Friday, May 16, 2008

Ali

O sol tava tão bom que eu só queria ficar ali. Era frio, mas o sol me esquentava e me dava uma impressão tão boa, acolhedora e ali, sentindo o sol, eu esqueci de tudo o que não gosto de lembrar. Eu não tinha me tornado a pessoa mais feliz do mundo, os problemas continuavam os mesmos, mas tinha o sol.

Aquele cheiro era tão bom. A aparência do macarrão tão apetitosa que eu daria a vida para comer a comida da minha avó mais uma vez. Eu era uma criança tímida e sem amigos, mas sempre tinha a casa da vô para me esconder e ao mesmo tempo, me libertar.

Aqueles shows eram tão bacanas e eu saia de lá tão leve, que às vezes penso que um show de punk rock é melhor que terapia. Qualquer calça rasgada servia! O all star, velho, nunca me incomodava e a roda punk era a libertação total. Sempre tinha um que gritava: “Duda, nos purifica!”. Era fácil se purificar naquela época.

Ele me abraçava sempre que me via. E abraçava apertado, um abraço de urso, para me mostrar que ele era tão forte quanto os heróis que via na TV. E eu me achava o máximo. Mas as crianças crescem, inclusive os afilhados. E eu adoro quando ele me chama de “dinda Rê”, porque eu volto a me sentir o máximo, mesmo sem abraço apertado.

A risada foi tão intensa que eu não sabia mais se chorava ou se ria. O corpo doía tanto, que parecia que tinha feito milhares de abdominais. Por um momento esqueci de toda a solidão e desejei a eternidade, de preferência com aquela dor na bochecha de que quem riu demais. Às vezes é tão fácil ser feliz.

1 comment:

Anonymous said...

O sol me dá essa mesma sensação...
mas o afilhado eu ainda não tenho.

beijo