A vida é um drama. Mas um drama bem engraçado, como escreveu a Tati Bernardi. Andar de trem todo dia é um drama. Ler meu livrinho e rir de alguma cena dentro do trem cheio é engraçado. As pessoas me olham com cada cara e eu tenho mais vontade de rir e me dou conta do drama que é não ter privacidade para rir do meu livrinho dentro do tem lotado. Se eu chorasse será que iriam gostar?
Comecei fazer a lista das coisas que eu vou levar quando sair da casa dos meus pais e ir para os arredores da Redenção. Estava tudo ótimo, até meu irmão pegar a lista e me perguntar quando isso ia acontecer, eu falei que ainda não sei, mas, pela primeira vez na vida não quero deixar tudo para última hora, vai que eu esqueça alguma coisa. Fazer uma lista dessas é até engraçado. O drama foi do meu irmão, que achou absurdo as fadas que eu tenho penduras no meu quarto serem o primeiro item da lista.
Viro madrugadas escrevendo meu trabalho de conclusão. Mas sempre páro, porque uma voz misteriosa me manda escrever outras coisas, como esse texto, por exemplo. Aí na mesma madrugada escrevo alguns textos, falo com um e outro no msn, choro, dou risada, tomo um vinhozinho... Pareço uma louca, deve ser engraçado. O drama é eu não escrever nada do meu tcc.
Vou para a cama às 2h da manhã. Às 4h30 meus olhos abrem e eu me dou conta que não vou mais dormir. Repito o mantra: “Dorme criatura, tu tem que levantar às 6h”. Que graça, não durmo de jeito nenhum, fico tentando identificar qual é o cachorro da rua que late agora, conto as estrelas que tenho na parede, olho em baixo da cama (a insônia nos faz lembrar até do bicho-papão). 5h50 meus olhos começam a ficar pesados e sono vem gostoso. 6h o relógio desperta. Ô drama!
Fui fazer meu passaporte. O único dia disponível é em junho! Liguei para a Polícia Federal e falei do absurdo, argumentei que vou viajar loguinho e preciso do meu passaporte para ontem! Eu não vou viajar loguinho, mas tenho que estar preparada. Tive um piti, um chilique, apelei para o meu ego leonino. Falei sério também, que até junho posso ter morrido, mas prometi que se morrer sem meu passaporte, vou enlouquecer essa tal de Raquel que me atendeu! Ela disse que nunca viu tanto drama por causa de um passaporte, eu chamei ela de louca, pois ela não estava vendo nada, apenas escutando. Até que dita cuja desligou o telefone! E eu não achei a graça nenhuma nessa história.
Sunday, March 30, 2008
Tuesday, March 25, 2008
Presente de aniversário
- O que é isso?
- Teu presente! Eu... Ou o melhor de mim... Tá, eu sei que você não gosta muito dessas coisas, mas o que eu faço de melhor é escrever.
- Isso eu sei.
- Na verdade queria te dar um livro, mas estava em dúvida entre o “Pequeno Príncipe” e o “Kama Sutra”. Então achei melhor eu mesmo escrever essa história. Que eu conheço bem, diga-se de passagem.
- Uma vez tu meu deu um texto... Num blog que tu tinha...
- Aham. Foi de 27 anos, se eu não me engano. Quando o escrevi, pensei que quando tu fizesse 40 escrevia um livro para você. Se tu já era charmoso com 27, com certeza seria um quarentão ainda mais. E seu eu desse o mesmo nome daquele texto e lançasse no dia 25 de março, você não teria dúvidas que é para você.
- E sobre o que é? Fala de algo que aconteceu...
- Da gente, se é isso que você quer saber. Da faculdade, da atração toda, do sexo, do sentimento, dos e-mails imensos, dos chiliques, das escadas, de todas as coisas que eu nunca entendi... Mas algumas eu enfeitei, outras encurtei.
- E como termina?
- Como deveria, cada um tocando sua vida, mas tendo suas recaídas. Sabe, sempre que imaginava escrever sobre nós, achava que no fim tu ia se apaixonar por mim. Mas não consegui... Não seria a nossa história se tu tivesse se apaixonado por mim.
