para entregar aos meus pais, o Daniel já estava fazendo o tão esperado discurso dele, hino do Rio Grande do Sul e acabou.
Lá fora um monte de gente, mais do que eu esperava! Até minha professora da primeira série, adorei que ela foi! Imagina, ela que me ensinou a ler, tinha que estar lá, de certo modo, é responsabilidade dela também. E boa parte da família. Queria meu vô tivesse ido... Minha vô e minha prima sei que mesmo no céu (sic) estavam lá comigo!
Eu não sei o que senti. Não tem explicação o que é estar em cima daquele palco, é diferente de tudo que tinha imaginado. Eu queria escrever mais sobre o que eu senti... Não consigo, me lembro e começo a chorar. Talvez porque é muito recente ainda. Mas eu gostaria de lembrar desse dia daqui alguns anos e sentir o que eu tô sentindo agora.
Friday, August 22, 2008
Instantâneo
Acho que hoje eu não vou conseguir dormir (às vezes penso se é dormir ou durmir...). Sempre escrevo mais à noite. Tenho mais idéias ou apenas me escuto, não sei. Quantas vezes deitei na cama e comecei a escutar a voz, às vezes conseguia virar pro lado e pegar no sono, noutras levantava e escrevia.
Uma das poucas certezas que sempre tive na vida é que escrever pra mim é tão vital quanto respirar. Era criança e já imaginava que quando crescesse queria ser vegetariana (sempre achei bonito), teria tatuagens (nunca entendi porque não somos coloridos) e escrevia (eu tenho mil e um motivos pra isso).
Sempre andei com papel e caneta. Sempre escutei essa voz que só cala quando eu escrevo. Às vezes me pergunto se é vocação ou piração e tenho medo da resposta, seja qual for. Já me conformei que vou ter que escutá-la por toda minha vida.
Acho que é só pra escrever que fiz jornalismo. E a poucas horas da formatura penso nas histórias que ainda vou contar. Nas que ouvirei das fontes e nas que a voz vai me contar. E acho que foi a voz que me levou até esse momento. Claro que jornalismo não é só escrever, eu trabalho muito mais com projeto gráfico do que com redação. Mas é um ouvir histórias constantes.
É como eu gosto de ouvir histórias, por isso que falo pouco e escrevo muito. Tenho diário até hoje! Fora uns cadernos onde escrevo quando não tô a fim de digitar. Fora o que escrevo e toco fora. Fora a agenda e um monte de papel que tenho do lado do computador. Enfim, todos os caminhos me levaram a escrever. E a voz insistia...
Eu tô ansiosa com a formatura, escrevo (neste momento) pra me acalmar um pouco. Por isso instantâneo! A voz por mais incrível que pareça, tá queitinha, acho que ela tá com medo. Mas sei que vou deitar na cama e não vou dormir. Então escrever também serve pra passar o tempo. Contar pra várias pessoas o que não tenho ninguém pra contar. Eternizar pessoas. Extravasar.
Quando eu tinha uns 13, 14 anos achava que escrevendo eu iria me encontrar. Hoje eu sei que eu escrevo porque não quero me achar. Posso ser outras. Posse ser diferente. Me exponho sem quer. Me exponho com consciência. Exponho os outros sem querer e por querer. Sou a leonina com ascendente em escorpião, e aceito todo o ego e gênio difícil dessa combinação. Sou a doce canceriana que gostaria de ser, às vezes. Posso me perder, que a voz me guia.
Gosto de frases curtas. E-emendar-um-monte-de-palavras-assim. Porque faz a gente perder o fôlego. Eu gosto de perder o fôlego. Escrevo na primeira pessoa porque é mais fácil começar. Gosto de reticiências... E me pergunto qual a melhor hora de acabar?
O texto abaixo tá no livro “A Casa da Esquina”, que eu comprei com meu primeiro salário, fez eu me sentir mais normal e aceitar essa vocação ou piração.
“Pesco palavras entre tantas que invadem meu pensamento vindas de um lugar distante. Ouço frases inteiras como se um outro conversasse incansavelmente comigo contando segredos da minha personalidade. Sussurradas, às vezes parecem palavras de medo. Medo de que eu realmente saiba tudo e não me poupe de qualquer detalhe.
