“Para digerir a felicidade natural, assim como a artificial, é preciso primeiro ter a coragem de engolir” - Charles Baudelaire
"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito" - William Blake
Assisti ao filme Paraísos artificiais, do Marcus Prado, que conta a história de jovens que buscam prazer, satisfação e felicidade em drogas como mescalina, ecstasy, GHB e cocaína. Já li que há pessoas que defendem que a obra é o retrato perfeito de grande parte da classe média brasileira. Não sei, não sei... Concordo que há muita gente vazia e por isso se perdem, mas também conheço muitas que não são nada vazias e são usuários de drogas.
Em alguns momentos, o filme consegue tornar mais palpável a subjetividade das alucinações provacadas pelas drogas e isso de cara, me pegou. Agora, o que me ganhou mesmo foi uma cena que os personagens Érika e Mark estão conversando sobre uma “bad trip” dela. Mark, interpretado por Roney Villela é o personagem mais velho da trama, é um ponto de referência para os outros, já experimentou diversas drogas, sempre tem alguma no bolso para oferecer aos outros e está sempre por perto pra trazer a pessoa de volta.
Nessa conversa, Mark afirma que o grande problema não são as drogas, mas a índole dos usuários. Diz algo do tipo “as drogas são o que você quer, levam para onde você quer.” Fiquei pensando nisso...Foram poucas vezes que experimentei drogas e com raríssimas exceções, elas nunca me levaram para um lugar muito bom. Culpa minha, segundo o filme.
Boa parte das pessoas que convivo, fazem uso de drogas. Talvez pelo fato de ter usuários de drogas na família, essas pessoas se sentem mais confortáveis em falar disso comigo, em fazer certas coisas na minha frente, mesmo sabendo que eu não sendo parceira para dividir nenhuma carreira de cocaína ou fechar um. As pessoas que me refiro são todas adultas, já passaram da fase de se deslumbrar quando falo da minha família, coisa que acontecia quando era adolescente.
Há pessoas, já nos sessenta anos que fumam maconha há mais de quarenta e isso nunca foi empecilho para serem bons pais, boas mães, bons profissionais. Mas já vi também, alcoolistas perderem tudo, caírem, levantarem e recaírem. Outros há anos tentam deixar de cheirar, conseguem e não conseguem. Acho fantástico quem tenta parar sem procurar ajuda, a força de vontade deve muito maior.
Das coisas que eu ainda quero experimentar estão a Mescalina e o Daime e sim, acho interessantíssimo provar algumas coisas, como defendia Huxley no seu "As portas da percepção", experimentar certas substâncias é uma experiência significativa. Simpatizo com os alucinógenos (com exceção da maconha que deixa minha pressão baixa demais), para mim, elas alteram a percepção da realidade sem alterar tanto a atividade mental como as estimulantes ou depressoras, que são as que eu e a grande maioria das pessoas, mais usam, já que as drogas lícitas pertencem a essas categorias.
Não sei se seria viciadona, acho que não tenho mais idade para isso, mas se fosse, seria nessas drogas alucinógenas ou gostaria que fosse. E espero nunca saber se puxei ao tio sessentão e maconheiro ou ao alcoolista que já foi internado diversas vezes e até hoje deixa todo mundo com o coração na mão por causa de uma possível recaída.
De todas as minhas experiências com drogas, com exceção dos remédios que tomo, poucas foram boas. Talvez porque considero esses experimentos praticamente um exercício antropológico e então tento manter um distanciamento quase impossível, acabo tentando manter o controle, o que só torna as coisas piores.
Pode ser também que eu não saiba o que quero tirar das drogas, é só para ver o que acontece e se realmente elas apenas potencializam o que somos, sou uma pessoa muito triste. Minha melhor viagem foi com chá de cogumelo e repeti a experiência duas vezes, alguns anos atrás. Teve a tristeza também, mas com certeza foi a única substância que me levou para um lugar melhor.
