Friday, May 18, 2012

Paraísos artificiais

“Para digerir a felicidade natural, assim como a artificial, é preciso primeiro ter a coragem de engolir” - Charles Baudelaire

"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito" - William Blake



Assisti ao filme Paraísos artificiais, do Marcus Prado, que conta a história de jovens que buscam prazer, satisfação e felicidade em drogas como mescalina, ecstasy, GHB e cocaína. Já li que há pessoas que defendem que a obra é o retrato perfeito de grande parte da classe média brasileira. Não sei, não sei... Concordo que há muita gente vazia e por isso se perdem, mas também conheço muitas que não são nada vazias e são usuários de drogas.

Em alguns momentos, o filme consegue tornar mais palpável a subjetividade das alucinações provacadas pelas drogas e isso de cara, me pegou. Agora, o que me ganhou mesmo foi uma cena que os personagens Érika e Mark estão conversando sobre uma “bad trip” dela. Mark, interpretado por Roney Villela é o personagem mais velho da trama, é um ponto de referência para os outros, já experimentou diversas drogas, sempre tem alguma no bolso para oferecer aos outros e está sempre por perto pra trazer a pessoa de volta.

Nessa conversa, Mark afirma que o grande problema não são as drogas, mas a índole dos usuários. Diz algo do tipo “as drogas são o que você quer, levam para onde você quer.” Fiquei pensando nisso...Foram poucas vezes que experimentei drogas e com raríssimas exceções, elas nunca me levaram para um lugar muito bom. Culpa minha, segundo o filme.

Boa parte das pessoas que convivo, fazem uso de drogas. Talvez pelo fato de ter usuários de drogas na família, essas pessoas se sentem mais confortáveis em falar disso comigo, em fazer certas coisas na minha frente, mesmo sabendo que eu não sendo parceira para dividir nenhuma carreira de cocaína ou fechar um. As pessoas que me refiro são todas adultas, já passaram da fase de se deslumbrar quando falo da minha família, coisa que acontecia quando era adolescente.

Há pessoas, já nos sessenta anos que fumam maconha há mais de quarenta e isso nunca foi empecilho para serem bons pais, boas mães, bons profissionais. Mas já vi também, alcoolistas perderem tudo, caírem, levantarem e recaírem. Outros há anos tentam deixar de cheirar, conseguem e não conseguem. Acho fantástico quem tenta parar sem procurar ajuda, a força de vontade deve muito maior.

Das coisas que eu ainda quero experimentar estão a Mescalina e o Daime e sim, acho interessantíssimo provar algumas coisas, como defendia Huxley no seu "As portas da percepção", experimentar certas substâncias é uma experiência significativa. Simpatizo com os alucinógenos (com exceção da maconha que deixa minha pressão baixa demais), para mim, elas alteram a percepção da realidade sem alterar tanto a atividade mental como as estimulantes ou depressoras, que são as que eu e a grande maioria das pessoas, mais usam, já que as drogas lícitas pertencem a essas categorias.

Não sei se seria viciadona, acho que não tenho mais idade para isso, mas se fosse, seria nessas drogas alucinógenas ou gostaria que fosse. E espero nunca saber se puxei ao tio sessentão e maconheiro ou ao alcoolista que já foi internado diversas vezes e até hoje deixa todo mundo com o coração na mão por causa de uma possível recaída.

De todas as minhas experiências com drogas, com exceção dos remédios que tomo, poucas foram boas. Talvez porque considero esses experimentos praticamente um exercício antropológico e então tento manter um distanciamento quase impossível, acabo tentando manter o controle, o que só torna as coisas piores.

Pode ser também que eu não saiba o que quero tirar das drogas, é só para ver o que acontece e se realmente elas apenas potencializam o que somos, sou uma pessoa muito triste. Minha melhor viagem foi com chá de cogumelo e repeti a experiência duas vezes, alguns anos atrás. Teve a tristeza também, mas com certeza foi a única substância que me levou para um lugar melhor.

Me senti numa ilha de silêncio e o mundo, as coisas, as pessoas brilhavam. Era tudo tão colorido, que era impossível não se sentir bem no meio de um arco-íris. E voltar para essa realidade de cores apagadas foi de forma lenta e gradual e em nenhum momento tive a sensação de precisar de mais e mais e mais. Só senti tristeza, mas porque era bom e eu sabia que era tão bonito que não deveria virar algo comum, como as coisas que com o passar do tempo perde a beleza porque a gente cansou de olhar.

2 comments:

Gugu Keller said...

Quando a vida é feita de concessões, toda fuga tende a valer a pena.
GK

Anonymous said...

Sempre falo que você é uma alma antiga e um dos motivos e conseguir conversar sobre certas coisas sem cair no lugar comum e medíocre de julgar. Minha família tá cheia de fãs teus, do marido ao neto. :) Bj, Renatinha. Cris