Não sei exatamente por que, mas cresci ouvindo esta voz que me acompanha onde quer que eu vá. Me acalma, me irrita, me entende. Na cama, posso escutá-la com mais clareza. Ás vezes me excita, às vezes canta, chora, ri.”
Duca Leindecker
Uma das poucas certezas que sempre tive na vida é que escrever pra mim é tão vital quanto respirar. Era criança e já imaginava que quando crescesse queria ser vegetariana (sempre achei bonito), teria tatuagens (nunca entendi porque não somos coloridos) e escrevia (eu tenho mil e um motivos pra isso).
Sempre andei com papel e caneta. Sempre escutei essa voz que só cala quando eu escrevo. Às vezes me pergunto se é vocação ou piração e tenho medo da resposta, seja qual for. Já me conformei que vou ter que escutá-la por toda minha vida.
Acho que é só pra escrever que fiz jornalismo. E a poucas horas da formatura penso nas histórias que ainda vou contar. Nas que ouvirei das fontes e nas que a voz vai me contar. E acho que foi a voz que me levou até esse momento. Claro que jornalismo não é só escrever, eu trabalho muito mais com projeto gráfico do que com redação. Mas é um ouvir histórias constantes.
É como eu gosto de ouvir histórias, por isso que falo pouco e escrevo muito. Tenho diário até hoje! Fora uns cadernos onde escrevo quando não tô a fim de digitar. Fora o que escrevo e toco fora. Fora a agenda e um monte de papel que tenho do lado do computador. Enfim, todos os caminhos me levaram a escrever. E a voz insistia...
Eu tô ansiosa com a formatura, escrevo (neste momento) pra me acalmar um pouco. Por isso instantâneo! A voz por mais incrível que pareça, tá queitinha, acho que ela tá com medo. Mas sei que vou deitar na cama e não vou dormir. Então escrever também serve pra passar o tempo. Contar pra várias pessoas o que não tenho ninguém pra contar. Eternizar pessoas. Extravasar.
Quando eu tinha uns 13, 14 anos achava que escrevendo eu iria me encontrar. Hoje eu sei que eu escrevo porque não quero me achar. Posso ser outras. Posse ser diferente. Me exponho sem quer. Me exponho com consciência. Exponho os outros sem querer e por querer. Sou a leonina com ascendente em escorpião, e aceito todo o ego e gênio difícil dessa combinação. Sou a doce canceriana que gostaria de ser, às vezes. Posso me perder, que a voz me guia.
Gosto de frases curtas. E-emendar-um-monte-de-palavras-assim. Porque faz a gente perder o fôlego. Eu gosto de perder o fôlego. Escrevo na primeira pessoa porque é mais fácil começar. Gosto de reticiências... E me pergunto qual a melhor hora de acabar?
O texto abaixo tá no livro “A Casa da Esquina”, que eu comprei com meu primeiro salário, fez eu me sentir mais normal e aceitar essa vocação ou piração.
“Pesco palavras entre tantas que invadem meu pensamento vindas de um lugar distante. Ouço frases inteiras como se um outro conversasse incansavelmente comigo contando segredos da minha personalidade. Sussurradas, às vezes parecem palavras de medo. Medo de que eu realmente saiba tudo e não me poupe de qualquer detalhe.
Não sei exatamente por que, mas cresci ouvindo esta voz que me acompanha onde quer que eu vá. Me acalma, me irrita, me entende. Na cama, posso escutá-la com mais clareza. Ás vezes me excita, às vezes canta, chora, ri.”
Duca Leindecker
Monday, August 18, 2008
Sem texto
Quarta-feira passada, dia 13, fui na caminhada dos jornalistas pela regulamentação da profissão. Já antes de ir estava pensado "tenho que escrever sobre isso no blog"... Hoje um amiga me perguntou por que não tinha escrito nada.
Porque pela primeira vez, fiquei com vergonha da minha profissão. Havia dezenas de pessoas, só dezenas! Esperava mais, muito mais! Que classe mais desunida! Os professores e profissionas presentes estavam falando que havia muita gente participando...
Enfim, fui, fiz minha parte, caminhei, vesti a camiseta, pintei a cara, entreguei panfleto e carreguei faixa, mas não gostei. Esperava mais!
Porque pela primeira vez, fiquei com vergonha da minha profissão. Havia dezenas de pessoas, só dezenas! Esperava mais, muito mais! Que classe mais desunida! Os professores e profissionas presentes estavam falando que havia muita gente participando...
