Tanta coisa aconteceu nestas duas décadas, às vezes gosto de imaginar como a vida seria se você ainda estivesse aqui. Talvez o Ricardo não tivesse ido para o Rio, talvez o Miguel aparecesse mais seguido, talvez o Cristiano fosse só um tio e não um tio quase irmão.
Provavelmente você teria ficado triste com o destino da tua poupança graças ao Collor, a mãe sempre fala que você achava ele bonito. Lembra que eu adorava falar impeachment? Pensava que soava tão lindo e que era uma palavra muito difícil para uma criança, acho que foi ali que surgiu minha consciência política. Falando nisso, lembra do Brizola, que tu sempre falava? Almocei com a neta dele outro dia.
Com certeza eu teria aprendido a cozinhar do teu lado e não sozinha. Acho que teria condições de pronunciar algumas palavras em alemão e não só entender coisas soltas no meio de conversas que escuto por aí. Ah, no final de 1992, eu li meu primeiro livro, lembra que eu chorava que eu não ia aprender a ler? Não só aprendi, como isso é o que eu mais gosto de fazer.
E muitas vezes depois disso, chorei por não conseguir entender nada de matemática, e não entendo até hoje. O tio Cristiano que me ajudava, nossa já se deu conta que o teu bebê vai fazer 40 anos este ano? Ele tá tri bem, festeiro, alegre e mulherengo como sempre, mas quase totalmente careca. Às vezes, quando a gente sai, ele fala: “vamos lá Rê, eu preciso de um sobrinho e você, de uma tia” e eu respondo: “não me importo de ter uma tia mais nova se você aceitar um sobrinho mais velho.”
Tanta coisa aconteceu nesses 20 anos, comigo, com a gente, com o mundo. Não sou mais loira, virei vegetariana, tenho piercings e tatuagens, não quis festa de 15 anos (pedi o silicone, mas não deram porque era muito nova, mas ganhei dinheiro) e me dou bem com todos os meus primos.
O Marcellinho é um alemão lindo, tá no Piauí agora. O Tiago está praticamente casado. O Júnior também, casado e empregado, é jornalista para o orgulho da prima gaúcha. O Márcio é uma figura, sempre em função do corpo, academia e lutas. O cabrito do meu irmão é aquela coisa meio conservadora, meio tradicional, meio trabalhadora e muito divertida (sério, às vezes, ele é hilário). A senhora ia se amarrar no Wesley, no Rockson e no Ramon.
Viu que agora temos um Jasmim? Lindo, fica aqui na sacada do meu quarto, sempre converso e faço carinho nele. Estou louca para que chegue a primavera, para ele florir e deixar meu quarto perfumado... Nem tudo mudou em 20 anos. Pensar no 15 de junho de 1992 em 2012, faz parecer tão distante, mas ainda assim tão nítido.
Não sei se sinto saudade, porque por mais que me doa, prefiro pensar que o agora é melhor, odeio o papo de “para qual época gostaria de voltar”, para nenhuma, minha época é agora. Parece que é um gostar de imaginar como seria se você estivesse aqui. E eu gostaria que estivesse.
1 comment:
ô alemoa, linda do tio. Pode não ser mais aquela loirinha, mas vai ser sempre uma alemoa, que nem a D. Helga. Tiano
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