Você foi o melhor e o pior da minha vida. Ou de uma fase dela, da qual ainda convivo com as seqüelas. O estrago foi feio e depois de passar um tempo lambendo minhas feridas, não estou mais arrancando as casquinhas e nem lembro o tempo todo a causa do ferimento.
Me curei na marra. Tomei vários remédios, mas em nenhuma das bulas que li havia a indicação sobre você. Ai me drogava sabendo que não ia adiantar nada. Que o delírio iria continuar. Eu veria você em todos os lugares. E andaria de cabeça baixa com medo de te encontrar realmente. E sairia correndo para a frente da TV sempre que escutasse uma notícia sobre a cidadezinha do norte do Estado, de onde tu saiu, só para me sentir mais perto...
Não sei bem em que momento eu voltei a olhar para frente. Fui arrumando outras distrações, deixando de cutucar o machucado. Percebendo outras pessoas e me dando conta que você foi o melhor e o pior da minha vida. Não corro mais para ver notícias da sua cidade. Nem caminho pelo teu bairro. Nem procuro saber um pouquinho de engenharia.
Hoje tenho a mesma noção de mundo que tinha antes de você entrar nele e provocar catástrofes. Porém, se antes, as portas ficavam encostadas, hoje elas ficam fechadas e trancadas. Perdi um pouco da inocência, talvez. Se antes achava que as pessoas não prestam, hoje, tenho certeza. Ao menos aprendi alguma coisa. Minha desconfiança natural das coisas e, principalmente, das pessoas tem que ser multiplicada por todo o seu potencial ao cubo. E talvez ainda seja pouca.
Estou lidando bem com as seqüelas, não há nada que alguns anos de terapia não cure. Acho até que não vou enfartar se um dia te encontrar por aí. Nem te matar. Às vezes queria que isso acontecesse, só para ver minha reação. Às vezes eu tenho medo de expor muito a ferida, por mais que esteja cicatrizada, a pele (ou o coração) sempre fica mais sensível.
Não sei em qual noite eu deixei de chorar de saudade de você e passei a chorar de saudade de mim e do mundinho perfeito que eu tinha. Você foi o melhor porque me deu um chute que me fez cair no mundo real. Você foi o pior porque me deu um chute que me fez cair no mundo real. Você foi o melhor porque era medíocre e não percebia. Você foi o pior porque era medíocre e hoje eu percebo.
Eu deixo meu orgulho leonino com vergonha cada vez que lembro das seqüelas de uma doença medíocre. Se ainda fosse uma grande tragédia, que tivesse válido a pena... Mas foi só uma doença boba que, por um bom tempo, não me deixou olhar em frente. E olhando em frente o máximo que pode acontecer é eu tropeçar em algo medíocre e nem me dar conta.
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