- Olá, prazer.
- Oi, tudo bom?
- Tudo bem. Me falaram que você fez o seu mapa astral hoje.
- Aham é bem legal. Entendi algumas coisas.
- Que coisas?
- Porque eu sou uma babaca para as coisas do coração, por exemplo.
- Ah é. E por quê?
- Porque eu tenho Vênus em câncer.
- Ah, eu sou canceriano...
- Hum. A maneira que eu lido com os sentimentos é totalmente canceriana.
- Ah, e isso é ruim?
- Dizem que se uma pessoa levar um pé na bunda pode sofrer por semanas, mas se essa pessoa for de câncer, sofre por meses...
- Bem isso mesmo e eu também não sei lidar com o fim das coisas.
- Nem eu.
Dias depois
- Viu como a gente combina.
- Eu nunca disse que não combinávamos.
- Falou sim. Que você, leonina, não teria paciência comigo.
- Pois é, mas eu tenho Vênus em câncer.
- Adoro esse Vênus em câncer.
- E eu adoro você.
Meses depois
- Eu não quero te machucar.
- Você não vai me machucar. Eu sempre soube que você iria voltar pra sua cidade.
- Mas vou ficar mal se você ficar mal.
- Eu não vou ficar. Prometo.
Dias depois dos meses depois
- Você tem que ficar bem. Você tem que voltar feliz e forte pra tocar a tua vida.
- E você?
- Eu vou tocar a minha.
- Se a vida não fosse tão complicada a gente ficaria junto.
- Eu sei.
Mais de um mês depois
- Que bom que você veio. Que saudade eu sinto de você.
- Eu também sinto falta de você. Desse teu olho que parece o mar de Angra.
...
- Nossa nem acredito que tu tá aqui comigo!
- Mas eu tô! E amando cada segundo.
...
- Acho que não vou agüentar sem dormir. Preciso descansar...
- Também tô cansada. Mas não queria dormir, quando acordar você vai embora.
Meses depois
- Em 84 dias, essa é a segunda vez que você vem.
- Oitenta e quatro?
- Sim, eu conto quantos dias eu tenho sobrevivido com toda a saudade que eu sinto.
- Eu sei. Também tenho saudades. Mas estou pegando muitos plantões...
- Eu sei.
Um ano depois
- Se a vida não fosse tão complicada a gente ficaria junto.
- E eu tenho Vênus em câncer.
Thursday, August 26, 2010
Wednesday, August 25, 2010
Da arte de falar
De todos os defeitos que eu tenho, o pior de todos (pra mim) é não falar. Eu não falo. Eu não sei falar. Nunca soube. E isso, às vezes, me mata.
Apresentação de trabalho na escola, na faculdade, sempre foi um caos! Na aula de inglês, de espanhol, de italiano... Sempre é ruim, sempre me sinto desconfortável. Cansei de chegar na psicóloga, sentar na frente dela e falar “eu não gosto de falar”, e passar a sessão toda olhando pra ela, gastando meu dinheiro, meu tempo e com a cabeça e o coração explodindo.
É horrível. Muitas vezes penso que o nó na garganta que sinto é das coisas que deveriam sair e não saem. Talvez até o peso nos ombros sejam o peso das palavras...
E falar sobre o que eu sinto então? Hahahahahaha, não consigo, não sai. O problema é que eu fico me torturando, me travando, numa ansiedade louca. Não dizem que não verbalizar os sentimentos acaba em câncer? Então, eu já sei até o que vai estar escrito no meu atestado de óbito.
A psicóloga sempre diz que eu tenho que falar, que se eu falasse metade dos meus problemas desapareceriam, que as coisas que eu sinto não são apenas “problemas meus”, que as pessoas tem que saber. Mas aí eu respondo que eu gosto de escrever. Ajuda, mas não compensa, eu sei.
É hoje, com tudo o que eu tô sentindo, com todas as coisas que estão acontecendo, eu queria tanto conseguir falar!