Me senti numa ilha de silêncio e o mundo, as coisas, as pessoas brilhavam. Era tudo tão colorido, que era impossível não se sentir bem no meio de um arco-íris. E voltar para essa realidade de cores apagadas foi de forma lenta e gradual e em nenhum momento tive a sensação de precisar de mais e mais e mais. Só senti tristeza, mas porque era bom e eu sabia que era tão bonito que não deveria virar algo comum, como as coisas que com o passar do tempo perde a beleza porque a gente cansou de olhar.
Friday, May 18, 2012
Tuesday, May 15, 2012
Sunday, May 13, 2012
Herança materna
Estava lendo a matéria de capa da Donna ZH, sobre as heranças sejam materiais, comportamentais ou emocionais, que as mães deixam para as filhas. Sou a cara da minha mãe, só que desbotada. E tenho um anel que ganhei quando fiz 15 anos, lindo, de ouro branco com uma pedra verde, foi o anel de noivado da minha avó, que a mãe ganhou com 15 anos, também. E para aí a minha lista de coisas herdadas da mãe.
Somos bastante diferentes. Até uma marca de nascença dela foi para o corpo do meu irmão. Além do anel, estão comigo um livro de receitas e um travesseiro que eram da avó. E volta e meia escuto que sou igual a dona Helga. Minha avó era alemoa, do tipo que no segundo gole de vinho já começa a corar. E eu herdei isso dela.
Isso e o gosto por jasmim, por doces, por melancia, por cozinhar, por esmaltes cor de rosa. De todos esses itens, o único que minha mãe compartilha é o gosto por doce, mas só comê-los. Para minha avó, a diversão começava na hora de fazer. Para mim, ainda bem, também.
Essas são as coisas que lembro, mas tem o que não me dou conta, geralmente manias, coisas que quando percebo, minha mãe está me observando. O jeito de passar o batom, uma ou outra coisa que faço quando estou cozinhando, a maneira que leio o jornal... Às vezes ela fala coisas do tipo “a mãe ia adorar te ver assim” ou “criticava tanto a mãe por isso e a minha filha é igual.”
Elas eram super ligadas. A mãe era a única filha de sete filhos e por todas as coisas que aconteceram com a mãe, dava para ver como a ligação delas era grande. Todos os dias, todos, a mãe ia na casa da avó, nem que fosse por alguns minutos, mas sempre passava lá. Foi assim até a dona Helga morrer.
Talvez eu ser tão diferente da mãe e tão parecida com a minha avó, seja além de herança, um presente, para nós três.
Somos bastante diferentes. Até uma marca de nascença dela foi para o corpo do meu irmão. Além do anel, estão comigo um livro de receitas e um travesseiro que eram da avó. E volta e meia escuto que sou igual a dona Helga. Minha avó era alemoa, do tipo que no segundo gole de vinho já começa a corar. E eu herdei isso dela.
Isso e o gosto por jasmim, por doces, por melancia, por cozinhar, por esmaltes cor de rosa. De todos esses itens, o único que minha mãe compartilha é o gosto por doce, mas só comê-los. Para minha avó, a diversão começava na hora de fazer. Para mim, ainda bem, também.
Essas são as coisas que lembro, mas tem o que não me dou conta, geralmente manias, coisas que quando percebo, minha mãe está me observando. O jeito de passar o batom, uma ou outra coisa que faço quando estou cozinhando, a maneira que leio o jornal... Às vezes ela fala coisas do tipo “a mãe ia adorar te ver assim” ou “criticava tanto a mãe por isso e a minha filha é igual.”
Elas eram super ligadas. A mãe era a única filha de sete filhos e por todas as coisas que aconteceram com a mãe, dava para ver como a ligação delas era grande. Todos os dias, todos, a mãe ia na casa da avó, nem que fosse por alguns minutos, mas sempre passava lá. Foi assim até a dona Helga morrer.
Talvez eu ser tão diferente da mãe e tão parecida com a minha avó, seja além de herança, um presente, para nós três.
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