- Mas ao menos nos sempre fomos amigos. E tu sabe que eu me preocupo com você. Você nunca foi uma qualquer pra mim.
- Que belo consolo. No fundo, sempre tive a impressão que você gostava do fato de eu gostar de ti...
- Hehehehe, quem sabe. Só o tempo vai dizer... Tenho que ir. A fila tá grande.
- Quem diria né? Fila de autógrafos do meu livro!
- Parabéns! Você conseguiu, é uma escritora conhecida.
- Nem tudo eu consegui... Vai, que com certeza deve ter uma loira-aguada-e-sem-sal te esperando em algum lugar.
- Ai meu Deus...
- Posso só te dá um abraço, aquele que eu queria ter te dado quando estudávamos juntos... De amiga!
- Pode. Mas não me provoca!
- Ah, tá! Até parece que você é um santo e nunca me provocou.
- Eu!? Imagina. E o abraço?
- Então tu quer um abraço. É você que deveria me abraçar, eu que estou lançando um livro...
- Mas é eu que estou de aniversário!
- Feliz aniversário!
“O amor é o amor, mas pode também ser um simples ardor, uma cócega profunda no homem ou na mulher. Se o prazer é superficial, enjoativo como todas as coisas apenas superficiais, só depois é que se vai saber ou comprovar ou entender. Quem é capaz, portanto, de dizer que não houve prazer, que o calor não esteve ali o todo tempo, nele e nela, naquele frio orgástico que eriça as peles?” Flávio Tavares.
- Teu presente! Eu... Ou o melhor de mim... Tá, eu sei que você não gosta muito dessas coisas, mas o que eu faço de melhor é escrever.
- Isso eu sei.
- Na verdade queria te dar um livro, mas estava em dúvida entre o “Pequeno Príncipe” e o “Kama Sutra”. Então achei melhor eu mesmo escrever essa história. Que eu conheço bem, diga-se de passagem.
- Uma vez tu meu deu um texto... Num blog que tu tinha...
- Aham. Foi de 27 anos, se eu não me engano. Quando o escrevi, pensei que quando tu fizesse 40 escrevia um livro para você. Se tu já era charmoso com 27, com certeza seria um quarentão ainda mais. E seu eu desse o mesmo nome daquele texto e lançasse no dia 25 de março, você não teria dúvidas que é para você.
- E sobre o que é? Fala de algo que aconteceu...
- Da gente, se é isso que você quer saber. Da faculdade, da atração toda, do sexo, do sentimento, dos e-mails imensos, dos chiliques, das escadas, de todas as coisas que eu nunca entendi... Mas algumas eu enfeitei, outras encurtei.
- E como termina?
- Como deveria, cada um tocando sua vida, mas tendo suas recaídas. Sabe, sempre que imaginava escrever sobre nós, achava que no fim tu ia se apaixonar por mim. Mas não consegui... Não seria a nossa história se tu tivesse se apaixonado por mim.
- Mas ao menos nos sempre fomos amigos. E tu sabe que eu me preocupo com você. Você nunca foi uma qualquer pra mim.
- Que belo consolo. No fundo, sempre tive a impressão que você gostava do fato de eu gostar de ti...
- Hehehehe, quem sabe. Só o tempo vai dizer... Tenho que ir. A fila tá grande.
- Quem diria né? Fila de autógrafos do meu livro!
- Parabéns! Você conseguiu, é uma escritora conhecida.
- Nem tudo eu consegui... Vai, que com certeza deve ter uma loira-aguada-e-sem-sal te esperando em algum lugar.
- Ai meu Deus...
- Posso só te dá um abraço, aquele que eu queria ter te dado quando estudávamos juntos... De amiga!
- Pode. Mas não me provoca!
- Ah, tá! Até parece que você é um santo e nunca me provocou.
- Eu!? Imagina. E o abraço?
- Então tu quer um abraço. É você que deveria me abraçar, eu que estou lançando um livro...
- Mas é eu que estou de aniversário!
- Feliz aniversário!