Enfim, fui, fiz minha parte, caminhei, vesti a camiseta, pintei a cara, entreguei panfleto e carreguei faixa, mas não gostei. Esperava mais!
Wednesday, August 13, 2008
Percepções
Exatamente um mês depois da minha formatura, uma grande amiga vai se casar. Apesar da amizade, ela não vai na minha formatura, nem eu vou no seu casamento. Fiquei tri feliz quando soube do casamento. E sei que ela também está tri feliz com a minha formatura.
Estudamos juntas desde a sexta série, ela foi a primeira amiga que fiz quando troquei de colégio. Tocávamos na banda do colégio. Éramos do grêmio estudantil. Vivíamos uma na casa da outra. Dividíamos segredos e claro, fizemos juras de amizade eterna.
O que aconteceu? O tempo passou, terminamos o colégio, pessoas foram surgindo, coisas nos surpreendendo, cada uma seguiu seu caminho. Ficou um monte de lembranças boas e um baita carinho, o que faz eu me referir a Paula como uma grande amiga. Claro que nos falamos pelo orkut, msn, mas não algo tão constante e presente como foi um dia. Sabemos que fazemos parte do passado.
Tenho uma grande amiga que foi morar em Curitiba. Nos conhecemos no meu primeiro emprego, onde eu fiz muitas coisas, menos trabalhar de fato. Já partilhamos muitas risadas, passamos o revéillon juntas, encaramos uma excursão onde tudo deu errado e quando eu fiquei mal, ela foi a única que me aturou.
Talvez a Ana volte, talvez não. O que sabemos é que nada vai mudar. Nós falamos quase todos os dias pelo msn, como era antes dela ir. Estou sem companhia para sair e para as eventuais caminhadas nas tardes de domingos! Mas ganho a possibilidade de conhecer Curitiba! Assim que der vou visitar a Ana.
Estranho como a percepção que temos das nossas amizades mudam com o tempo. Se a Paula me falasse que ia embora, mesmo se fosse para a cidade vizinha, meu mundo teria desabado. Com 12, 13 anos achamos que aquela pessoa que senta na classe do lado na aula, fará parte da nossa vida toda. Não admitimos a possibilidade de que surgirão outras pessoas.
Com o tempo isso vai passando. Conheci a Ana com 17 anos, já fazia jornalismo e ela já queria ser engenheira. Nunca sentaríamos uma do lado da outra na aula. Não nos veríamos todos os dias. Ela tem a turma dela e eu a minha. É mais fácil aceitar que as pessoas que, provavelmente, estarão com você por boa parte da vida, nem sempre estarão presentes o tempo todo.
Por isso o mundo não caiu quando a Ana disse que ia para Curitiba. Sabemos que nada vai mudar. Assim como a vida me afastou da Paula, que era tão parecida comigo! Me aproximou da Ana, que é tão diferente de mim! O bom é se dar conta dessas percepções, saber que a Paula está guardadinha num monte história bacana que tenho para contar e que a Ana vai me ajudar a escrever as páginas em branco.
Estudamos juntas desde a sexta série, ela foi a primeira amiga que fiz quando troquei de colégio. Tocávamos na banda do colégio. Éramos do grêmio estudantil. Vivíamos uma na casa da outra. Dividíamos segredos e claro, fizemos juras de amizade eterna.
O que aconteceu? O tempo passou, terminamos o colégio, pessoas foram surgindo, coisas nos surpreendendo, cada uma seguiu seu caminho. Ficou um monte de lembranças boas e um baita carinho, o que faz eu me referir a Paula como uma grande amiga. Claro que nos falamos pelo orkut, msn, mas não algo tão constante e presente como foi um dia. Sabemos que fazemos parte do passado.
Tenho uma grande amiga que foi morar em Curitiba. Nos conhecemos no meu primeiro emprego, onde eu fiz muitas coisas, menos trabalhar de fato. Já partilhamos muitas risadas, passamos o revéillon juntas, encaramos uma excursão onde tudo deu errado e quando eu fiquei mal, ela foi a única que me aturou.