Apresentação de trabalho na escola, na faculdade, sempre foi um caos! Na aula de inglês, de espanhol, de italiano... Sempre é ruim, sempre me sinto desconfortável. Cansei de chegar na psicóloga, sentar na frente dela e falar “eu não gosto de falar”, e passar a sessão toda olhando pra ela, gastando meu dinheiro, meu tempo e com a cabeça e o coração explodindo.
É horrível. Muitas vezes penso que o nó na garganta que sinto é das coisas que deveriam sair e não saem. Talvez até o peso nos ombros sejam o peso das palavras...
E falar sobre o que eu sinto então? Hahahahahaha, não consigo, não sai. O problema é que eu fico me torturando, me travando, numa ansiedade louca. Não dizem que não verbalizar os sentimentos acaba em câncer? Então, eu já sei até o que vai estar escrito no meu atestado de óbito.
A psicóloga sempre diz que eu tenho que falar, que se eu falasse metade dos meus problemas desapareceriam, que as coisas que eu sinto não são apenas “problemas meus”, que as pessoas tem que saber. Mas aí eu respondo que eu gosto de escrever. Ajuda, mas não compensa, eu sei.
É hoje, com tudo o que eu tô sentindo, com todas as coisas que estão acontecendo, eu queria tanto conseguir falar!
Thursday, August 19, 2010
Gaarder, pós... Realidade
Coisas acontecem. Coisas inimagináveis e felizes, apesar da saudade imensa que sinto de alguém e de uma certa tristeza que anda me fazendo companhia... Entrevistei o Jostein Gaarder terça-feira e hoje acabei minha pós graduação.
Há uns 10 anos, eu li o famoso O Mundo de Sofia, que está na sua 35ª edição (!), escrito pelo norueguês Jostein Gaarder. Eu li boa parte desse livro no recreio do colégio, enquanto minhas amigas se preocupavam em ficar com algum guri, eu lia filosofia. Naquela época, essa era a única opção que eu tinha pra não passar o recreio sozinha, meninas que gostam de ler não chamavam muito a atenção.
Há 10 anos, eu ainda via minha timidez como um empecilho para ser jornalista. Nesse tempo todo, sabe-se lá como, meus pais conseguiram pagar uma faculdade pra mim e eu me tornei jornalista, apesar de quieta e tímida. E depois do Mundo de Sofia, eu li tudo do Gaarder que me caia nas mãos. O Dia do Coringa é o meu livro preferido, ele é o meu escritor preferido.
Sempre que pensava nas pessoas que gostaria de entrevistar um dia, sempre pensava no Gaarder. Mas claro que isso era distante demais, assim como me formar e fazer uma pós graduação.
Por isso essa semana foi muito feliz. Depois de um ano e meio, terminei minha especialização em Sociologia, com o orgulho de ter pago toda a pós. E terça participei de uma coletiva com ele, o Jostein Gaarder, que estava em Porto Alegre, participando do Fronteiras da Educação, um evento que discute educação (óbvio) com professores. Um dia antes, liguei para UFRGS e me credenciei para cobrir o evento, se ele topasse, falaria com a imprensa antes da palestra. Foi assim, fácil.
E ele topou e é tri gente fina, fala rápido e se empolga facilmente. Eu fiquei tão atarantada que esqueci dos meus livros pra ele autografar dentro da bolsa... Também não levei o gravador, mas consegui dar parabéns pra ele (ele também nasceu no cabalístico 8/8). Fotos não podiam ser tiradas durante e entrevista, só tirei uma, dele sentadinho esperando ser chamado pra subir no palco. Nessa hora, pensei em pedir os autográfos, mas isso era tão pequeno perto do sonho que estava realizando, que nem fiz questão... Sei que ainda o encontrarei.