“O amor é o amor, mas pode também ser um simples ardor, uma cócega profunda no homem ou na mulher. Se o prazer é superficial, enjoativo como todas as coisas apenas superficiais, só depois é que se vai saber ou comprovar ou entender. Quem é capaz, portanto, de dizer que não houve prazer, que o calor não esteve ali o todo tempo, nele e nela, naquele frio orgástico que eriça as peles?” Flávio Tavares.
Sunday, March 23, 2008
Dá pra tia!
Eu não pretendo ter filhos, me acho egoísta demais para isso e não gosto de crianças. Já meu irmão adooooooooooora e está louco para ser pai! A namorada dele já tem um filho de 7 anos e desde o Natal as atenções aqui em casa são todas dele. Meu pai e minha mãe adoram ter uma criança para se encantar com o pinheiro de Natal, para procurar chocolate...
Concordo com eles que uma criança dá mais vida para uma casa. Até porque elas fazem barulho e não colocam nada no lugar. A gente passa o tempo todo em função das crias que não sentimos o tempo passar. Definitivamente, não terei filhos. Mas sobrinhos devem ser legais. Encheu o saco? Vai com a mamãe e o papai, que a titia aqui tem mais o que fazer... E resolvido o problema.
O filho da namorada do meu irmão sabe muito bem quem é seu pai. E deve intuir que eu não sou muito chegada em criança, ainda mais olhando desenho animado enquanto eu quero assistir o telejornal. O fato é que ele me chama de tia!
Nesta Páscoa, o sobrinho estava aqui em casa, sendo o único e exclusivo foco de atenção. E ganhou um monte de chocolate. Três ovos com brinquedo dentro. Enquanto ele abria os seus chocolates, todo mundo estava envolta para ver qual era a surpresa da vez. O primeiro ovo trazia um peixinho de pelúcia, que eu adorei! O segundo foi um relógio e o terceiro, o mesmo peixinho do primeiro. Foi uma tristeza geral! Que azar, saiu igual...
- Dá pra tia, então! Falei.
Ele oscilou por um momento, mas me deu o peixinho amarelo com azul. Yes! E quer saber, que venham meus sobrinhos, porque quando eu era criança, não tinha ovo de chocolate com brinquedo dentro.
Concordo com eles que uma criança dá mais vida para uma casa. Até porque elas fazem barulho e não colocam nada no lugar. A gente passa o tempo todo em função das crias que não sentimos o tempo passar. Definitivamente, não terei filhos. Mas sobrinhos devem ser legais. Encheu o saco? Vai com a mamãe e o papai, que a titia aqui tem mais o que fazer... E resolvido o problema.
O filho da namorada do meu irmão sabe muito bem quem é seu pai. E deve intuir que eu não sou muito chegada em criança, ainda mais olhando desenho animado enquanto eu quero assistir o telejornal. O fato é que ele me chama de tia!
Nesta Páscoa, o sobrinho estava aqui em casa, sendo o único e exclusivo foco de atenção. E ganhou um monte de chocolate. Três ovos com brinquedo dentro. Enquanto ele abria os seus chocolates, todo mundo estava envolta para ver qual era a surpresa da vez. O primeiro ovo trazia um peixinho de pelúcia, que eu adorei! O segundo foi um relógio e o terceiro, o mesmo peixinho do primeiro. Foi uma tristeza geral! Que azar, saiu igual...
- Dá pra tia, então! Falei.
Ele oscilou por um momento, mas me deu o peixinho amarelo com azul. Yes! E quer saber, que venham meus sobrinhos, porque quando eu era criança, não tinha ovo de chocolate com brinquedo dentro.
Thursday, March 20, 2008
Ele chegou e eu nem percebi
O outono chegou e eu nem me dei conta. Só no serviço, ao folhear a Zero Hora, li a palavra "outono" em alguma manchete e me passou pela cabeça que daqui alguns dias o inverno chegaria. Que a minha estação preferida está acabando. Depois, fui ler toda a matéria e vi que o verão já tinha acabado. Durante a noite, enquanto eu rolava na cama e lutava conta a insônia, o verão me dava tchau.