Talvez a Ana volte, talvez não. O que sabemos é que nada vai mudar. Nós falamos quase todos os dias pelo msn, como era antes dela ir. Estou sem companhia para sair e para as eventuais caminhadas nas tardes de domingos! Mas ganho a possibilidade de conhecer Curitiba! Assim que der vou visitar a Ana.
Estranho como a percepção que temos das nossas amizades mudam com o tempo. Se a Paula me falasse que ia embora, mesmo se fosse para a cidade vizinha, meu mundo teria desabado. Com 12, 13 anos achamos que aquela pessoa que senta na classe do lado na aula, fará parte da nossa vida toda. Não admitimos a possibilidade de que surgirão outras pessoas.
Com o tempo isso vai passando. Conheci a Ana com 17 anos, já fazia jornalismo e ela já queria ser engenheira. Nunca sentaríamos uma do lado da outra na aula. Não nos veríamos todos os dias. Ela tem a turma dela e eu a minha. É mais fácil aceitar que as pessoas que, provavelmente, estarão com você por boa parte da vida, nem sempre estarão presentes o tempo todo.
Por isso o mundo não caiu quando a Ana disse que ia para Curitiba. Sabemos que nada vai mudar. Assim como a vida me afastou da Paula, que era tão parecida comigo! Me aproximou da Ana, que é tão diferente de mim! O bom é se dar conta dessas percepções, saber que a Paula está guardadinha num monte história bacana que tenho para contar e que a Ana vai me ajudar a escrever as páginas em branco.
Friday, August 08, 2008
Um medo que nem sei
Sempre tive uns medos de umas coisas loucas. Não esse medo que tenho de barata ou de altura ou de não conseguir emprego ou de pai e mãe morrer...
Tenho medo do que não existe, mas pode virá realidade. Medo das voltas que o mundo dá, eu acho. Medo por exemplo, de sair por aí num dia normal, achando que tá tudo normal e de repente tudo mudar. Eu esquecer quem eu sou, onde moro, onde estava indo...
De ir parar num hospício e pirar de vez. De me colocarem numa camisa de força, me darem remédio e não me explicarem o motivo, de tomar choque elétrico e ficar sem consciência e eu nunca mais conseguir me desvencilhar da loucura.
De acreditar e levar ao pé da letra tudo que eu leio. Calendário Maia, física quântica, tendências pós-modernas, xamanismo, receitas, simpatias, contos de fadas... Imaginem, eu lendo meu livrinho e de repente ser engolida pela história e eu sumir, tipo “Alice no país das Maravilhas.” Ou eu estar lendo meu livrinho e a história tomar conta de mim, me possuir mesmo. E eu não saber mais o que é real...
Medo de virar mendiga. Dessas que andam com as poucas coisas que tem. Como a velhinha que fica na frente do Teatro São Pedro, ela dorme na escadaria, mesmo com chuva... Passo por ela todo dia, a gente já se cumprimenta e eu morro de vontade de saber em que volta do mundo ela foi para ali. Mas toda vez que ultrapasso um oi, ela começa a não falar coisa com coisa. Eu tenho medo de não falar coisa com coisa (mas só de falar, porque escrever, eu já escrevo).
E se eu viajar para um lugar distante, tipo Etiópia e estourar uma guerra civil e eu ficar como refém em alguma cidadezinha? Se eu estiver caminhando na rua e ser acertada por uma pedra na cabeça e parar como indigente num hospital qualquer? Dá medo de pensar no que pode acontecer. Já pensou ser abduzido, conhecer outros mundos, seres, passar por uma louca experiência evolutiva e na volta ninguém acreditar?
Até pensar demais me dá medo. Imaginação pode ser um perigo, imaginar é o primeiro passo para a realidade! Também tenho medo de ficar tonta com as voltas que o mundo dá e viver cambaleando por aí, como essas pessoas que a gente vê às vezes, e pensa "ih, tá bêbado"... Eu fico me perguntando: será a bebida ou apenas o mundo?
Tenho medo do que não existe, mas pode virá realidade. Medo das voltas que o mundo dá, eu acho. Medo por exemplo, de sair por aí num dia normal, achando que tá tudo normal e de repente tudo mudar. Eu esquecer quem eu sou, onde moro, onde estava indo...
De ir parar num hospício e pirar de vez. De me colocarem numa camisa de força, me darem remédio e não me explicarem o motivo, de tomar choque elétrico e ficar sem consciência e eu nunca mais conseguir me desvencilhar da loucura.
