Friday, July 15, 2011

Dá pra voltar no tempo?

Tenho uma memória de elefante, sou capaz de reviver dias inteiros que já aconteceram, sei as datas e até horas. Por exemplo, recordo o dia 15 de junho de 1992, o dia que minha avó morreu, como se fosse ontem. Quando minha mãe foi fazer minha matrícula na primeira série e me levou junto para me mostrar a escola. Quando soube que tinha passado no vestibular e resolvi ir pra casa a pé, de tão feliz que estava. O dia da minha formatura, a missa da minha formatura, minha chegada em Barcelona, a noite que capotei de carro.

Claro que isso são coisas marcantes, mas tem as banais, os dias comuns que deixam suas digitais na eternidade. O dia que o tio Roni trocou de carro e levou todos os sobrinhos para tomar sorvete, ainda sinto a força dos meus dedos no banco quando ele falava: “gurizada, vou ligar o turbo!”

Uma noite na praia, caçando vagalumes com meu irmão. Uma brincadeira de esconde esconde na casa dos meus avós, que acabou porque uma prima pulou a janela do quarto e sujou toda a cama da vó, de barro. A bagunça na hora do almoço com os tios e primos de Florioanópolis, nas férias de inverno de 1994. Um luau na Guarda do Embaú, em 2004. Uma tarde na faculdade editando o programa de Tele II. Depois de anos, a subida até o Cristo Redentor, em 2009, (Gi, eu estava emocionadíssima!) O porre na festa do Congresso da CUT-RS. Coisas assim...

Acordo e penso: “bah hoje é 06 de fevereiro, em 1993 estava em Tramandaí e de noite eu ficaria deslumbrada diante de vagalumes dentro de um copo”. É assim, as coisas vem na garupa do elefante que é minha memória.

Agora são 15h30 e há um ano, em 15 de julho de 2010, eu estava feliz, muito feliz. Há essa hora estava saindo do trabalho, já tinha participado de uma reunião de funcionários da CUT e ido comprar TNT amarelo para a amiga Juliana colocar na mesa do chá de casa nova dela, que foi no final daquela tarde. Estava indo para um hotel no centro de Porto, onde encontraria o homem que amo.

Eu veria ele chegar, lindo. Iria para o chá da minha amiga com a Gi, arrumaríamos as mesas com a Ju, depois a Gi me ajudaria a ver quais salgadinhos não tinham carne. No início da noite, voltaria e sairíamos para beber. Lembro que enquanto a gente caminhava até um bar, pensava “não acredito que ele está aqui, comigo”. Ele me observou colocando as luvas e me disse: “tu é a segunda pessoa que conheço que usa luvas sem tirar os anéis.” E a gente riu. Eu estava feliz, ele parecia feliz.

Essa não foi a última vez que nos vimos, mas foi a última em que parecíamos felizes. É clichê se eu falar que se soubesse disso, teria abraçado mais, beijado mais? Eu morro de saudade dele, todos os dias eu morro um pouco e me supero muito.

Mas hoje, eu acordei com aquele desejo impossível de voltar no tempo de verdade e não através dessas lembranças tão próximas, tão densas e até palpáveis. Por favor máquina dos filmes da sessão da tarde, me leve de volta! Eu tenho pouco tempo para que esse milagre aconteça! Daqui um pouquinho, lá pelas 16h20, verei ele descendo do carro e estarei de novo no melhor lugar do mundo: os braços dele.

5 comments:

Juliana Borges de Almeida said...

Simplesmente linda essa postagem... me emocionei.

Anonymous said...

Lindo esse texto Rê, de arrepiar. Até que voltei no tempo com você.
Bj. Aline

Anonymous said...

Lindo o texto! Adorei!
Mil bjs
Gi

Anonymous said...

Muito lindo. Que intenso definir o melhor lugar do mundo como o abraço de alguém.
Rosana

Anonymous said...

Píííma, te superou com esse texto. Te desejo que logo vc esteja nesses braços, não de volta para o passado, mas num futro breve. ;)
Rafa, Lipe e Théo