O texto assinado por Cátia Valente é poético, começa assim: “Hoje acordamos com ares novos, ares de outono. Ele chegou às 2h48min. Nesse exato momento, os hemisférios Norte e Sul receberam a mesma quantidade de energia vinda do Sol. A noite e o dia tinham o mesmo tamanho...” E segue falando das folhas caídas, dos dias bonitos, da inconstância das temperaturas...
Mas o estranho é eu não ter me dado conta. Quando eu era criança sabia as horas e os dias, exatos, que as estações entravam. E fica ansiosa o dia todo, afinal, era uma mudança que estava acontecendo! Mudança de estação, de paisagem, de roupa, de humor. Uma mudança mágica que acontecia assim, do nada, a gente vai para a cama com o Inverno e acordamos nos braços da Primavera. Devo estar com outras coisas na cabeça, emprego, formatura, dinheiro (ou a falta de), trabalhos da faculdade... Coisas que tiraram meu sono, talvez, até de propósito...
No meio da manhã, com o jornal nas mãos, olhei pela janela do 10º andar da Assembléia Legislativa e vi o sol, e nuvens escuras também. Alguém entrou na sala reclamando de calor, outro apareceu de casaco, perguntaram que hora a chuva chegaria... Era o outono instalando suas mudanças.
O texto assinado por Cátia Valente é poético, começa assim: “Hoje acordamos com ares novos, ares de outono. Ele chegou às 2h48min. Nesse exato momento, os hemisférios Norte e Sul receberam a mesma quantidade de energia vinda do Sol. A noite e o dia tinham o mesmo tamanho...” E segue falando das folhas caídas, dos dias bonitos, da inconstância das temperaturas...
Mas o estranho é eu não ter me dado conta. Quando eu era criança sabia as horas e os dias, exatos, que as estações entravam. E fica ansiosa o dia todo, afinal, era uma mudança que estava acontecendo! Mudança de estação, de paisagem, de roupa, de humor. Uma mudança mágica que acontecia assim, do nada, a gente vai para a cama com o Inverno e acordamos nos braços da Primavera. Devo estar com outras coisas na cabeça, emprego, formatura, dinheiro (ou a falta de), trabalhos da faculdade... Coisas que tiraram meu sono, talvez, até de propósito...
No meio da manhã, com o jornal nas mãos, olhei pela janela do 10º andar da Assembléia Legislativa e vi o sol, e nuvens escuras também. Alguém entrou na sala reclamando de calor, outro apareceu de casaco, perguntaram que hora a chuva chegaria... Era o outono instalando suas mudanças.
Sunday, March 16, 2008
Devaneio
Eu nunca paro na frente do computador e me pergunto o que escrever. Eu sempre sei, sempre tenho inspiração e piração, na medida certa. Cazuza já dizia que “entre o certo e o errado há o resto todo”. Acho que é neste resto que se esconde a inspiração. A piração seria o errado. O resultado de tudo, tentar ganhar a vida escrevendo, é certo.
Eu sou um mar de tranqüilidade. Calma, serena... Nada me faz perder minha posse de Esfinge e meu ar blasé. Nem trem lotado, nem chefe mal-humorado, nem professor recalcado, nem criança mal-educada. Eu nem escrevo palavrão nos meus textos. Meu estômago não dói, ele é pleno. Cheio dessa felicidade medíocre que faz as pessoas se conformarem.
Eu quero ter uma carreira bem sucedida como repórter da Caras ou da Quem. Imagina se eu vou preferir passar dias sem tomar banho só para cobrir uma guerra em algum país remoto. É bem mais fácil, escrever sobre o papel higiênico que as pessoas que aparecem na TV usam. Mas se não der certo, minha segunda opção é ser apresentadora de programa, desses do meio da tarde, que exploram a desgraça humana e tentam fazer caridade. Afinal, já que é impossível resolver os problemas do mundo, ao menos eu consolo os cornos, as candidatas a celebridades, as mães de filhos rebeldes, a mulher reprimida, a abandonada na porta da igreja, o endividado...