De acreditar e levar ao pé da letra tudo que eu leio. Calendário Maia, física quântica, tendências pós-modernas, xamanismo, receitas, simpatias, contos de fadas... Imaginem, eu lendo meu livrinho e de repente ser engolida pela história e eu sumir, tipo “Alice no país das Maravilhas.” Ou eu estar lendo meu livrinho e a história tomar conta de mim, me possuir mesmo. E eu não saber mais o que é real...
Medo de virar mendiga. Dessas que andam com as poucas coisas que tem. Como a velhinha que fica na frente do Teatro São Pedro, ela dorme na escadaria, mesmo com chuva... Passo por ela todo dia, a gente já se cumprimenta e eu morro de vontade de saber em que volta do mundo ela foi para ali. Mas toda vez que ultrapasso um oi, ela começa a não falar coisa com coisa. Eu tenho medo de não falar coisa com coisa (mas só de falar, porque escrever, eu já escrevo).
E se eu viajar para um lugar distante, tipo Etiópia e estourar uma guerra civil e eu ficar como refém em alguma cidadezinha? Se eu estiver caminhando na rua e ser acertada por uma pedra na cabeça e parar como indigente num hospital qualquer? Dá medo de pensar no que pode acontecer. Já pensou ser abduzido, conhecer outros mundos, seres, passar por uma louca experiência evolutiva e na volta ninguém acreditar?
Até pensar demais me dá medo. Imaginação pode ser um perigo, imaginar é o primeiro passo para a realidade! Também tenho medo de ficar tonta com as voltas que o mundo dá e viver cambaleando por aí, como essas pessoas que a gente vê às vezes, e pensa "ih, tá bêbado"... Eu fico me perguntando: será a bebida ou apenas o mundo?
Sunday, August 03, 2008
O poeta da tristeza exata
...seu grito acordaria, não só a sua casa, mas a vizinhança inteira...
Acabei de chegar do Teatro São Pedro, o que por si só, já é um evento. Fui ver Renato Russo – A Peça. É muito bom! Bruce Gomlevsky que interpreta Renato é perfeito, super parecido com o cantor e com a voz igual. A banda Arte Profana acompanha o ator nas 22 músicas, do Aborto Elétrico, da Legião Urbana, dos discos solos (incluindo o italiano) e alguns covers.
A peça começa quando Renato tem 15 anos e se descobre com uma doença chamada epifisiólise, que o deixou numa cadeira de rodas por dois anos. Foi nesse período que a inquietação do compositor veio à tona. Descobriu o Sex Pistols, leu como nunca, passou a se dedicar mais ao violão e a se imaginar um grande cantor. Nascia o mito.
Daí segue o baile... Surge o Aborto Elétrico, farra, drogas, sexo, Brasília... Acaba a banda. Passa a tocar sozinho como “O trovador solitário”, nessa hora, o ator começa a falar sobre astrologia, diz que é ariano e que gosta de gente de leão. Perguntas quantas leoninas tem na platéia, que é um signo forte, de gente bonita, etc... Conta que tinha uma grande amiga leonina e fez uma música para ela, que dedicou a todas as leoninas ali presentes. A música: Eduardo e Mônica. ...Ela era de leão e ele tinha dezesseis... Isso não é o mais importante da história, mas eu como leonina, adorei!
Se cansou de trovar solitariamente e chama uns amigos para tocar com ele. Estava nascendo a maior banda de rock do Brasil. A Legião Urbana. Música, drogas, sexo, homens, mulheres, música, sucesso, shows, entrevistas... Renato se cansou muitas vezes, foi para Nova York, declarou seu amor para um americano, voltou na época do impeachment, amou muito o filho Giuliano. E morreu em 1996.
Todo mundo cantou tudo, Pais e Filhos foi emocionante. No final, com direito a frase clássica “Força sempre”, surge o Renato/Bruce cantando e entregando rosas vermelhas. Aplausos de pé das pessoas de todas as idades que lotaram o São Pedro. Foram duas horas do musical e monólogo, que vale a pena assistir. Pena que não deixavam fotografar!
Para alguém que tinha 11 anos quando Renato Russo, essa peça foi o máximo! Imagina o que seria um show da Legião? Meus tios foram num nos anos 80, no Gigantinho, até hoje falam desse show. Entre tantas frases incríveis ditas pelo cara, duas ficaram na cabeça: “Eu só escrevo porque não sei de nada” e “Eu só sinto um vazio”.
