Friday, November 23, 2007

Prezado jornalista

Caro Miguel, aqui, quem escreve é uma jornalista, além de ser tua prima. Outro dia li uma reportagem onde falava que há dois caminhos para escolher uma profissão e ser bem sucedido nessa escolha. Uma, é ir atrás dela. Outra, é deixar ela chegue até você.

Lembrei de mim. E de você. Eu fui atrás do jornalismo, nunca me imaginei fazendo outra coisa, era minha única opção. Você deixou que o jornalismo chegasse até você, por pura falta de opção. Não deu outra. Nos tornamos bem sucedidos.

Tivemos sorte sim, mas talento também e, mais que tudo perseverança. Lembra de quantos colegas da faculdade desistiram? De quantas colegas fúteis que só queira aparecer na TV, aparecem e sumiram na mesma velocidade? Do stress de fazer monografia, trabalhar, dos estágios que nos escravizavam? De estudar para as outras matérias, namorar, badalar, visitar a família e tudo que uma pessoa normal faz. Lembra da formatura, que foi no mesmo mês? E dos lugares que entrávamos sem pagar, porque somos da imprensa?

Mas teve também muitos feriados dentro das redações, muitos Natais fazendo cobertura em hospitais. E furos de reportagens. E entrevistas com um monte de gente bacana. E um monte de gente chata. E pauteiros sem noção. E editores chatos. E noites sem dormir...

E a nossa agência? Quanta cabeçada até engrenar. Quanta discussão. Quanta falta de grana. Quanto estagiário preguiçoso. Quantas dúvidas. E quanta coragem! Mas não é que deu certo? Afinal, que outra opção teríamos? O que é o planejamento estratégico, hein? Ah, muito bom esse último repórter que tu contratou, li as matérias dele, gostei!

Voltando, quase perdi teu casamento porque estava fazendo uma reportagem especial com as vítimas da guerra na Somália. E você chegou com dois dias de atraso no meu, porque foi cobrir a final do campeonato mundial de arrancada na Finlândia. Se tivesse se atrasado mais, tu seria a testemunha do divórcio.

Foi tanta coisa. Mas chegamos lá! Eu, por ser a minha única opção e você, por falta de opção.

PS: Tenta aparecer no próximo feriado. Nem que tu venha de moto e a Andi de carro com as crianças. Os funcionários da sucursal de Florianópolis vão cuidar direitinho da agência nesse feriado. No próximo, se tudo der certo, nós vamos. Pois acho que já vai dar praia!

Atenciosamente,

2 comments:

Anonymous said...

Nunca comentei no teu Blog, hoje vou comentar. Mas, não só por que o texto fala de nós, mas, porque eu te admiro muito. Nunca comentei pois prefiro internalizar o recado que o texto me passou, e pode ter certeza, os teus textos sempre me dizem muita coisa.
Esse último é como se fosse a consagração de todos os nossos sonhos, de tudo aquilo que planejamos. Não quero trabalhar na Globo, não quero desbancar a RBS (bem que ia ser gostoso de ver). Quero ter a nossa agência, quero que ela seja boa, quero viajar muito, quero saber de muitas coisas... Isso me dá prazer e espero que um dia essa carta seja a representação da realidade.
Bjos

Anonymous said...

Pois é...Coloquei na minha cabeça que queria ser jornalista esportivo...Tá certo que não me matei de estudar nunca pro vestiba, mas só passei em letras que era a coisa mais parecida com jornalismo que eu podia passar...
Nunca pensei na ideia de trabalhar num banco, aliás fugia da idéia, o concurso do banco foi o que salvou a minha vida, e se eu quisesse teria tido a carreira mais meteórica da história da empresa...mas tem coisas que a gente corre atrás, outras não, e outras simplesmente acontecem...