Um lindo dia de sol, céu azul, a temperatura promete elevar-se... Um excelente dia para uma foca estar na praia. Mas a foca tem que acompanhar uma manifestação de professores. E ela acompanha de fato. Caminha os 12 quilômetros da passeata debaixo do sol escaldante. Caminha e colhe informações. Caminha mais rápido para bater uma foto. Caminha e conversa com um. Caminha e ouve outro. Caminha e atende o celular. Caminha e escreve alguma coisa. Caminha e deseja ter mais uma mão para carregar uma garrafinha d’água...
Chuva torrencial. Ventos. E a previsão do tempo promete granizo. A foca tem que cobrir um ato público em defesa de uma estatal. A foca espera os manifestantes se organizarem. Já desistiu de não se molhar, tenta apenas não molhar a máquina fotográfica. Falta mão para segurar sombrinha, caneta, bloco, gravador e máquina. Depois de horas de espera, os manifestantes desistem do ato devido ao mau tempo...
A foca tem que entrar ao vivo na rádio. O ministro está chegando. Atrasado, como todo o político, mas está chegando. Mais alguns minutinhos. Ela só precisa fazer uma pergunta. Tômara que ele chegue no exato momento que ela possa entrar na rádio. Se conseguir trocar mais de meia dúzia de palavras com ele, pode pedir para esperar alguns minutos, até ter a deixa inicial. Chega a informação de que o ministro entrou pela porta lateral...
A foca foi processada porque deu informações erradas. Matou quem ainda não morreu. Divulgou que o político da oposição é a favor do governo. Escreveu Webber com V. Trocou duas letras. Ressuscitou quem já estava descansando em paz. Trocou o nome do entrevistado. Anotou a placa do carro errado. Confundiu suspeito e culpado. Chamou padre de pastor, e pastor de estelionatário. Mandou a entrevista para o e-mail errado. Perdeu o telefone da fonte. Esqueceu a pauta...
A foca tem apenas uma hora para achar um engenheiro florestal especialista em cactos texanos para uma matéria sobre vegetais raros em extinção. A foca tem apenas dois dias para convencer punks e skin heads a posarem juntos para um editorial de moda. A foca tem menos de meia hora para agendar uma entrevista com a última celebridade da hora, sem nem ter o nome do seu assessor. A foca tem dez minutos para entrar no rádio ao vivo, entrevistando em inglês, um economista árabe especialista em neoliberalismo. E consegue. Porque as focas sempre conseguem tudo e, depois, ainda batem palmas.
* “Foca” é o termo usado para designar jornalistas em início de carreira.
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