- Isso é uma raridade! Só uma entre umas 500 mil pessoas têm!
A raridade é dois dentes sisos no mesmo lugar, que mal cabe um. A dona da raridade sou eu! Ouvi isso do meu dentista hoje, tenho dois sisos. O de cima tá tranqüilo, mas o de baixo quer sair e não consegue. Logo, dói. Para resolver o caso raríssimo só com cirurgia, mas hospitalar, pois o caso é sério, advertiu o homem que olhava abismado para a chapa do raio X. Na saída ele disse: “ao menos você é uma raridade”.
Mal sabe ele, que eu sempre ouvi isso. Mais, eu mesma sou uma raridade. Ninguém acreditava que eu iria sobreviver ao derrame que minha mãe teve quando era um amontoado de células, de três meses, dentro dela. Sobrevivi e já nasci sendo um milagre, uma raridade. Até hoje tenho tias que se emocionam com essa história.
Tinha uma professora que falava que eu era um caso raro, pois ela achava absurdo sua aluna mais tímida e quieta ter convicção que seria jornalista. Um vizinho maconheiro já falou para a minha mãe que eu era uma pessoa rara, porque não fumava maconha, mesmo sendo criada no meio de fumantes das mais variadas ervas.
Até a psicóloga deu um diagnóstico de que era raro uma pessoa ter sido criada com tanta liberdade e não ter se perdido por aí. Quando eu estava com um monte de hippie tomando chá de cogumelo na Pedra do Urubu, ouvi de um deles (ou do além) que era raro uma patricinha gaúcha curtir chá de cogumelo...
Ser uma raridade nunca foi novidade para mim. E eu até gosto disso, faz bem ao meu ego leonino. Mas hoje saindo daquele consultório desejei não ter essa gloriosa condição de raridade e ter um siso só!
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