Wednesday, February 08, 2012

O Palhaço




Finalmente, consegui assistir ao filme “O Palhaço”. Adoro filmes brasileiros, temas prosaicos, conflitos internos e enredos que se desenrolam sem presa, em longos planos sequencias, como a vida. E sim, sou fã do Selton Mello diretor, desde o Feliz Natal.

No filme, Benjamim (Selton Mello) e o pai, Valdemar (Paulo José) são a dupla de palhaços Pangaré & Puro Sangue do Circo Esperança (reparem no nome). Mais do que isso, eles que administram o circo. Só que para Benjamin, a vida está sem graça e além de ter que fazer graça para os outros, ele tem que se preocupar com o adiantamento dos músicos, o alvará da prefeitura, o sutiã para a Dona Zaira, o terreno arenoso e os documentos (identidade, CPF e comprovante de residência), que ele não tem e o impedem de comprar um ventilador, o que ao longo da história vira uma obsessão.

Logo no começo, fica claro a insatisfação do personagem. Porém, ele passa boa parte do filme adiando uma mudança, uma conversa, uma tentativa, um olhar pra si. E não agimos na vida assim, também? A maior parte do tempo fingindo estar tudo bem, outra boa parte criando coragem para sair da zona de conforto e alguns momentos, mudando...

E Benjamim muda, ou melhor, deixa de se mudar com o circo. Fica numa cidadezinha qualquer do interior, mora num quarto de hotel, tira os documentos, arruma um emprego, pega ônibus cedo, passa gel nos cabelos todos os dias, compra um ventilador, observa a vida de outro ângulo e volta. Volta porque na vida cada um faz o que sabe e ele saber ser palhaço.

Entre o enredo todo, é possível perceber as mudanças no humor do Benjamim pelas cores das cenas. As tomadas das apresentações do circo explodem em cores, muito vermelho, muito laranja, como as risadas que explodem da platéia, cada vez menor, mas que dão a certeza para as personagens e para os telespectadores (do circo e do cinema), que o picadeiro cumpre muito bem, a sua função.

Encerrado o espetáculo, a vida em torno do circo é marrom, bege, cinza, apática com o tempo passando indolente. Nas imagens amplas, que pegam todo o circo, este sempre se encontra no meio de grandes vales, com verde em volta, a cor que para muitos representa a esperança, lembram do nome do circo?

Já nas viagens entre uma cidade e outra, a monotonia e os rostos cansados dos artistas contrastam com movimento típico de uma mudança. São talvez, as cenas onde haja mais silêncio, as personagens só conversam se algo interrompe o trajeto.

Outra coisa que achei fantástica: a primeira cena é de uma mulher (artista do circo) que sai do picadeiro e vai até onde o Benjamim se maquia. A última é de uma menina (artista do circo) que também sai do picadeiro e vai até o “quarto” de Benjamim. Cenas iguais, mas totalmente diferentes, a do início remetia ao fim, ao fim de um espetáculo, de um tempo, de uma relação, de uma etapa de vida. A cena do final remete a tudo que ainda está por vir, novos ânimos, novos sorrisos, novos lugares, novos artistas e espetáculos.

O filme O Palhaço emociona. Pode não fazer dar gargalhadas, nem chorar, mas incomoda e na última cena, quando a menina entra no quarto, o sol vai junto e encontra as lantejoulas coloridas das roupas, a câmera capta isso e para ali, o filme acaba quando o sol refletido sai da tela, entra pela retina e o telespectador é obrigado a fechar os olhos. Talvez para assimilar o que se viu, talvez porque O Palhaço parecia não surpreender, talvez para olhar para si...

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