Não assisti toda a palestra, tinha que trabalhar e também não precisava, já tinha visto que o Gaarder parece um ser humano normal. Parece, mas não é. Nem um senhor com tamanha inteligência e entusiasmo pode ser normal num mundo tão apático. Ele é daquelas pulgas que ficam nas pontas dos pelos dos cachorros para verem o mundo.
E hoje, sai do trabalho e fui apresentar minha monografia, sobre a manipulação da mídia. Em nada lembrou a minha banca do TCC da faculdade, nem mesmo estava nervosa. E adivinhem? Tirei 10!
Neste momento, estou cansada e feliz, com o passar do tempo o impossível vai se tornando fácil, parte da vida, por mais incrível que isso pareça. A jornalista, especializada em sociologia, que entrevistou o Jostein Gaarder é a mesma menina que lia no recreio por falta de companhia. Hoje sei, que eu estava muito bem acompanhada, pois eu sonhava.
Friday, August 06, 2010
Um quarto de século
Não tem jeito, todo ano a gente faz aniversário. O meu é neste domingo, dia oito. Acho bonito: 8/8, se fosse três anos mais nova, minha data de nascimento seria: 8/8/88. Vou fazer 25 anos, um quarto de século!
Todo ano eu penso em fazer algo, curtir. Esse ano não foi diferente, queria comemorar. Uhuuuuuuuuu é meu niver. Vamos comer e beber. Meu, tipo assim, vamos festejar!!!! Tô de aniversário!! Uhu! Queria, só queria, mas não dá. Essa vontade sempre passa, pelo simples fato de eu detestar fazer aniversário. DETESTO. É pior que Natal.
Quando era criança, tinhas festinhas homéricas. Em salão de festas ou na garagem da casa da minha vó com muito balão, brigadeiro, pizza, refri, chapeuzinhos e línguas de sogra... Meus tios do Rio de Janeiro vinham, o Roni saia mais cedo do Brique, minha madrinha me dava presentes caros. Os bolos eram sempre temáticos, teve o bolo com cara de sol, o de palhaço, o castelo da princesa, o coelho com dentes de Plets (fez tanto sucesso que foi reeditado nos meus 8 anos). Na hora do Parabéns era a prima Léli de um lado e o primo Júnior de outro. Música da Xuxa. Muitos presentes. Comida farta e bebida a vontade, sempre tinha um tio que terminava bêbado e atrapalhando a brincadeira das crianças... Meus pais felizes. Todo mundo feliz, inclusive eu!
Fotos memoráveis renderam esses meus aniversários, quando olho e me vejo feliz da vida, me pergunto em que momento eu passei a não gostar? Juro que não sei! Nos meus 19 anos, que também caíram no Dia dos Pais, um dos meus presentes foi ser comida por um cretino que eu achava que namorava. Sim, meu presente foi dar, pela primeira vez. Fiz isso no sábado de tarde, num apartamento da Cristóvão Colombo e eu não senti nada além de dor. Foi um presente inesquecível, apesar de não ter sido bom.
No domingo, eu passei o dia todo com o celular na mão, esperando ele ligar. Muitas pessoas ligaram e mandaram mensagens, menos ele. Naquele ano, se só ele lembrasse, teria sido o melhor aniversário da minha vida. Mas ele não lembrou. De noite, me mandou uma mensagem dizendo que não iria mais me ver, que a nossa história acabava ali. E acabou. Ele nunca atendeu meus telefonemas, nem me explicou o motivo de tudo isso. E se eu não tivesse sofrido tanto, iria pensar que ele nunca existiu.
Quando me perguntam por que não gosto de fazer aniversário, conto essa história. Já não curtia antes, mas depois disso, piorou. E afinal, é uma desculpa, embora penso que isso não é motivo, não justifica a tristeza e o mau humor que me assola nos dias 8 de agosto.