A conclusão do próprio Renato para o seu sucesso é que ele foi sincero, cantou e escreveu o que se passava com ele e, que no fundo, é igual a dor de todo mundo. ...Tua tristeza é tão exata. E hoje o dia é tão bonito...
Acabei de chegar do Teatro São Pedro, o que por si só, já é um evento. Fui ver Renato Russo – A Peça. É muito bom! Bruce Gomlevsky que interpreta Renato é perfeito, super parecido com o cantor e com a voz igual. A banda Arte Profana acompanha o ator nas 22 músicas, do Aborto Elétrico, da Legião Urbana, dos discos solos (incluindo o italiano) e alguns covers.
A peça começa quando Renato tem 15 anos e se descobre com uma doença chamada epifisiólise, que o deixou numa cadeira de rodas por dois anos. Foi nesse período que a inquietação do compositor veio à tona. Descobriu o Sex Pistols, leu como nunca, passou a se dedicar mais ao violão e a se imaginar um grande cantor. Nascia o mito.
Daí segue o baile... Surge o Aborto Elétrico, farra, drogas, sexo, Brasília... Acaba a banda. Passa a tocar sozinho como “O trovador solitário”, nessa hora, o ator começa a falar sobre astrologia, diz que é ariano e que gosta de gente de leão. Perguntas quantas leoninas tem na platéia, que é um signo forte, de gente bonita, etc... Conta que tinha uma grande amiga leonina e fez uma música para ela, que dedicou a todas as leoninas ali presentes. A música: Eduardo e Mônica. ...Ela era de leão e ele tinha dezesseis... Isso não é o mais importante da história, mas eu como leonina, adorei!
Se cansou de trovar solitariamente e chama uns amigos para tocar com ele. Estava nascendo a maior banda de rock do Brasil. A Legião Urbana. Música, drogas, sexo, homens, mulheres, música, sucesso, shows, entrevistas... Renato se cansou muitas vezes, foi para Nova York, declarou seu amor para um americano, voltou na época do impeachment, amou muito o filho Giuliano. E morreu em 1996.
Todo mundo cantou tudo, Pais e Filhos foi emocionante. No final, com direito a frase clássica “Força sempre”, surge o Renato/Bruce cantando e entregando rosas vermelhas. Aplausos de pé das pessoas de todas as idades que lotaram o São Pedro. Foram duas horas do musical e monólogo, que vale a pena assistir. Pena que não deixavam fotografar!
Para alguém que tinha 11 anos quando Renato Russo, essa peça foi o máximo! Imagina o que seria um show da Legião? Meus tios foram num nos anos 80, no Gigantinho, até hoje falam desse show. Entre tantas frases incríveis ditas pelo cara, duas ficaram na cabeça: “Eu só escrevo porque não sei de nada” e “Eu só sinto um vazio”.
A conclusão do próprio Renato para o seu sucesso é que ele foi sincero, cantou e escreveu o que se passava com ele e, que no fundo, é igual a dor de todo mundo. ...Tua tristeza é tão exata. E hoje o dia é tão bonito...
Saturday, August 02, 2008
Um pouco de tudo e quase nada
Estou quase fazendo aniversário. Não gosto de fazer aniversário, mas esse ano, segundo os chineses, o dia 08/08/08 terá toda sua mística triplicada e eu espero que isso seja sorte. Eu não sou velha, só que se eu resolver fazer ginástica olímpica com 23 anos vou quebrar a cara.
Não sei como me imaginava com 23 anos. Sabia que teria tatuagens e seria vegetariana. Só. Eu queria já ter tido um namorado, só pra vê como é. Ter viajado mais. Queria escrever mais, ser como essas escritoras cults que surgem de vez em quando. Gostaria de ser mais baladeira e não ficar de porre no primeiro copo. Me imaginava morando sozinha, eu acho...
Só que nunca me passou que seria a morada de um buraco sem fim dentro do meu estômago que está sempre faminto. Eu tento, faço de tudo para saciá-lo e não consigo. O esforço parece quase nada. Ele sempre quer mais e fica urrando lá dentro “não põe a culpa em mim!” O safado inverte o jogo!
