Thursday, April 02, 2015

A paixão continua

Minha adolescência se deu entre o final de década de 90 e o começo dos anos 2000, no auge das boys bands. E eu que havia resisto bravamente à onda do axé baiano e pagode meloso, sucumbi quando vi Nick Carter dançando e cantando na chuva (mais clichê impossível) no clip de Quit Playing Games With My Heart.


Sim, fui uma Backstreet fã! Tinha todos os CDs, pastas e pastas com fotos e reportagens, camisetas... Não perdia um Disk MTV, gravava tudo que podia em fitas VHS (que ainda existem), me quebrava para colar os pôsteres até no teto do meu quarto, torturava a família, os amigos e os vizinhos com o repertório estrategicamente planejado, de refrões fáceis e pegajosos. Em agosto de 2000, fiz 15 anos e falei para o pai e para a mãe que não queria nada, que era para guardar o dinheiro para o dia que eles viessem ao Brasil. Bom, em maio de 2001 fiz a primeira viagem da minha vida sozinha, peguei um ônibus até São Paulo, para ver o show dos Backstreet Boys, no estacionamento do Anhembi.


Depois disso, aconteceu o óbvio: eles foram perdendo espaço nas paradas de sucesso, eu fui mudando, as fotos saíram das paredes do meu quarto, passei a preferir músicas mais elaboradas, tive outras paixões (nem todas possíveis) por garotos que eu conhecia de verdade, fui em shows melhores e todo o arsenal de fã foi encaixotado e guardado.


Mas não esquecemos nada que fez parte da nossa vida, só a colocamos no departamento das coisas passadas e às vezes, quando escutava sem querer alguma música e sai cantarolando com a mesma segurança de 15 anos atrás ou quando alguém falava neles, meu primo Júnior sempre fala (acho que de toda a família, ele foi o que mais sofreu com a tortura Backstreet), voltava até essas memórias e sorria - estava tudo intacto.


E qual não foi a minha surpresa ao saber que os Backstreet Boys estavam com shows agendados no Brasil para junho desse ano e que Porto Alegre estava na agenda? Numa fração de segundos, pensei “não vou pagar esse mico”, que logo foi substituído por “não perco esse show por nada!” Desde então, tenho observado coisas estranhas, várias amigas confirmando presença no show. Pessoas que eu não falava há anos mandando mensagens do tipo: “vamos no show do BSB, né?”, no metro ouvi um grupo de mulheres discutindo qual era o mais bonito, Nick, Brian, Kevin, AJ ou Howie?


Outro dia, chegando no pilates, escutei uma moça dizendo para a instrutora: “dia 15 de junho não venho, vou num show... Meu namorado nem sonha que vou passar o aniversário dele com o Kevin.” Dia 31 começou a venda de ingresso para o show em Porto Alegre, diversas mulheres posaram em frente à loja, em duas horas se esgotaram vários setores. Infelizmente, só consegui ingresso para a pista normal (queria a VIP), fui comprar no fim da tarde do dia 31, o que foi de fato, tarde. E ainda assim, havia fila, vi uma moça vestida de maneira social (salto fino, saia até o joelho, blazer, meia calça...), parar no meio da loja e beijar o ingresso dela!


Tem uma professora espanhola que está fazendo intercâmbio em Porto Alegre, amiga de uma amiga minha, que mudou a data de retorno para Madrid só para ir ao show. Semana passada uma amiga casada, intelectualizada, mãe de dois filhos postou no face: “vou trair o Taylor Hanson (de outra boy band, porém musicalmente mais evoluído), para ir ver o Brian Littrel.” Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os ingressos também se esgotaram no primeiro dia, mas lá foram agendados shows extras.


Eu não era a única com essa paixão adormecida. Estou curtindo muito essa nova onda, é estranho, tanta coisa aconteceu de 2000 para cá. Todas que vão no show usam a desculpa de que é pelos 14, 15 anos, que vão só acompanhar a adolescente que foram e não é de se estranhar se for um choro só neste show (eu mesma, vou levar meus lencinhos).


Essa história toda me fez lembrar que o Nick Carter vai ser sempre meu namorado imaginário, por mais que o tempo passe. Nem sei porque sofri tanto com meu ex. Afinal, meu namorado é perfeito, loiro de olhos azuis, 1,85 de altura (alto, do jeito que eu gosto), de voz aveludada, canta numa banda com os amigos, mora em outro continente (ainda bem que nunca achei distâncias geográficas um empecilho). Agora em junho vem me ver, vai até tocar em Porto Alegre, várias amigas estarão presentes, algumas são afins dos amigos dele.


Vai ser muito divertido, depois voltaremos para casa com a alma leve, como tínhamos quando éramos adolescentes e no outro dia ninguém vai se importar de acordar cedo, se vestir de adulta e ir trabalhar, encarar os amores reais, que deram certo ou não, os filhos, os chefes... Vai ter uma menina, de 13, 14, 15 anos realizada dormindo dentro da gente.


 

2 comments:

Miguel Jr said...

Sempre bom te ler Rê, por alguns segundos lembro que, há algum tempo, minha única responsabilidade era passar de ano e programar as férias. Hoje parece que estou numa panela de pressão, mas acho que viver é assim.
Ah! Saiba que eu curti muito os BSB e sempre que ouço vou lembra de você.
Bjos

Renata Machado said...

Bom Jú, você vai fazer 30 anos, tem uma família linda, casa e carro. Eu vou fazer 30, não tenho nada disso e nem há perspectiva de ter... Estamos na mesma panela, só muda a pressão ;)
Bjão, saudades!