Eu quero me casar na igreja-de-véu-e-grinalda, com um homem que além de pau duro, terá coração mole e nunca vai questionar como vai o meu cartão de crédito, que obviamente, ele pagará. Irei morar numa casa com jardim, terei três filhos lindos que serão o orgulho da mamãe. E serei feliz para sempre com essa vidinha medíocre que faz as pessoas se conformarem.
Eu não quero grandes viagens para países distantes. Nem mestrado e doutorado. Nem ter tempo para ir na academia todo dia e ler toda a Comédia Humana. Questionar? Nem pensar. Deixar as coisas como estão, já está ótimo. Que eu nunca perca a gloriosa qualidade de ser prática, de não criar problemas e nem aumentá-los.
Eu quero que meus devaneios durem apenas o tempo de digitar um texto, quando eu parar na frente do computador e não saber o que escrever. E que ao constatar que todos os parágrafos começaram na primeira pessoa, eu tenha a grandeza de acreditar em coincidência, até porque eu não tenho o ego-orgulhoso-e-egoísta-dos-leoninos. Até porque, o que não é inspiração e piração, é devaneio.
Eu sou um mar de tranqüilidade. Calma, serena... Nada me faz perder minha posse de Esfinge e meu ar blasé. Nem trem lotado, nem chefe mal-humorado, nem professor recalcado, nem criança mal-educada. Eu nem escrevo palavrão nos meus textos. Meu estômago não dói, ele é pleno. Cheio dessa felicidade medíocre que faz as pessoas se conformarem.
Eu quero ter uma carreira bem sucedida como repórter da Caras ou da Quem. Imagina se eu vou preferir passar dias sem tomar banho só para cobrir uma guerra em algum país remoto. É bem mais fácil, escrever sobre o papel higiênico que as pessoas que aparecem na TV usam. Mas se não der certo, minha segunda opção é ser apresentadora de programa, desses do meio da tarde, que exploram a desgraça humana e tentam fazer caridade. Afinal, já que é impossível resolver os problemas do mundo, ao menos eu consolo os cornos, as candidatas a celebridades, as mães de filhos rebeldes, a mulher reprimida, a abandonada na porta da igreja, o endividado...
Eu quero me casar na igreja-de-véu-e-grinalda, com um homem que além de pau duro, terá coração mole e nunca vai questionar como vai o meu cartão de crédito, que obviamente, ele pagará. Irei morar numa casa com jardim, terei três filhos lindos que serão o orgulho da mamãe. E serei feliz para sempre com essa vidinha medíocre que faz as pessoas se conformarem.
Eu não quero grandes viagens para países distantes. Nem mestrado e doutorado. Nem ter tempo para ir na academia todo dia e ler toda a Comédia Humana. Questionar? Nem pensar. Deixar as coisas como estão, já está ótimo. Que eu nunca perca a gloriosa qualidade de ser prática, de não criar problemas e nem aumentá-los.
Eu quero que meus devaneios durem apenas o tempo de digitar um texto, quando eu parar na frente do computador e não saber o que escrever. E que ao constatar que todos os parágrafos começaram na primeira pessoa, eu tenha a grandeza de acreditar em coincidência, até porque eu não tenho o ego-orgulhoso-e-egoísta-dos-leoninos. Até porque, o que não é inspiração e piração, é devaneio.
Friday, March 07, 2008
Cansaço
Tô cansada de dizer que está tudo bem, acreditar nisso, e ouvir a voz do meu buraco negro perguntando: o que está tudo bem?
Não está nada bem! Nunca esteve, a diferença é que às vezes, a vontade de morrer aumenta. Sim, vontade de morrer! Não é o que vai acontecer com todo mundo, mais cedo ou mais tarde? Eu só quero que comigo seja o mais cedo possível.
Tá. Eu sei que tenho tudo, inclusive um buraco onde cabe toda a insatisfação do mundo. Eu gosto do que eu estudo, do meu trabalho, da minha família e toda essa lenga-lenga, que também me cansa. Gosto até da pessoa que me tornei. Mas imagine, eu poderia não gostar de nada disso, aí sim eu seria insuportável.
