Thursday, February 07, 2008

Chance

Eu tinha 5 anos, estava na pré-escola, falava errado e chorava todo dia que meu pai parava com o carro na frente da escolinha. Ele se chamava Gustavo, estava no jardim, tinha uma cor dourada, um sorriso lindo, uma roupa do Batman... Foi a primeira vez que prestei atenção no sexo oposto. Mas o Gustavo gostava da Bárbara, minha melhor amiga do pré. Ela fazia balé, pintava os desenhos sem borrar, era filha única e não chorava. Sempre antes de começar a aula, o Gustavo pedia para eu trocar de lugar com ele, assim ficava do lado da Bárbara. E mesmo gostando dele, eu trocava.

Na segunda série eu gostava do Bruno, continuava falando errado e mal abria a boca para responder a chamada. Ele era meu vizinho, jogava futebol tão bem que participava de campeonatos, era filho de militar e carioca. Mas o Bruno gostava da Lidiane, que era a dona do título de “Garota da Escola”, jogava vôlei, queria ser modelo e não era gordinha como eu. Um dia, o pai dele foi transferido e o Bruno foi a minha casa se despedir e pedir para eu entregar uma carta dele para a Lidi. Mesmo gostando dele, eu entreguei.

O Rafael já tinha 11 anos na quarta série, era sobrinho da diretora do colégio e usava calças jeans. O Rafa gostava da Jéssica, da quinta série, que usava calça de cintura baixa e salto alto, só que a Jéssica estava praticamente rodada em português. Enquanto eu tinha 10 em português, apesar de ainda falar errado e ser a minha mãe que ainda escolhia minhas roupas. Um dia teve um concurso de redação para o jornalzinho da escola e para ajudar a Jéssica, ele pediu para eu escrever uma redação para ela. Mesmo gostando dele, eu escrevi. E perdi o meu primeiro prêmio jornalístico.

Eu não falava mais errado, mas me sentia uma aberração por nunca ter beijado na boca com 14 anos. O colégio inteiro sabia que eu gostava do Guilherme, da oitava série. Ele era fera em matemática, não precisava ir nas educações físicas porque já jogava no time do colégio. Mas o Gui gostava da Michele, que tinha seios e sabia rebolar e dançar as músicas do É o Tchan. Um dia, na festinha de São João, ele veio falar comigo. Até hoje lembro da sensação do meu coração quase saindo pela boca. O Gui veio pedi para eu marcar um encontro entre ele e a Michele. E mesmo gostando dele, eu marquei.

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