Outro dia, ouvi num programa de rádio que não gostar e ficar pra baixo no nosso aniversário era uma falta de respeito com as pessoas que gostavam da gente e que nos parabenizavam. E de uma certa forma, é mesmo. Portanto, desculpem a falta de educação, mas eu não consigo disfarçar. Não gosto mesmo e peço todo ano que eu mude e melhore a cara para o próximo ano.
Mas gente, não se preocupem, podem me desejar felicidades e afins, que boas energias são sempre bem vindas. E graças a Deus, aniversário é uma vez só no ano, ainda me sobram 364 dias pra ser feliz.
Todo ano eu penso em fazer algo, curtir. Esse ano não foi diferente, queria comemorar. Uhuuuuuuuuu é meu niver. Vamos comer e beber. Meu, tipo assim, vamos festejar!!!! Tô de aniversário!! Uhu! Queria, só queria, mas não dá. Essa vontade sempre passa, pelo simples fato de eu detestar fazer aniversário. DETESTO. É pior que Natal.
Quando era criança, tinhas festinhas homéricas. Em salão de festas ou na garagem da casa da minha vó com muito balão, brigadeiro, pizza, refri, chapeuzinhos e línguas de sogra... Meus tios do Rio de Janeiro vinham, o Roni saia mais cedo do Brique, minha madrinha me dava presentes caros. Os bolos eram sempre temáticos, teve o bolo com cara de sol, o de palhaço, o castelo da princesa, o coelho com dentes de Plets (fez tanto sucesso que foi reeditado nos meus 8 anos). Na hora do Parabéns era a prima Léli de um lado e o primo Júnior de outro. Música da Xuxa. Muitos presentes. Comida farta e bebida a vontade, sempre tinha um tio que terminava bêbado e atrapalhando a brincadeira das crianças... Meus pais felizes. Todo mundo feliz, inclusive eu!
Fotos memoráveis renderam esses meus aniversários, quando olho e me vejo feliz da vida, me pergunto em que momento eu passei a não gostar? Juro que não sei! Nos meus 19 anos, que também caíram no Dia dos Pais, um dos meus presentes foi ser comida por um cretino que eu achava que namorava. Sim, meu presente foi dar, pela primeira vez. Fiz isso no sábado de tarde, num apartamento da Cristóvão Colombo e eu não senti nada além de dor. Foi um presente inesquecível, apesar de não ter sido bom.
No domingo, eu passei o dia todo com o celular na mão, esperando ele ligar. Muitas pessoas ligaram e mandaram mensagens, menos ele. Naquele ano, se só ele lembrasse, teria sido o melhor aniversário da minha vida. Mas ele não lembrou. De noite, me mandou uma mensagem dizendo que não iria mais me ver, que a nossa história acabava ali. E acabou. Ele nunca atendeu meus telefonemas, nem me explicou o motivo de tudo isso. E se eu não tivesse sofrido tanto, iria pensar que ele nunca existiu.
Quando me perguntam por que não gosto de fazer aniversário, conto essa história. Já não curtia antes, mas depois disso, piorou. E afinal, é uma desculpa, embora penso que isso não é motivo, não justifica a tristeza e o mau humor que me assola nos dias 8 de agosto.
Outro dia, ouvi num programa de rádio que não gostar e ficar pra baixo no nosso aniversário era uma falta de respeito com as pessoas que gostavam da gente e que nos parabenizavam. E de uma certa forma, é mesmo. Portanto, desculpem a falta de educação, mas eu não consigo disfarçar. Não gosto mesmo e peço todo ano que eu mude e melhore a cara para o próximo ano.
Mas gente, não se preocupem, podem me desejar felicidades e afins, que boas energias são sempre bem vindas. E graças a Deus, aniversário é uma vez só no ano, ainda me sobram 364 dias pra ser feliz.
Sunday, August 01, 2010
É isso
“A gente cai, levanta, uns seguem de perna quebrada, outros de miolo mole, e muitos vão sem coração. Mas cada um vai como pode."
Maitê Proença
Maitê Proença
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