Eu vou para a academia, para a faculdade, ando de trem todo dia e sempre com o buraco enorme apertando minha garganta e me obrigando a fazer força para não começar a chorar. Quando olho pela a janela do 10º andar da Assembléia, vejo aquela vista linda, o Guaíba, o céu, as copas das árvores... Por um instante eu gosto de estar viva. Mas a tristeza vem com força me deixando com vergonha da vontade de morrer, apesar da paisagem.
Para a psicóloga, isso é depressão. Para os meus pais, um pecado. Para meu irmão, é manha e para a grande maioria das pessoas, apenas uma moça calada. E por que eu falaria? Outro dia, uma colega me contou que esta grávida, eu perguntei se ela ia tirar. Pela cara que ela me olhou, era melhor ter ficado quieta. E eu prefiro, apesar da fama de chata, metida, arrogante.
Então eu não falo. Falo só com o buraco. É uma briga de vozes interior, incrível. E rezo, todo dia, para isso acabar logo. Se não a vida, ao menos meu cansaço. Cansei de pedir socorro também. Ninguém escuta! E de tanto dizer que está tudo bem, eu já me tornei uma excelente atriz.
Também tô cansada de escrever para tornar tudo mais suportável! Ah, parecia que eu era uma aspirante a escritora-intelectualóide? Bobagem! Sou uma aspirante a porra nenhuma. Afinal, de que adiante, faculdade, formatura, sexo, trabalho, família, compromissos, obrigações... se vamos morrer mesmo?
Não está nada bem! Nunca esteve, a diferença é que às vezes, a vontade de morrer aumenta. Sim, vontade de morrer! Não é o que vai acontecer com todo mundo, mais cedo ou mais tarde? Eu só quero que comigo seja o mais cedo possível.
Tá. Eu sei que tenho tudo, inclusive um buraco onde cabe toda a insatisfação do mundo. Eu gosto do que eu estudo, do meu trabalho, da minha família e toda essa lenga-lenga, que também me cansa. Gosto até da pessoa que me tornei. Mas imagine, eu poderia não gostar de nada disso, aí sim eu seria insuportável.
Eu vou para a academia, para a faculdade, ando de trem todo dia e sempre com o buraco enorme apertando minha garganta e me obrigando a fazer força para não começar a chorar. Quando olho pela a janela do 10º andar da Assembléia, vejo aquela vista linda, o Guaíba, o céu, as copas das árvores... Por um instante eu gosto de estar viva. Mas a tristeza vem com força me deixando com vergonha da vontade de morrer, apesar da paisagem.
Para a psicóloga, isso é depressão. Para os meus pais, um pecado. Para meu irmão, é manha e para a grande maioria das pessoas, apenas uma moça calada. E por que eu falaria? Outro dia, uma colega me contou que esta grávida, eu perguntei se ela ia tirar. Pela cara que ela me olhou, era melhor ter ficado quieta. E eu prefiro, apesar da fama de chata, metida, arrogante.
Então eu não falo. Falo só com o buraco. É uma briga de vozes interior, incrível. E rezo, todo dia, para isso acabar logo. Se não a vida, ao menos meu cansaço. Cansei de pedir socorro também. Ninguém escuta! E de tanto dizer que está tudo bem, eu já me tornei uma excelente atriz.
Também tô cansada de escrever para tornar tudo mais suportável! Ah, parecia que eu era uma aspirante a escritora-intelectualóide? Bobagem! Sou uma aspirante a porra nenhuma. Afinal, de que adiante, faculdade, formatura, sexo, trabalho, família, compromissos, obrigações... se vamos morrer mesmo?
Saturday, March 01, 2008
3Q + COP e a saudade
Começou mais um semestre na faculdade, para mim, o último! E começou corrido, todas as disciplinas práticas, com aulas até o último minuto e a correria do trabalho de conclusão.
E me lembro, como se fosse ontem, do meu primeiro dia na Unisinos. Uma quinta-feira de manhã, calor, nublado, sala 3D 107, introdução ao jornalismo. A Tayza, a primeira colega com quem conversei, hoje faz administração. E nessas quintas feiras que aprendi a receita para fazer notícia, o essencial para um lead. 3Q + COP (Que, Quem, Quando, Como, Onde e Porque), teoricamente, uma boa notícia tem que responder a essas perguntas.