Quando eu tenho alguma sorte, começo a achar estranho a sensação de felicidade que às vezes me invade, esperança que aperta a minha mão e as noites que deito e durmo, sem chorar. Aí não resisto e vou procurar o meu vazio, vejo ele lá dormindo. Inconscientemente começo a falar alto, dar gargalhadas, ter idéias mirabolantes, escrever sobre o dito-cujo até ele acordar. Ele levanta com o mau humor típico de quem acordou antes da hora e diz na minha cara: “Viu como você não vive sem mim.”
Não era bem isso que eu imaginava para mim. Cultivar buracos internos! Será um carma? Eu só queria escrever e viver disso. Mas quem vai querer ler “as aventuras de um buraco vazio”? Nem a minha mãe. Eu não sei o que queria para mim. E continuo não sabendo.
Companhia para ir no cinema? Alguém para discutir o último livro que eu li? Dinheiro para comprar todos os livros que eu quero ler? Um namorado? Uma casa com cerquinha branca? Ser uma jornalista bem sucedida? Ser uma escritora porra louca e incompreendida? Sou vazia de respostas. E esse vazio todo só me enche de perguntas que não sei responder, aí me sinto burra.
Outro dia estava conversando com um colega da época do colégio no msn. Ele falou que eu tinha ficado muito gata! O buraco riu da minha cara, lembrando que se ele falasse isso na época do colégio eu teria amado, porque sempre achei o moço lindo. Eu achava que naquela época ninguém me enxergava. Às vezes, acho que foi por ali que catei um bichinho rejeitado e coloquei dentro de mim. Ele cresceu e se tornou o vazio que me habita. Quando eu escrevo ele se acalma um pouco e acentua a solidão. Afinal, porque eu prefiro passar as noites de sábado cultivando o vazio?
Não sei como me imaginava com 23 anos. Sabia que teria tatuagens e seria vegetariana. Só. Eu queria já ter tido um namorado, só pra vê como é. Ter viajado mais. Queria escrever mais, ser como essas escritoras cults que surgem de vez em quando. Gostaria de ser mais baladeira e não ficar de porre no primeiro copo. Me imaginava morando sozinha, eu acho...
Só que nunca me passou que seria a morada de um buraco sem fim dentro do meu estômago que está sempre faminto. Eu tento, faço de tudo para saciá-lo e não consigo. O esforço parece quase nada. Ele sempre quer mais e fica urrando lá dentro “não põe a culpa em mim!” O safado inverte o jogo!
Quando eu tenho alguma sorte, começo a achar estranho a sensação de felicidade que às vezes me invade, esperança que aperta a minha mão e as noites que deito e durmo, sem chorar. Aí não resisto e vou procurar o meu vazio, vejo ele lá dormindo. Inconscientemente começo a falar alto, dar gargalhadas, ter idéias mirabolantes, escrever sobre o dito-cujo até ele acordar. Ele levanta com o mau humor típico de quem acordou antes da hora e diz na minha cara: “Viu como você não vive sem mim.”
Não era bem isso que eu imaginava para mim. Cultivar buracos internos! Será um carma? Eu só queria escrever e viver disso. Mas quem vai querer ler “as aventuras de um buraco vazio”? Nem a minha mãe. Eu não sei o que queria para mim. E continuo não sabendo.
Companhia para ir no cinema? Alguém para discutir o último livro que eu li? Dinheiro para comprar todos os livros que eu quero ler? Um namorado? Uma casa com cerquinha branca? Ser uma jornalista bem sucedida? Ser uma escritora porra louca e incompreendida? Sou vazia de respostas. E esse vazio todo só me enche de perguntas que não sei responder, aí me sinto burra.
Outro dia estava conversando com um colega da época do colégio no msn. Ele falou que eu tinha ficado muito gata! O buraco riu da minha cara, lembrando que se ele falasse isso na época do colégio eu teria amado, porque sempre achei o moço lindo. Eu achava que naquela época ninguém me enxergava. Às vezes, acho que foi por ali que catei um bichinho rejeitado e coloquei dentro de mim. Ele cresceu e se tornou o vazio que me habita. Quando eu escrevo ele se acalma um pouco e acentua a solidão. Afinal, porque eu prefiro passar as noites de sábado cultivando o vazio?
Subscribe to:
Posts (Atom)