“Aguerrida entrega. Nesse nosso desbravar...”- Da entrega, O Teatro Mágico
Viver é estar em queda livre num imenso abismo. Mas não é assim: nasceu, caiu. Primeiro nos colocam numa planície e lá nos deixam até começarmos a olhar em volta e a caminharmos mais longe. Um belo dia, nos deparamos com ele, lindo e assustador. Parece infinito.
Alguns se jogam sem pensar, outros escorregam por descuido e a maioria volta, preferem a segurança de plano reto, sem curvas e monótono. Desses, penso que alguns esquecem completamente o abismo, já outros devem lembrar constantemente. Poucos, bem poucos ficam se equilibrando, é difícil ter consciência do abismo.
Quem está caindo conserva algumas similaridades com o povo da planície. Há os que perdem a noção do que está acontecendo, outros estão sempre ligados e atentos a tudo e tem alguns que oscilam, ora de olhos abertos, ora de olhos fechados, pois é muito fácil se perder diante da vida.
Há lugares incríveis, trechos coloridos e uma trilha sonora bem legal durante a queda. Às vezes, nos momentos de calmaria, é possível se iludir e achar que estamos no comando, planando e admirando a paisagem.
Dá para ficar atordoada com tanta informação e gente passando por nos, tentar se agarrar a algo pode ser um erro. Uma vez em queda, não é possível voltar para a planície, então acumular saudades também não facilita nada, só aumenta o peso da alma e isso dificulta qualquer entrega.
Bom mesmo é o que se sente. Dói, é verdade, mas é a única maneira de se tornar mais inteiro mesmo com todos os vazios que irão abrir em nos e ao nosso redor. Eles são fundamentais para a compreensão de nos, da vida e dos abismos.
Eu não sei dizer se me atirei sem pensar, se escorreguei, se me equilibrei por algum tempo... Quando me dei conta já estava no maior de todos os abismos, talvez seja por isso que os outros, por mais que me incomodam, não me assustam. O melhor é se dar conta, que não parece infinito, é.
1 comment:
Aiai, certeza absoluta que tu não bate bem... Bjk, Dê
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