E nesses anos todos tive muitas descobertas, notas baixas, notas altas, já cheguei atrasada, matei aula, fiquei de bobeira no DCE, me perdi, não achei algum livro na biblioteca, tive medo de apresentar um trabalho, tive certeza que daria certo, fiquei na fila do DCE pra comprar quentão, assisti aos shows da calourada, participei de protesto contra o aumento da mensalidade, esqueci de pegar o texto no xérox, passei frio nos estúdios da TV, fui no laguinho, gravei uma rádio novela, almocei no restaurante universitário, perdi o último ônibus porque tava tomando cerveja no Rapach, entrei na sala errada, fugi dos quero-queros, me deparei com o lagarto, comi panqueca do Alemão, gravei um documentário, fui numa festa no matinho, comecei um curso no Unilínguas, paguei multa na biblioteca, fiquei presa no elevador, pensei em mudar de curso, pensei em largar tudo. E me dei conta que nem sempre o 3Q + COP é a única opção, às vezes é melhor se aprofundar no assunto.
Hoje, no último semestre, caminho nos corredores e conheço a maioria das pessoas. Não me perco mais. A Unisinos continua grande, mas seu tamanho não me assusta. Os professores, tão inteligentes, se tornaram colegas, nos lembram o tempo todo que “somos jornalistas”.
Ontem, numa sexta-feira, saindo apressada porque o professor liberou mais tarde, passei por uma sala vazia, onde estava escrito no quadro: 3Q + COP. Olhei para o lado e vi o espaço vazio que sobrou de um DCE incendiado. Me deu um nó na garganta e eu senti saudade. Antecipada. O que vem depois da temida banca e da esperada formatura? Ainda não sei, mas quando souber vou escrever uma matéria de primeira página, com um lead respondendo o 3Q + COP.
E me lembro, como se fosse ontem, do meu primeiro dia na Unisinos. Uma quinta-feira de manhã, calor, nublado, sala 3D 107, introdução ao jornalismo. A Tayza, a primeira colega com quem conversei, hoje faz administração. E nessas quintas feiras que aprendi a receita para fazer notícia, o essencial para um lead. 3Q + COP (Que, Quem, Quando, Como, Onde e Porque), teoricamente, uma boa notícia tem que responder a essas perguntas.
E nesses anos todos tive muitas descobertas, notas baixas, notas altas, já cheguei atrasada, matei aula, fiquei de bobeira no DCE, me perdi, não achei algum livro na biblioteca, tive medo de apresentar um trabalho, tive certeza que daria certo, fiquei na fila do DCE pra comprar quentão, assisti aos shows da calourada, participei de protesto contra o aumento da mensalidade, esqueci de pegar o texto no xérox, passei frio nos estúdios da TV, fui no laguinho, gravei uma rádio novela, almocei no restaurante universitário, perdi o último ônibus porque tava tomando cerveja no Rapach, entrei na sala errada, fugi dos quero-queros, me deparei com o lagarto, comi panqueca do Alemão, gravei um documentário, fui numa festa no matinho, comecei um curso no Unilínguas, paguei multa na biblioteca, fiquei presa no elevador, pensei em mudar de curso, pensei em largar tudo. E me dei conta que nem sempre o 3Q + COP é a única opção, às vezes é melhor se aprofundar no assunto.
Hoje, no último semestre, caminho nos corredores e conheço a maioria das pessoas. Não me perco mais. A Unisinos continua grande, mas seu tamanho não me assusta. Os professores, tão inteligentes, se tornaram colegas, nos lembram o tempo todo que “somos jornalistas”.
Ontem, numa sexta-feira, saindo apressada porque o professor liberou mais tarde, passei por uma sala vazia, onde estava escrito no quadro: 3Q + COP. Olhei para o lado e vi o espaço vazio que sobrou de um DCE incendiado. Me deu um nó na garganta e eu senti saudade. Antecipada. O que vem depois da temida banca e da esperada formatura? Ainda não sei, mas quando souber vou escrever uma matéria de primeira página, com um lead respondendo o 3Q + COP.
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