Tuesday, February 16, 2016

Erro médico

Ele senta constrangido em frente ao homem alto e careca. Não sabe se o chama pelo nome ou por doutor. Para quebrar o gelo, o médico pergunta o que lhe traz ali. Fui indicado a procurar terapia, mas acho que houve um engano, eu não preciso de psiquiatra... Me fale de você, indaga o médico. Tenho uma vida bastante normal, sou o mais certo da minha família... Então me fale como é a sua família, induz o terapeuta. Ele encara o médico, suspira longamente e começa.

Ah doutor tem de tudo, gay, lésbica, crente, maconheiro, velhos hippies que parecem que chegaram do Woodstock ontem e até político, mas todos trabalhadores, boas pessoas. Meu cunhado artesão, vive de vender em feiras, estava tão chapado que confundiu Ijuí com Chuí e atravessou o estado para o lado errado. Não achou a feira, mas ao expor os brincos de arame que ele faz, conheceu a sua esposa.

Minha irmã Cristina sempre deu trabalho para a família. Quando casou, achamos que fosse se aquietar, mas já no casamento houve o buxixo que ela havia se encantando com o irmão mais novo do noivo, que morava no sul de Minas. Não deu outra, depois de 10 anos casada com o Gabriel, dois filhos e uma vida aparentemente feliz, ela fugiu com o Micael, o irmão caçula, numa das férias que passou em Minas. Só deixou um bilhete, dizendo que antes de alguém criticá-la, devemos lembrar que ela terá direito à herança duas vezes. Pensa a confusão na cabeça dos meus sobrinhos.

Mas pior ainda, acho que é minha filha. Estudava Engenharia, estava quase se formando quando largou tudo. Foi morar na Guarda do Embaú e cursar astrologia. É uma boa pessoa apesar de não comer carne e ser meio distraída, esquecida... Meu filho afirma que é por causa dos chás que ela toma. Ah, meu filho nasceu prematuro, mirradinho, mas vingou. É um rapagão com quase 100 quilos, tatuado, usa jaqueta de couro com rebites, camiseta do Marx e canta no coral da igreja do bairro.


Não entendo essa gente, isso que não citei nem um terço da árvore genealógica. E entendo menos ainda por que eu, logo eu, preciso de psiquiatra. Deve ser porque  Deus perdoa e Freud explica, não é doutor? 

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